Não masculino das pegas do contexto narrativo do “Lorosae” - sem
Timor - pois que
é exclusivo dos entretenimentos matutinos do Dr. Salles pelas praias algarvias
- mas bem proveniente do “pelagos” grego, origem do “pelagus” latino, com o seu
sentido de “abismo”, que é, todavia, também o sentido que transparece nos
dizeres do Dr. Salles, relativos, em metáfora animista, às pegas ameaçantes da
passarada algarvia. E assim nos tornamos em passarinhos receosos do pássaro maior,
excepção feita aos amantes russófilos dos Tupolevs ameaçadores dos espaços
ocidentais.
E o Dr Salles traduz os seus receios, de
pessoa honrada e corajosa a apontá-los, com noções comparativas, que só serão
apreciadas pelos que com ele concordam, provavelmente fazendo parte da pardalada
receosa dessas pegas dominadoras dos espaços aéreos e terrenos, para
comprazimento dos que, de lenço escarlate nas mãos, as aplaudem sem pejo, a
essas pegas, no fascínio pelo forte – ou na submissão prévia, para futuro tacho.
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM DA
NAÇÃO 07.08.22
Hoje, pouco depois do Sol despontar, a passarada
calou-se de repente e eu achei estranho. Fiquei alerta a pensar que os animais
têm campos auditivos diferentes dos nossos e pudessem ter ouvido ruídos
telúricos anunciadores de tremores da terra. É que, aqui no litoral algarvio,
houve no séc. XVII um tsunami que na zona a nascente de Tavira entrou 6
quilómetros pela terra dentro e eu, a poente da cidade, estou a muito menos
dessa distância da costa.
Até que, no relvado, poisa uma pega que por ali se
deixa ficar exibindo os seus belos azul quase preto e branco até concluir –
digo eu – que por ali não havia láparos ou répteis que lhe servissem à goela. Qual
Tupolev de Putin a dizer que vai onde lhe apetece e que não teme nada nem
ninguém. E a passarada, sabendo que não há quem a defenda, encolhe-se e
fecha o bico tentando passar despercebida.
Deixando-nos de parábolas, não esqueçamos que a
putativa chegada de um Tupolev será seguramente saudada por lenços escarlates
nas mãos dos russófilos seus amigos que optam pela suserania do Czar por cima
da nossa soberania. Antes, tinham um ideal por que davam a vida; agora,
caído o ideal, revelam-se apenas aquilo que sempre foram: adeptos do inimigo.
Foi Camões que disse que «também entre os portugueses, traidores houve algumas
vezes».
Mais do que bradarmos pelos nossos Valores Pátrios, vale
pensar na fronteira que nos separa do Tupolev e de tudo o que ele representa:
Nós temos a liberdade como um
Valor superlativo e um conceito unicitário; eles falam nas «mais amplas liberdades»
significando um conceito fraccionável e um valar condicionado aos ditames do
Poder;
Nós temos a democracia como o
sistema político em que todos os cidadãos são chamados a opinar livremente;
eles têm a democracia como a situação alcançada pelo despojamento total dos
cidadãos de todos os bens materiais nivelando por baixo uma falsa equidade;
Nós consideramos que ao Estado
cumpre servir os cidadãos; eles consideram que ao cidadão cumpre servir o
Estado;
Nós temos a vida humana como
inviolável; eles têm as pessoas como instrumentos descartáveis…
A nossa Civilização assenta em
raciocínios livremente concebidos numa estrutura de exploração
especulativa-dedutiva-conclusiva; a deles assenta no determinismo conclusivo. Nós
pensamos e agimos munidos do livre arbítrio; eles agem conforme as deliberações
unânimes do Poder Central.
Mais do que os emotivos Valores
Pátrios de cada Nação, esta é a fria fronteira que os adeptos do Tupolev
constantemente violam na Ucrânia.
Mais do que um país, é uma
Civilização que está em vias de ser desafiada de morte. Para nosso azar, a
nossa.
7 de Agosto de
2022
Henrique Salles da
Fonseca
Tags: avulsos
COMENTÁRIOS
francisco
amorim 08.08.2022 14:21: Já nada nos separa dos Tupolev. A humanidade está podre e unida em
volta do poder, do dinheiro, da destruição. E iremos todos ao fundo. Para mim
não faz grande diferença: já está ao lado do Caronte!
Adriano Miranda Lima 09.08.2022 11:43:
Certamente que sim, Dr. Salles da
Fonseca. Esses "Tupolevs" são saudados por lenços encardidos por
manchas de ignorância que parecem imunes a qualquer detergente. Inacreditável é
não repararem que no Kremlin moram criaturas tão malignas como os piores
"fascistas". Penso que há razões para não esperar qualquer evolução
positiva para os lados do Kremlin e da sua corte de torcionários e criminosos.
Ficou desde sempre claro que a Ucrânia é apenas um objectivo de marcha (termo
militar mas politicamente aplicável). Deste modo, cabe ao mundo livre avaliar
(ou reavaliar) a situação, sem peias mentais ou ilusões securitárias e decidir
até onde acha que se deve envolver completamente. Sim, aquilo é verdadeiramente
um novo regime fascista que ressurge na História. As adaptações pontuais no
estilo e nos procedimentos internos não nos podem impedir de ver o óbvio. Porque
mesmo que a Ucrânia continue a resistir indomitamente, como tem acontecido até
agora, não é improvável o desgaste do seu ânimo e do seu poder militar.
