Na parte que nos toca, portugueses de
coragem, relativamente a uma possível participação nossa no “poderio militar
europeu” para uma resposta cabal a uma Rússia potente. Quanto ao resto, como
sempre, o Dr. Salles põe o dedo na ferida e, de facto, creio que todos sentimos
isso que o Dr. Salles bem define como uma manobra provocatória e tola da D.
Nancy, e atrevida e de menosprezo pelo continente europeu, para uma natural
união de esforços em defesa da Ucrânia. A D. Nancy preferiu alargar o alarido
para mostrar que a América tem uma missão superior ainda à da Rússia, de arraso
também, com o pretexto de Taiwan, que estava mais ou menos sossegada e
progredindo bem, diz-se e a Internet mostra. A D. Nancy deve estar orgulhosa do
seu feito e do efeito que esse feito está a causar, de mirabolância chinesa,
por enquanto, apenas vistosa e bem sonora, até ver. A pequenez humana também se
retrata no seu desejo de superioridade.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 16.08.22
Putin bem clama pela eurocentralidade
da política mundial mas Nancy Pelosi acha que não.
Por outras palavras, quando a NATO
está prestes a exigir aos EUA um esforço especial de guerra, logo Pelosi decide
cutucar o dragão chinês com vara curta «distraindo» o esforço de guerra para
outro teatro de putativas operações.
A menos que me expliquem muito bem
explicadinho, não consigo perceber o porquê desta iniciativa da terceira figura
dos EUA.
Mas aquela gente dispõe das
informações dos respectivos Serviços Secretos (ditos «da
Inteligência») e nós, «burrinhos da
Silva», só sabemos o que passa nos telejornais. Mas também temos cabeça
para algo mais do que para poiso de chapéu.
E a primeira questão que me ocorre é a
de saber se Biden e Pelosi estão combinados ou em confronto. Se estão combinados, a minha baralhação
alcançará níveis superlativos; se estão em confronto, «algo vai mal no Reino da
Dinamarca». E se se confirmar esta segunda hipótese, a da disputa,
temos que nos perguntar sobre a solidez política do nosso aliado mandante. Estaremos
órfãos de líder? E se sim, qual é a alternativa? O cenário é tão tenebroso
que o melhor é enveredarmos por outras vias. E quanto antes!
Ao fim de décadas e décadas de
influência mais ou menos descarada do comunismo na feitura desse conceito
europeu algo difuso que é o «politicamente correcto», chegámos na Europa à
situação actual de insignificância
militar, enorme
vulnerabilidade perante a agressividade russa e enorme carência de protecção
americana.
Daqui resulta a necessidade
urgente de reconstituição do poderio militar europeu.
Folheando rapidamente a História, quem
são os países com efectiva experiência operacional? E a resposta, por ordem
alfabética, são: Alemanha,
Espanha, Finlândia, Portugal, Reino Unido.
Estes, os países que vejo mais
vocacionados para o combate de proximidade. Não incluo propositadamente a Grécia nem a Turquia por causa da
tradicional falta de solidariedade mútua; França deverá ficar como «Potência
Nuclear».
Não faria sentido avançar aqui com mais
sugestões que pudessem constituir uma base de planeamento de «Ordem de Batalha»
não só porque não sou técnico nessas matérias mas também porque nada disso é
djscutível em público. Tudo, no pressuposto de que o conflito será convencional,
caso contrário… adieu!
De qualquer modo, a passagem do actual
quase nihilismo militar europeu para uma condição de operacionalidade eficaz é
processo relativamente demorado sobretudo quando o inimigo já dispõe de
enormíssima capacidade de ataque. Daqui resulta a necessidade imperiosa de recurso a métodos expeditos
que possibilitem o imediato cessar fogo na Ucrânia e o apaziguamento da
situação no Mar da China. E esse método expedito consiste em mandar para a
reforma (mais ou menos compulsiva e mais ou menos doirada) os protagonistas
deste cenário tenebroso. Do lado de lá, refiro-me a Putin e seus putativos
sucessores da linha da «grande mãe russa» e do lado de cá, refiro-me a Nancy
Pelosi.
E eu, que detesto falar de pessoas, dou
por mim a ter que reconhecer que bastaria
«comer» meia dúzia de peças neste xadrez para que a paz regressasse ao mundo.
