Para distrair das danças de um mundo
ensarilhado… Mas julgo que as despesas da dança foram por conta própria, sem
comezainas governativas por conta alheia, como acontece por aqui. Enfim, como
diria o nosso Torga “A vida é feita de
nadas”. O que não é tão verdadeiro assim, responderão os Zelenskys
cumpridores, noutra onda… e até a própria Sanna, que parece que também sabe ser
inteligentemente cumpridora, em ondas diversas, de vária rebentação, pelo que
se lê, e que pode não interessar assim tanto…
I TEXTO: Hillary
Clinton entra na onda de apoio à primeira-ministra finlandesa com uma foto e um
apelo: “Continua a dançar”
A política norte-americana Hillary
Clinton entrou na onda de apoio a Sanna Marin, a primeira-ministra da
Finlândia. A imagem do momento a dançar é do período em que foi Secretária de
Estado.
OBSERVADOR, 28 ago 2022
Hillary
Clinton, que em 2016 concorreu nas eleições presidenciais contra Donald Trump,
juntou-se à onda de apoio à primeira-ministra finlandesa Sanna Marin. Um vídeo da política finlandesa a dançar com amigos numa festa gerou controvérsia entre
os mais conservadores.
Depois
disso, gerou-se uma onda de apoio a Sanna Marin, com mulheres finlandesas (e
não só) a partilharem vídeos e fotografias a dançar. Em muitas das publicações
é referido que o facto de se dançar numa festa não é sinónimo de ausência de
competência.
É
nesse sentido que é feita a publicação da norte-americana Hillary Clinton. Este
domingo, usou a rede social Twitter para partilhar uma imagem onde é vista a
dançar.
“Como disse Ann Richards [a primeira mulher a
ser governadora do Texas, em 1991]”, partilhou Clinton, “a Ginger Rogers fez
tudo o que o Fred Astaire fez. Só que fê-lo ao contrário e em saltos altos”.
“Aqui
estou eu a dançar em Cartagena quando estava lá para uma reunião enquanto
Secretária de Estado”, contextualizou a política norte-americana. “Continua
a dançar, Sanna Marin.”
Hillary
Clinton foi Secretária de Estado entre 2009 e 2013, durante a administração de
Barack Obama. Entre 2001 e 2009 foi Senadora do Estado de Nova Iorque. Em 2016,
concorreu à presidência dos Estados Unidos pelo partido democrata, enfrentando
Donald Trump.
Um vídeo de Sanna Marin a dançar numa
festa com celebridades gerou polémica na Finlândia na semana passada. Nas imagens surgiam também o deputado
social-democrata finlandês Ilmari Nurminen, que é presidente da Câmara
Municipal de Tampere, a cantora finlandesa Alma e a irmã, Anna, a fotógrafa
Janita Autio, a apresentadora Tinni Wikström, a locutora Karoliina Tuominen e o
estilista Vesa Silver.
Sanna Marin disse
que “não tinha nada a esconder” após a divulgação das imagens e
disponibilizou-se a fazer um teste de despiste de drogas – que teve resultado
negativo.
HILLARY
CLINTON ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO FINLÂNDIA EUROPA
II TEXTO: Filha de
uma família arco-íris, medíocre na escola, hoje é “a primeira-ministra mais
fixe do mundo”. A vida e as polémicas de Sanna Marin
Filha de uma família pobre e
pouco convencional, foi uma aluna medíocre e aos 34 anos chegou a PM — mas não
deixou de fazer a vida de sempre. As polémicas, os críticos e os fãs de Sanna
Marin.
OBSERVADOR, 28 ago 2022, 21:4563
Quando,
em maio deste ano, o Figaro publicou um perfil de Sanna Marin — “A dama de ferro finlandesa” — e escolheu garantir, logo a
abrir, que os tempos em que a primeira-ministra era notícia por ir para a
discoteca depois de um alegado contacto de risco ou por ter postado uma
fotografia com um vestido novo eram passado, talvez tenha subestimado o verão
finlandês e o seu sol que nunca se põe.
Isso e a personalidade da líder do SDP, o Partido
Social-Democrata da Finlândia, que ao ser nomeada para o cargo em dezembro de
2019, com apenas 34 anos, fez sempre questão de garantir que a política
nunca a mudaria enquanto pessoa.
