quarta-feira, 17 de agosto de 2022

O que nós temos é excesso de complexo


Afinal, trata-se de um fenómeno bem geral e a culpa é da seca, embora se rosnem outros motivos, não sei se lá fora também, que no rosnar é que vai o ganho, embora isso também dependa do volume do rosnado. Em todo o caso, acho que não somos mais do que os outros países, que também têm chamas para apagar. Ao contrário de provérbio, pois, que informa que só sabemos ver o argueiro nos olhos dos outros, cegos que somos para os nossos ciscos, neste caso só vemos o argueiro – dilatado, feito labareda - em nós, quando o argueiro dos outros até é superior em prestígio extensivo. Devemos ser rigorosos na apreciação dos ciscos.

Um Mata-Borrão que deixa nódoa

O que justifica que o país tenha adquirido três aviões Canadair, indispensáveis para atacar este tipo de fogos, e apenas um, durante alguns dias, tenha estado disponível para o ataque ao fogo?

RAQUEL ABECASIS. Jornalista e ex-candidata independente pelo CDS nas eleições autárquicas e legislativas

OBSERVADOR,  16 ago 2022, 00:1755

Marcelo Rebelo de Sousa conferiu-lhe o título para significar que o Primeiro-ministro suga tudo à volta. Mas o Presidente esqueceu-se de dizer ou omitiu o facto de que o mata-borrão, quando está gasto, para além de sugar, também deixa nódoa.

Não sou especialista em fogos e por isso abstenho-me de fazer análises técnicas. Limito-me a registar o que está à vista de qualquer cidadão normal que espera, justamente, que o Estado assegure a preservação do património mais importante do país. Em 2017, para além da tragédia humana que ceifou perto de cem vidas, assistimos incrédulos ao desaparecimento do centenário Pinhal de Leiria. Ainda hoje, quem passa pela zona pode ver o destroço que ali ficou, até agora sem qualquer esforço sério para recompor aquelas centenas e centenas de hectares de pinhal ardido.

Estes anos passados, esperávamos que alguma coisa se tivesse aprendido com a lição tão dolorosa de 2017. O fogo dos últimos dias na Serra da Estrela veio provar-nos que afinal está quase tudo na mesma. Não houve mortos e isso é de facto o mais importante. Mas o avanço das chamas ao longo de seis dias de forma descontrolada em plena Serra da Estrela não se justifica nem mesmo com a adversidade dos fenómenos naturais. Dia após dia, fomos ouvindo as queixas dos autarcas da região que explicaram com detalhe como, havendo comando e coordenação, os 1600 bombeiros deslocados de todo o país poderiam ter evitado a progressão descontrolada do fogo. Os meios aéreos estavam lá, mas não com a dimensão necessária para controlar o fogo à nascença.

Agora, perdido mais este património natural único do país, dezasseis mil hectares ardidos depois, o Primeiro-ministro diz que o fogo vai ser estudado. As conclusões, já sabemos, serão apresentadas lá para as calendas do Inverno, com a opinião pública já distraída com outras coisas. Mas não são precisos estudos para que o Primeiro-ministro, que suga tudo à volta e está a governar desde 2015, nos venha explicar:

Quem coordenou os 1600 bombeiros e por que motivo, de acordo com os relatos, não estavam à hora certa onde eram mais necessários?

O que justifica que o país tenha adquirido três aviões Canadair, indispensáveis para atacar este tipo de fogos, e apenas um, durante alguns dias, tenha estado disponível para o ataque ao fogo? Os outros dois estavam inoperacionais em pleno agosto!?

Estas duas questões não precisam de relatórios. Uma boa coordenação de meios humanos e a disponibilidade de meios aéreos adequados poderiam ter evitado mais esta tragédia.

O Pinhal de Leiria e a Serra da Estrela são duas nódoas gigantes deixadas para a posteridade pelo Mata-Borrão António Costa. Quando o actual Primeiro-ministro deixar de o ser não sei o que se lhe poderá atribuir de obra feita. Assim de repente não me lembro de nada. Mas há duas chagas no coração de Portugal que lhe ficarão para sempre associadas.

