Nessa Primeira República, na sequência
dos bons ensinamentos revolucionários colhidos dos primórdios gauleses, e de que
os tempos de hoje também não escaparam em generoso e merecido galardão - no que
toca, pelo menos, Amália Rodrigues, como voz única de um povo que ela amou e a amou
e amará - mas de mau gosto na tal “partida” grosseira de Afonso Costa, por
muito republicano que fosse, achincalhando a monarquia, cobardemente pré
extinta – o que não escapou à indignação do homem escrupuloso, que é o Dr.
Salles da Fonseca - como sintomático de uma eterna mediocridade nacional bem
tosca, a tal figura da condessa já suficientemente homenageada no bonito chalet
vizinho do distinto Palácio da Pena.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 27.01.23
ou
A VINGANÇA DE AFONSO COSTA
Ferdinand von
Saxe-Coburg und Gotha (Viena, 1816 – Lisboa, 1885) nasceu Príncipe austríaco e
morreu em Portugal com o título de Rei.
Segundo
marido da nossa Rainha D. Maria II foi escolhido por nele se adivinhar a
fogosidade capaz de assegurar a sucessão dinástica na Casa Real de Portugal. E
o Príncipe-Rei não se fez rogado pois a Rainha engravidou até à exaustão: morreu
no seu décimo primeiro parto. Reconheçamos que, se ao Príncipe se lhe
pedia descendência, bem mereceu o título de Rei – mesmo que apenas honorífico.
E
se a missão de garantir a sucessão ao trono era assunto de Estado a tomar na
mais alta consideração, D. Fernando terá querido assegurar-se da sua
permanente condição operacional e não se cingiu aos horários de serviço pois
ensaiou em horários extra tomando como «partenaires» damas e moçoilas sobre
quem os seus olhos descessem.
A
Rainha, nem sempre disponível para a fogosidade do Rei, inventava pretextos
para o afastar das saias dela ou alheias e assim foi que, certa vez, o mandou
supervisionar umas manobras militares no Alentejo. Embarcados no Terreiro do
Paço e desembarcados em Cacilhas, instala-se o pânico no séquito real pois Sua
Majestade desaparecera. Havia a certeza de que o Rei não saltara borda fora e
até fora visto em terra a encaminhar-se para um canto por trás da casa do Chefe
local dos Correios no largo donde saía a rua de acesso a Almada para se aliviar
de alguma real precisão, mas, depois disso, estava desaparecido. Esfumara-se. E
foram três dias de grande aflição sem se saber se se deveria informar a Rainha
da sua putativa viuvez e, daí, a eventual vacatura do lugar ao seu lado no
trono…
…
e as buscas prosseguiram…
…
até que ao terceiro dia foram encontrar o Rei em casa do Chefe dos Correios de
Cacilhas a dar «lições de piano» á filha do dito Chefe. Pois…
*
* *
Elise Frederika Hensler, suiça
de nascimento, era actriz de teatro e ficou conhecida como Condessa de Edla. Sim, claro, era «próxima» do Rei e essa proximidade
era de tal modo que teve direito a um «chalet» logo ali nas faldas do
Castelo da Pena onde a Rainha passava temporadas. Sua Majestade, o Rei, parecia
gostar de exercícios de ubiquidade.
Falecida
Sua Majestade a Rainha D. Maria II ao seu infausto décimo primeiro parto, fez D. Fernando o luto oficial e o da conveniência
social para casar com a Condessa.
Uma
vez que D. Fernando mais não era do que um «reprodutor de Estado, Rei a fingir,
à Rainha defunta sucedeu no trono o primogénito Pedro, o quinto desse nome
no trono de Portugal, que morreu sem que lhe fosse conhecida descendência pelo
que o fogosíssimo D, Fernando viu o seu segundo filho varão, Luís, subir ao
trono. E foi por escassos quatro anos que não viu o neto Carlos sentado no
lugar régio.
Compreende-se que D. Fernando II, Rei
(a fingir) tenha tido cabimento no Panteão Nacional, mas que a Condessa de Edla (falecida em 1920, já a
República com 10 anos andados) esteja no Panteão dos Braganças, é que me parece
uma vingança jacobina de Afonso Costa.
Janeiro de 2023 Henrique Salles da Fonseca
Tags: história
COMENTÁRIOS:
Henrique Salles da Fonseca 27.01.202322 03: Conheço o chalet bom gosto tinha o rei consorte aliás era bem conhecida
o amor às artes e ao k parece a todas Isabel
Pedroso
Anónimo 28.01.2023 11:04: Lamento, meu Amigo, mas tenho que rectificar
um lapso. Ele não teria importância nenhuma se não te tivesse induzido em erro
e não tivesse reflexo no título do post. Trata-se da data de falecimento da
Condessa de Edla. Morreu em 1929, em Lisboa, com 93 anos, e não em 1920.
