Como a linda Inês. É como nos vai na
alma – colhendo sempre o doce fruito. O certo é que não há esperança de
melhoria, que as greves tudo destroem, não deixam progredir, qualquer que seja
o governo. Por isso se acobardam os partidos, mau grado a justeza das
observações de Paulo Tunhas e Comentadores.…
António Costa e os perigos do informe
Dantes, havia o “socialismo num só
país” de Estaline. Agora temos direito ao optimismo num só país de António
Costa. O grau de negação da realidade mede-se amiúde pela quantidade de delírio
produzida.
PAULO TUNHAS
OBSERVADOR, 05 jan. 2023, 00:1913
Suponho
que interessa às pessoas falar da trapalhada em que andamos todos metidos.
Percebo. Também a mim me interessa e não creio, de resto, que o que vou
pensando seja substancialmente diferente do que pensa a maioria das pessoas. Há
questões que nos fazem facilmente perder o pé. Muitas vezes, quando almoço com
amigos do PS e do PSD, e quando eles começam a entrar pelas minúcias da nossa
vida política, é o que me costuma acontecer. A imaginação esgota-se-me e chega
a vez de um tédio culpado: não consigo pôr-me na cabeça dos políticos de que
eles estão a falar e cujas intenções desvelam de uma só penada. Sinto-me um
bruto. Por estes dias, no entanto, as coisas são diferentes. Tudo é
razoavelmente claro. Graças, é claro, a António Costa.
O
Natal e o Ano Novo, com as demissões da secretária de Estado das Finanças e do
ministro Pedro Nuno Santos, e tudo o que veio com elas, foi a mais esplêndida
prova da natureza de António Costa que se podia pedir. Não que ele tenha estado
particularmente visível. Pelo contrário, até não deu ao país sinal de si,
excepto numa mensagem de Ano Novo publicada no Jornal de Notícias e
numa conferência de imprensa de apresentação de dois novos ministros (voltarei
a ambas no fim). Mas também não precisava de se mostrar. A presente crise é,
por ela mesma, aquilo que se poderia chamar a prova da natureza de Costa pelos
seus efeitos.
De
facto, o caos no Governo revela exemplarmente um traço aparente da política de
Costa: a apetência pelo informe.
É nesse elemento que ele se mexe melhor, navegando sobre dobras e dobrinhas. O
informe permite ocultar contradições, inclusive ideológicas, e impede que os
erros se tornem demasiado salientes. Sobretudo quando quem nele reina é uma
temível máquina de palavras, capaz de, falando sem parar, não responder a nada
que não lhe convenha responder. O
informe permite toda a espécie de jogos políticos que não necessitem de
frontalidade. O equívoco é a regra, e pode sê-lo, precisamente, porque o
informe, confundindo tudo, não o deixa ver enquanto tal.
A
Geringonça satisfez-lhe esse apetite pelo informe. Como alguma gente dentro
do PS desde logo notou, havia uma linha clara que, apesar de tudo, separava o
PS do Bloco e do PC. O primeiro gesto de Costa ao perceber que tinha
perdido as eleições para Passos Coelho foi esbatê-la tanto quanto possível ao
ponto de ela se tornar em parte imperceptível. Em parte:
anulá-la efectivamente representaria um gesto inequívoco a que certamente não
estava disposto. Correu-lhe bem enquanto durou, isto é, enquanto a informidade
pôde ser mantida. Mas até o informe possui limites de elasticidade. O Bloco,
primeiro, e depois o PC, exigiram alguma forma. E tudo acabou. E,
aparentemente, acabou bem para Costa, com uma maioria absoluta.
O problema é que com a maioria absoluta vinha a obrigação da forma –
e das reformas. E isso, para alguém assim, era anátema. De resto, a informidade
impede que se tenham ideias políticas, entendidas como um projecto para a
sociedade e não meros chavões. Por uma razão simples: as ideias políticas visam
exactamente dar formas particulares à sociedade. Da cabeça dele nunca saiu, nem
nunca sairá, nenhuma. Qualquer discurso seu o mostra. Suponho mesmo que o
horripilam.
E
veio o Natal e o Ano Novo. E, por causa das trapalhadas da
TAP que ele insistiu em nos fazer pagar e
do dinheiro dela recebido por uma secretária de Estado, mais uma vez os limites
de elasticidade, desta vez os do Governo, viram-se testados. Pedro Nuno
Santos – um
homem nefasto que iniciou a ascensão à celebridade ameaçando fazer tremer as
pernas aos banqueiros alemães e franceses e que desde então nunca desiludiu
– aproveitou o pretexto para sair do Governo e declarar a guerra a Costa
e ao subalterno Medina, contando com o apoio de uma legião de “pedronunistas”
(uma expressão particularmente cómica).
