Mais um artigo brilhante de graça
maquiavélica, este de Alberto
Gonçalves, que, conhecendo
bem os problemas ambientais cada vez mais assustadores, consegue criar uma crónica
plena de humor e graça, sobre os excessos dos anunciadores da destruição do mundo,
caso não haja um retrocesso na poluição ambiental. Foram cerca de uma centena e
meia os comentários que provocou, mas só coloquei alguns, suficientemente
explícitos e oportunos. Mas admiramos sempre a riqueza conceptual de AG, e a elegância do seu pensamento e criatividade argumentista.
A Mona Lisa também sofre com as alterações climáticas
Não ignore a ciência. Está provado que
qualquer assunto em que o eng. Guterres puxe desesperadamente para um lado
merece ser puxado para o outro.
ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador
OBSERVADOR,022,
00:16143
Há dias, um sujeito disfarçado de
velhinha atirou um bolo à Mona Lisa.
Enquanto era detido pelos seguranças, gritou: “Pensem no planeta! Há pessoas a
destruir o planeta, pensem nisso! Foi por isso que fiz isto!”
À
primeira vista, o acto é absurdo. Mas os tempos que correm conferem-lhe uma
racionalidade própria. Boa parte
da retórica “ambiental” não disfarça a aversão aos seres humanos e àquilo que
os seres humanos produzem no lugar que lhes tocou em sorte. Se o “ambiente” justifica por exemplo um
retrocesso civilizacional que nos levaria, ou levará, a trocar o carro pelo
triciclo e o bacalhau pelas centopeias, é coerente que a luta pelo atraso de
vida se estenda à arte. E, dentro da arte, a uma das obras mais famosas
do mundo. Acima de tudo, o agressor do Louvre quis mostrar o seu
desprezo face aos homens. O pormenor de ele ser um homem, e um homem que –
aposto uma edição comemorativa do An Inconvenient Truth– decerto beneficia
do progresso que combate, apenas ilustra a tortuosa lógica a que descemos.
Claro
que, para muitos “activistas” do “ambiente”, o ódio à humanidade é selectivo e
limita-se à percentagem desta que se organizou em sociedades democráticas e a
que, no conjunto, se convencionou chamar Ocidente. Claro que o “ambiente”, aqui, é uma das inúmeras
“causas” que substituíram as “classes” do velho Marx no processo de sabotagem
dos regimes (comparativamente) livres. E claro que os “activistas”
transformaram o “ambiente” numa carreira profissional, a qual, além de uma
oportunidade de limpar a bílis, lhes dá rendimento considerável. Em matéria de
“clima”, não é essa gente que me espanta.
Os
que realmente me espantam são aqueles que, “activistas” ou não, sofrem a sério
com as cambalhotas no clima ou, melhor, com a mera ideia de cambalhotas no clima.
Descontados os vigaristas, existem de facto indivíduos que genuinamente
acreditam no fim do mundo para a terça-feira que vem. Ou quarta-feira, vá. Com
uma esperança de cura curiosa em crentes no Apocalipse iminente, os indivíduos
em questão alimentam uma data de novos subgéneros da psicologia, da sociologia,
da astrologia e de ciências similares apenas dedicados a atender às doenças
“causadas” pelo medo do aquecimento global, perdão, das alterações climáticas,
perdão, da emergência climática.
Embora
pareça impossível, no meio dos medos dos vírus e das guerras que lhes lançam
para cima, as pessoas ainda conseguem arranjar espaço para ter medo do clima. Alguns dicionários já consagraram a palavra “eco-ansiedade”, usada para
definir o estado dos pacientes que sofrem de depressão e angústia motivados por
receio de um holocausto ecológico, ou, nos casos terminais, pela provável
extinção da lontra marinha. Controlando
o riso, os “especialistas” que vêem nisto um maná comercial falam em “stress
pré-traumático”. E há toda uma literatura (?) especializada em demonstrar que o
pavor “ambiental” provoca doenças mentais.
