Como inspiração ou aviso. Retrato
de amores achados, perdidos, como homenagem ao retrato de excelso recorte feito
por Paulo Tunhas a uma sereia da nossa praça…
“De Volta Pro Aconchego” de Elba Ramalho
Estou de volta pro meu aconchego
Trazendo na mala bastante saudade
Querendo um sorriso sincero, um abraço
Para aliviar meu cansaço
E toda essa minha vontade
Que bom poder tá contigo de novo
Roçando o teu corpo e beijando você
Pra mim tu és a estrela mais linda
Seus olhos me prendem, fascinam
A paz que eu gosto de ter
É duro ficar sem você, vez em quando
Parece que falta um pedaço de mim
Me alegro na hora de regressar
Parece que eu vou mergulhar
Na felicidade sem fim
O vento mudou
Música: Nuno Nazareth
Fernandes
Letra: João
Magalhães Pereira
Intérprete: Eduardo
Nascimento
Ouçam
Ouçam
E o vento mudou
Ela não voltou
As aves partiram
As folhas caíram
Ela quis viver
E o mundo correr
Prometeu voltar
Se o vento mudar
E o vento
mudou
E ela não voltou
Sei que ela mentiu
P'ra sempre fugiu
Vento por favor
Traz-me o seu amor
Vê que eu vou morrer
Sem não mais a ter
Nuvens tenham
dó
Que eu estou tão só
Batam-lhe à janela
Chorem sobre ela
E as nuvens choraram
E quando voltaram
Soube que mentira
P'ra sempre fugira
Nuvens por favor
Cubram minha dor
Já que eu vou morrer
Sem não mais a ter
Ouçam Ouçam
ouçam Ouçam ouçam
www.songcontest.nl (vencedora do festival da
canção de 1967)
Os dois abismos de António Costa
Um governo assente numa mentira
fundadora não pode sobreviver sem perpetuar essa mentira sob várias formas. O
abismo da mentira política de Costa está-se a abrir diante de nós
ostensivamente.
PAULO TUNHAS
OBSERVADOR, 12 jan. 2023, 00:1918
Ouve-se
e lê-se que António Costa, depois de sete anos de governo, está
cansado, o que
explica os erros sucessivos por ele cometidos nos últimos tempos e as múltiplas
trapalhadas com a gente que escolheu para com ele trabalhar. À primeira
vista, é uma doutrina plausível. Eu, por exemplo, se ocupasse o cargo dele, ao
segundo dia de ofício, depois de contemplar várias vezes a possibilidade do
suicídio, já tinha decidido fugir para uma qualquer ilha perdida do Pacífico
para não mais voltar a pôr os pés em Portugal. E mesmo criaturas mais
resistentes acabam por esgotar as suas forças e desistir, depois de o tempo ter
produzido o seu devido desgaste e o prazer no exercício da actividade ter
desaparecido. Como diz a canção de Leo Ferré, avec le temps,
va, tout s’en va, e chega um momento em que alors vraiment avec le temps
on n’aime plus.
É,
no entanto, inverosímil que tal tenha acontecido a António Costa. Até porque
também se diz à boca cheia por aí que ele se encontra tomado por um novo
amor que habita em Bruxelas. Ora, se é verdade que ninguém tem a obrigação
de amar ninguém, também o é que ninguém tem de pedir desculpa por se apaixonar.
Ainda para mais quando esse publicitado novo amor, dizem os boatos, parece, ó
imensa felicidade!, ser correspondido. O que há então de mais natural que ele
não se contente com breves e furtivos encontros lá na Europa e ambicione romper
as amarras com o leito conjugal da pátria que já não o satisfaz e que, ainda
por cima, o atormenta com queixumes sortidos e cenas feias em público? O que
basta, basta, com raios e coriscos!
Dito
isto, é, no entanto, possível que as presentes trapalhadas no governo tenham
outra explicação menos envolta em amores e desamores. Ela resume-se talvez num
verso célebre de Eliot: In
my beggining is my end. O
princípio de Costa no governo assentou numa mentira fundadora: a de que Pedro
Passos Coelho havia sido o responsável pelas políticas ditadas pela troika a
Portugal no período da “austeridade” e que a inocência do PS de Sócrates (e de
Costa) nesse capítulo era pouco menos do que absoluta. Essa mentira – voluntária e consciente – esteve na
base de uma série de mentiras consecutivas, como, por exemplo, a do “virar da
página da austeridade”, e transformou uma eleição perdida numa eleição ganha,
através do artifício da “geringonça”. Tais mentiras, e a
desonestidade política que consubstanciam, nunca o incomodaram em nada. Pelo contrário: foram o combustível que lhe
permitiu governar durante sete anos e até obter uma maioria absoluta.
E tudo isso sem uma única ideia política digna desse nome: isto é, um projecto
claro e definido para o país, fora de algumas noções apanhadas nos discursos de
Bruxelas – “transição climática”, “transição digital”, etc. –, que ele
papagueou como fórmulas encantatórias. Mas
as mentiras, passado algum tempo, que pode ser longo, de gastas e esfarrapadas
que são, tornam-se auto-destrutivas. Infiltram tudo o resto. Impedem uma
política com um rumo coerente. As trapalhadas recentes do governo são o seu
natural corolário: o resultado praticamente inevitável de se ter construído um
edifício sobre bases falsas. “No meu princípio está o meu fim”, de facto. E não me venham, por favor, falar de “cansaço”.