Confirmei-o em várias fontes da internet e também no livro da historiadora
Doutora Maria Antónia Lopes intitulado “D. Fernando II” (página 388). Quer
isto dizer que morreu não no consulado de Afonso Costa, mas noutro. A
vingança a que te referes, se a houve, não foi daquele jacobino, mas de outrem.
Talvez de algum zelador de bons costumes, de alguém que “não discutia a Família
e a sua Moral”. Da pesquisa que fiz sobre a Condessa (mérito que os
teus posts têm), descobri uma coisa interessante. O quê? Já vais saber,
Henrique. Desde a minha adolescência que fiquei admirador, pelo que ouvia e lia
em “A República”, de um “velho republicado”, prestigiado opositor do Regime,
catedrático de Agronomia. Estou a referir-me ao Prof. Mário Azevedo Gomes. Mas
o que o Professor tem a ver com a Condessa Edla? Era simplesmente seu neto!
Com efeito, ela, quando viveu em Paris, e se chamava apenas Elise Hensler, teve
uma filha – Alice Hensler – que se casou com o comandante Manuel Azevedo Gomes.
O casal teve o filho Mário. Mencionas aspectos da vida mundana de D. Fernando.
Convenhamos que são mais agradáveis do que a turbulenta vida política. O
subtítulo do livro acima mencionado é “Um Rei Avesso à Política”. Castilho
chamou-lhe “Rei Artista” (pág, 630 da “História de Portugal”, volume 5,
Direção Prof. José Mattoso). Para além do gosto pelas Artes, também se
interessou, claro está, pelo belo sexo. Em 1856, após a morte da Rainha D.
Maria II (1853), dizia-se, por exemplo, que a actriz Paulina Chevalier era
requestada pelo Rei (e não só), assim como Charlotte Henriot, costureira duma
modista francesa. Bulhão Pato sinalizava que muitas outras mulheres se deixaram
seduzir pelo Rei, incluindo aristocratas (pág. 258, de “D. Fernando II”). Não
lhe foi fácil casar-se com a sua amada, a Condessa. As reacções da Família e da
Sociedade Portuguesa foram violentas, algumas com laivos anedóticos. Conto
apenas que o correspondente do “Comércio do Porto”, em Lisboa, viu rejeitado
pela estação dos Correios um telegrama que dizia que o Rei ia casar com uma
dama de S. Carlos, há muito residente em Lisboa (pág. 335 de “D: Fernando II”).
E a perturbação retomou-se com o testamento de S. Alteza, pois deixou tudo o
que podia deixar à sua viúva, incluindo o Palácio da Pena. Não acuso o Rei de não gostar da política. O seu
distanciamento foi tal que até rejeitou dois tronos que lhe foram oferecidos: o
espanhol e o grego. Como sabes, a vida
política nesse tempo (também) era muito agitada. Só entre maio de 1834 e o
final de 1835, isto é, num ano e meio, houve 5 governos (pág. 96 de “História
de Portugal”), a pedir meças ao que ocorreria na 1ª República. D. Fernando
chegou a Portugal no ano seguinte (8/4//1836). Pois, recorda que de 1837 a 1851
houve o Setembrismo, a revolução de 1842 e a ascensão de Costa Cabral, a
revolta da Maria da Fonte e a primeira queda de Cabral, a guerra civil de
1846/7 (Patuleia), o regresso de Cabral e, de novo, a sua queda (o golpe de
1851) e, finalmente, a Regeneração, com algum sossego. Perante isto não é de estranhar que o Rei, em 1851,
tenha desabafado: “A função de governar é das mais tristes que se pode ter à
face da Terra” (pág. 93 de “D. Fernando II”). Não contesto a veracidade da
afirmação, mas também não é menos verdade que, por vezes, aos governados se
lhes deparam governantes e outros políticos que são uma triste figura. E entre
estes e D. Quixote, prefiro este último, pois sempre foi cavaleiro. Grande
abraço. Carlos Traguelho
Francisco G. de Amorim 28.01.202321:19:
À Illustrissima e
Excellentissima Senhora CONDESSA D'EDLA
Senhora: Se os
colossos da floresta
Aos céus enviam divinaes perfumes
Tambem o agreste cheiro da giesta
Ousa humilde subir aos pés dos Nunes,
Se o sol, que é vida e alma do universo,
Não desdenha aquecer o infimo insecto
A vós rude bardo implora o verso
Calor e luz de generoso affecto.
Gota d'água levada pelo vento;
Modesto aroma d'uma flor caída;
Nem tanto valerá meu pensamento...
Mas inspira-o uma alma agradecida.
Poema
de introdução a FLOR DE MÁRMORE, oferecido à Condessa d'Edla por Francisco
Gomes de Amorim - 1878 - em reconhecimento de ter sido ela que convenceu D.
Fernando a ofertar a FGA a famosa cadeira que tinha sido de Garrett.
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