Refiro-me, é claro, à de Manuel Villaverde Cabral, neste seu texto sobre incêndios e incendiários e permissividade a esses, por um governo que usa de sofisma nas justificações, ou de encolhimento ou mesmo de alarde visível e indecoroso da sua vaidade sem pruridos, perante a passividade geral, que inclui uma actuação de indiferença maneirinha ou perversa do PR. Igualmente me reporto ao comentário esclarecedor de Joaquim Rodrigues, na tal questão da honestidade no apontamento argumentativo de apoio ao assunto, de que em vão se rosna.
O país está feito…
Esta relíquia do passado
político-administrativo que é o voluntariado
dos bombeiros constitui mais um, entre muitos, dos mecanismos
clientelares dos grupos partidários locais.
MANUEL VILLAVERDE CABRAL
OBSERVADOR, 20 ago 2022, 00:351
…
mas a responsabilidade não é do governo – diz o PS! Pelo contrário, é o
professor de economia Ricardo Cabral quem
termina a sua página do Público de dia 15 com um parágrafo idílico
onde se escreve que, «mesmo considerando o efeito
decorrente das medidas de confinamento social em 2021, os indicadores sugerem
que a actividade económica portuguesa regista um momento particularmente bom,
com taxas de crescimento económico reais que não se observam há décadas».
Qualquer de nós pensaria o contrário
depois de o autor ter escrito antes ser «provável que a taxa de inflação se
mantenha a níveis elevados na área do euro, o que não deixará de gerar
dificuldades acrescidas à política monetária do BCE»… Mas, aparentemente, não a Portugal! Com efeito, estando ainda o país a beneficiar
menos do turismo do que antes da pandemia e não sendo muitas das receitas mais
do que reflexos de uma inflação de 10%, o autor não só silencia totalmente a
continuação da guerra como parece ignorar a recessão de países do porte dos
Estados Unidos e da China, bem como parte da UE. E tão pouco fala do aumento
contínuo da dívida pública portuguesa, cujo
montante bateu todos os records bem como os juros dos novos empréstimos.
Numa conjuntura destas, mesmo com o
dinheiro gratuito do PRR e os consabidos Fundos Europeus, é difícil imaginar o
país a contrariar as tendências bélicas e económicas dominantes da actual
conjuntura. E sobretudo não é verosímil que os governos do PS façam bem o que
sempre fizeram mal. Mais do
que um exemplo, os maiores incêndios florestais que temos visto nos últimos
tempos são a prova da incompetência e do clientelismo com que têm sido geridos
pelos governos, sendo de recordar as responsabilidades pessoais
do actual primeiro-ministro neste campo, já que foi ministro da Administração
Interna no primeiro governo Sócrates de 2005 a 2007.
Não é por acaso, com efeito, que Portugal é, simultaneamente, o país
da Europa cujas florestas mais ardem proporcionalmente ao tamanho e cuja
propriedade é de longe a mais privatizada, facto este que resultou de um golpe
jurídico promovido pelo PCP após o 25 de Abril na perspectiva de colectivizar
os baldios anteriormente geridos pelo sector público. Com a emigração, o
envelhecimento e a morte dos agricultores do século passado, as florestas
ficaram, como se vê, ao deus-dará.
Quanto
à propriedade, basta dizer que Portugal é de longe o país onde a floresta foi
mais privatizada: os
actuais proprietários, além de serem muitas vezes desconhecidos, dada a
ausência de recenseamento rural no Norte do país, são donos de mais de 95% da
área florestal, a qual representa um terço do território nacional mas apenas 2%
da floresta europeia (Eurostar Statistical books. Agriculture, forestry and
fishery statistics, 2014, 141)! O que fazer então? É mais uma questão demasiado
melindrosa para o PS lhe mexer e assim continuará enquanto o país não tomar
consciência da realidade!
Outra
questão melindrosa que os governos também não se atreveram a alterar até hoje,
apesar dos sucessivos incêndios rurais, é a continuação dos chamados bombeiros
voluntários, sem ordenado nem treino regular,
assim como sem os suportes necessários para o exercício da profissão. Ora, esta relíquia do passado
político-administrativo que é o voluntariado constitui mais um – entre muitos –
dos mecanismos clientelares dos grupos partidários locais.
Ora, enquanto os bombeiros não forem profissionalizados, remunerados
como todas as profissões e devidamente enquadrados pelos diversos técnicos
especializados, continuarão pois a depender dos caciques locais. Enquanto tal
durar, só se podem esperar falhas de organização e de profissionalismo, tanto
mais lamentáveis quanto a evolução climática e demográfica do país exige já
essa profissionalização e continuará a exigir no futuro. As provas do
clientelismo reinante chegam todos os dias à comunicação social apoiada
financeiramente pelo governo!
O
PS pretende manifestamente apresentar os sucessivos incêndios florestais como
mais um mero fenómeno conjuntural e continua a fazer o mesmo que faz com a
pandemia, quando os óbitos, e sobretudo a chamada «mortalidade
excessiva», atingem hoje os valores
proporcionalmente mais elevados da Europa. Ora, ainda a pandemia ia no
adro, já cientistas portugueses
começavam a investigar o fenómeno das «mortes a mais», mas tiveram de desistir devido à intervenção da DGS,
como comentei na altura!
Hoje, seja no plano macro-económico; seja no plano político-militar;
sejam sucessivos percalços como os incêndios sem controlo; a liquidação do SNS;
bem como o atraso e empobrecimento do sistema escolar, assim como os prometidos
cuidados infantis, o tal governo absoluto do PS sobrevive graças à agitação
propagandística do PR e, sobretudo, à ausência de oposição organizada e
esclarecida. Por motivos diferentes, nem o PSD nem o Chega estão à altura. Só a
Iniciativa Liberal parece ter noção do que é preciso fazer mas não possui o
tamanho suficiente. Quanto ao resto, esqueçam!
GOVERNO POLÍTICA INCÊNDIOS ACIDENTE SOCIEDADE
COMENTÁRIOS:
Joaquim Rodrigues: Quando há mais de uma década se sabe (em resultado de um estudo feito no
âmbito da União Europeia), que Portugal tem, em média,10 vezes mais incêndios,
por Km2, que os restantes Países da Bacia Mediterrânica, isto não deveria ter
merecido, há muito tempo, a investigação e o esclarecimento cabal desta
situação anómala, por parte dos nossos Governantes?
Só depois de se saber quais são as verdadeiras causas dos incêndios, quem
são os eventuais causadores e as suas motivações, é que se podem definir as
medidas a tomar, para além, obviamente, das de prevenção, no ordenamento e
gestão da floresta que, essas, são sempre obrigatórias, em qualquer
circunstância.
Atirar dinheiro para cima do problema, sem encontrar uma explicação para a
situação anómala que se verifica em Portugal, é aumentar o "negócio"
do fogo, o que, só agrava a situação.
As medidas que têm sido tomadas, em relação aos incêndios e florestas,
mostram a qualidade dos Governantes que temos tido em Portugal.
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