Porque é muito pior do que isso: é o atingir do limite de
elasticidade de uma fórmula perversa que está à beira de se esgotar porque os
seus próprios princípios a isso a conduziam.
À sombra deste edifício cada dia que passa mais periclitante
florescem arranjinhos vários. É claro,
dir-se-á, que eles florescem sob qualquer governo, por melhor que seja. É
verdade. E seria bom que se percebesse que, para muitas pessoas,
a corrupção é uma actividade natural. As
pessoas não gostam todas do dinheiro da mesma maneira: a paixão crematística,
por exemplo, não é universalmente partilhada. Além disso, o dinheiro não tem o
mesmo significado para toda a gente: o que para uns é muito, para outros é
pouco. E há as tais pessoas que não se preocupam excessivamente com os meios de
o adquirir.
É
fácil de ver que uma atmosfera política informe – e a
informidade é o reino de Costa – incentiva
estas últimas. Se não há linhas políticas bem definidas (coisa que Costa
é incapaz de traçar) que as pessoas consigam identificar e que, de uma maneira
ou outra, sirvam de ponto de referência na vida social, por grandes que sejam
as diferenças que as separam, tudo se torna mais propício às tradicionais
habilidades da esperteza. Abyssus abyssum invocat, como se sabe, o abismo chama o abismo.
O abismo da mentira política atrai para junto de si e para os seus arredores o
abismo da esperteza e, em frequentes casos, da corrupção pura e simples.
Volto
à minha. Um governo assente numa mentira fundadora não pode sobreviver, mesmo
em maioria absoluta, sem perpetuar essa mentira sob várias formas. Ora, o
limite da elasticidade da mentira terá, de uma forma qualquer, de se
manifestar. O abismo da mentira política de Costa está-se a abrir diante de nós
ostensivamente. O sinal que mais atrai o jornalismo são os conflitos entre os
que aspiram a suceder-lhe. Mas esse abismo, pelo qual o governo corre o risco
de cair, desdobra-se num outro: uma espécie de anomia social que se expressa
numa multiplicidade indefinida de criaturas, cujas caras vamos conhecendo dia
sim, dia não, que se aproveitam dela para tratar dos seus privados interesses.
Os mentirosos aproximam-se do regime da mentira. Um abismo chama o outro, o
informe convida o informe. E os dois quase se confundem. A opinião comum tende
a essa confusão. E, à sua maneira, tem razão.
Amor por Bruxelas? Com o devido
respeito, deixemos as paixões de António Costa para o seu próprio anedotário
sentimental e preocupemo-nos mais com os palpáveis efeitos deletérios das suas
mentiras. A começar pela primeira, a mentira fundadora. Que não é só sua, de
resto. É do PS quase inteirinho.
ANTÓNIO
COSTA POLÍTICA PÓS-TROIKA TROIKA
COMENTÁRIOS
Maria RibeiroTelles: Excelente !. A verdade explicada e resumida de uma maneira
clara e simples que todo compreendemos. O que o Sr. escreveu devia
aparecer todos os dias nas horas de maior audiência da televisão, que
mesmo assim não chegava para compensar os anos de lavagem ao cérbero que PS
e Comunicação social têm feito. A hipocrisia do Costa
ajuda a desculpar tudo e na televisão volta a aparecer como o politico
muito hábil Por quê este amor a um Hipócrita?? João Eduardo Gata: António Costa sempre foi um EMBUSTE e uma FRAUDE. João Floriano > João Alves: Não sei se era mesmo a mim que
o João queria responder porque eu não me lembro de ter comentado aqui a mentira
fundadora. A memória popular é curta e António Costa usa isso a seu favor. Se
uma mentira for repetida exaustivamente não deixa de ser mentira mas começa
cada vez mais aparecer-se com a verdade. António Costa e a esquerda falam
dos anos da troika como se estes tivessem sido anos normais iguais a tantos
outros. Não foram. Os grandes sacrifícios feitos entre 2011 e 2014 foram um
sufoco e mandava quem tinha o dinheiro na mão: a troika. Extremamente difícil
desmontar o discurso PS quando a CS está toda alinhada com António Costa e
dentro do próprio PSD há dirigentes que abdicaram de fazer oposição como foi o
caso de Rui Rio. João Ramos: Como Maria João Avillez o lembrou e muito bem, Costa
faz lembrar o tal ministro do Iraque que dizia que estava tudo bem e que a
vitória era certa quando entretanto lhe caíam bombas no edifício onde se
encontrava, Costa é o nosso Tarik
Aziz, a mentira faz
parte do seu ADN não há nada a fazer… Carlos Quartel: A verdade, nua e crua. A mentira fundadora, excelente
termo, que define bem a origem dos governos de Costa. A geringonça nunca foi um
projecto, nunca passou de uma manobra de emergência para evitar a morte política
de Costa. A partir daí, houve que elaborar uma narrativa justificativa
do entorse, operação de propaganda permanente, em que conseguiram pôr Passos a
chamar a troika. Quanto a projectos e medidas, a TAP é um bom
exemplo. De fundamental para marcar a nossa nacionalidade, agora a salvação
está na venda, depois da compra. No caminho lá se foram 3200 milhões (pelo menos), que
muita falta faziam ao SNS à reforma das escolas ou da justiça, ou mesmo
para um aumento de vencimento a psps e gnrs, a ganharem miseravelmente.
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