Trata-se de tragédia.
Este “governo” devia ser eterno
Depois de temporadas de sombras e
angústia, comecei a saborear a prodigiosa rebaldaria a que diariamente
assistimos. À semelhança daqueles filmes péssimos de que gostamos para efeitos
de galhofa.
ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador OBSERVADOR, 07 jan. 2023, 00:2156
É uma mentira desalmada dizer que a nova
ex-secretária de Estado da Agricultura durou 24 horas no lugar. Durou
25. Alguns chegam a falar em 26. Em breve, isso parecerá uma
eternidade. Não tarda, desata-se a cronometrar governantes a partir do momento
em que tomam posse, de modo a celebrar, por antiguidade, os que chegarem ao fim
da cerimónia ainda no cargo. E que só à saída se cruzam com os sucessores,
acabados de entrar nos jardins de Belém. Lembram-se de quando, por causa da
TAP, a rapaziada conseguia aguentar-se meses ou anos até se demitir? Foi há
quinze dias. E a época em que carros oficiais atropelavam pessoas, mortal e
impunemente, soa ao Paleolítico. Agora, ou desde que o dr. Costa cruzou as
pernocas na capa da Visão e o “Pedro Nuno” decidiu incendiar o
partido, os tempos são outros.
Foram as circunstâncias que se
alteraram? Não exactamente: misturar socialismo com trafulhices é hábito velho.
A novidade é haver investigação dos hábitos, das trafulhices e do socialismo.
E quem diz investigação diz denúncias, que as facções do PS andam encarniçadas
e em matéria de consequências a coisa vai dar ao mesmo. Ou seja, vai dar a uma
vertigem de notícias acerca dos currículos dos senhores que chegam ao governo. E,
pelos vistos, os únicos com um currículo limpo são os que literalmente não têm
currículo nenhum, como a nova ministra da Habitação. E nem assim convém pôr
as mãos no fogo: a sra. ministra também prometeu pôr todos os portugueses a
viver no Chiado e suspeito que ficará desiludida.
Entretanto, as revelações sucedem-se.
Poucas horas após a sra. secretária das 24 (ou das 25, ou das 26), o Sol chamou
para a festa o igualmente fresquíssimo secretário do Ambiente, enfiado numa
brincadeira que envolve empresas familiares, as irmãs do sujeito, vinhedo,
tratamento de resíduos e lixo radioactivo. O ministro que o tutela não vê
motivos para polémica, o que significa que por esta altura o sr. secretário
deve estar por um fio, talvez em vias de susbtituição pelo autarca de
Condeixa-a-Nova e chefe do PS/Coimbra, condenado ontem a quatro anos de cadeia.
Aliás, enquanto escrevo é possível que se preparem mais cinco ou seis
remodelações, sete ou oito manchetes e nove ou dez declarações do
primeiro-ministro a dizer que confia inteiramente nas criaturas que convida,
embora – ele fique ceguinho – não faça ideia do respectivo passado.
A propósito de confiança, na
quinta-feira a derrocada em curso convenceu a vasta maioria dos deputados,
mediante rejeição ou abstenção, a afirmar que o governo está impecável, sim
senhor. Perante isto, a minha primeira reacção foi chamar os parlamentares de
retardados para baixo. A segunda foi concordar com a votação deles.
Nunca, na história do regime iniciado
em 1975, houve espectáculo comparável ao oferecido pela trupe actualmente no
poder. É claro que
a trupe se escangalha aos pedaços e ao vivo. É claro que a “estabilidade” perde
vantagens se aquilo que se estabiliza é o caos absoluto. É claro que o “regular
funcionamento das instituições”, cuja subversão seria critério constitucional
para a mudança, é uma expressão que se deve acompanhar com 37 emojis a
gargalhar: há muito que as instituições não funcionam regularmente, não
funcionam de todo e já nem sequer são instituições.
A questão é que, provavelmente, não
existe remédio. Os estragos provocados pelo PS, com e sem
“geringonça”, são tantos e tão vastos que passaram o ponto de retorno. A
oportunidade para impedir ou controlar os estragos disto foi desperdiçada. Não
é de hoje que, na economia e na saúde, no ensino e na justiça, nas
liberdades e na vergonha na cara, a sábia liderança do dr. Costa, amparada
pelo prof. Marcelo e sufragada em Janeiro pelos eleitores, corroeu os
fundamentos mínimos do que antigamente se designava por Estado de direito. A incompetência, a manha, o descaramento, a
prepotência e a corrupção têm anos, e na melhor das hipóteses qualquer
tentativa de reabilitação levará décadas. Em suma, e por duas, três ou quatro
gerações, estamos desgraçados. E se a desgraça não tem solução, ao menos que a
graça sirva de consolo.
