domingo, 21 de agosto de 2022

Besame mucho


Ouvi as várias versões no You Tube, espantosas versões, espantosa música, espantosas interpretações, a que se tem acesso na Internet. Apenas porque o texto do Dr. Salles me fez recordar a paráfrase dessa canção por um actor cómico do Rádio Clube de Moçambique – José Bandeira – que a cantava trocando-lhe a letra, o grupo semântico “Bésame” transformado em “Bateme”, mas não me lembro se o resto da letra era igualmente alterado ou mesmo traduzido, e só que teve bastante êxito por aqueles meus tempos da adolescência:

«Bésame bésame mucho
Como si fuera esta noche
La última vez

Bésame
Bésame mucho
Que tengo miedo a perderte
Perderte después»………..

transformado em

«Bateme bateme mucho……..»

Já naquela altura se experimentavam - embora com mais precaução do que hoje - os efeitos corrosivos dos amores, numa sociedade mais convencional, todavia, a designação de machismo ainda não dando tanto azo a extrapolações condenatórias, nem “As Cartas portuguesas” das Três Marias estando ainda na forja - quando José Bandeira arremedava com graça a bela canção: “Bateme bateme mucho…”

Mas não quis pôr como título a paráfrase, e escrevi nele o título próprio da canção, embora aquela se aplique melhor ao fenómeno social que o Dr. Salles bem descreve, sobre os seguidores dessas doutrinas contraditórias, - as quais, pretendendo, aparentemente, estabelecer um equilíbrio social que bem sabemos ser falso, mais não têm demonstrado que uma completa perversão, de que a guerra, por enquanto na Ucrânia, é retrato. E ainda assim, a Rússia do Putin, ou o Putin da Rússia, encontram por cá excelentes acólitos das suas doutrinas, que protestam mais ou menos segundo os termos da paráfrase de José Bandeira: “Pois quanto mais tu me bates mais gosto de ti” – ou “dela”, se entendermos que quem bate é o crítico S.F, os filiados no partido não vendo como “pancadas” os traços de monstruosidade humana a que o mundo inteiro está a assistir.

DO MEU «LOROSAE» - 7

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 20.08.22

 Bom dia, Mundo Livre!

Lembremo-nos de que parte substancial da Humanidade não tem a nossa sorte e lastimemos a «sorte» que a esses desgraçados tem cabido.

Fiquemo-nos pela Rússia mas lembremo-nos de que o modelo se tem aplicado mais além…O modelo é o que serve os interesses da «grande mãe russa» e sua autoproclamada vocação de «proteção dos povos vizinhos, tosco eufemismo de imperialismo.

O imperialismo monárquico russo levou à criação do país mais vasto do mundo e o imperialismo soviético – munido dos dogmas algo falaciosos do marxismo e das práticas leninista e stalinista – ainda expandiu essa já enorme área de influência.

O desmoronamento do império soviético deveu-se fundamentalmente ao facto de as suas bases dogmáticas se terem revelado falaciosas.

E o primeiro dogma a revelar-se absurdo foi o da substituição do humanismo e da liberdade da decisão individual pelo colectivismo na edificação do utópico comunismo. Os hinos à criação do «homem novo» escondem apenas o avolumar da frustração que exigiu a construção da «Cortina de Ferro». E quando esta enferrujou, e êxodo foi de lá para cá e não de cá para lá. Tudo, como era sobejamente previsível e só os propagandistas russófilos sovietizados não admitiam em público.

Quando os quadros políticos do país são o resultado duma formação no seio duma instituição policial de vocação política nascida pelas vontades de ditadores sanguinários e quando a formação universitária em Ciências Sociais, nomeadamente a Economia e as Ciências Políticas, se limitavam a glosar até à náusea a  doutrina marxista, dá para percebermos o que Putin e seus camaradas querem para a sua Rússia e, pior ainda, para nós, os do livre arbítrio.

O nosso conceito de liberdade é unicitário, superlativo e antagónico com tudo o que Putin representa e quer. Mas a nossa sacrossanta liberdade enquadra-se num modelo a que chamamos de democracias liberais e não pode ser usada de maneiras que ponham em causa a si própria, a liberdade, bem como o pluralismo humanista.

20 de Agosto de 2022

Henrique Salles da Fonseca

NOTA DE RODAPÉ - Para salvaguarda destes conceitos de liberdade e bem-comum, os britânicos têm o MI5 e o MI6.

COMENTÁRIOS

 francisco amorim  20.08.2022  21:  Fica a pergunta: porquê tantos países - Portugal, Espanha, lula, etc. - estão a fazer tudo para voltar a esse marxismo-leninista? Ganância de alguns homens? Mas porque há milhões que seguem?

Rui Bravo Martins  20.08.2022  22:30: Muito interessantes e úteis os Lorosaes já publicados (7) e merecedores de relevância os seus comentários que subscrevo. Lamento que não sejam publicados e meios de comunicação de grande audiência!!

