quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Lições de Economia em prato de História


É o que nos transmite o Dr. Salles, secundado pelos seus Comentadores, que reconhecem o seu jeito didáctico, bem enriquecedor, na leveza do seu estilo breve e sugestivo, mas incisivo, para chamar à ordem as ovelhas tresmalhadas do curral, que preferem distrair-se a ilustrar-se, num combate de esforço e patriotismo - como o fazem os Ucranianos corajosos e esforçados e amantes da sua pátria… Os comentadores esclarecem e valorizam os dados fornecidos pelo Dr. Salles. Eu, mais uma vez, vou recordar, na Internet, alguns dados de antigo saber, sobre um ministro de muitas funções, de Luís XIV, a quem a França muito deveu, mas que não deixou escola junto dos nossos ministros, que de modo nenhum têm o mesmo tipo de ambições em relação ao seu /nosso país, nem ao lugar que nele ocupam… em excesso numérico …

Jean Baptiste Colbert

Desenvolveu a infra-estrutura para a facilitação do comércio: canais, estradas reais, pontes, portos. Plantou a floresta de Landes para servir à construção naval. Mandou reparar as estradas, fez novos caminhos, e uniu o Mediterrâneo com o Atlântico através do canal de Languedoc. Foi defensor da expansão mercantil e colonial francesa, pois as colônias e o comércio externo ajudariam a manter a balança comercial positiva e forçaria o acúmulo de divisas em ouro dentro da nação - mais uma marca do ideário mercantilista.

Pavimentou e iluminou Paris, embelezando as docas da cidade, praças públicas, portas triunfais (Saint-Denis e Saint-Martin), mandou fazer a colunata do Louvre e os Jardins das Tulherias.

… Como ministro de Luís XIV, Colbert quis tornar a França a nação mais rica da Europa, e para isso implantou o mercantilismo industrial, incentivando a produção de manufacturas de luxo visando a exportação.

DO MEU «LOROSAE» - 8

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA           A BEM DA NAÇÃO,  24.08.22 

«Cada terra com seu uso;

Cada roca com seu fuso» …

… apesar da lógica friedmaniana e da globalização.

- Volta, Colbert! Estás (quase) perdoado! * * *

Depois de introito algo «sui generis», convém desembaraçar o emaranhado de referências.

Colbert queria que França produzisse tudo o que consumia. O mesmo se diga de Nehru em relação à Índia e de Nicolae Ceaucescu para a sua Roménia.

Modelo necessariamente fechado (ao exterior) e em que não entravam em jogo conceitos como vantagens comparativas internacionais nem economias de escala ou sequer a tipificação regional de certos produtos. Colbert impediu que os franceses comessem queijo de Serpa e Ceausescu impediu os romenos de comer. Na Índia, a casta ignorada continua em drástico regime de anorexia.

Dando um salto na História e nos compêndios de Economia, chegamos à globalização onde, a pretexto de «partir os dentes» aos Sindicatos de Detroit, se iniciou a deslocalização industrial do Ocidente para o Oriente numa base de interesse mútuo entre a tecnologia (ocidental) e a mão de obra barata oriental. Assim chegámos à situação actual de penosa dependência ocidental relativamente ao Oriente. Tudo é «Made in PRC» e o resto são paisagens de lazer (ou de sobrevivência). E se o «dragão chinês» bufa, o resto do mundo agacha-se.

Solução? Repatriamento imediato da produção deixando na China as fábricas necessárias ao aprovisionamento dos mercados orientais. E só! Então, quando Xi vir as exportações a pique, logo bufará mais fininho tentando agarrar-se à cadeira do poder… se ainda for a tempo.

Temos que chamar os bois pelos nomes. A NATO já definiu a Rússia como «O inimigo». Deixemo-nos de eufemismos: o próximo será o Senhor Xi e seus camaradas, não necessariamente a China continental.

Entretanto, passado o marxismo para o campo das falácias, desmoronado o leninismo com fragor e o stalinismo (em parceria com o nazismo) passado a crime contra a Humanidade, substituída a quase totalidade dos «colarinhos azuis» por robots, aburguesados os Sindicatos, elevadas as políticas sociais (sobretudo na Europa) e as condições gerais do trabalho para níveis que Marx nunca imaginou, estamos  em condições de incentivar o repatriamento das indústrias em tempos deslocadas para o Oriente. Tudo, sem necessidade de «partir os dentes» a ninguém. A ver se nos despachamos!