Dizia o jornal francês, a guerra na Ucrânia tinha
mudado “radicalmente” o status
quo e não apenas a imprensa mas também a oposição finlandesas
estavam “unidas” em torno da mulher que visitou
Zelensky em Kiev, esteve em Bucha e Irpin, e acabou com a tradicional
neutralidade nacional, liderando agora o país rumo à adesão à NATO — e anunciou
recentemente que vai reduzir de forma drástica o número de vistos concedidos
aos turistas russos. Sabe-se agora, três meses e uma mudança de estação depois, que a união
não será assim tão forte. Em menos de uma semana, a primeira-ministra da
Finlândia, agora com 36 anos, encheu páginas na imprensa nacional e
internacional, primeiro por se ter deixado filmar a cantar, dançar e fazer
poses com um grupo de amigos, numa festa privada; logo a seguir por ter vindo a
público uma fotografia de duas conhecidas influencers, suas amigas, tirada em
Kesäranta, a residência oficial dos primeiros-ministros finlandeses, em
Helsínquia, enquanto se beijavam na boca, despidas da cintura para cima
— um cartaz com o nome do país estrategicamente posicionado fez com que a
imagem não fosse banida das redes sociais e pudesse ser livremente publicada em
primeiras páginas e aberturas de telejornais.
"Estivemos
na sauna, nadámos e passámos tempo juntos. Este tipo de fotografias não
deveriam ter sido tiradas, mas, tirando isso, nada de extraordinário aconteceu
no convívio"
À
primeira polémica, Sanna Marin começou por responder com a descontração que lhe
é característica — em junho, por exemplo, anunciou ao país que estava curada da
Covid com uma story no Instagram, de calções curtos pretos e soutien desportivo
da mesma cor, a fazer lançamentos num campo de basquetebol; nas suas redes
sociais ficou conhecida por tanto partilhar momentos de cerimónias e viagens
oficiais, como receitas de massa com molho de tomate ou fotografias a
amamentar a filha, nascida em 2018.
“Espero
que no ano 2022 se aceite que até os governantes dançam, cantam e vão a festas.
Não queria que estas imagens se tivessem espalhado, mas cabe aos eleitores
decidir o que pensam sobre o assunto”, disse na passada semana aos jornalistas
que a questionaram.
Logo
a seguir, quando se disseminou a teoria de que poderia ter havido consumo de
substâncias ilícitas na festa, em grande parte alimentada por Riikka Purra,
a líder do Partido dos Finlandeses, de extrema-direita e a segunda maior força
no Parlamento do país, Sanna Marin respondeu com um teste de drogas.
Que,
sem surpresas de maior, pelo menos para Janne M. Korhonen, analista político, deu negativo. “Este é
provavelmente o escândalo mais estúpido que já vi, e já vi alguns bastante
estúpidos”, escreveu no Twitter na semana passada, numa espécie de resumo do
caso para os não falantes de finlandês, depois de explicar que a hipótese droga
teria sido colocado em cima da mesa, que é como quem diz nas redes sociais, por
um “conhecido neonazi” que garantiu ter ouvido, algures no vídeo, a
expressão “jauhojengi”, qualquer coisa como “gangue da farinha”.
“Note-se
que um perito convenientemente anónimo diz que alguém no áudio está a falar de
‘farinha’ e que tanto polícia, como jornalistas de crime e investigadores
dizem que essa não é sequer uma palavra usada na cultura finlandesa da droga”,
garantiu Korhonen, descrito pelo
Euronews como uma espécie de autoridade do Twitter para a tradução e
descodificação da política finlandesa para o resto do mundo.
Problema:
à segunda polémica, a da fotografia das influencers em topless,
alegadamente tirada em Kesäranta, para onde Sanna Marin se mudou com o marido e
a filha, agora com 4 anos, a meio de 2020, para facilitar a gestão da pandemia,
Janne M. Korhonen já não twittou.
E a
primeira-ministra finlandesa também respondeu de forma diferente — pediu
desculpa, admitiu que a fotografia “não é apropriada” e explicou que foi tirada
em julho, na casa de banho de hóspedes da residência oficial, depois de uma
noite passada no Festival de Ruisrock, o segundo festival de rock mais antigo
do mundo, na ilha de Ruissalo, perto de Turku, a mais de 150 quilómetros de
Helsínquia. “Estivémos na sauna, nadámos e passámos tempo juntos. Este tipo de
fotografias não deveriam ter sido tiradas, mas, tirando isso, nada de
extraordinário aconteceu no convívio”, disse Sanna Marin, que passados dois
dias, na quarta-feira, chegou a chorar por causa do escândalo, o maior por que
já passou, na sua não tão curta vida política.
A
polémica do blaser, os hashtags de apoio e as lágrimas
“Ela
não surge do nada. E é bastante apreciada”, explicou aquando da sua nomeação para o cargo, no final
de 2019, Johanna Kantola, professora de estudos de género na Universidade de
Tampere, justamente a alma mater de Sanna Marin, ao New York Times.
