É o que sempre me pareceu a atitude de
elegância mental do pensamento da tal Iniciativa, na ambiguidade dos seus
ditames e comportamentos. Nada consistente, apenas uma falsa elegância de um discurso
a querer parecer superior, mas apenas irrisório, na sua incoerência modernista,
desdobrada entre o parecer e o ser…
A doença infantil da IL
O contrário de desfilar em marchas
ridículas não é ser conservador, fascista, racista, homofóbico, etc. É só
alargar aos “costumes” a racionalidade que a IL trouxe à discussão da economia.
ALBERTO GONÇALVES, colunista do
OBSERVADOR
OBSERVADOR, 28 jan. 2023, 00:2171
No congresso da Iniciativa Liberal (IL),
um orador, de voz trémula, confessa ter “medo de adormecer agarrado ao sonho
liberal e acordar agarrado a um partido conservador”. Imagino os pesadelos.
É que o homem quer “continuar a acordar num partido que desça a avenida no
dia 25 de Abril”. De repente, a voz dele salta do trémulo para a frequência
das gémeas Mortágua, e o mero conservadorismo ganha foros de Terceiro Reich:
“Não à extrema-direita, fascista, racista, xenófoba e homofóbica!”. A
julgar pelo barulho, a sala aprovou.
Vários
membros da IL, e um artigo do João Caetano Dias no Observador, garantem-me que semelhantes
entusiasmos ou são residuais no partido ou se devem à inexperiência de muitos
dos congressistas. Também há quem, também na IL, me garanta que o
partido está repleto de fervorosos idênticos ao citado. Não sei. Sei que a IL
já desceu a avenida no 25 de Abril, e se teve de o fazer sozinha não foi porque
se visse impedida pela “extrema-direita, fascista, racista, xenófoba e
homofóbica”: a proibição veio da esquerda em peso, democrática e ecuménica.
Ao invés do que a direcção da IL pensou, e com certeza ainda pensa,
a mera intenção de desfilar ao lado de forças comunistas e do actual PS não
reivindica “Abril”. Apenas legitima os propósitos dos que tentaram, e quase
conseguiram, aproveitar “Abril” para instaurar uma ditadura. E esta tendência da IL para a ilusão, ou
para a inocência, não me parece residual nem se esgota nas comemorações do
golpe de Estado de 1974.
Já
vi, por exemplo, delegações da IL em marchas do “orgulho” gay e provavelmente
perdi, por distracção, participações da IL em marchas de orgulhos similares. É possível que a IL, ou uma parcela da IL, se
limite a apreciar convívios ao ar livre. Porém, é mais provável que
aconteça o que é natural acontecer com gente que aplaude o que outro orador
afirmou no congresso: “Se uma ideia liberal, em algum momento e por obra do
acaso, é partilhada pelo Bloco de Esquerda, não somos nós que estamos mal: são
eles que estão bem”.
Eis a doença infantil da IL,
ou de uma parte da IL: imaginar que, em matéria de “costumes”, a liberdade
passa perto do BE. Não
passa. Nunca passou. Se uma ideia é partilhada pela IL e pelo BE, ambos estão
errados e a ideia não é liberal. Tirando o haxixe, que é tema para
adolescentes, em que ocasião o BE defendeu alguma coisa cuja finalidade não
fosse a opressão?
Parafraseando um comentador desportivo, diga uma! Diga uma! Diga uma! Não digo
porque não me ocorre. Ocorre-me que, em debate das últimas “legislativas”,
Catarina Martins usou contra João Cotrim Figueiredo o facto de a IL se ter
oposto a diversas restrições aplicadas a pretexto da Covid. Ou seja: o BE
acusou a IL de não ajudar à repressão das massas, que é o sonho a que os
leninistas se agarram ao adormecer. Curiosamente, por esquecimento ou por
recear maçadas, Cotrim Figueiredo, um bom parlamentar, negou que tivesse
rejeitado as proibições. Proibir é o que move o BE, e é triste que às vezes a
IL ache necessário esconder a discordância. E que às vezes ache importante
negá-la.
É preciso explicar? Berrar pelas minorias sexuais, raciais ou o que
calhar não significa real interesse em reconhecer-lhes a dignidade que, em
princípio, qualquer pessoa merece. Os delírios “identitários” consistem
justamente em subjugar as pessoas a caldos colectivos – as “comunidades” – que
as tornam utilizáveis para brincar aos conflitos sociais. Aqui não há indivíduos, por definição
dotados de autonomia e especificidade, e sim arquétipos construídos sob
instruções como bonecos da Lego. Nada devia ser tão enxovalhante para um
homossexual ou um negro quanto passearem “orgulho” por uma característica que
não escolheram, não os define e, numa sociedade decente, não os distingue.
Discriminar, positiva ou negativamente, cidadãos pelos parceiros que preferem
ou pela melanina de que dispõem é um insulto aos que combateram a sério pelos
direitos civis. E é sobretudo um abuso de seres humanos.
A IL, ou um pedaço excitável da IL,
não identifica o abuso e, talvez sem querer, confunde-o com “liberalismo”.