23 de Agosto Henrique Salles da Fonseca

Tags:politica alheia

COMENTÁRIOS:

 Henrique Salles da Fonseca  24.08.2022  12:13: Dr., o texto é uma reflexão profunda das causas da situação em que se encontra o Ocidente e a possível solução. No entanto, a Deslocalização de meios de produção de Ocidente para o Oriente se deve, principalmente, à ganância de maiores lucros e de uma visão míope a curto e longo prazo como acontece também Relativamente ao gasóleo da Rússia.. Prakas Jaiantilal                francisco amorim  24.08.2022  14:16:  Quem não produz o que precisa para comer e viver... tem que beijar a mão alheia. E mão alheias fecham mais para esmurrar do que para abrirem com caridade. A globalização dom Davos... é, ou será o desastre maior.                 Adriano Miranda Lima  24.08.2022  19:17 Dr. Salles da Fonseca, este texto é uma brilhante reflexão e demonstra como a economia é o único e verdadeiro motor do progresso e da prosperidade dos povos, e desta forma podendo constituir tanto um equilibrador como um desequilibrador das relações internacionais. Mas o mais certo é desequilibrar e gerar conflitos e guerras, como se tem visto, contrariando a lógica de Friedman, que talvez olhasse para a economia supondo-a como uma realidade fechada em si mesma, imune a influências deletérias, e capaz de por si só realizar a felicidade dos povos desarmando conflitos e evitando as guerras. Como bem explica, este pressuposto é que levou à globalização, cujos efeitos não tardaram a sentir-se de forma positiva no aumento do progresso dos povos mais desfavorecidos mas ao mesmo tempo na emergência de potências como a China, a Índia e outras do continente asiático. Potências cujo progresso poderia encarar-se como um fim em si mesmo e merecedor de aplauso universal. Mas, infelizmente, não é assim, esse progresso mais parece ser a via ou o instrumento para ressarcimentos ou acertos de contas com a História, portanto, para a confrontação política e em último caso para a guerra. Diria que a visão de Friedman seria perfeita se o mundo fosse liderado apenas por homens bons e que olhassem para a existência humana como um valor supremo e a única razão da política e da função dos Estados. Assim pensou Fukuyama quando teorizou sobre o "Fim da História" com o triunfo generalizado da democracia liberal. Sim senhor, tudo poderia ter sido alcançado se a natureza humana fosse outra. Contudo, ela é o que é, e assim tem de se dar algum crédito ao Colbert aqui ressuscitado pelo Dr. Salles, que o faz não para consagrar a sua doutrina, mas para concluir que o caminho da História é algo muito complicado, com avanços e recuos, e sem poder-se dar nada por definitivamente adquirido. É um facto que o Ocidente cometeu um erro de palmatória ao entregar a sua produção industrial à mão-de-obra barata do exterior, com os olhos postos exclusivamente na maximização dos seus lucros capitalistas, em vez de uma cuidadosa e atenta prospecção do futuro. Se é certo que se permitiu o pão para muitas bocas de povos desfavorecidos, o que não é despiciendo numa visão de solidariedade universalista, a verdade é que entregaram o ouro a certos bandidos que esperemos não venham a ter espaço para grandes protagonismos na História. A parte final do seu texto, Dr. Salles, é pleno de imaginação e graça. Permite deduzir que se os robots nos substituírem num futuro próximo, tanto na produção económica como na tomada de decisões, talvez possamos assim superar as insuficiências da natureza humana e entrar definitivamente numa era de paz. Só que há quem teorize que as máquinas poderão num futuro qualquer adquirir emoção, juntando-a à inteligência, e assim ameaçarem a existência humana. Yuval Harari especula sobre isso nas suas obras. Gostei imenso de ler este texto e de participar na discussão. É a vantagem de um blogue que pugna pelo bem da nação mas também pelo progresso da humanidade. Um abraço Adriano Miranda Lima               Henrique Salles da Fonseca  24.08.2022  20:36: Boa tarde amigos. Em tempos que já lá vão.... ALGUÉM , lembrou - se que o nosso Alentejo podia ser o Celeiro de Portugal e... durante anos foi.... Ora os tempos mudaram, "alguém", se lembrou, que já não era preciso Celeiro, cá por estas bandas... e vá de pôr vinha e olival, em vez de trigo. Mas afinal, ainda necessitamos de trigo... Mudam-se os tempos, mudam-se os ventos, mas... a história repete-se. Nada, mas mesmo nada, valia a pena produzir por CÁ na Santa Terrinha, porque LÁ , era mais barato, e assim toda a Europa, e não só , foi para LÁ . Só que os tempos mudam, e a verdade é que há vários Lá, que estão a " apertar os calos" aos de CÁ E a realidade, que pode ser dramática .... é que a maior parte do "calicida", que os de CÁ necessitam, vem desses de LÁ. Vamos aguardar, com serenidade, os tempos que se avizinham, oxalá não sejam tão maus como se prevê AGUARDEMOS 🙏🙏 Clotilde Cordeiro          Alice Gouveia  25.08.2022  06:56: Não é tarefa fácil desligar os do xi. Antes temos de manter a distância de tio Sam.      