Presidente
da autarquia local entre 2013 e 2017, a atual primeira-ministra finlandesa
começou a captar as atenções nacionais nesse período, através dos vídeos das
sessões camarárias, transmitidos via YouTube. “Foi bastante admirada pela forma
como conseguia gerir toda a situação. É muito centrada nos assuntos e nas
políticas, por isso quer falar sobre eles, não atrair atenções sobre si própria”,
acrescentou a professora nessa altura.
Esta
não foi a primeira vez desde que se tornou primeira-ministra que Marin foi
notada por outros aspetos que não as suas decisões políticas. Em outubro de 2020, quando se deixou fotografar para
a capa da revista feminina Trendi, a acompanhar uma entrevista em que falou
sobre as exigências do trabalho e a dificuldade que sentia em equilibrá-lo com
a vida familiar, Sanna Marin foi acusada de estar
a desperdiçar o tempo que devia empregar na gestão da pandemia no país. Mas o
que mais polémica causou foi a roupa escolhida para a produção fotográfica: um
conjunto de calças e blaser pretos — sem camisa nem roupa interior sob o casaco.
Na
altura, as redes sociais encheram-se com o hashtag #imwithsanna, “estou com
Sanna”, e de fotografias de homens e mulheres de casaco preto sem nada por
baixo. Agora, a onda de solidariedade foi ainda maior. Para além de Antti
Lindtman, líder do grupo parlamentar do SPD, também Annika Saarikko, presidente
do Partido do Centro, o segundo maior da coligação do governo, a segurou. Os
vídeos de mulheres a dançar multiplicaram-se nas redes sociais (o hashtag mais
popular é #solidaritywithsannamarin). E foram vários os políticos de todo o
mundo a declarar o seu apoio à primeira-ministra, considerada um dos membros
mais à esquerda do SDP e, pelo menos para os seus seguidores no Instagram,
como notou recentemente
o alemão Bild, “a primeira-ministra mais fixe do mundo”.
Melanie
Vogel, senadora francesa do Europa Ecologia – Os Verdes, recorreu ao Twitter: “Os líderes políticos fazem festas.
Por vezes também se embebedam, ressonam, caem, riem, sujam a roupa, dançam,
vomitam. Eles são seres humanos. Superem isso”. Fiona Patten, a australiana que
é líder do Reason e que em 2009 fundou o controverso Partido do Sexo, também:
“Se libertar a tensão numa festa é a pior coisa que a vossa primeira-ministra
já fez, então vocês são um país com muita sorte”, escreveu a deputada do parlamento de Victoria naquela
rede social.
Ainda
assim, Sanna Marin acusou a pressão e esta quarta-feira, num discurso no
mercado de Lati, cidade no sul da Finlândia, desabou em
palco. “Esta semana não foi fácil na minha vida. Na verdade, tem
sido bem difícil. Quero acreditar que as pessoas olham para o que fazemos no trabalho e
não para o que fazemos no nosso tempo livre”, disse entre lágrimas. “Também sou
humana. Por vezes também eu, no meio destas nuvens escuras, anseio por alegria,
luz e diversão. É privado, é prazer, é vida, mas não perdi nenhum dia de
trabalho, não faltei a nenhuma tarefa.”
O fardo
de ser “uma mulher jovem” e as críticas dos parceiros de coligação
Na altura em que tomou posse, em substituição do
veterano Antti Rinne, que resignou ao cargo menos de seis meses após ter
formado governo, Sanna Marin tornou-se a primeira-ministra mais jovem do mundo,
recorde que manteve durante menos de um mês — a finlandesa chegou ao cargo a 10
de dezembro de 2019, aos 34, o democrata-cristão–conservador Sebastian Kurz foi
eleito a 7 de janeiro de 2020 na Áustria, com apenas 33.
A coligação que passou a comandar, e
que junta SPD, Partido do Centro, Aliança dos Verdes, Aliança de Esquerda e
Partido Popular Sueco da Finlândia, todos liderados por mulheres,
quatro delas à data com menos de 35 anos, rapidamente se tornou
sensação no mundo inteiro.
Sobretudo
pelos motivos errados, confessou, não sem alguma exasperação, logo em janeiro de
2020, numa entrevista à Vogue britânica.
“Em todos os cargos em que já estive, o meu género foi
sempre o ponto de partida — sou uma mulher jovem. Espero que um dia não seja
um problema, que esta pergunta não seja feita. Quero fazer um trabalho tão bom
quanto possível. Não sou melhor nem pior do que um homem de meia-idade”, disse
Marin, para depois recordar uma pergunta que lhe tinham feito, escassos dias
antes, num painel em Davos, sobre como e onde é que o seu governo de mulheres
se reunia.
