sábado, 28 de janeiro de 2023

Liberalidades democráticas


Nessa Primeira República, na sequência dos bons ensinamentos revolucionários colhidos dos primórdios gauleses, e de que os tempos de hoje também não escaparam em generoso e merecido galardão - no que toca, pelo menos, Amália Rodrigues, como voz única de um povo que ela amou e a amou e amará - mas de mau gosto na tal “partida” grosseira de Afonso Costa, por muito republicano que fosse, achincalhando a monarquia, cobardemente pré extinta – o que não escapou à indignação do homem escrupuloso, que é o Dr. Salles da Fonseca - como sintomático de uma eterna mediocridade nacional bem tosca, a tal figura da condessa já suficientemente homenageada no bonito chalet vizinho do distinto Palácio da Pena.

A HISTÓRIA DE UM REI A FINGIR

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 27.01.23

ou

A VINGANÇA DE AFONSO COSTA

Ferdinand von Saxe-Coburg und Gotha (Viena, 1816 – Lisboa, 1885) nasceu Príncipe austríaco e morreu em Portugal com o título de Rei.

Segundo marido da nossa Rainha D. Maria II foi escolhido por nele se adivinhar a fogosidade capaz de assegurar a sucessão dinástica na Casa Real de Portugal. E o Príncipe-Rei não se fez rogado pois a Rainha engravidou até à exaustão: morreu no seu décimo primeiro parto. Reconheçamos que, se ao Príncipe se lhe pedia descendência, bem mereceu o título de Rei – mesmo que apenas honorífico.

E se a missão de garantir a sucessão ao trono era assunto de Estado a tomar na mais alta consideração, D. Fernando terá querido assegurar-se da sua permanente condição operacional e não se cingiu aos horários de serviço pois ensaiou em horários extra tomando como «partenaires» damas e moçoilas sobre quem os seus olhos descessem.

A Rainha, nem sempre disponível para a fogosidade do Rei, inventava pretextos para o afastar das saias dela ou alheias e assim foi que, certa vez, o mandou supervisionar umas manobras militares no Alentejo. Embarcados no Terreiro do Paço e desembarcados em Cacilhas, instala-se o pânico no séquito real pois Sua Majestade desaparecera. Havia a certeza de que o Rei não saltara borda fora e até fora visto em terra a encaminhar-se para um canto por trás da casa do Chefe local dos Correios no largo donde saía a rua de acesso a Almada para se aliviar de alguma real precisão, mas, depois disso, estava desaparecido. Esfumara-se. E foram três dias de grande aflição sem se saber se se deveria informar a Rainha da sua putativa viuvez e, daí, a eventual vacatura do lugar ao seu lado no trono…

… e as buscas prosseguiram…

… até que ao terceiro dia foram encontrar o Rei em casa do Chefe dos Correios de Cacilhas a dar «lições de piano» á filha do dito Chefe. Pois…

* * *

Elise Frederika Hensler, suiça de nascimento, era actriz de teatro e ficou conhecida como Condessa de Edla. Sim, claro, era «próxima» do Rei e essa proximidade era de tal modo que teve direito a um «chalet» logo ali nas faldas do Castelo da Pena onde a Rainha passava temporadas. Sua Majestade, o Rei, parecia gostar de exercícios de ubiquidade.

Falecida Sua Majestade a Rainha D. Maria II ao seu infausto décimo primeiro parto, fez D. Fernando o luto oficial e o da conveniência social para casar com a Condessa.

Uma vez que D. Fernando mais não era do que um «reprodutor de Estado, Rei a fingir, à Rainha defunta sucedeu no trono o primogénito Pedro, o quinto desse nome no trono de Portugal, que morreu sem que lhe fosse conhecida descendência pelo que o fogosíssimo D, Fernando viu o seu segundo filho varão, Luís, subir ao trono. E foi por escassos quatro anos que não viu o neto Carlos sentado no lugar régio.

Compreende-se que D. Fernando II, Rei (a fingir) tenha tido cabimento no Panteão Nacional, mas que a Condessa de Edla (falecida em 1920, já a República com 10 anos andados) esteja no Panteão dos Braganças, é que me parece uma vingança jacobina de Afonso Costa.