Por alguma razão os tempos modernos dispensam bem o mata-borrão. E as novas gerações nem sabem o que isso seja.

INCÊNDIOS   ACIDENTE   SOCIEDADE   SERRA DA ESTRELA   PAÍS   ANTÓNIO COSTA   POLÍTICA

COMENTÁRIOS

Filipe Costa: Vi imagens nocturnas na Turquia com aviões a combater os fogos, até hellys lá andavam. O que se passa aqui?           Rui H. da Silva > Filipe Costa: Porque não deve haver tecto (linguagem aeronáutica); eu que não sou aeronauta diria “não há teta”😩😩😳🥵             Fernando Cascais: mATA-bURRÃO... apaga e escreve bem: Mata-Borrão Chamar Mata-Borrão a António Costa pode ter muitos significados, depende de quem o diz. Se Passos Coelho chamasse Mata-Borrão a Costa, o termo seria interpretado sem duvida como pejorativo em termos políticos. Se fosse André Ventura a chamar Mata-Borrão a Costa, seria visto como linguagem racista. Todavia, se fosse o PCP a chamar Mata-Borrão ao actual primeiro ministro, seria sem dúvida linguagem bélica. Já o BE nunca usaria tal termo para desclassificar o fintas. Se ainda fosse linguagem inclusiva; Mate-Borrae talvez o BE se atrevesse no termo. Já Marcelo quando chama Mata-Borrão a António Costa, fico com a ideia que lhe está a fazer um elogio. Mata-Borreão seria assim uma espécie de Super-Bombeiro para apagar incêndios, um Super-Médico para salvar o SNS e um Super-Piloto-de-Aviação para salvar a TAP. O termo foi bem apanhado por Marcelo, só é pena que não lhe tenha dado o significado certo.              M ZA: Convém dizer que esta versão dos Canadair é completamente obsoleta e requer mais manutenção: por exemplo quando os mais modernos utilizados por essa Europa fora já a partir de Espanha são todos Turbo-hélice em vez dos motores de cilindros/pistões, têm turbinas e hélices com mais pás o que faz toda a diferença: muito mais potência e toque, mais fiabilidade, mais rápidos a descolar, mais capacidade de água. E lembrem-se ainda de que o costa rejeitou há um par de anos uma comparticipação de 80% da UE para a aquisição de quatro novos e modernos Canadair preferindo esta vergonhosa situação de rent-a-plane vá-se lá saber porquê....          Luís Soares RibeiroM ZA: Em 2015 a Bombardier encerrou a produção do CL-415 e em 2016 vendeu á Viking Air os direitos de produção e desenvolvimento do CL-415 e seus antecessores. Está atualmente em desenvolvimento o CL-515. A meu ver os aviões CL, que têm outras utilizações para além de apagar fogos, no que respeita combater fogos florestais, foram ultrapassados por hidroaviões de de menor dimensão e por helicópteros.          Laurentino Cerdeira: EÇA DE QUEIRÓZ é que os "topava" já há mais de120 anos: “Este governo não há-de cair – porque não é um edifício. Tem de sair com benzina – porque é uma nódoa!”. Eça de Queirós in “Conde de Abranhos”            Joaquim RodriguesNum estudo feito no âmbito da UE, constatou-se que, entre 2000 e 2013, Portugal teve 10 vezes mais incêndios, por Km2, que os restantes países europeus da bacia Mediterrânica. A grande maioria dos incêndios começou de madrugada, em sítios estratégicos e em períodos de tempo com previsões meteorológicas favoráveis à propagação do fogo. Como demonstra o estudo da UE, o número de incêndios ocorrido nas últimas décadas em Portugal corresponde a uma situação completamente anómala e ainda sem explicação. Mais importante que esbanjar dinheiro em meios de combate que, como se vê, são sempre insuficientes, precisamos saber onde está a responsabilidade pelos incêndios, quais são os motivos e as motivações e como são iniciadas as ignições. Ou seja, a medida prioritária, já o sabemos há mais de 10 anos, é Investigar, Investigar, Investigar. Só depois de se saber quais são as verdadeiras causas e motivos dos incêndios, quem são os eventuais causadores e as suas motivações, é que se podem definir as medidas a tomar, para além, òbviamente, das de prevenção no ordenamento e gestão da floresta, que essas, são sempre obrigatórias, em qualquer circunstância. Atirar dinheiro para cima do problema, sem encontrar uma explicação para a situação anómala que se verifica em Portugal, é aumentar o "negócio" do fogo o que só agrava a situação. E deixem-se de "bodes espiatórios" tipo "trovoadas secas" ou "alterações climáticas".                