Histórias de gente.
12 h de
3/8/22
COINCIDÊNCIAS NOTÁVEIS
A páginas 205 do recente Livro
"HUMANIDADE. UMA
HISTÓRIA DE ESPERANÇA", o holandês RUTGER BREGMAN narra o seguinte episódio:
"O dia é 28 DE Setembro de 1943. Na sede do edifício da Assembleia Operária de Copenhaga estão reunidos
todos os dirigentes do Partido Social Democrata da Dinamarca. De pé, diante
deles, está um visitante de uniforme nazi (a Dinamarca estava então
ocupada pelo Exército alemão). Os ouvintes fitam-no em choque. Diz ele: «O
desastre avizinha-se. Está tudo planeado ao pormenor. Vão ancorar navios no
embarcadouro ao largo de Copenhaga. Os vossos pobres compatriotas judeus que
forem apanhados pela Gestapo serão levados para bordo dos navios e
transportados para destino desconhecido». O interlocutor está pálido e
treme. O seu nome é Georg Duckwitz e ficará para história como um nazi
convertido. O seu aviso produziria um milagre" . Informados do
que iria acontecer, os dinamarqueses organizaram-se e rapidamente puseram na
Suécia 7 000 dos seus compatriotas judeus ameaçados de holocausto"
***
De acordo com o plano pormenorizado engendrado pelas SS, o raide alemão estava
marcado para sexta-feira 1 de Outubro de 1943. Às 20, 00 horas em ponto dessa
Sexta-feira, centenas de soldados alemães começaram a bater a portas em todo o
país para arrebanhar judeus ali residentes. Os navios que os aguardavam no
porto poderiam transportar 6.000 passageiros. Os soldados, porém, deram-se
conta de que eram raros os judeus que habitavam na Dinamarca . O aviso
de Duckwitz supra permitiu que 99% dos judeus dinamarqueses tivessem
emigrado atempadamente.
Comenta Bregman: "Os dinamarqueses procederam assim porque ali
prevaleceu o espírito humanista. Os dirigentes dinamarqueses - incluindo o Rei
- haviam insistido sempre na inviolabilidade do Estado de direito democrático.
Ali, não havia judeus: só havia compatriotas. Qualquer pessoa que tentasse pôr
os outros em conflito não era considerada digna. Até Duckwitz, que fora um
activo anti semita, ficou infectado com o espírito de humanidade dinamarquês."
Hannah Arendt, por seu turno, observou: "Este foi o único caso conhecido em que
a população local manifestou abertamente a sua repulsa face à política nazi e o
resultado parece ter sido que aqueles que contactaram com esta oposição mudaram
de opinião. Ao depararem-se com uma resistência de princípios, a dureza moral
que até aí haviam evidenciado derreteu-se como manteiga ao sol".
COINCIDÊNCIA FAMILIAR
Entre os dinamarqueses que se salvaram, figurava Nils George Heine, - de estirpe judaica, embora não praticante
- pai de minha mulher Jette. Avisado atempadamente embarcou num pesqueiro que
se fez ao Báltico e o deixou na Suécia, donde voltaria em 1945, integrado nas
forças libertadores armadas e treinadas pelos suecos. Curioso também que quem
me ofereceu o livro de Bregman foi uma bisneta de Nils - Frederica - sem saber
da relação que o mesmo estabelece com o seu bisavô.
Foto: Valgerda
& Nils (pais de Yette) quando jovens
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