Moderado nas poses e nas falas, um meio
sorriso comedido como assinala a foto do JORNAL
PÚBLICO de 23 de Julho, postada no artigo de João Miguel Tavares, as mãos simetricamente equidistantes, segurando
quase religiosamente as fitas da sua máscara, de momento retirada do rosto,
para poder exprimir-se sem entraves de percepção diante do microfone, tendo por
trás a poltrona de cabedais brilhantes do seu encosto - o tudo condizente com o
retrato exaltador que dele traçou Alberto
Gonçalves, como única excepção positiva entre os deputados eleitos das últimas
legislativas. Por mim, após tê-lo ouvido, não digo que espumante de cólera –
essa característica mais pertença das pessoas repetitivas de exaltações
inutilmente sinceras e inutilmente preocupadas com os males da nação, como o do
Chega, um tal Ventura, por
antífrase “desventurado” na aceitação – quase geral – não espumante de cólera,
repito, Santos Silva, mas reafirmando
aconchegadamente – (tartufianamente) - a sua verdadeira essência de democrata
de todo o sempre, ante uma Assembleia de que teatralmente os do Chega se
retirariam formalizados por não lhes admitirem as exaltações, essas, sim, condignamente
espumosas. Eis, pois, algumas frases bem expressivas do cepticismo de João Miguel Tavares a respeito
da verdadeira essência de Santos Silva, frases
retiradas da sua crónica de 23/7: «Santos
Silva às costas de André Ventura, a caminho de Belém»:
«É o Chega, e apenas o Chega, que
pode permitir a Santos Silva transformar a presidência da Assembleia da
República num cargo politicamente relevante, coisa de que ele precisa como de
pão para a boca para cumprir os seus objectivos. Repetir dez mil vezes “tem a
palavra o senhor deputado” é manifestamente insuficiente.
«Uma última nota, que enquanto
não for tomado pelo Alzheimer nunca me esquecerei de fazer. É mentira, e uma
mentira descabelada, que Santos Silva tenha estado sempre “empenhado na defesa
da democracia e da liberdade”. Ele foi um dos principais defensores e
obreiros do governo que mais ameaçou a nossa liberdade e a estrutura do regime
desde o início da democracia. É ridículo armar-se em Navalny quem tem perfil de
Lavrov.»
E, no OBSERVADOR,
João Marques Almeida repõe o tema,
mas com novos contornos de crítica contra um PSD desarmado e “anjinho”:
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
Santos Silva: o
líder parlamentar do PS
Santos Silva não está a defender os
valores da democracia contra o Chega. Esse argumento é uma farsa. Está é a
fazer do Chega o principal adversário do PS para enfraquecer o PSD, o maior
rival do PS. Santos Silva: o líder parlamentar do PS
JOÃO MARQUES DE ALMEIDA, Colunista
OBSERVADOR, 03 ago 2022, 00:2149
Neste
momento, a Assembleia da República não tem Presidente. Tem um líder parlamentar
socialista que se senta na cadeira do Presidente da Assembleia da República. Augusto
Santos Silva não se comporta como o representante de todos os deputados (e
assim de todos os portugueses) mas como o líder politico que defende os
interesses do PS no parlamento.
Santos
Silva não está a defender os valores da democracia contra o Chega. Esse
argumento é uma farsa. Aliás, não compete a Santos Silva substituir o
Tribunal Constitucional. Se o Chega for uma ameaça contra a democracia
portuguesa, compete ao TC agir. Santos Silva está a transformar o Chega no
principal adversário do PS para enfraquecer o PSD, o maior rival dos socialistas.
Santos
Silva está a usar o seu lugar de Presidente da Assembleia da República para
ajudar a estratégia socialista de transformar a democracia portuguesa num
regime de um só partido de poder, o PS.
Os socialistas sabem que será quase impossível o Chega ganhar umas eleições e
por isso o seu crescimento apenas serve para evitar uma vitória eleitoral do
PSD. Desde que chegou à Assembleia da República, Santos Silva não tem feito
outra coisa senão atacar o PSD, ajudando o Chega a crescer. E a bancada parlamentar
social-democrata é tão tonta que o aplaude de pé. Mete dó ver um grupo
de pessoas tão enganado como estão os deputados do PSD. Espero que a nova
liderança do PSD diga aos seus deputados que está na hora de fazer política
e que atacar Santos Silva não significa defender o Chega. E se Santos Silva
continuar com este comportamento, compete à bancada social-democrata ataca-lo a
sério, o que aliás é a melhor maneira de reduzir o protagonismo do Chega no
parlamento.
Há
quem diga que Santos Silva está a construir o perfil de um futuro candidato a
Belém. Se assim for, não deixa de ser condenável que Santos Silva queira chegar
à Presidência da República à boleia de um partido com comportamentos
anti-democráticos. Ainda falta muito para as eleições presidenciais e é
descabido fazer cenários. A discussão das presidenciais a quatro anos de
distância apenas serve para distrair os portugueses dos erros do governo e para
colocar pressão sobre Marcelo Rebelo de Sousa. Até nisso, Santos Silva usa a
presidência da AR para prosseguir os interesses dos socialistas.
PS: Desejo a todos os leitores
do Observador umas óptimas férias e até ao início de Setembro.
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