Tempo de recordar a lei de
Arquimedes, a respeito do fenómeno da impulsão que o Dr.
Salles
minimiza humoristicamente em “gotas de água”,
para expressar a sua admiração pela admirável natureza. onde tudo é
equilíbrio, excepto talvez, na tagarelice humana nem sempre apreciada, na sua
visão crítica:
“Todo o corpo mergulhado num
fluido recebe, da parte deste, uma impulsão vertical de baixo para cima e de
intensidade igual ao valor do peso do volume de fluido deslocado pelo corpo.” (Definição
extraída da Internet, sem fórmula).
Mas ainda bem que dá esses vastos passeios nesses ricos cruzeiros pelo
mundo, cujas referências nos encantam, como se viajássemos também, colaborando
na má-língua – e na boa, é claro, sempre gratos.
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 10.01.23
155000 ton dwt
15 decks acima da linha de água
9 metros de calado
4500 passageiros
1600 tripulantes
Pode não ser o maior navio de
cruzeiros, mas é muito grande. Eis o «FREEDOM OF THE SEAS»!
Maior que este, só tinha visitado o
porta-aviões americano «FORRESTAL» numa sua vinda ao Tejo.
Impressionante, o peso com que um
conjunto de gotas de água aguenta!
* * *
Cruzeiro de Miami às Bahamas e volta com
escalas em Cocobay e Nassau.
Ao zarparmos de Miami, notei a
profusão de barcos da Polícia a apitar e a «correr» à nossa volta enquanto
manobrávamos. Não passavam de «polícias de trânsito» pois que, também por ali,
o sentido da liberdade tem que ser domado para não se transformar em caos e
potencial tragédia. Será que aquele enxame de «Davids» imagina
conseguir parar os dois «Golias» que nos encarreirávamos para o mar? Se na
cidade assinalei um grande sentido de responsabilidade, aqui, na água, tive a
sensação de que em terra todos eram responsáveis porque todos os irresponsáveis
eram embarcadiços no porto.
Mar liso como mesa de bilhar. E
assim seria até ao fim do passeio.
E, a propósito de passeios, faço agora uma breve resenha dos extremos
por que já andei e dos povos que contactei entretanto: o ponto mais setentrional que já visitei foi o Cabo Norte no extremo
norte da Noruega; o Cabo Horn foi o extremo sul da América do Sul; Alotau
foi o ponto mais oriental no extremo leste da Papua Nova-Guiné; Santiago
do Chile e Lima do Peru disputam o meu limite ocidental. Entre estes
extremos, dá para imaginar que conheço muito mais do que Cacilhas e suas
gentes. Pois bem, nunca vira mole tão ruidosa como esta «salada» de americanos
eufóricos e latinos no seu ruidoso natural, nem nas manifestações de apoio ao
Almirante Pinheiro de Azevedo.
Esta turba era ruidosa, mas
ordeira. Eufórica, talvez, por este ser o cruzeiro da vida deles. E, então, deu
para os ver com olhos de simpatia (apesar dos decibéis) ficando nós satisfeitos
com a satisfação alheia. Mas, apesar disto, sou levado a pensar que o ruido e a
intelectualidade variam em escalas inversas. Estimulantes à parte, o mesmo
direi das latitudes e das altitudes. Conclusão: um intelectual norueguês que
viva no cimo de um fiorde é um chato macambúzio e um favelado carioca delira
com desfile no Sambódromo.
Outra particularidade que me anda a atazanar tem a ver com a velocidade estonteante com que certas
pessoas falam. Algumas delas chegam a atirar a língua contra o palato com uma
força tão grande que aquelas partes nem parece pertencerem-lhes. Os
pioneiros do velocímetro linguístico que notei foram os madrilenos e admiti que
tentassem recuperar o tempo perdido na «siesta» mantendo padrões europeus de
produtividade, mas «castanholas» linguísticas são portuguesas e brasileiras.
À falta de melhor explicação, creio
que é apenas preocupação de dar nas vistas sem que lhes passe pelas cabeças que
apenas conseguem irritar quem os ouve. Nesta viagem cruzei-me com acelerados
linguísticos, mas não tive que aturar nenhum castanholeiro da fala.
Foi em Nassau que a guia deve ter batido todos os recordes de
velocidade oral, Falou ininterruptamente numa velocidade estonteante durante as
duas horas do circuito e admito que todos os bahamenses (ou bahamitas?) tenham
ali caído de paraquedas poucos dias antes pois absolutamente nada nos foi dito
sobre a História do País. Em Miami
ainda passámos por uma estátua de Juan Ponce de León, mas nas Bahamas nem o pirata
da perna de pau é referido. E o mais triste é que os turistas parecem não
estar minimamente interessados em «velharias» da História. Como dizia o
Embaixador americano em Londres quando o Lord lhe perguntou sobre a sua
genealogia, «Ah sim! A minha genealogia começa comigo.»
(continua)
Janeiro de
2023 Henrique Salles da Fonseca
Tags: viagens
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