Eu diria que é ao contrário. É
preciso um parafuso solto para perder o sono graças à previsão de que a
temperatura, que há milhões de anos não pára quieta, vai subir grau e meio nas
próximas décadas. Nas próximas décadas, todos nós morreremos, e antes
adoeceremos, ou veremos adoecer e morrer os que nos cercam. E teremos contas
para pagar. E dívidas que não poderemos pagar. E enxaquecas. E zangas. E acidentes
inesperados como convém aos acidentes. E des gostos
diversos. E tristezas profundas. E tristezas ligeiras. E o que calha. Se querem
perder o sono, percam-no com isto, que é o que fazem as pessoas com vínculo à
realidade. Se não querem, vão perdê-lo na mesma: rezam os sábios que, em 2099,
dormiremos menos 10 minutos diários devido às noites quentes. As desgraças
sucedem-se, pese a boa – e contraditória – notícia de a espécie continuar viva
daqui a 77 anos. E de que chegaremos ao emprego a horas.
Felizmente,
é lendário o carácter profilático desta crónica, sempre pronta a prevenir
maleitas e enguiços. Nessa linha de serviço público, ofereço gratuitamente
meia-dúzia de recomendações para que o leitor mantenha a lucidez e não contraia
uma enfermidade climática. Ei-las:
1) Não se preocupe. O
tema é polémico o suficiente para que, quando não há subsídios chorudos, os
peritos não alcancem um consenso alusivo. Ouça os peritos menos
catastrofistas, e menos subsidiados, e descanse.
2) Não perca tempo. O
tema é demasiado complexo para ser resolvido com vigílias patetas, slogans
infantis, documentários manipulados e histeria sortida. Desconfie
de manifestações que, ao invés de questionarem o poder político, são instigadas
por ele.
3) Não tenha pressa. Com
jeitinho, a Terra aguenta 1,5 biliões de anos até o sol vaporizar a água
disponível e, aí sim, exterminar a lontra marinha, a bicharada restante e o
mar em peso. Guarde a aflição para as duas ou três semanas anteriores.
4) Não seja parvo.
Nenhum excesso poluente será solucionado, ou sequer debatido, em cimeiras que
juntam 1500 jactos pertencentes a criaturas que desejam proibi-lo de usar o seu
automóvel.
5) Não se faça de sonso. Nenhum ardor “ambientalista” que não eleja a China
como o principal inimigo é digno de atenção.
6) Não ignore a ciência. Está provado que qualquer assunto em que o eng.
Guterres puxe desesperadamente para um lado merece ser puxado para o outro.
7) E não se esqueça que a Mona Lisa não tem culpa.
ALTERAÇÕES
CLIMÁTICAS CLIMA AMBIENTE CIÊNCIA ECOLOGIA
COMENTÁRIOS:
Maria araujo: O efeito climático que mais nos afecta é o produzido pelos
socialistas/comunistas, nevoeiros cerrados de intolerância, rajadas fortes de
dogmatismo, muita tirania, controle, injustiça, desculpa para aumentar os
combustíveis... e por aí fora! Pedra Nussapato: O Dr AG está ao nível da
ignorância e da desonestidade intelectual daqueles que aqui acham que para
combater os efeitos do aumento de 2 graus da temperatura média global basta
regular o AC. Luis
Santos: Excelente!! O Malandro da Ópera >José Ramos: Normalmente nem perco tempo a responder aos marias
augustas do brejo, mas para si abro uma exceção: Desde já lhe digo que lhe fica
muito bem essa sua postura de defesa dos seus heróis. Nunca deixe de o fazer!
Agora, aqui o que me parece é
que o escriba "arranjou" uma história do arco-da-velha, e dá mil e
uma voltas só para denegrir o eng. Guterres. Enfim, fiquei com a sensação que é
demasiado forçado e gratuito, apenas. Isto já para nem mencionar o facto de o mesmo
abordar um assunto em que, claramente assume uma posição negacionista, mas
nunca apresentado quaisquer evidências cientificas de coisa alguma. Por vezes me parece que o
gonçalves é como aquele moço que canta, o sobral qualquer coisa: basta
peydar-se que a tribo aplaude! Mas...tenha um resto de boa tarde, e desculpe lá
qualquer coisinha... Tiago
Figueiredo > José Ramos: Quem se enfiou na historieta e na água - de fato e
gravata - foi Guterres, numa capa da Time em 2019. Essa capa também me parece um momento algo infeliz.
É que, de acordo com os dados científicos e até arqueológicos, a ameaça que ela
retrata seria muito mais o que já
aconteceu - a subida do nível dos oceanos resultante do fim de uma era
glacial - e não tanto o que estará por
acontecer; o princípio de outra. Não invalida que o nível ainda possa subir
mais um pouco, mas parece que já subiu a maior parte do que tinha para subir.
