quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Histórias de povos


Histórias de gente.

Por LUIS SOARES DE OLIVEIRA

12 h  de 3/8/22

 

COINCIDÊNCIAS NOTÁVEIS

A páginas 205 do recente Livro "HUMANIDADE. UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA", o holandês RUTGER BREGMAN narra o seguinte episódio:

"O dia é 28 DE Setembro de 1943. Na sede do edifício da Assembleia Operária de Copenhaga estão reunidos todos os dirigentes do Partido Social Democrata da Dinamarca. De pé, diante deles, está um visitante de uniforme nazi (a Dinamarca estava então ocupada pelo Exército alemão). Os ouvintes fitam-no em choque. Diz ele: «O desastre avizinha-se. Está tudo planeado ao pormenor. Vão ancorar navios no embarcadouro ao largo de Copenhaga. Os vossos pobres compatriotas judeus que forem apanhados pela Gestapo serão levados para bordo dos navios e transportados para destino desconhecido». O interlocutor está pálido e treme. O seu nome é Georg Duckwitz e ficará para história como um nazi convertido. O seu aviso produziria um milagre" . Informados do que iria acontecer, os dinamarqueses organizaram-se e rapidamente puseram na Suécia 7 000 dos seus compatriotas judeus ameaçados de holocausto"

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De acordo com o plano pormenorizado engendrado pelas SS, o raide alemão estava marcado para sexta-feira 1 de Outubro de 1943. Às 20, 00 horas em ponto dessa Sexta-feira, centenas de soldados alemães começaram a bater a portas em todo o país para arrebanhar judeus ali residentes. Os navios que os aguardavam no porto poderiam transportar 6.000 passageiros. Os soldados, porém, deram-se conta de que eram raros os judeus que habitavam na Dinamarca . O aviso de Duckwitz supra permitiu que 99% dos judeus dinamarqueses tivessem emigrado atempadamente.

Comenta Bregman: "Os dinamarqueses procederam assim porque ali prevaleceu o espírito humanista. Os dirigentes dinamarqueses - incluindo o Rei - haviam insistido sempre na inviolabilidade do Estado de direito democrático. Ali, não havia judeus: só havia compatriotas. Qualquer pessoa que tentasse pôr os outros em conflito não era considerada digna. Até Duckwitz, que fora um activo anti semita, ficou infectado com o espírito de humanidade dinamarquês."

Hannah Arendt, por seu turno, observou: "Este foi o único caso conhecido em que a população local manifestou abertamente a sua repulsa face à política nazi e o resultado parece ter sido que aqueles que contactaram com esta oposição mudaram de opinião. Ao depararem-se com uma resistência de princípios, a dureza moral que até aí haviam evidenciado derreteu-se como manteiga ao sol".

COINCIDÊNCIA FAMILIAR

Entre os dinamarqueses que se salvaram, figurava Nils George Heine, - de estirpe judaica, embora não praticante - pai de minha mulher Jette. Avisado atempadamente embarcou num pesqueiro que se fez ao Báltico e o deixou na Suécia, donde voltaria em 1945, integrado nas forças libertadores armadas e treinadas pelos suecos. Curioso também que quem me ofereceu o livro de Bregman foi uma bisneta de Nils - Frederica - sem saber da relação que o mesmo estabelece com o seu bisavô.

Foto: Valgerda & Nils (pais de Yette) quando jovens

 

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