Janeiro de 2023              Henrique Salles da Fonseca              Tags: história

COMENTÁRIOS:

Henrique Salles da Fonseca 27.01.202322 03: Conheço o chalet bom gosto tinha o rei consorte aliás era bem conhecida o amor às artes e ao k parece a todas     Isabel Pedroso

Anónimo 28.01.2023 11:04: Lamento, meu Amigo, mas tenho que rectificar um lapso. Ele não teria importância nenhuma se não te tivesse induzido em erro e não tivesse reflexo no título do post. Trata-se da data de falecimento da Condessa de Edla. Morreu em 1929, em Lisboa, com 93 anos, e não em 1920. Confirmei-o em várias fontes da internet e também no livro da historiadora Doutora Maria Antónia Lopes intitulado “D. Fernando II” (página 388). Quer isto dizer que morreu não no consulado de Afonso Costa, mas noutro. A vingança a que te referes, se a houve, não foi daquele jacobino, mas de outrem. Talvez de algum zelador de bons costumes, de alguém que “não discutia a Família e a sua Moral”. Da pesquisa que fiz sobre a Condessa (mérito que os teus posts têm), descobri uma coisa interessante. O quê? Já vais saber, Henrique. Desde a minha adolescência que fiquei admirador, pelo que ouvia e lia em “A República”, de um “velho republicado”, prestigiado opositor do Regime, catedrático de Agronomia. Estou a referir-me ao Prof. Mário Azevedo Gomes. Mas o que o Professor tem a ver com a Condessa Edla? Era simplesmente seu neto! Com efeito, ela, quando viveu em Paris, e se chamava apenas Elise Hensler, teve uma filha – Alice Hensler – que se casou com o comandante Manuel Azevedo Gomes. O casal teve o filho Mário. Mencionas aspectos da vida mundana de D. Fernando. Convenhamos que são mais agradáveis do que a turbulenta vida política. O subtítulo do livro acima mencionado é “Um Rei Avesso à Política”. Castilho chamou-lhe “Rei Artista” (pág, 630 da “História de Portugal”, volume 5, Direção Prof. José Mattoso). Para além do gosto pelas Artes, também se interessou, claro está, pelo belo sexo. Em 1856, após a morte da Rainha D. Maria II (1853), dizia-se, por exemplo, que a actriz Paulina Chevalier era requestada pelo Rei (e não só), assim como Charlotte Henriot, costureira duma modista francesa. Bulhão Pato sinalizava que muitas outras mulheres se deixaram seduzir pelo Rei, incluindo aristocratas (pág. 258, de “D. Fernando II”). Não lhe foi fácil casar-se com a sua amada, a Condessa. As reacções da Família e da Sociedade Portuguesa foram violentas, algumas com laivos anedóticos. Conto apenas que o correspondente do “Comércio do Porto”, em Lisboa, viu rejeitado pela estação dos Correios um telegrama que dizia que o Rei ia casar com uma dama de S. Carlos, há muito residente em Lisboa (pág. 335 de “D: Fernando II”). E a perturbação retomou-se com o testamento de S. Alteza, pois deixou tudo o que podia deixar à sua viúva, incluindo o Palácio da Pena. Não acuso o Rei de não gostar da política. O seu distanciamento foi tal que até rejeitou dois tronos que lhe foram oferecidos: o espanhol e o grego. Como sabes, a vida política nesse tempo (também) era muito agitada. Só entre maio de 1834 e o final de 1835, isto é, num ano e meio, houve 5 governos (pág. 96 de “História de Portugal”), a pedir meças ao que ocorreria na 1ª República. D. Fernando chegou a Portugal no ano seguinte (8/4//1836). Pois, recorda que de 1837 a 1851 houve o Setembrismo, a revolução de 1842 e a ascensão de Costa Cabral, a revolta da Maria da Fonte e a primeira queda de Cabral, a guerra civil de 1846/7 (Patuleia), o regresso de Cabral e, de novo, a sua queda (o golpe de 1851) e, finalmente, a Regeneração, com algum sossego. Perante isto não é de estranhar que o Rei, em 1851, tenha desabafado: “A função de governar é das mais tristes que se pode ter à face da Terra” (pág. 93 de “D. Fernando II”). Não contesto a veracidade da afirmação, mas também não é menos verdade que, por vezes, aos governados se lhes deparam governantes e outros políticos que são uma triste figura. E entre estes e D. Quixote, prefiro este último, pois sempre foi cavaleiro. Grande abraço. Carlos Traguelho

Francisco G. de Amorim  28.01.202321:19:

À Illustrissima e Excellentissima Senhora CONDESSA D'EDLA
 Senhora: Se os colossos da floresta
Aos céus enviam divinaes perfumes
Tambem o agreste cheiro da giesta
Ousa humilde subir aos pés dos Nunes,
Se o sol, que é vida e alma do universo,
Não desdenha aquecer o infimo insecto
A vós rude bardo implora o verso
Calor e luz de generoso affecto.
Gota d'água levada pelo vento;
Modesto aroma d'uma flor caída;
Nem tanto valerá meu pensamento...
Mas inspira-o uma alma agradecida.

Poema de introdução a FLOR DE MÁRMORE, oferecido à Condessa d'Edla por Francisco Gomes de Amorim - 1878 - em reconhecimento de ter sido ela que convenceu D. Fernando a ofertar a FGA a famosa cadeira que tinha sido de Garrett. 

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