“Funciona como qualquer governo. Não nos encontramos
num balneário feminino e temos conversa de balneário”, foi a resposta que deu.
“Se eu não conseguir, se falhar — porque sou uma política e, como todos
sabemos, as coisas nem sempre correm como queremos — não quero que isso seja
interpretado como ‘Claro que falhou, falhou porque era uma mulher jovem’”,
disse à Vogue a primeira-ministra finlandesa, que se filiou na juventude do SPD
em 2006, aos 19 anos, e diz ter nas alterações climáticas, na igualdade e no
bem-estar social as principais prioridades.
Uma das metas do seu governo, tida como uma das mais
ambiciosas em todo o mundo, foi a de atingir a
neutralidade carbónica nacional já em 2035. Mas, justamente ao longo desta semana “bem difícil”, Marin
viu a Aliança dos Verdes vetar uma proposta do SPD, que queria, de forma
excecional, conceder mais direitos de emissão num esforço de contenção do
aumento dos preços da eletricidade. A líder, Maria Ohisalo, chamou-lhe um
“retrocesso”. O eurodeputado Ville Niinistö aproveitou a deixa para ir mais
longe e, em entrevista ao tabloide Ilta-Sanomat, acusou a primeira-ministra de não
converter em políticas aquilo que apregoa publicamente, agora que se transformou numa
“estrela internacional”.
“Durante o ano
passado, o perfil da primeira-ministra voltou-se mais fortemente para o branding de imagem através das
redes sociais e da imprensa internacional. Isso por si só não me incomoda,
porque todos os políticos fazem o mesmo. Mas estão a tentar criar uma imagem
dela como precursora progressiva de uma nova geração de feminismo e essa imagem
não corresponde à realidade”, atacou o parceiro de coligação, para depois
acusar Marin de se aliar “repetidamente” à linha centrista do governo e de se
“opor à protecção da natureza e à legislação climática na União Europeia”.
A
vendedora, filha de uma família arco-íris, que se tornou primeira-ministra
Eleita pela primeira vez para o Parlamento finlandês
em 2015 (já na qualidade de vice-presidente do SPD), reeleita em 2019 e, nessa
altura, feita ministra dos Transportes e das Comunicações, para em menos de meio
ano assumir a liderança do governo, a vida de Sanna Marin nunca foi fácil, fez
questão de reiterar numa série de entrevistas e de escrever até no seu blogue
pessoal.
E nem sequer se estava a referir ao episódio com Mart
Helme, o na altura ministro do Interior da Estónia e presidente do EKRE, o
Partido Popular Conservador, que depois de a ver substituir Antti Rinne não
apenas questionou a sua competência como fez comentários ostensivos sobre os
anos em que, ainda estudante, trabalhou numa padaria, a distribuir jornais e na
caixa de uma loja.
“Lembro-me de Vladimir Ilyich Ulianov a dizer que
todos os empregados de cozinha podiam tornar-se ministros, ou lá o que foi que
ele disse. Agora vemos que uma vendedora se tornou primeira-ministra e que há
outros activistas de rua e pessoas sem instrução que também se tornaram membros
do governo”, disse o político numa rádio da Estónia, dando origem a um incidente
diplomático que acabou com Kersti Kaljulaid, então presidente do país, a pedir
desculpas ao homólogo finlandês, Sauli Niinistö.
Nascida
em Helsínquia a 16 de Novembro de 1985, filha única de uma órfã e de um
alcoólico (que já tinha outros dois filhos, de uma anterior relação), Sanna
Mirella Marin
destacou-se numa família pobre — foi a primeira a frequentar o ensino
secundário, onde admite ter tido um “desempenho medíocre”, e a primeira a
chegar à universidade, “graças ao estado social finlandês e a professores
encorajadores e exigentes”, escreveu no seu site pessoal em 2016.
Tinha
apenas 2 anos quando os pais se separaram — “O meu pai tinha um problema com a
bebida, e a relação não funcionava”, contou numa entrevista em agosto do ano passado, após a
morte de Lauri Marin, aos 65 anos. “Ele não teve qualquer contacto comigo. Não
me lembro de ter recebido nenhum cartão de aniversário ou qualquer outro tipo
de contacto. Quando eu era criança, a minha mãe ainda tentou manter-se em
contacto, mas depois desistiu”, revelou a primeira-ministra, para depois
confirmar que não, não tinha estado presente no funeral. “Eu não cresci com o
meu pai. Não sinto que ele faça parte da minha família. As famílias das pessoas
são diferentes.”Configurar
A
de Sanna Marin, na década de 1990, foi seguramente diferente, assumiu também em
várias ocasiões: depois do divórcio, a mãe refez a vida com outra mulher, à
data um tabu no país que só em 2017 aprovou finalmente o casamento entre
pessoas do mesmo sexo. “Havia um silêncio a este respeito. E eu senti esse
silêncio. Não me sentia bem, ao crescer, que houvesse esse silêncio”, disse à
Vogue a primeira-ministra, que cresceu em várias cidades da Finlândia, antes de
finalmente se fixar em Tampere, 180 quilómetros a norte de Helsínquia.
