Não do umbigo,
que já não tem ponta para que se olhe, mergulhada aquela na adiposidade que envolve o dito. Na questão da língua, é antes,
como exprime o título deste comentário ao teu texto, Ricardo, a ponta de um
iceberg, pela preocupação em torno do abastardamento, tanto da escrita como da
pronúncia, de uma língua que se pretende de alguma amplitude no mundo, embora
sem a projecção de outras bem mais firmes e moderadas na “sua modernização”, não
sujeita a um servilismo pontual como a nossa toscamente pretende ter para com os outros
falantes da CPLP, conquanto, a esse Acordo, nem toda a CPLP tenha aderido, julgo eu. Quanto aos erros futuros
causados pela persistência na manutenção da escrita segundo o Acordo Ortográfico anterior, não se trata de narcisismo mas de bom senso, que o novo Acordo distorce, nas
escolhas alternativas - de seguidismo ou não – de alguns casos pontuais, que
transcrevo, (logo após o teu texto), regras sem o menor senso comum admitindo,
anedoticamente, a escrita facultativa, à medida de cada pronúncia ou a pronúncia facultativa à medita, de cada escrita.
Quanto aos erros
da oralidade como da escrita, eles nem sequer têm a ver com as normas do AO, agregados que estão, há muito, a políticas de Educação permissiva e
desonesta, com, naturalmente, consequências funestas nas formações presentes e
futuras dum país sem rei nem roque. Por isso, não te preocupes, Ricardo, os
erros que se detectam nada têm a ver sequer com esse malfadado Acordo. Nem com o anterior. E muito menos
com os umbigos de alguns. As causas há muito foram descritas
por outros, como o Antero e o Eça, e ainda hoje, apontadas
por tantos outros, e cada vez com mais persistência, por se traduzir em
deficiência social e política ou vice versa.
Quanto à questão
da “acentuação” dos advérbios em “mente”, julgo que te referes à mudança do
acento agudo em grave no caso dos adjectivos acentuados, cujo acento agudo
passava a grave, já há muito, todavia, destronado, caso de “amavelmente”, que
escrevi aqui, primeiro, “amàvelmente”, o acento logo cortado pelo corrector
instantâneo e sabichão, e a seguir sublinhado a vermelho, pelo menos no meu Word,
porque insisti em repô-lo.
O TEXTO DO RICARDO,
recebido por email:
«Fwd: Grafia em
Português correto»
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10:38 (há 7 horas) |
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Olá Mãe,
Enviei este texto para o Público.
Sei que também utilizas a mesma forma ortográfica mas não o entendas como
um ataque pessoal.
Beijos,
Rii
---------- Forwarded message --------- De: Ricardo Lacerda <rii.ricardix@gmail.com>
Date: segunda, 1/08/2022 à(s) 10:34 Subject: Grafia em Português correto To:
<publico@publico.pt>
«O Acordo Ortográfico de 1990 está em vigor desde 13 de maio de 2009.
Houve uma época de transição de 6 anos, que terminou em 13 de maio de 2015, em
que duas grafias coexistiram com o intuito de as pessoas se adaptarem à nova
forma de escrever.
Ainda que as datas de utilização
não sejam coincidentes, são 9 a 13 anos de obrigatoriedade para muitos de
utilizar uma escrita, quer se queira quer não, moderna.
Ainda sou do tempo da
utilização do Lynce como corretor ortográfico. Mas a Microsoft depressa o
substituiu pelo seu próprio dicionário. E ainda passei por 1973, já com 15 anos,
9 ou mais de aprendizagem (a minha mãe era professora de português), em que
tive de deixar de acentuar os advérbios de modo terminados em mente.
Os primeiros miúdos a utilizar na
raiz da sua aprendizagem a escrita em Português após-AO, terminaram agora o
10.º ano e estarão a entrar brevemente para a faculdade. Muitos irão cursar
direito e aí irão deparar-se com uma enorme quantidade de professores (lobbie)
a utilizar o Português arcaico. Resta saber quando começarão a ser postas em
causa as determinações de juízes por não utilizarem a forma correta de se
expressar em Português.
Também alguns jornais, em que o
Público se inclui, estão a prestar um mau serviço à população. Mas neste caso
só compra quem quer. A desinformação já é tanta no Português arcaico
utilizado que decerto não melhorará com a nova grafia.
A minha dúvida vai no sentido de
questionar sobre que tipo de homens estamos a criar para nos governar amanhã?
Será gente respeitadora dos interesses do todo ou pessoas que, com o olhar,
apenas conseguem alcançar a ponta do próprio umbigo?»
Ricardo Lacerda
TEXTOS DA INTERNET:
OPINIÃO (Excerto) –
de Ípsilon
O AO90, o absurdo da unificação e o caminhar de costas
voltadas
O português, pela mão dos bonzos do AO90, imbuído do
“provincianismo cultural”, parecendo envergonhado das suas origens, da sua
história de séculos, caminha orgulhosamente só, de costas voltadas para as
outras línguas.
22
de Dezembro de 2020, 16:30
“O Acordo Ortográfico é absurdo desde o início
e continua a ser hoje. É um olhar retrógrado e quase imperial sobre a língua em
que tem de haver uma unificação para que o português seja entendido lá fora. É
falso. O inglês não tem unificação nenhuma, não faz reformas há imenso tempo e
é uma língua com duplos tês, duplos eles, cês e tês que as crianças aprendem
facilmente na escola.” ………………
2º TEXTO:
Base IV Das sequências consonânticas
1.º O
c, com valor de oclusiva velar, das sequências interiores cc (segundo c com
valor de sibilante), cç e ct, e o p das sequências interiores pc (c com valor
de sibilante), pç e pt, ora se conservam, ora se eliminam. Assim:
a) Conservam-se nos casos em que são invariavelmente
proferidos nas pronúncias cultas da língua:
compacto, convicção, convicto, ficção, friccionar, pacto, pictural; adepto, apto,
díptico, erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto;
b) Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos
nas pronúncias cultas da língua: ação,
acionar, afetivo, aflição, aflito, ato, coleção, coletivo, direção, diretor,
exato, objeção; adoção, adotar, batizar, Egito, ótimo;
c) Conservam-se ou eliminam-se facultativamente, quando
se proferem numa pronúncia culta, quer geral quer restritamente, ou então
quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres e
carateres, dicção e dição; facto e fato, sector e setor; ceptro e cetro,
concepção e conceção, corrupto e corruto, recepção e receção;
d) Quando, nas sequências interiores mpc, mpç e mpt se eliminar o p de acordo com o
determinado nos parágrafos precedentes, o m passa a n, escrevendo-se,
respetivamente, nc, nç e FLiP – Dá a volta ao texto. – www.flip.pt 9 nt: assumpcionista e assuncionista; assumpção e
assunção; assumptível e assuntível; peremptório e perentório, sumptuoso e
suntuoso, sumptuosidade e suntuosidade.
2.º Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando
se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então
quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: o b da
sequência bd, em súbdito; o b da sequência bt, em subtil e seus derivados; o g
da sequência gd, em amígdala, amigdalácea, amigdalar, amigdalato, amigdalite,
amigdaloide, amigdalopatia, amigdalotomia; o m da sequência mn, em amnistia, amnistiar, indemne, indemnidade,
indemnizar, omnímodo, omnipotente, omnisciente, etc.; o t da sequência
tm, em aritmética e aritmético.
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