Jose Augusto Mira Pires Borges: A justificação para só um dos aviões ter operado é simples: Incompetência! A mesma incompetência de sempre deste governo, para gerir o que quer que seja. A começar pelo país. Aliás, há duas coisas que gere bem, a Comunicação Social e a distribuição de lugares no Estado, pagos com o nosso dinheiro, pelos boys incompetentes do PS....            Alberico LopesJose Augusto Mira Pires Borges: Para além dos dois  maiores (ir)responsáveis pelo caos em que se vive, está a c.social: as Tvs e jornais subsidiados e em que pululam os "especialistas" de tudo e mais alguma coisa, que tudo sabem e tudo distorcem com vista a receber as avenças do largo do rato e de belém, esses são também os grandes culpados de o POVO andar adormecido! E não é fácil acabar com essa mistura tão fatídica, dado que os tais 15 milhões iniciais já devem ter sido multiplicados por mais uns tantos milhões. Só assim se explica que, apesar de toda esta desgraça, o PS continue a aparecer com sondagens que o continuam a considerar o melhor! Como é possível?             Alberico Lopes: Como sempre, um artigo excelente da Raquel! O que me deixou mesmo de boca aberta foi o epíteto do Marcelo ao seu pupilo - "mata-borrão", é o título deveras adequado para estas duas grandes nódoas! Pobre Portugal com nódoas destas!               Luís Soares Ribeiro: Cara Raquel, custa-me a aceitar que o Governo de Portugal tenha comprado 3 Canadair CL-215 pois aqueles aviões são mais peças de museu, do mesmo que até passáveis de alugar. Trata-se de aviões da década de 60 equipados com motores de pistom Prat & Whitney R-2800 do tempo da 2ª guerra mundial e para os quais encontrar sobressalentes para fazer a manutenção deve ser missão quási impossível. O Canadair CL-215 foi substituído pelo CL-415 cujo 1º exemplar produzido foi entregue em Nov. 1994. Actualmente está a ser lançado o CL-515 o qual no que respeita fogos é muito idêntico ao CL-415. O Canadair necessita de uma superfície plana de água de cerca de 600 metros para poder fazer a sucção e de no total de cerca de 1.200 metros para poder operar. Ou seja o Canadair não estando obsoleto foi ultrapassado por aviões anfíbios de menores dimensões e por helicópteros. Antonio C.Luís Soares Ribeiro: Acho que é fácil perceber o que se passou: abriram concurso internacional, escolheram a proposta de valor mais baixo e compraram sucata. Um caso para investigação criminal e rápida actuação do Ministério Público (caso houvesse um…)                   Carlos Quartel: Os fogos são graves, mas não passam da consequência do modo de actuar do governo. Sentado, fazendo nada que não produza empregos para a seita. Só isso tem interesse, obter fundos europeus ou esfolando nacionais, para enterrar na TAP ou em planos para aeroportos, com essa obsessão que têm com o turismo. Entretanto, o resto é para arder ou apodrecer. Sem uma reforma no ensino, que mobilize alunos e professores, continuam criando-se patetas que passam a vida a olhar para o telemóvel.  