quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Eureka!


Tempo de recordar a lei de Arquimedes, a respeito do fenómeno da impulsão que o Dr. Salles minimiza humoristicamente emgotas de água”, para expressar a sua admiração pela admirável natureza. onde tudo é equilíbrio, excepto talvez, na tagarelice humana nem sempre apreciada, na sua visão crítica:

“Todo o corpo mergulhado num fluido recebe, da parte deste, uma impulsão vertical de baixo para cima e de intensidade igual ao valor do peso do volume de fluido deslocado pelo corpo.” (Definição extraída da Internet, sem fórmula).

Mas ainda bem que dá esses vastos passeios nesses ricos cruzeiros pelo mundo, cujas referências nos encantam, como se viajássemos também, colaborando na má-língua – e na boa, é claro, sempre gratos.

FREEDOM - 4

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 10.01.23

155000 ton dwt

15 decks acima da linha de água

9 metros de calado

4500 passageiros

1600 tripulantes

Pode não ser o maior navio de cruzeiros, mas é muito grande. Eis o «FREEDOM OF THE SEAS»!

Maior que este, só tinha visitado o porta-aviões americano «FORRESTAL» numa sua vinda ao Tejo.

Impressionante, o peso com que um conjunto de gotas de água aguenta!

* * *

Cruzeiro de Miami às Bahamas e volta com escalas em Cocobay e Nassau.

Ao zarparmos de Miami, notei a profusão de barcos da Polícia a apitar e a «correr» à nossa volta enquanto manobrávamos. Não passavam de «polícias de trânsito» pois que, também por ali, o sentido da liberdade tem que ser domado para não se transformar em caos e potencial tragédia. Será que aquele enxame de «Davids» imagina conseguir parar os dois «Golias» que nos encarreirávamos para o mar? Se na cidade assinalei um grande sentido de responsabilidade, aqui, na água, tive a sensação de que em terra todos eram responsáveis porque todos os irresponsáveis eram embarcadiços no porto.

Mar liso como mesa de bilhar. E assim seria até ao fim do passeio.

E, a propósito de passeios, faço agora uma breve resenha dos extremos por que já andei e dos povos que contactei entretanto: o ponto mais setentrional que já visitei foi o Cabo Norte no extremo norte da Noruega; o Cabo Horn foi o extremo sul da América do Sul; Alotau foi o ponto mais oriental no extremo leste da Papua Nova-Guiné; Santiago do Chile e Lima do Peru disputam o meu limite ocidental. Entre estes extremos, dá para imaginar que conheço muito mais do que Cacilhas e suas gentes. Pois bem, nunca vira mole tão ruidosa como esta «salada» de americanos eufóricos e latinos no seu ruidoso natural, nem nas manifestações de apoio ao Almirante Pinheiro de Azevedo.

Esta turba era ruidosa, mas ordeira. Eufórica, talvez, por este ser o cruzeiro da vida deles. E, então, deu para os ver com olhos de simpatia (apesar dos decibéis) ficando nós satisfeitos com a satisfação alheia. Mas, apesar disto, sou levado a pensar que o ruido e a intelectualidade variam em escalas inversas. Estimulantes à parte, o mesmo direi das latitudes e das altitudes. Conclusão: um intelectual norueguês que viva no cimo de um fiorde é um chato macambúzio e um favelado carioca delira com desfile no Sambódromo.

Outra particularidade que me anda a atazanar tem a ver com a velocidade estonteante com que certas pessoas falam. Algumas delas chegam a atirar a língua contra o palato com uma força tão grande que aquelas partes nem parece pertencerem-lhes. Os pioneiros do velocímetro linguístico que notei foram os madrilenos e admiti que tentassem recuperar o tempo perdido na «siesta» mantendo padrões europeus de produtividade, mas «castanholas» linguísticas são portuguesas e brasileiras. À falta de melhor explicação, creio que é apenas preocupação de dar nas vistas sem que lhes passe pelas cabeças que apenas conseguem irritar quem os ouve. Nesta viagem cruzei-me com acelerados linguísticos, mas não tive que aturar nenhum castanholeiro da fala.

Foi em Nassau que a guia deve ter batido todos os recordes de velocidade oral, Falou ininterruptamente numa velocidade estonteante durante as duas horas do circuito e admito que todos os bahamenses (ou bahamitas?) tenham ali caído de paraquedas poucos dias antes pois absolutamente nada nos foi dito sobre a História do País. Em Miami ainda passámos por uma estátua de Juan Ponce de León, mas nas Bahamas nem o pirata da perna de pau é referido. E o mais triste é que os turistas parecem não estar minimamente interessados em «velharias» da História. Como dizia o Embaixador americano em Londres quando o Lord lhe perguntou sobre a sua genealogia, «Ah sim! A minha genealogia começa comigo.»

(continua)

Janeiro de 2023 Henrique Salles da Fonseca

Tags: viagens

 

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