Jorge Lopes: Artigo excelente! Muitos parabéns! Jose Miguel Pereira: Um portento de ignorância,
preconceito e desonestidade intelectual. Lamentável. josé mariaJose > Miguel Pereira: Está a ver José Miguel ? Não é
sermos de esquerda ou de direita que nos afasta de questões essenciais... Jose Miguel Pereira > josé maria: Claro que não, josé maria. As preocupações com as
questões ambientais, nomeadamente a das alterações climáticas, não são
monopólio da Esquerda, e temos nomes relevantes a prová-lo, desde Theodore
Roosevelt, há mais de um século, até gente como John Gray e Roger Scruton, já
no séc. XXI. De entre a comunidade científica e falando de Portugal, alguns dos melhores
climatologistas portugueses da actualidade, activos na investigação das
alterações climáticas, são liberais ou conservadores. Do ponto de vista político,
considero um erro tremendo o Centro e a Direita ignorarem as questões
ambientais e entregarem de mão-beijada à Esquerda o protagonismo quanto a esse
assunto vital. Este texto do Alberto Gonçalves é a previsível conversa libertária, na
linha daquilo que quem estuda estes assuntos chama "motivated rejection of
Science". Está tudo muito bem analisado nos trabalhos do Stephan
Lewandowsky, por exemplo. Voltando a Portugal, na IL, p.ex., tem gente a valorizar estes assuntos e a
propor soluções dentro da filosofia política e económica do Liberalismo, mas
também uma corrente libertária (apetece-me chamá-la libertôla...),
negacionista. A fractura quanto a este assunto não é nada uma separação linear entre
Direita e Esquerda. Pessoalmente, enquanto aluno do IS Agronomia, nos anos 70/80, fui
influenciado nestas matérias por Professores que foram membros de Governos
socialistas e por outros conservadores, até de tendências monárquicas josé maria > Jose Miguel Pereira: A dicotomia direita-esquerda
não exclui todas as possibilidades de convergência democrática e a questão
ambiental é uma delas. Eu também me identifico com algumas propostas, que são
defendidas predominantemente pela direita, como, por exemplo, o combate à
burocracia emperrante. E, no caso da regionalização, não hesito em acompanhar
Cavaco Silva na sua rejeição à multiplicação de novas estruturas autárquicas,
que só iriam contribuir para o aumento da burocracia, o nepotismo, tráfico de
influência e corrupção. Também eu sou adepto de um estado muito mais
desburocratizado e eficaz. Não tenho uma posição dogmática exclusiva sobre
questões políticas relevantes, que possam ser partilhadas em espaços
ideológicos tendencialmente distintos. Tiago Figueiredo > Jose Miguel Pereira: Do ponto de vista político,
considero um erro tremendo o Centro e a Direita ignorarem as questões ambientais
e entregarem de mão-beijada à Esquerda o protagonismo quanto a esse assunto
vital. Subscrevo, embora não diria que "ignoram", mas antes que
silenciaram. Mas não é só o Centro e Direita, José. Há uns anos, quando
questionei uma directora de comunicação de um serviço público de água e
saneamento sobre o porquê de não se divulgar mais informações sobre a crise
hídrica, a resposta que ouvi não foi "falta dinheiro, conteúdo ou
gente", mas antes "não podemos assustar as pessoas". E a senhora em causa era
militante comunista. O que aconteceu, realmente, é que perante todo o
silêncio das autoridades e sobretudo com a internet, que tornou mais pública
muita informação que antes estava circunscrita a esferas mais altas e
especializadas, em apenas algumas décadas explodiram os movimentos
ambientalistas com iniciativa popular e os partidos de esquerda não perderam
tanto tempo em assumir a temática, criando essa imagem de "protagonismo de
esquerda". Tiago
Figueiredo > Jose Miguel Pereira: Pessoalmente, enquanto aluno do
IS Agronomia, nos anos 70/80, fui influenciado nestas matérias por Professores
que foram membros de Governos socialistas e por outros conservadores, até de
tendências monárquicas. E já agora, aproveitando o gancho, tivemos em Portugal o belíssimo exemplo
de Gonçalo Ribeiro
Telles, que fundou o Partido Terra em 1993.