Rui Bravo Martins  25.08.2022  10:27 Muito bom Lorosae! Uma ideia para  ajudar à concretização Urgente de isolar o mais possível o "xi". Cada País Ocidental, nomeadamente os da Europa, deve organizar uma listagem, junto de todos os seus empreendedores industriais, quais os produtos feitos na RPC e seus satélites, que incorporem nos seu produtos finais, e solicitar/ajudar a que se inicie a procura de alternativas para a sua deslocalização ou mesmo o início de novas produções industriais concorrentes, Portugal tem aqui uma excelente oportunidade de se reindustrializar, em tecnologias ao seu alcance. Cumprimentos. Rui Bravo Martins                     Adriano Miranda Lima  25.08.2022  12:19: Indo ao encontro, também, da opinião dos comentadores, não há dúvida que estamos todos em sintonia sobre o risco em que o Ocidente, numa estranha e incompreensível inconsciência, incorreu ao ficar na dependência do "Xi". Este, como é próprio da sua filosofia existencial, utiliza a estratégia da aranha, tecendo, paciente e habilidosamente, a sua teia. Sem fragor e sem alarde, no silêncio e quase num conveniente anonimato. Nunca entrou em guerra com ninguém, pelo contrário, foi espalhando a sua baba lenta e progressivamente por todos os continentes. Onde dá ajuda financeira ou oferece cooperação, colhe dividendos consideráveis para a sua estratégia geopolítica. E não se iludam os ocidentais, o 'Xi' tem a sua própria fita do tempo para dar a picadela mortal e decisiva. Por isso, o Ocidente tem de se libertar da dependência e trazer um Colbert quanto baste para a concepção da sua economia produtiva. Um bom dia a todos. Adriano Lima         Adriano Miranda Lima  25.08.2022  18:47: Aqui parece ficar claro que a dependência a que o Ocidente se prendeu inconscientemente obriga não só a medidas urgentes e imperativas para reverter a situação como a uma profunda reflexão colectiva sobre a relação de forças no tabuleiro do confronto geopolítico. Na actualidade e sem perda de tempo, mas ponderando as linhas prováveis da evolução da situação para que se possa agir com acerto e em tempo oportuno. E muitas interrogações podem ser formuladas, o que naturalmente estará a acontecer em sedes próprias. Como, por exemplo: A UE estará verdadeiramente ciente da realidade de modo a agir sem peias ou hesitações para salvaguarda dos valores culturais e civilizacionais que professa e defende? A Rússia continuará refém de uma ideologia deslocada no tempo e seduzida pelo sonho de um expansionismo e associção com a China, Índia e outros países para a construção da Eurásia concebida pelos seus teóricos mais radicais? A China manterá intacto o seu actual poderio se lhe forem sonegadas as condições de explosão económica que lhe foram oferecidas pelo mundo ocidental? Ou são imprevisíveis as transformações internas que poderão eclodir no seio do seu actual equilíbrio interno entre a autocracia e o capitalismo? Os EUA irão adoptar uma nova filosofia na sua política geostratégica evitando os erros de avaliação e as decisões precipitadas em que incorreram no passado, e assim reforçando a sua condição de primeira potência mundial a par do seu prestígio internacional? Seja como for, o que é iniludível é que o confronto agora, e no futuro, é entre dois modelos civilizacionais, conforme aflorou no diálogo ontem à noite entre a Helena Ferro Gouveia e o major-general Agostinho Costa e que este pareceu não valorizar ou não ser enquadrável na sua argumentação. Esta observação não é casual, pois que sabemos bem em que quadrante civilizacional queremos viver, ao passo que entre nós haverá quem não pense assim. Mas a disposição para a tolerância e para aceitação do contraditório é um dos nossos mais valiosos pergaminhos. Tem mais força que qualquer dos mísseis "potentes e de grande precisão" com que se regala o senhor Peskov nos seus comunicados. Adriano Miranda Lima

 

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