Repito: é o contrário. E o contrário de desfilar em marchas ridículas não é ser
conservador, e muito menos de extrema-direita, fascista, racista, homofóbico,
etc. É só ter a decência de respeitar os adultos da espécie enquanto tal. É só
alargar aos “costumes” a racionalidade que a IL trouxe à discussão da economia. É só traçar as famosas “linhas vermelhas”
aquém da cultura de segregação, padronização e coacção que a loucura “woke”
representa. É só
perceber que no BE e em todos os projectos totalitários não existem bocadinhos
“bons” ou sequer aproveitáveis: é
da natureza daquilo ser intolerante da cabeça aos pés. Convinha que a IL pensasse com a primeira e não com
os segundos. Pedir o voto a jovens baralhados de idades sortidas
não implica entregar-lhes o partido. Ou assim espero.
INICIATIVA LIBERAL. POLÍTICA BLOCO DE ESQUERDA
COMENTÁRIOS (de 71)
Liberales Semper Erexitque: Não tenho simpatia pelos comunistas caviar que são os
burguesinhos de esquerda, mas não posso aceitar frases como esta: Se uma ideia é partilhada pela
IL e pelo BE, ambos estão errados e a ideia não é liberal. Deplorável artigo é este,
aparentemente de alguém que se vê a si mesmo como o mentor de um jovem partido.
Quanto aos militantes da IL que insistem em demarcar-se da Chaga racista,
deixo-lhes o meu aplauso. No dia em que a direcção da IL conviver tranquilamente
com o deputado André, a IL perderá certamente o meu voto. João Pimentel
Ferreira: Se uma ideia é
partilhada pela IL e pelo BE, ambos estão errados e a ideia não é liberal. Ambos defendem o casamento
entre pessoas do mesmo sexo. Não é uma ideia liberal? Maria Paula Silva: Muito bom! É triste chegar à conclusão que
o partido que parecia ser uma lufada de ar fresco cheio de ideias boas (IL),
afinal não passa de um...flop.... p.s.
. mais infantil do que isso, só o Dr. Costa. Filipe
Freitas: Genial, obrigado
Alberto Gonçalves! Com estas tendências woke e um novo presidente que afirmou
nunca se coligar com outro partido não-socialista acusando-os de populismos e
extremismos, a IL está pura e simplesmente a dar tiros nos pés. Tanto potencial
para trazer algo de valor ao país e estão a dançar ao batuque do PS
contribuindo para que a situação se mantenha. TIM DO Ó: Boa análise à IL. Só uma nota. O partido Chega não é com certeza
perfeito, mas é o único que combate a terrível cultura Woke. Joao
Conceicao: A IL se for por
esse caminho da fantasia de atacar extremas-direitas invisíveis em Portugal, em
vez de se focar no problema real da extrema-esquerda e de PS dono disto tudo então
perdem o meu voto nas próximas legislativas. Tristão: A IL devia centrar-se sobretudo
na liberalização da economia, aliás o que fez e bem Cotrim. Esta deve ser a
cola que une os seus militantes ao partido, as questões dos costumes e afins
devem ser evitadas pois são temas divisórios e muito da esfera individual. É
apenas um conselho se não se querem transformar numa espécie de BE edição
liberal. Manuel Elias: Soberbo. Desmontou a IL. Será
que é um caso perdido? Que pena. João Ramos: Quanto a costumes a IL pouco se
diferencia do BE e é pena, é mais um caso de complexo de esquerda e a prova de
muito pouca maturidade política, um partido liberal que se respeite deve pensar
com a cabeça e não com o excitamento dos integralistas que de liberal não têm
nada! F.
Mendes: Lamento que o
Alberto Gonçalves desperdice o seu grande talento, dedicando mais este artigo a
nulidades como o (a ?) IL. Não sendo um movimento particularmente nocivo, nada
traz de novo à política portuguesa, exceptuando alguns disparates avulsos, mais
comuns na extrema-esquerda. O (A?) IL começa logo por ter um problema de
identidade de género. Suprema ironia! Por favor, AG, com este desgoverno,
"PR", podridão crescente e tantos temas para tratar, faça-nos rir e
pensar sobre coisas que interessam. Vitor
Batista > TIM DO Ó: Neste momento, o Chega é mais do
que perfeito para o arrazoado politico e partidário que existe, é o único que
combate o delírio "fracturante". Miguel Sanches: Brilhante, Alberto Gonçalves. Tudo
clarinho. Seknevasse: De facto, está muito bem visto.
Concordo. TIM DO
Ó > Joao
Conceicao: A IL está a ser um aliado do PS ao combater a direita. Recordo-me que até
queriam sentar os seus deputados ao lado dos do PS na assembleia da república. Fernando
Marques: São entusiasmos
residuais que se devem à inexperiência ou infiltração, que vão dar de cara com
a realidade do que é um partido liberal, ou então acaba o partido liberal… Quero eu acreditar como liberal
que sou José
B. Dias >servus inutilis: Podia elaborar para que alguém
mais consiga entender o tal de "absurdo"? Vitor Batista > Pedro Belo: Então fique-se com o saco de
gatos dos xuxas, pode ser que ganhe uns sapatos "loubotin"quem
sabe!... Joaquim
Almeida: Excelente. A.G. a
derramar a luz necessária e indispensável sobre as cabecinhas chochas da IL.
Pérolas a porcos ?
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