Sem uma reforma na segurança, que mobilize polícias, com vencimentos condignos e esquadras habitáveis, deixando o SNS cair aos bocados com grávidas a deambular pelo país à procura de sítio para trazer a encomenda ao mundo. Sem uma reforma judicial que funcionasse e se evitassem casos com o de Sócrates ou Espírito Santo, em que os arguidos andam décadas a passear pela Córsega ou pelo Brasil e até o rei do catalizadores goza com isto. Estaríamos muito felizes se os fogos fosse o único problema mal tratado por este governo ......              Hipo Tanso: O artigo diz tudo com pouco. Aliás nem seria preciso mais. A ignomínia continua, e continuará até que os "media" se envergonhem de receber subsídios do governo e passem a informar com isenção e sem ideologia. É bom lembrar que a ideologia nunca deu de comer a ninguém, a não ser a quem recebe os subsídios...          Antonio Mieiro: Muito bem Raquel!!! Cada vez mais clara, incisiva e esclarecedora! Quando será que os votantes ouvem todos estes alertas?             Madalena Sa: Grande artigo Raquel! Costa e Marcelo deixam a maior obra do mundo” A DESTRUIÇÃO DUM PAÍS” Que Deus lhes perdoe porque eu já não sou capaz                   Maria Carreira:  “Este governo não há de cair porque não é um edifício. Tem de sair com benzina porque é uma nódoa!” - Eça de Queirós, O Conde d'Abranhos / A Catástrofe Infelizmente, já não há drogarias e a benzina, possivelmente, já foi proibida porque "faz mal ao ambiente"!!           Filipe Paes de Vasconcellos: Mas o enorme borrão nesta nossa desgraça é Marcelo, porta-voz do governo socialista e mestre cerimónia deste regime manhoso, em vez de ser aquilo para que foi eleito e é pago por todos os Portugueses que é simplesmente ser e comportar-se como PR.              Carlos Chaves: Caríssima Raquel, nódoa e que nódoa a alastrar .... ainda antes dos Canadair onde estão os helicópteros kamavov comprados no tempo que o PM era ministro da administração interna? O país a arder e o governo disponibiliza meia dúzia de helicópteros com um cesto de ir às compras e aviões com depósitos para regar o jardim..... os Bombeiros assistem às chamas e não as combatem..... as imagens que se vêem na televisão nomeadamente de França e Espanha os bombeiros combatem o fogo, aqui assistem! Nada do que está a acontecer é para admirar, temos um governo com maioria absoluta dada pela maioria dos eleitores que foram votar.... para bom entendedor meia palavra basta!                       Lidia Santos: País sem rei nem roque. O Governo só se preocupa com a sua própria imagem, aquela que lhe pode dar votos.            António Santos: A explicação para as suas perplexidades talvez esteja nos resultados das últimas eleições. Em quem votaram aquelas populações no último acto eleitoral?             Xico Nhoca: Vamolaver, o Costa deixou obra. O Costa mostrou que, num país miserável espiritual e materialmente, com dez euritos de aumentos nas pensões e no salário mínimo se compram eleitores para chegar a uma maioria absoluta, pese embora o descalabro no SNS, a inoperacionalidade dos serviços públicos, os alunos sem professores, o pinhal do D. Dinis ardido, a maior área ardida de reserva natural, o aumento de mortos nas praias, nas estradas, nos incêndios, o aumento da dívida, os paióis assaltados etc., etc..            António Lamas: Pelo que vi nas TV'S, o responsável da protecção civil no comando das operações era o comandante da região de Lisboa e Vale do Tejo.  Eu nem sabia que a Serra da Estrela pertencia à região de..... Lisboa. Uma vergonha.               Meio Vazio: "Meios aéreos", "meios aéreos"... Que tal dizerem apenas "aeronaves" (ou, se quiserem ser mais precisos, "aviões", "helicópteros)? A menos que deixem de referir "pás", "picaretas", "mangueiras", "auto-tanques", "caterpillers", etc. e passem a referir tudo isso com "meios terrestres".

 

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