quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Já passou a estação dos cravos


Na parte que nos toca, portugueses de coragem, relativamente a uma possível participação nossa no “poderio militar europeu” para uma resposta cabal a uma Rússia potente. Quanto ao resto, como sempre, o Dr. Salles põe o dedo na ferida e, de facto, creio que todos sentimos isso que o Dr. Salles bem define como uma manobra provocatória e tola da D. Nancy, e atrevida e de menosprezo pelo continente europeu, para uma natural união de esforços em defesa da Ucrânia. A D. Nancy preferiu alargar o alarido para mostrar que a América tem uma missão superior ainda à da Rússia, de arraso também, com o pretexto de Taiwan, que estava mais ou menos sossegada e progredindo bem, diz-se e a Internet mostra. A D. Nancy deve estar orgulhosa do seu feito e do efeito que esse feito está a causar, de mirabolância chinesa, por enquanto, apenas vistosa e bem sonora, até ver. A pequenez humana também se retrata no seu desejo de superioridade.

DO MEU «LOROSAE» - 5

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 16.08.22

Putin bem clama pela eurocentralidade da política mundial mas Nancy Pelosi acha que não.

Por outras palavras, quando a NATO está prestes a exigir aos EUA um esforço especial de guerra, logo Pelosi decide cutucar o dragão chinês com vara curta «distraindo» o esforço de guerra para outro teatro de putativas operações.

A menos que me expliquem muito bem explicadinho, não consigo perceber o porquê desta iniciativa da terceira figura dos EUA.

Mas aquela gente dispõe das informações dos respectivos Serviços Secretos (ditos «da Inteligência») e nós, «burrinhos da Silva», só sabemos o que passa nos telejornais. Mas também temos cabeça para algo mais do que para poiso de chapéu.

E a primeira questão que me ocorre é a de saber se Biden e Pelosi estão combinados ou em confronto. Se estão combinados, a minha baralhação alcançará níveis superlativos; se estão em confronto, «algo vai mal no Reino da Dinamarca». E se se confirmar esta segunda hipótese, a da disputa, temos que nos perguntar sobre a solidez política do nosso aliado mandante. Estaremos órfãos de líder? E se sim, qual é a alternativa? O cenário é tão tenebroso que o melhor é enveredarmos por outras vias. E quanto antes!

Ao fim de décadas e décadas de influência mais ou menos descarada do comunismo na feitura desse conceito europeu algo difuso que é o «politicamente correcto», chegámos na Europa à situação actual de insignificância militar, enorme vulnerabilidade perante a agressividade russa e enorme carência de protecção americana.

Daqui resulta a necessidade urgente de reconstituição do poderio militar europeu.

Folheando rapidamente a História, quem são os países com efectiva experiência operacional? E a resposta, por ordem alfabética, são: Alemanha, Espanha, Finlândia, Portugal, Reino Unido.

Estes, os países que vejo mais vocacionados para o combate de proximidade. Não incluo propositadamente a Grécia nem a Turquia por causa da tradicional falta de solidariedade mútua; França deverá ficar como «Potência Nuclear».

Não faria sentido avançar aqui com mais sugestões que pudessem constituir uma base de planeamento de «Ordem de Batalha» não só porque não sou técnico nessas matérias mas também porque nada disso é djscutível em público. Tudo, no pressuposto de que o conflito será convencional, caso contrário… adieu!

De qualquer modo, a passagem do actual quase nihilismo militar europeu para uma condição de operacionalidade eficaz é processo relativamente demorado sobretudo quando o inimigo já dispõe de enormíssima capacidade de ataqueDaqui resulta a necessidade imperiosa de recurso a métodos expeditos que possibilitem o imediato cessar fogo na Ucrânia e o apaziguamento da situação no Mar da China. E esse método expedito consiste em mandar para a reforma (mais ou menos compulsiva e mais ou menos doirada) os protagonistas deste cenário tenebroso. Do lado de lá, refiro-me a Putin e seus putativos sucessores da linha da «grande mãe russa» e do lado de cá, refiro-me a Nancy Pelosi.

E eu, que detesto falar de pessoas, dou por mim a ter que reconhecer que bastaria «comer» meia dúzia de peças neste xadrez para que a paz regressasse ao mundo.