 Adriano Miranda Lima  20.08.2022  23:50: Felizmente, e para tranquilizar o prezado comentador, Sr. Pacheco Amorim, não há marxismo-leninismo em Portugal e Espanha e de certeza que não o haverá no Brasil se Lula vencer as próximas eleições. O governo anterior de Lula nada teve a ver com o comunismo. Aliás, esse sistema puro e duro não existe actualmente em lado nenhum, a não ser que queiramos descortinar alguns ténues vestígios da sua anterior existência em Cuba. Mas o que lá se vê são baixos índices de desenvolvimento e progresso económico e social, ou seja, pobreza ou miséria. Na Rússia o comunismo foi completamente expurgado, para dar lugar a capitalismo perverso. Na Coreia do Norte seria abusivo identificar o marxismo-leninismo onde o que existe é um regime de pura e feroz ditadura. Na Venezuela não sei se se pode classificar como comunista o actual regime, não obstante o voluntarismo confuso e inconsequente do Maduro. Mesmo na China é difícil definir o que lá existe naquele dualismo entre a ditadura política e o capitalismo. Por outro lado, não se pode classificar como marxista-leninista partidos europeus só porque se intitulam de socialistas. Esses partidos o que aspiram é uma social-democracia, e mesmo assim pouco se aproximam dos seus objectivos porque a lógica do capitalismo internacional preside à maior parte das economias nacionais. Contudo, se do marxismo-leninismo estamos livres, pela sua auto-implosão por insustentabilidade da respectiva doutrina, do que não estão livres os povos dos países citados é das odiosas ditaduras que suportavam aqueles regimes e que são, por sua infelicidade, a única realidade que sobrou das experiências marxistas falhadas. Portanto, as democracias liberais são, por enquanto, a única garantia para a construção de sociedades livres e prósperas, no respeito pelos direitos humanos. Está ainda por descobrir melhor alternativa, como sentenciou Churchill. Assim, o único contraponto às sociedades democráticas são as perversas ditaduras que por aí pontificam e não regimes marxistas-leninistas propriamente ditos. O Dr. Salles da Fonseca explica aqui muito bem as virtudes das democracias liberais e a felicidade que é pertencer ao mundo livre. As democracias podem não ser perfeitas, até porque a perfeição é quase uma abstracção, mas quando se frui da liberdade de pensar, de opinar e de criar, estará sempre aberta a via para aperfeiçoar a democracia. O que não dá qualquer oportunidade são as ditaduras, e não será por acaso que falhou estrondosamente o comunismo. Um abraço amigo e de saudação ao Sol que amanhã nascerá. Adriano Lima

 Adriano Miranda Lima  21.08.2022  15:33: Conforme se deduz desta magnífica reflexão do Dr. Salles da Fonseca, e que subscrevo por inteiro, a Rússia talvez seja o verdadeiro grande obstáculo para a instituição de uma nova ordem mundial baseada na paz e na cooperação económica e que vise, por imperativo ético, reduzir as graves assimetrias mundiais e combater a poluição ambiental. Um dos grandes problemas desse país é a sua desmesurada extensão territorial, que resultou de uma incontrolada ambição expansionista tout court, sem condições reais para promover a correlação entre a ocupação humana do território e uma economia sustentada e geradora de equilíbrio, harmonia e coesão do todo nacional. Sem estes é ilusório o poder de uma potência, daí que a Rússia, consciente disso, se tenha armado com um enorme arsenal nuclear que lhe permite ladrar e ameçar porque de antemão sabe que não consegue morder em igualdade de circunstância com os seus parceiros. Veja-se que estamos a falar de um país com uma área de 17.100.000 km quadrados e uma população de 144 milhões de almas, e com um PIB semelhante ao da Itália. E ainda por cima com o ónus de uma diversidade étnica, cultural e religiosa que só não é fonte de graves rupturas sociais porque existe um aparelho repressor que os desarma à nascença, à lei da bala e da bomba. Assim, só uma perfeita e louca ilusão faz com que o Kremlin pense que o tamanho gigantesco do país basta para o colocar entre as 3 mais poderosas potências mundiais. A ilusão é claramente produto de mentes que abdicam da racionalidade e embarcam em visões deslocadas no tempo e na História. Especulando, pode perguntar-se o que teria sido da Rússia se a democracia liberal idealizada por Boris Yeltsin tivesse triunfado, ou, por outras palavras, se o vodka não lhe tivesse abreviado a existência. A tarefa seria porventura espinhosa, quem sabe originando uma fragmentação do imenso território de onde poderiam emergir novas repúblicas em sistema federal, mas colocando a Rússia branca entre as democracias ocidentais, podendo ou não integrar a UE e até a NATO. Por essa via, o mais certo seria a Rússia trocar a poderosa indústria de armamento pela produtividade económica e assim elevar de uma forma sem precedentes o seu PIB e o seu IDH. Nessa condição, seria um parceiro europeu com verdadeiro poder e com credibilidade interna e externa para se afirmar como um actor de peso, na UE ou fora dele, na construção de uma nova e promissora ordem mundial. Mas infelizmente a realidade é outra. Putin procura parceiros é entre os ditadores, como a Coreia do Norte. E entre as suas prioridades avulta o fabrico de armas e a sua venda a países do terceiro-mundo. Não a ajuda económica, como faz a China e os EUA. Uma entrevista dada ao Guardian pelo soldado russo Pavel Filatyev, de 34 anos, revela bem a dimensão trágica e desumana da guerra injusta em que, conforme disse, ele e os seus camaradas foram obrigados a participar. Com o seu corajoso gesto, teve de desertar, deixando a sua aldeia, após ter sido ferido e evacuado. Terei de ler na íntegra o que The Guardian publicou. Concluo então que nada de bom virá desta Rússia de Putin e que o mundo livre tem de se cuidar e preparar para o pior. Um abraço amigo Adriano Lima

29: Fica a pergunta: porquê tantos países - Portugal, Espanha, lula, etc. - estão a fazer tudo para voltar a esse marxismo-leninista? Ganância de alguns homens? Mas porque há milhões que seguem?


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