Não sei o que sucede convosco. Depois de
temporadas de sombras e angústia, eu comecei a saborear a prodigiosa
rebaldaria a que diariamente assistimos. À semelhança daqueles filmes
péssimos de que gostamos para efeitos de galhofa, confesso que aprendi a
apreciar um governo medonho – por razões idênticas. É um raro caso, ou casinho,
em que faz total sentido a expressão de cepticismo “mau demais para ser
verdade”. É mau demais. E é verdade. E, se esquecermos o rasto de miséria
que semeou, é um considerável gozo. Na falta de pão, a gente entretém-se com
circo. Ou com o “circuito”, que é a recente “punch line”, perdão, sugestão do
dr. Costa para garantir a pureza jurídica e moral dos futuros – e
previsivelmente incontáveis – nomeados. Tradução: dado o refugo que sobra para nomear, e a altíssima possibilidade de
o refugo arrastar trapalhadas consigo, o dr. Costa, fartinho de saber das
trapalhadas, queria fingir que a responsabilidade do escrutínio não é dele. Nem
o prof. Marcelo cai nessa. E eu, confesso, caio a rir.
Só é triste que uma comédia de nível
aconteça porque as comadres e os compadres socialistas se zangaram e não porque
os cidadãos os despacharam a alcatrão e penas, de preferência pesadas. Mas não
deixarei que as tristezas me murchem uma inesperada alegria. Já basta o que
basta, excepto para os artistas do “governo”: não parem, por favor.
COMENTÁRIOS
Filipe Costa: Como dizia Eça de Queiroz, “Este governo não há de
cair -porque não é um edifício. Tem de sair com benzina - porque é uma nódoa!” Cipião Numantino: Brutal! Excelente libelo acusatório a
uma espécie de trupe que tomou de presúria este depauperado e desgraçado país. Estava na cara o que iria acontecer.
E os meninos e meninas rabinas que compõem a agremiação xuxaleira acabariam por
bater com os burrinhos na água. E dispensados dos apêndices esquerdeiros da
geringonça que lhe aparavam os golpes, estava mais que visto que acabariam por
convolar numa espécie de orfandade de que não sabem ou não querem mesmo
livrar-se. Esta gente, como diz a garotada, "não se
manca". Geniais na insídia e no passar de culpas, tudo lhes serve para
sacudirem a água do capote. Ainda hoje não consigo perceber o golpe genial de
atribuírem todas as culpas a Passos. Do género de comerem as castanhas, enquanto
aos outros lhes rebentava a boca. Passos serviu para tudo e mais
um par de botas. O "menino de oiro" xuxa colocou o país a saque e de
pantanas e a culpa, pois então, foi do Passos. Os pensionistas e reformados,
não fora o Passos tomar as rédeas do governo, poderiam estar um ano ou dois sem
receberem e, a culpa de tal pretenso desastre, foi atribuído ao
"malvadão" do Passos. E por mim, mesmo ainda hoje, deparo com imensos
reformados e pensionistas que afirmam que o desgraçado do Passos os roubou!!!
Sem mais nem menos. E vejam até que grande parte deles afirma convicta e
sonoramente que o problema esteve no Passos não ter aprovado o PEC IV que,
digo-o eu, já iríamos, agorinha mesmo, para aí no PEC CXXV, e toda a maralha
que brama ferozmente contra o Passos a irem receber as suas pensões ao Tota,
enquanto o 44 já tinha comprado metade da cidade de Paris com o dinheiro que ia
sacando daqui da choldra a que se convencionou chamar um país. Tenho para mim que o Passos se
precipitou. Deveria ter deixado toda esta gente tola e ingrata bater com a
cabeça nas paredes sem receber um tusto das suas pensões ou aposentadorias. O
clamor seria imenso! E à agremiação bancarroteira xuxa teria sucedido
exatamente o mesmo que ao PASOK na Grécia que praticamente desapareceu da cena
política. Assim sendo, o Dr. Kostacovich e a sua propalada genialidade andaria
por aí aos papéis e os seus ajudantes estariam certamente enquadrados na SAPEL,
acrónimo que quer dizer Sociedade Anónima de Polidores de Esquinas, Lda. Mais! Quase me sinto tentado a
desejar que os portugueses tiveram um tremendo azar em duas ocasiões soberanas.