A ver…
16 de Agosto de
2022
Henrique Salles da
Fonseca
COMENTÁRIOS:
Anónimo 16.08.2022 18:36 Brilhante estudo e conclusão que reputo de perfeita e
magistral. Concordo contigo a 100%. Grande abraço e parabéns. José
Henriques
Anónimo 16.08.2022 20:07: Não consigo perceber por que razão ninguém trava a
Rússia, ou por que não lançam meia dúzia de mísseis para o seu território, à
semelhança do que eles continuam a fazer na Ucrânia. Estão à espera que da
Ucrânia não reste pedra sobre pedra? E como é que os ucranianos que ainda
permanecem no seu país vão sobreviver ao General Inverno? A meu ver, a Nancy Pelosi quis testar a China, ver
se cumpria a ameaça de atacar Taiwan. Mas foi uma jogada muito arriscada.
Quanto ao desaparecimento de umas quantas pedras neste xadrez, estou totalmente
de acordo com o meu amigo. Muito obrigada pela partilha. Um abraço Filomena Ferro
Anónimo 16.08.2022 20:34: Somente
algumas linhas, muito menos do que merecem o teu post e os respetivos temas,
Henrique. Já aqui escrevi, em tempos, também a título de comentário, que,
quando ia a Macau nos primeiros anos de 90, me tinha apercebido que a China
faria todos os possíveis para que o futuro de Macau e de Hong-Kong fossem
“risonhos”, pois queria fazer a demonstração a Taiwan que se podia integrar
livremente na China, que esta manteria o lema – um País, dois Sistemas.
Infelizmente, em relação a Hong-Kong não está a correr bem e quanto a Macau
não há muita informação. O Mundo aceitou pacificamente a substituição da
China Insular (Formosa) pela China Continental na ONU, em 1971, o que facilitou
a visita de Nixon à China em 1972, mantendo-se desde então a chamada “ambiguidade
estratégica”. O pior
momento para a clarificar ambiguidades é, quanto a mim, o presente, em que a
Federação Russa está numa criticável guerra, estreitando as relações com a
China (possivelmente nem há paralelo com o tempo da URSS). Qualquer movimento irreflectido em relação à China
pode levar a esse maior estreitamento, ao revés do que tem sido a estratégica
americana, desde 70. Um dos obreiros, se não mesmo o principal, dessa
estratégia americana - Henry Kissinger – escreveu em 2014 no seu livro “A Ordem Mundial”
(pág. 419): “Os presidentes dos maiores rivais do século XXI, os Estados
Unidos e a China, comprometeram-se a evitar a repetição da tragédia europeia
mediante “um novo tipo de relações entre grandes potências”. O conceito
ainda carece de elaboração conjunta. É, no entanto, o único caminho para que as
tragédias anteriores não se repitam.” A Administração americana apressou-se
a garantir, perante a visita da Senhora, que não tinha havido nenhuma alteração
do status quo, embora ficasse por esclarecer se era essa também a interpretação
do Congresso dos EUA, de Pequim e de Taipé. O
problema, Henrique, é quando temas desta importância saem dos canais
diplomáticos conhecedores e passam a ser tratados voluntariosamente por
terceiros, sem a ponderação e a expertise devidas. Tivemos uma amostra disso, até a saciedade, na
Administração americana imediatamente anterior, onde a transparência e o
escrutínio eram maiores. Recorda-te: Coreia do Norte, Rússia, China,
Arábia Saudita, Israel, Palestinianos, Venezuela, e tanto mais. E como se a
visita da idosa Senhora não chegasse, tivemos logo a seguir uma ida a Taiwan de
congressistas americanos que, possivelmente, noutras circunstâncias teria
passado despercebida. Independentemente do que se possa pensar do Senhor e
da sua actuação, ele, como Presidente, e enquanto o for, merece o respeito
devido. Mas a Presidente da Câmara dos Representantes, pelo menos uma vez, já
mostrou ter dificuldade nesse domínio; foi quando rasgou a cópia do discurso,
perante as câmaras de TV, que o Presidente em exercício tinha acabado de
proferir à sua frente, no Congresso. Dê-se lugar à Diplomacia, e tenhamos
esperança que a tensão se reduza. Já basta o que existe. Forte abraço. Carlos
Traguelho
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