“Sou
filha de uma família arco-íris. Para mim, os direitos humanos, a igualdade ou a
igualdade das pessoas nunca foram questões de opinião, mas a base do meu
entendimento moral”, já tinha
escrito no seu site, onde explicou
também por que motivo se aproximou da política, que à partida lhe tinha
parecido tão distante da sua realidade. “O estado social ou as regras do
local de trabalho não são um dado adquirido, mas o resultado de um trabalho
árduo. A social-democracia pareceu-me um movimento a favor da igualdade,
liberdade e paz.”
Na
Universidade de Tampere, que em 2020 a distinguiu, Sanna
Marin estudou Ciências Administrativas, ao mesmo tempo que trabalhava para o
departamento de juventude da cidade de Tampere e como assistente de loja. “Não
contraí um empréstimo de estudante porque não confiava em mim para poder
pagá-lo de volta. A situação teria certamente sido diferente se o rendimento da
minha família tivesse sido mais elevado”, assumiu no mesmo texto.
Nessa
altura, já namorava com Markus Räikkönen, o ex-jogador de futebol do clube
local e actual empresário na área da energia eólica (que não faz parte da
família do campeão de Fórmula 1), com quem casou em Kesaränta, em agosto de
2020, depois de 16 anos de relação.
Quando Emma
Amalia nasceu, numa prova de que a defesa da paridade não é só para finlandês
ver, decidiram dividir a licença parental de forma igual, seis meses para cada
um. “Eu pude voltar ao trabalho, e ele pôde passar tempo de qualidade com a
nossa filha. Eles agora têm uma relação muito boa. Penso que é muito importante
que os pais tenham o direito de passar mais tempo com os filhos, é uma fase
única na vida”, disse na mesma entrevista à Vogue a primeira-ministra, cujo
governo anunciou em fevereiro de 2020 a intenção de aumentar para 14 meses as licenças
parentais e de as tornar iguais para pais e mães.
Sobre a restante divisão de tarefas domésticas com o
marido Sanna Marin nunca se manifestou publicamente mas o facto de, uma vez,
ter feito referência à predileção que tem por fazer limpezas, atividade que,
diz, a ajuda a relaxar e a pensar — “Porque te podes concentrar por completo apenas
numa coisa concreta e ver imediatamente os resultados do trabalho”, explicou —
voltou a suscitar-lhe dúvidas sobre a sociedade finlandesa e o lugar que as
mulheres ocupam verdadeiramente nela.
Na primeira ocasião em que a encontraram depois de ter
cometido essa inconfidência, revelou à
revista Trendi, a pergunta que os jornalistas lhe fizeram foi: “Limpou a casa
antes de sair?”. Isto precisamente no dia em que seria eleita líder do SPD: “Em
primeiro lugar, por que é que a limpeza é a primeira coisa que perguntam à
primeira-ministra e à futura líder do partido quando ela chega à reunião do
partido? Em segundo lugar, questiono-me sobre a discussão que surgiu sobre
isso. Para mim, a limpeza é relaxamento e uma forma de não pensar em nada
enquanto estou a fazer uma coisa física. É uma escolha pessoal, não uma
declaração social.”
A 2 de abril de 2023 há eleições legislativas na
Finlândia, a primeira prova de fogo para Sanna Marin, que, na verdade, e apesar
de durante a pandemia ter atingido níveis de aceitação de 66%, não foi eleita
pelo povo, mas pelos companheiros do partido. Nessa altura será possível
perceber se os escândalos recentes fizeram mossa e se os actuais parceiros de
coligação, que a avaliar pelas críticas recentes dos Verdes já foram mais
próximos, se mantêm ao seu lado.
Em 2019, ao New York Times, a professora Johanna
Kantola, da Universidade de Tampere, deixou claro que “obviamente” o que não
faltavam no país eram pessoas que não estavam “felizes por terem uma liderança
só de mulheres do governo”. Por muito que possa não ganhar as eleições, Sanna
Marin já deixou assente: a justificação da idade ou do género nunca dará.
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