quinta-feira, 4 de agosto de 2022

O senhor que se segue


Moderado nas poses e nas falas, um meio sorriso comedido como assinala a foto do JORNAL PÚBLICO de 23 de Julho, postada no artigo de João Miguel Tavares, as mãos simetricamente equidistantes, segurando quase religiosamente as fitas da sua máscara, de momento retirada do rosto, para poder exprimir-se sem entraves de percepção diante do microfone, tendo por trás a poltrona de cabedais brilhantes do seu encosto - o tudo condizente com o retrato exaltador que dele traçou Alberto Gonçalves, como única excepção positiva entre os deputados eleitos das últimas legislativas. Por mim, após tê-lo ouvido, não digo que espumante de cólera – essa característica mais pertença das pessoas repetitivas de exaltações inutilmente sinceras e inutilmente preocupadas com os males da nação, como o do Chega, um tal Ventura, por antífrase “desventurado” na aceitação – quase geral – não espumante de cólera, repito, Santos Silva, mas reafirmando aconchegadamente – (tartufianamente) - a sua verdadeira essência de democrata de todo o sempre, ante uma Assembleia de que teatralmente os do Chega se retirariam formalizados por não lhes admitirem as exaltações, essas, sim, condignamente espumosas. Eis, pois, algumas frases bem expressivas do cepticismo de João Miguel Tavares a respeito da verdadeira essência de Santos Silva, frases retiradas da sua crónica de 23/7: «Santos Silva às costas de André Ventura, a caminho de Belém»:

«É o Chega, e apenas o Chega, que pode permitir a Santos Silva transformar a presidência da Assembleia da República num cargo politicamente relevante, coisa de que ele precisa como de pão para a boca para cumprir os seus objectivos. Repetir dez mil vezes “tem a palavra o senhor deputado” é manifestamente insuficiente.

«Uma última nota, que enquanto não for tomado pelo Alzheimer nunca me esquecerei de fazer. É mentira, e uma mentira descabelada, que Santos Silva tenha estado sempre “empenhado na defesa da democracia e da liberdade”. Ele foi um dos principais defensores e obreiros do governo que mais ameaçou a nossa liberdade e a estrutura do regime desde o início da democracia. É ridículo armar-se em Navalny quem tem perfil de Lavrov 

E, no OBSERVADOR, João Marques Almeida repõe o tema, mas com novos contornos de crítica contra um PSD desarmado e “anjinho”:

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

 Santos Silva: o líder parlamentar do PS

Santos Silva não está a defender os valores da democracia contra o Chega. Esse argumento é uma farsa. Está é a fazer do Chega o principal adversário do PS para enfraquecer o PSD, o maior rival do PS. Santos Silva: o líder parlamentar do PS

JOÃO MARQUES DE ALMEIDA, Colunista

OBSERVADOR, 03 ago 2022, 00:2149

Neste momento, a Assembleia da República não tem Presidente. Tem um líder parlamentar socialista que se senta na cadeira do Presidente da Assembleia da República. Augusto Santos Silva não se comporta como o representante de todos os deputados (e assim de todos os portugueses) mas como o líder politico que defende os interesses do PS no parlamento.

Santos Silva não está a defender os valores da democracia contra o Chega. Esse argumento é uma farsa. Aliás, não compete a Santos Silva substituir o Tribunal Constitucional. Se o Chega for uma ameaça contra a democracia portuguesa, compete ao TC agir. Santos Silva está a transformar o Chega no principal adversário do PS para enfraquecer o PSD, o maior rival dos socialistas.

Santos Silva está a usar o seu lugar de Presidente da Assembleia da República para ajudar a estratégia socialista de transformar a democracia portuguesa num regime de um só partido de poder, o PS. Os socialistas sabem que será quase impossível o Chega ganhar umas eleições e por isso o seu crescimento apenas serve para evitar uma vitória eleitoral do PSD. Desde que chegou à Assembleia da República, Santos Silva não tem feito outra coisa senão atacar o PSD, ajudando o Chega a crescer. E a bancada parlamentar social-democrata é tão tonta que o aplaude de pé. Mete dó ver um grupo de pessoas tão enganado como estão os deputados do PSD. Espero que a nova liderança do PSD diga aos seus deputados que está na hora de fazer política e que atacar Santos Silva não significa defender o Chega. E se Santos Silva continuar com este comportamento, compete à bancada social-democrata ataca-lo a sério, o que aliás é a melhor maneira de reduzir o protagonismo do Chega no parlamento.

Há quem diga que Santos Silva está a construir o perfil de um futuro candidato a Belém. Se assim for, não deixa de ser condenável que Santos Silva queira chegar à Presidência da República à boleia de um partido com comportamentos anti-democráticos. Ainda falta muito para as eleições presidenciais e é descabido fazer cenários. A discussão das presidenciais a quatro anos de distância apenas serve para distrair os portugueses dos erros do governo e para colocar pressão sobre Marcelo Rebelo de Sousa. Até nisso, Santos Silva usa a presidência da AR para prosseguir os interesses dos socialistas.

PS: Desejo a todos os leitores do Observador umas óptimas férias e até ao início de Setembro.

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