Esta, da vinda da troika, foi uma delas. A outra, foi a
"infelicidade" do 25 de Novembro. Não fora o saudoso Jaime Neves e
teríamos ido, com alguma probabilidade, parar à orbita soviética. Ora é aqui que a porca torceria
o rabo. A vacina seria um remédio mais que milagroso, e parte deste maralhal
esquerdoso e comumeiro que nos vai infernizando a vida, teria sido colocado no
seu devido recato após a queda do muro de Berlim. Tudo o que fosse esquerdismo
seria considerado uma espécie de lepra a evitar. E o politicamente correcto
andaria por aí a piar bem fininho. Foi pena! E se por um lado me arrepio só
de pensar que também eu e a minha família iríamos sofrer com tal processo, este
país e este povo teriam ganho certamente juízo. Nada mais valioso do que a
experiência adquirida, mesmo que apreendida na base do sofrimento. Mas, diz o ditado, "não há
bem que sempre dure ou mal que nunca acabe". Sou já um pouco entradote na
idade, mas a esperança é a última coisa a morrer. E ver socialismo e xuxas
"irem parar às cucuias" é uma esperança que me anima e me aquece a
alma!...
Eduardo Cunha: excelente... Alfaiate Tuga: Acreditem ou não, a maioria do
eleitorado está-se nas tintas para os casos e casinhos que se passam no
governo, vêem umas notícias na televisão de que uma governante recebeu umas
centenas de milhares da TAP , que outra tem na conta umas centenas de milhares
para os quais não têm justificação, etc, etc, mas isso na prática diz-lhes
muito pouco ou nada. Porquê? Porque está instituído que os políticos vão para
lá para se encherem e no fundo são todos iguais, o que na grande maioria é
verdade, e mais importante, não tem a percepção de que o dinheiro que os
políticos sacam ou desviam ilegalmente lhes podia vir parar ao bolso. Alguém
sabe o que o governo faria com os 3.2 mil milhões que enterrou na TAP se não os
tivesse enterrado lá? A percepção é de que seriam enterrados noutro sítio
qualquer, mas nunca chegariam directamente aos bolsos dos portugueses. Num país
de 10 milhões de habitantes no qual haverá para aí 8 milhões de eleitores, ter
metade destes ou mais, a depender directamente do estado ou casado com quem
depende,( funcionários públicos e pensionistas) ,dão ao governo capacidade para
influenciar de forma decisiva o sentido de voto desta gente, pois mexe directamente
no bolso deles, e como se costuma dizer, não vivemos com o dinheiro dos outros,
ou seja não interessa se outros roubam, desviam, etc, interessa é quanto é que
vem para ao meu bolso. Isto, a par da incapacidade do PSD, é o segredo da
maioria absoluta. O PS devolveu directamente aos bolsos dos seus dependentes o
que o PSD (Passos ) tinha cortado, não vale a pena dizer que o PSD cortou
porque o PS tinha falido o país e não havia dinheiro, isso é um problema do
governo ele que resolva…eu não quero é cortes, quero aumentos…..e quem cortou
foi o PSD e quem aumentou foi o PS, simples. Este governo está convencido de
que a única coisa que o pode afastar do poder é uma nova bancarrota, por isso
as contas certas e o déficit controlado, pois como acima expliquei, enquanto
tiver dinheiro para ir aumentando os seu dependentes directos tem o voto deles
garantido, a brutal carga fiscal que temos serve para isso mesmo, comprar
eleitorado. A direita se quer chegar ao governo terá que começar a criar
a chamada perspectiva de ganho na maioria do eleitorado, ou seja, tem que
explicar às pessoas como é que com eles no poder elas teriam mais dinheiro no
bolso, pois é isso que interessa à esmagadora maioria do eleitorado, não é se
os políticos são ou não corruptos, pois isso é um dado mais ou menos adquirido.
Se eu estivesse no lugar do Montenegro começava por dizer que se fosse governo
venderia a TAP, a CP, a EFACEC e distribuía directamente o dinheiro que
conseguisse com a venda, pelos bolsos dos maiores de 18 anos residentes em
Portugal, mais, prometia uma baixa generalizada de impostos que seria paga com
o dinheiro que o estado deixaria de injectar nestas empresas, isto é só um
exemplo de uma perspectiva de ganho para muitos e perda apenas para os
funcionários das empresas que saiam da esfera do estado. O Kosta distribui
cheques com o proveito do saque em impostos, o Montenegro distribuía cheques
acompanhados de baixas de impostos…é só uma ideia…. Maria Paula Silva: Excepcional, como sempre. Nas crónicas, o AG é imbatível!