Amando Marques > Jose Miguel Pereira: Aquecimento global e e uma
verdade científica, tal como a teoria da identidade de gênero, acreditamos
todos na ciência. Gil
Lourenço > Jose Miguel Pereira: Tem razão, talvez haja aí
imprecisões... Na realidade as preocupações com a natureza até estiveram
ligadas desde há muito aos conservadores, como é o caso de Inglaterra. Falou de
Roger Scruton e muito bem. Este tem um excelente livro sobre o assunto. Em
Portugal tivemos um excelente "ecologista": o ministro Pimenta do
PSD. E não podemos de todo esquecer Gonçalo Ribeiro Teles. Quanto à IL não faço
a mínima ideia. Mas no CH há essa preocupação e tem sido explanada por Pedro
Frazão. A questão é que a esquerda pegou nessa questão das alterações
climáticas de forma histérica, com soluções estrambólicas e hipócritas, por
vezes, e tentando sempre fazer aproveitamentos políticos. Até fala do ridículo
que é a "justiça climática". Bom, este assunto merecia outro
desenvolvimento... MPSRRS
> Tiago Figueiredo: o sábio Arqº Ribeiro Telles que
nos deixou tantos e bons ensinamentos, sobretudo após os fogos de 2003 e que
nunca foram seguidos. Porquê? Que negócios e interesses os fogos alimentam? Elvis Wayne: 7 conselhos a ter em conta. Vou
guardar este artigo para memória futura. Cumprimentos! MPSRRS > Ricardo Nuno: Ainda bem que há quem não se canse de denunciar certas
situações. Admira-me é as pessoas não se cansarem de ouvir falar de covid
durante 2 anos seguidos dia e noite em toda a C.S., de não verem os problemas
resolvidos, de verem as diversas situações ambientais, sociais, saúde,
arrastarem-se sem soluções eficazes e sermos "empatados" por
"conversas de chacha" e "clichés" gastos e bolorentos. Isso
é que me admira, as pessoas não se cansarem de ser enganadas. Ainda bem que há
quem, como o AG, dá voz ao que vai na alma de muitos e bons Portugueses! Porque
são poucos os jornalistas e cronistas sérios e confiáveis! MPSRRS: Adorei! Excelente, como
sempre! Todos os pontos "na mouche" mas este é a cereja no topo
do bolo: "4) Não seja parvo. Nenhum
excesso poluente será solucionado, ou sequer debatido, em cimeiras que juntam
1500 jactos pertencentes a criaturas que desejam proibi-lo de usar o seu
automóvel." Basta este para estar tudo dito! Obrigada! ………………. João Floriano > Tiago
Figueiredo: Caro Tiago: Devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance pela
qualidade do ambiente. Mas há muita hipocrisia e oportunismo no meio disto
tudo. Somos responsáveis por muito lixo e muita poluição sobretudo no que diz
respeito à questão dos combustíveis fósseis, aos plásticos, aos venenos que
introduzimos no sistema. Somos em parte responsáveis pelo aumento das
temperaturas embora em vários momentos da História da Terra tenham existido
glaciações e aumentos de temperatura sem que tal se possa atribuir ao Homem.
O que podemos fazer quando um vulcão nas Canárias está em erupção durante dias
e dias e expulsa toneladas de gases tóxicos? Por um lado andamos a modificar
automóveis, a desenvolver energias alternativas, que pagamos muito caro, e
afinal a própria Natureza fica contra nós. A guerra na Ucrânia é um desastre
ambiental completo. O Mar Negro está contaminado, o solo ucraniano idem, deve
haver todo o tipo de tóxicos na atmosfera devido aos bombardeamentos, há
certamente contaminação dos lençóis freáticos até devido à decomposição de
cadáveres. Nós temos muito cuidado , a Rússia e a China estão-se marimbando.
Muitos desses movimentos pró-clima, profetas do Apocalipse climático fazem o
jogo de potências que nem sequer estão aí para a questão climática. não chego
ao ponto de dizer que são pagos pelos russos ou chineses mas que fazem o jogo
deles, sem dúvida que sim. Sempre tive enormes reservas em relação à Greta, o
grande símbolo ocidental da luta contra as alterações climáticas. Onde está?...................
EUREKA PLAST, SA Carvalho: Inspiração sublime 👍
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