As hostes animaram-se e toda a gente se pergunta o que é que “o Pedro
Nuno” vai fazer no futuro imediato e quando e como é que começa a guerra a
sério.
Entretanto,
Costa começou a reaparecer. Primeiro, na tal mensagem de Ano Novo
no Jornal de Notícias, transbordando optimismo. Claro que, como de
costume, o mundo está péssimo e é, mesmo para ele, impossível evitar
que os seus imundos miasmas nos atinjam de alguma maneira. Mas, somando
tudo, Portugal está óptimo, mesmo que algumas das manifestações desse óptimo
só se revelem verdadeiramente lá para 2030 ou 2040. Cálculos seus. Dantes,
havia o “socialismo num só país” de Estaline. Agora temos direito ao optimismo
num só país de António Costa. O grau de negação da realidade mede-se amiúde
pela quantidade de delírio produzida.
A
sua segunda aparição foi numa conferência de imprensa destinada a dar conta aos
portugueses da sua escolha de dois novos ministros, um dos quais o inacreditável
João Galamba –
aparentemente, as infra-estruturas são mal-educadas. E aqui vemos, de novo, o
recurso ao informe, já que ambos são notórios “pedronunistas”. Quer dizer: Costa procura de novo, em
conformidade com a sua natureza política, restaurar o magma informe no qual
melhor se pode mover: confundir tudo, atenuar o melhor que pode as linhas de
separação, vender a ilusão de que a informidade é o melhor dos mundos.
Tudo isto tem um único problema, um problema que faz com que
discutir esta história não seja mera futilidade. É que a realidade em geral
procura formas, exige formas. E as sociedades não são excepção a essa regra.
Portugal vive, desde há sete anos, sob a imposição de uma informidade que Costa
criou para conquistar e manter o poder. Chegará uma altura em que a situação se
tornará verdadeiramente insuportável. Como uma revolução no carácter político
de António Costa é quase impossível de imaginar, alguém terá de o substituir
para dar alguma forma a tudo isto. Seria bom que o PSD abandonasse uma vocação
excessivamente contemplativa e analítica e entrasse na conversa a sério. Porque
vai ser, já é, preciso.
COMENTÁRIOS (de 13):
António Lamas: Brilhante
a análise. Terrífica a situação actual da política portuguesa. Governados por uma espécie de
"Costa Nostra" os portugueses mais dia menos dia têm que sair da
letargia e de ums vez por todas defenestrar esta cambada de incompetentes.
João Floriano: Excelente
texto com o qual eu concordo integralmente. Se Paulo Tunhas filósofo, culto,
bem informado, habituado a raciocinar, mestre no pensamento mas desconfio que
incapaz de mudar uma lâmpada. confessa o seu tédio quando lhe começam a
poluir os ouvidos com a política nacional, imagine-se o interesse que poderá
ter pelo assunto o português habitual, amigo de uma boa conversa de café,
arrotando entre umas cervejas e uns tremoços e que só lê jornais da bola.
Portanto eu nem sequer consideraria o problema da culpa, até porque ela só
atrapalha como se pode ver pelo percurso de António Costa que nunca na vida
assumiu a culpa de nada. Paulo Tunhas poderia nesta sua crónica ter jogado com
dois termos que apesar de muito parecidos são diferentes: informe e disforme. Alguns
exemplos no contexto: a geringonça foi informe, a visão política de Costa para
o país é informe, o assumir das responsabilidades é informe, as qualidades
políticas de PNS e Galamba são informes. O que é disforme? A falta de
capacidade e vergonha para arcar com as consequências do que está a correr
muito mal; a ganância, cupidez mas também estupidez de corpos não celestiais
gravitando à voltado PS, formando um verdadeiro anel de asteróides
pedregulhos, é de uma disformidade colossal. Outros
exemplos de disformidade: a diferença entre o país real e o país da propaganda
do PM. e obviamente os rasgados elogios ao homem do momento de que todos
temos necessidade: PNS. Esperamos que rapidamente o PSD e Montenegro se deixem
de oposição informe e metam mãos à obra no sentido de criar uma alternativa que
vá contra a disformidade da informidade em que António Costa nos lançou. PS , ( mas não o de António Costa): A nova Secretária de
estado da Agricultura tem contas arrestadas: como diria o outro que foi a Roma:
é preciso apurar!
Nenhum comentário:
Postar um comentário