O mesmo se poderia dizer dos russos, mas há uma diferença significativa. Os
russos combatem no território do país invadido e dispõem assim de uma
profundidade estratégica incomparável (ou única) e da vantagem da posse do
santuário que é o seu próprio território. Sim, santuário porque rejeitam ao
adversário a possibilidade de retribuir com ataques ao seu território, como se
tal fosse um sacrilégio e não um direito natural de quem é invadido e agredido.
Cinismo mais atroz não podia haver. Ora, parece-me mais provável o desgaste
ucraniano do que a erosão natural do regime russo, precisamente porque é um
regime fascista e nazi. Mesmo que o povo russo comece a sentir as agruras das
restrições económicas, a violência repressiva encarregar-se-á de manter a ordem
social necessária até onde for necessário. Resta saber qual será a linha
vermelha que fará soar os sinos nas igrejas do mundo. Importará, sobretudo,
saber se os sinos das igrejas ortodoxas soarão com mais estridência e será o
povo russo a vir a terreiro para derrubar o tirano, ou se serão os sinos das
igrejas ocidentais que retinirão nas consciências do mundo livre, alertando-as
do perigo iminente. Não vejo que se deva rejeitar o paralelismo com o que levou
ao confronto da II Guerra Mundial. E acontece que agora estamos reféns da
ameaça nuclear que é inaceitável que funcione só para o lado russo, como até
agora parece ter sucedido. Não tenho qualquer esperança quanto à possibilidade
de a Rússia integrar um dia, ou nas décadas mais próximas, a comunidade das
democracias liberais. O problema é profundamente cultural e para o perceber tem
de se mergulhar na história do país e reconhecer o efeito ruinoso dos traumas
psicológicos a que o seu povo foi sujeito em épocas sucessivas. Aguardemos
agora o "Lorosae 4", porque inspiração não faltará ao proprietário
desde blogue.
Henrique Salles da Fonseca 09.08.2022 17:17:
1 - Dizer que "LOROSAE" está
muito bem escrito é pouco. Digo eu: é uma beleza de escrita. E vou tentar
acrescentar mais alguma coisa a estes textos de que gosto tanto de ler. 2 -
LOROSAE 1 : NR - seria um erro estrondoso tentar acabar com PUTIN. E eu
acrescento com a devida vénia a Mikhail Shishkin lembrando ditado popular
russo: "Não se deve desejar a morte de um czar mau. O próximo poderá ser
ainda pior". 2 - Lorosae 2: Em 5.8.1109 nasceu D. Afonso Henriques. Alguns
ainda se vão lembrando. Mas a ignorância atrevida é que está na moda. Até na
Cátedra. Nada a fazer. Para já. Logo se verá. 3 - Lorosae 3: apenas uma
lembrança de um bom português que para salvar alguma coisa de Timor é hoje
indonésio. 9.8.1969 precisamente há 53 anos que o conheci. Iniciava-se o C.O.M.
na E.A.M.M. em BOANE. E conheci três timorenses que o vinham frequentar. Tinham
andado no Seminário mas como não quiseram continuar com o sacerdócio tiveram de
vir de Timor para frequentar o Curso de Oficiais. Dois eram mais reservados um
terceiro mais aberto porque mais velho e mais culto. Era o Francisco Lopes da
Cruz. Foi sempre um camarada militar pronto sempre para auxiliar no que fosse
preciso quando nas marchas sob calor tórrido um ou outro ficava para trás. Ele
carregava um, dois, ou três sacos alpinos. Depois foram para Timor como
oficiais. Quando da Revolução de 74 o Francisco foi apanhado entre os fogos da
Fretilin da UDT e eu sei lá que mais. E no meio deste turbilhão teve de fazer
opções que para ele não foram fáceis. E lá foi Governador de TL a mando dos
indonésios, depois alto quadro no governo para lidar com tudo de Timor e por
último Embaixador da Indonésia em Portugal. E apesar do posto que aqui ocupou
nunca esqueceu os camaradas da armas e dos amigos portugueses. As voltas que o
Mundo dá. 4 - Henrique o texto foi escrito um pouco à pressa. Mas não podia
deixar passar o que escreveste em branco. E tentei fazer o melhor que pude.
Sempre sem receios. Como tu Meu Querido e Bom Amigo, sempre fazes. A cultura do
cancelamento não é connosco. Forte Abraço, José Augusto Fonseca
Henrique Salles da Fonseca 09.08.2022 17:28: Dr. Salles,
Já transpus para o meu blog, com muito gosto e gratidão, os seus 3 textos: O
primeiro Lorosai, - “Afirmativo” – no dia 4/8. O segundo – “O pão que o diabo não deixa
amassar” em 6/8; O de hoje
“Pegos”. Fico sempre feliz com os seus textos, não só porque são índice de
saúde e não apenas dos seus olhos. O mal é que isto já não vai com as suas
lições briosas. Vá sempre escrevendo, Dr. Salles, o país precisa de si. Um
abraço Berta Brás
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