Adorei, saboreei, revi-me em cada linha. Obrigada! p.s. - e sim, não parem, por
favor, queremos ver cair todas as peças do dominó. eduardo oliveira:
Crónica soberba. E como cereja em cima do bolo
da nossa desgraça, a triste constatação de que todo este deplorável espectáculo
se deve a desavenças entre os aparatchiks socialistas e não graças ao
descontentamento e revolta populares. Triste país este, sem emenda e sem futuro... F.Mendes> Cipião Numantino: Muito bom comentário, quase um
artigo, e dos bons. O Alberto G. que se cuide pois tem concorrência! Para mais, estou 99% de acordo
com o que escreve. E reforço: culpar PPC tornou-se quase um desporto
nacional. Falei com pessoas cultas, que também acreditam que o PEC IV podia ter
resolvido a situação. Quando lhes digo que em 2011, imediatamente antes da
Troika, não havia dinheiro para pagar salários e pensões, não acreditam.
Incrível, mas verdadeiro. Amigo do Camolas: E vai ser. Depois de todos os esforços feitos pelos freteiros paneleiros
dos mídia para o Costa chegar ao poder sem ganhar eleições e agora com a sua narrativa
nojenta de que não há alternativa, este governo só não será eterno se não
quiser. E perguntam os mais desatentos: E quando é que vai
haver alternativa? Eles ainda não sabem. Mas tenho a impressão que é nunca. E perguntam outra vez: Mas se eles
sabiam e sabem, por exemplo, que no Brasil ou nos EUA qualquer alternativa aos
que estavam era melhor como é que eles não sabem aqui? Porque eles sabem mais
que a Lúcia. Ou por outras palavras: Se for de esquerda, qualquer merda serve.
Tudo é alternativa. Vejam o caso do ex-condenado por roubar o povo
brasileiro está de volta ao Palácio Presidencial do Brasil e com um rico
presente: a presença do menino de ouro socialista, Sócrates. Isto depois da
aprovação ainda mais alta do País, Costa, que até levantou a mão e fez o
"L" todo sorridente como quem diz: "Se o Sócrates me enganou, a
mim não me enganam duas vezes". E perguntam finalmente: E se
esta alternativa do ex-condenado for ainda pior do que a anterior para o
Brasil? Isso não é problema deles. PS. Esta crónica do AG é do
melhor que já li. Excelente.
F. Mendes: Mais um excelente artigo do AG.
Como outros, poderá ajudar os historiadores a escrever o obituário de uma
Nação, aviltada primeiro e liquidada depois por um acervo de canalhas que,
desgraçadamente, se concentraram numa década ou pouco mais, neste cantinho da
Europa. E tudo feito às claras, com a passividade de muitos, o espanto de
alguns, e a indignação de pouquíssimos, insuficientes para inverter o desastre. Temo que não serão muitos os
historiadores a dedicarem-se a tentar perceber como, e porquê, se passou o que
provavelmente se passará. Porque, simplesmente, não vai valer a pena. O AG relembra alguns dos
aspectos mais evidentes - e chocantes - deste descalabro. Tenho
falado com pessoas de vários estratos sociais e níveis de instrução; encontro,
quase sempre, a mesma atitude e diagnóstico (embora com algumas variantes): as
coisas estão mal, mas podia ser pior; pode ser que melhorem; e também não há
grandes alternativas à vista. Numa palavra, falta de exigência com eles mesmos
e face a quem manda, combinada com falta de ambição e inveja que baste. Há um provérbio chinês, que
julgo particularmente sábio. Reza, mais ou menos, assim: "Um homem que não
sabe para onde vai, chega sempre ao seu destino". O mesmo se aplica, na
minha modesta opinião, às Nações. E, em ambos, os casos significa ser arrastado
na torrente, aceitando desaguar onde calha. Frederico Antão: Sou um leitor assíduo das
crónicas de AG mas parco comentador das mesmas, no entanto tenho que realçar o
que é dito e muito bem nesta, pela importância e relevância: a degradação das
instituições democráticas e da sociedade civil perpetrada por Costa e pelo PS
nestes 7 anos, com a conivência de Marcelo, parece hoje quase irreversível, ou,
não o sendo, obra que demorará décadas a realizar. A criação intensa de
dependentes do estado neste período, a par do envelhecimento da população e do
alimentar do medo da "direita radical", fazem crer que apenas uma
grave crise poderá despoletar uma mudança e que nesse caso quem vier terá
condições difíceis para actuar. É inevitável conjeturar face ao estado a que se chegou
hoje o que poderia ser este país se em outubro de 2015 não tivessem faltado uns
poucos deputados à direita, ou mesmo se Cavaco tivesse tido simplesmente a
coragem de não empossar Costa e deixar o governo de Passos chumbado pela
esquerda em funções até novas eleições, mesmo que a longos meses de distância. José
B. Dias > Luís Abrantes: Manso e burro ... muito burro. Luís Abrantes: Obituário de um povo manso…
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