A ver…

16 de Agosto de 2022

Henrique Salles da Fonseca

COMENTÁRIOS:

 Anónimo  16.08.2022  18:36 Brilhante estudo e conclusão que reputo de perfeita e magistral. Concordo contigo a 100%. Grande abraço e parabéns. José Henriques

 Anónimo  16.08.2022  20:07: Não consigo perceber por que razão ninguém trava a Rússia, ou por que não lançam meia dúzia de mísseis para o seu território, à semelhança do que eles continuam a fazer na Ucrânia. Estão à espera que da Ucrânia não reste pedra sobre pedra? E como é que os ucranianos que ainda permanecem no seu país vão sobreviver ao General Inverno? A meu ver, a Nancy Pelosi quis testar a China, ver se cumpria a ameaça de atacar Taiwan. Mas foi uma jogada muito arriscada. Quanto ao desaparecimento de umas quantas pedras neste xadrez, estou totalmente de acordo com o meu amigo. Muito obrigada pela partilha. Um abraço       Filomena Ferro

 Anónimo  16.08.2022  20:34: Somente algumas linhas, muito menos do que merecem o teu post e os respetivos temas, Henrique. Já aqui escrevi, em tempos, também a título de comentário, que, quando ia a Macau nos primeiros anos de 90, me tinha apercebido que a China faria todos os possíveis para que o futuro de Macau e de Hong-Kong fossem “risonhos”, pois queria fazer a demonstração a Taiwan que se podia integrar livremente na China, que esta manteria o lema – um País, dois Sistemas. Infelizmente, em relação a Hong-Kong não está a correr bem e quanto a Macau não há muita informação. O Mundo aceitou pacificamente a substituição da China Insular (Formosa) pela China Continental na ONU, em 1971, o que facilitou a visita de Nixon à China em 1972, mantendo-se desde então a chamada “ambiguidade estratégica”. O pior momento para a clarificar ambiguidades é, quanto a mim, o presente, em que a Federação Russa está numa criticável guerra, estreitando as relações com a China (possivelmente nem há paralelo com o tempo da URSS). Qualquer movimento irreflectido em relação à China pode levar a esse maior estreitamento, ao revés do que tem sido a estratégica americana, desde 70. Um dos obreiros, se não mesmo o principal, dessa estratégia americana - Henry Kissinger – escreveu em 2014 no seu livro “A Ordem Mundial” (pág. 419): “Os presidentes dos maiores rivais do século XXI, os Estados Unidos e a China, comprometeram-se a evitar a repetição da tragédia europeia mediante “um novo tipo de relações entre grandes potências”. O conceito ainda carece de elaboração conjunta. É, no entanto, o único caminho para que as tragédias anteriores não se repitam.” A Administração americana apressou-se a garantir, perante a visita da Senhora, que não tinha havido nenhuma alteração do status quo, embora ficasse por esclarecer se era essa também a interpretação do Congresso dos EUA, de Pequim e de Taipé. O problema, Henrique, é quando temas desta importância saem dos canais diplomáticos conhecedores e passam a ser tratados voluntariosamente por terceiros, sem a ponderação e a expertise devidas. Tivemos uma amostra disso, até a saciedade, na Administração americana imediatamente anterior, onde a transparência e o escrutínio eram maiores. Recorda-te: Coreia do Norte, Rússia, China, Arábia Saudita, Israel, Palestinianos, Venezuela, e tanto mais. E como se a visita da idosa Senhora não chegasse, tivemos logo a seguir uma ida a Taiwan de congressistas americanos que, possivelmente, noutras circunstâncias teria passado despercebida. Independentemente do que se possa pensar do Senhor e da sua actuação, ele, como Presidente, e enquanto o for, merece o respeito devido. Mas a Presidente da Câmara dos Representantes, pelo menos uma vez, já mostrou ter dificuldade nesse domínio; foi quando rasgou a cópia do discurso, perante as câmaras de TV, que o Presidente em exercício tinha acabado de proferir à sua frente, no Congresso. Dê-se lugar à Diplomacia, e tenhamos esperança que a tensão se reduza. Já basta o que existe. Forte abraço. Carlos Traguelho

 

Nenhum comentário: