domingo, 29 de janeiro de 2023

Tudo impostura


É o que sempre me pareceu a atitude de elegância mental do pensamento da tal Iniciativa, na ambiguidade dos seus ditames e comportamentos. Nada consistente, apenas uma falsa elegância de um discurso a querer parecer superior, mas apenas irrisório, na sua incoerência modernista, desdobrada entre o parecer e o ser…

A doença infantil da IL

O contrário de desfilar em marchas ridículas não é ser conservador, fascista, racista, homofóbico, etc. É só alargar aos “costumes” a racionalidade que a IL trouxe à discussão da economia.

ALBERTO GONÇALVES, colunista do OBSERVADOR

OBSERVADOR, 28 jan. 2023, 00:2171

No congresso da Iniciativa Liberal (IL), um orador, de voz trémula, confessa ter “medo de adormecer agarrado ao sonho liberal e acordar agarrado a um partido conservador”. Imagino os pesadelos. É que o homem quer “continuar a acordar num partido que desça a avenida no dia 25 de Abril”. De repente, a voz dele salta do trémulo para a frequência das gémeas Mortágua, e o mero conservadorismo ganha foros de Terceiro Reich: “Não à extrema-direita, fascista, racista, xenófoba e homofóbica!”. A julgar pelo barulho, a sala aprovou.

Vários membros da IL, e um artigo do João Caetano Dias no Observador, garantem-me que semelhantes entusiasmos ou são residuais no partido ou se devem à inexperiência de muitos dos congressistas. Também há quem, também na IL, me garanta que o partido está repleto de fervorosos idênticos ao citado. Não sei. Sei que a IL já desceu a avenida no 25 de Abril, e se teve de o fazer sozinha não foi porque se visse impedida pela “extrema-direita, fascista, racista, xenófoba e homofóbica”: a proibição veio da esquerda em peso, democrática e ecuménica.

Ao invés do que a direcção da IL pensou, e com certeza ainda pensa, a mera intenção de desfilar ao lado de forças comunistas e do actual PS não reivindica “Abril”. Apenas legitima os propósitos dos que tentaram, e quase conseguiram, aproveitar “Abril” para instaurar uma ditadura. E esta tendência da IL para a ilusão, ou para a inocência, não me parece residual nem se esgota nas comemorações do golpe de Estado de 1974.

Já vi, por exemplo, delegações da IL em marchas do “orgulho” gay e provavelmente perdi, por distracção, participações da IL em marchas de orgulhos similares. É possível que a IL, ou uma parcela da IL, se limite a apreciar convívios ao ar livre. Porém, é mais provável que aconteça o que é natural acontecer com gente que aplaude o que outro orador afirmou no congresso: “Se uma ideia liberal, em algum momento e por obra do acaso, é partilhada pelo Bloco de Esquerda, não somos nós que estamos mal: são eles que estão bem”.

Eis a doença infantil da IL, ou de uma parte da IL: imaginar que, em matéria de “costumes”, a liberdade passa perto do BE. Não passa. Nunca passou. Se uma ideia é partilhada pela IL e pelo BE, ambos estão errados e a ideia não é liberal. Tirando o haxixe, que é tema para adolescentes, em que ocasião o BE defendeu alguma coisa cuja finalidade não fosse a opressão? Parafraseando um comentador desportivo, diga uma! Diga uma! Diga uma! Não digo porque não me ocorre. Ocorre-me que, em debate das últimas “legislativas”, Catarina Martins usou contra João Cotrim Figueiredo o facto de a IL se ter oposto a diversas restrições aplicadas a pretexto da Covid. Ou seja: o BE acusou a IL de não ajudar à repressão das massas, que é o sonho a que os leninistas se agarram ao adormecer. Curiosamente, por esquecimento ou por recear maçadas, Cotrim Figueiredo, um bom parlamentar, negou que tivesse rejeitado as proibições. Proibir é o que move o BE, e é triste que às vezes a IL ache necessário esconder a discordância. E que às vezes ache importante negá-la.

É preciso explicar? Berrar pelas minorias sexuais, raciais ou o que calhar não significa real interesse em reconhecer-lhes a dignidade que, em princípio, qualquer pessoa merece. Os delírios “identitários” consistem justamente em subjugar as pessoas a caldos colectivos – as “comunidades” – que as tornam utilizáveis para brincar aos conflitos sociais. Aqui não há indivíduos, por definição dotados de autonomia e especificidade, e sim arquétipos construídos sob instruções como bonecos da Lego. Nada devia ser tão enxovalhante para um homossexual ou um negro quanto passearem “orgulho” por uma característica que não escolheram, não os define e, numa sociedade decente, não os distingue. Discriminar, positiva ou negativamente, cidadãos pelos parceiros que preferem ou pela melanina de que dispõem é um insulto aos que combateram a sério pelos direitos civis. E é sobretudo um abuso de seres humanos.

A IL, ou um pedaço excitável da IL, não identifica o abuso e, talvez sem querer, confunde-o com “liberalismo”. Repito: é o contrário. E o contrário de desfilar em marchas ridículas não é ser conservador, e muito menos de extrema-direita, fascista, racista, homofóbico, etc. É só ter a decência de respeitar os adultos da espécie enquanto tal. É só alargar aos “costumes” a racionalidade que a IL trouxe à discussão da economia. É só traçar as famosas “linhas vermelhas” aquém da cultura de segregação, padronização e coacção que a loucura “woke” representa. É só perceber que no BE e em todos os projectos totalitários não existem bocadinhos “bons” ou sequer aproveitáveis: é da natureza daquilo ser intolerante da cabeça aos pés. Convinha que a IL pensasse com a primeira e não com os segundos. Pedir o voto a jovens baralhados de idades sortidas não implica entregar-lhes o partido. Ou assim espero.

INICIATIVA LIBERAL.   POLÍTICA    BLOCO DE ESQUERDA

COMENTÁRIOS (de 71)

Liberales Semper Erexitque: Não tenho simpatia pelos comunistas caviar que são os burguesinhos de esquerda, mas não posso aceitar frases como esta: Se uma ideia é partilhada pela IL e pelo BE, ambos estão errados e a ideia não é liberal. Deplorável artigo é este, aparentemente de alguém que se vê a si mesmo como o mentor de um jovem partido. Quanto aos militantes da IL que insistem em demarcar-se da Chaga racista, deixo-lhes o meu aplauso. No dia em que a direcção da IL conviver tranquilamente com o deputado André, a IL perderá certamente o meu voto.                João Pimentel Ferreira: Se uma ideia é partilhada pela IL e pelo BE, ambos estão errados e a ideia não é liberal. Ambos defendem o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Não é uma ideia liberal?                   Maria Paula Silva: Muito bom! É triste chegar à conclusão que o partido que parecia ser uma lufada de ar fresco cheio de ideias boas (IL), afinal não passa de um...flop.... p.s. . mais infantil do que isso, só o Dr. Costa.                      Filipe Freitas: Genial, obrigado Alberto Gonçalves! Com estas tendências woke e um novo presidente que afirmou nunca se coligar com outro partido não-socialista acusando-os de populismos e extremismos, a IL está pura e simplesmente a dar tiros nos pés. Tanto potencial para trazer algo de valor ao país e estão a dançar ao batuque do PS contribuindo para que a situação se mantenha.                     TIM DO Ó: Boa análise à IL. Só uma nota. O partido Chega não é com certeza perfeito, mas é o único que combate a terrível cultura Woke.                Joao Conceicao: A IL se for por esse caminho da fantasia de atacar extremas-direitas invisíveis em Portugal, em vez de se focar no problema real da extrema-esquerda e de PS dono disto tudo então perdem o meu voto nas próximas legislativas.                 Tristão: A IL devia centrar-se sobretudo na liberalização da economia, aliás o que fez e bem Cotrim. Esta deve ser a cola que une os seus militantes ao partido, as questões dos costumes e afins devem ser evitadas pois são temas divisórios e muito da esfera individual. É apenas um conselho se não se querem transformar numa espécie de BE edição liberal.           Manuel Elias: Soberbo. Desmontou a IL. Será que é um caso perdido? Que pena.                     João Ramos: Quanto a costumes a IL pouco se diferencia do BE e é pena, é mais um caso de complexo de esquerda e a prova de muito pouca maturidade política, um partido liberal que se respeite deve pensar com a cabeça e não com o excitamento dos integralistas que de liberal não têm nada!                           F. Mendes: Lamento que o Alberto Gonçalves desperdice o seu grande talento, dedicando mais este artigo a nulidades como o (a ?) IL. Não sendo um movimento particularmente nocivo, nada traz de novo à política portuguesa, exceptuando alguns disparates avulsos, mais comuns na extrema-esquerda. O (A?) IL começa logo por ter um problema de identidade de género. Suprema ironia! Por favor, AG, com este desgoverno, "PR", podridão crescente e tantos temas para tratar, faça-nos rir e pensar sobre coisas que interessam.                     Vitor Batista > TIM DO Ó: Neste momento, o Chega é mais do que perfeito para o arrazoado politico e partidário que existe, é o único que combate o delírio "fracturante".              Miguel Sanches: Brilhante, Alberto Gonçalves. Tudo clarinho.                     Seknevasse: De facto, está muito bem visto. Concordo.                    TIM DO Ó > Joao Conceicao: A IL está a ser um aliado do PS ao combater a direita. Recordo-me que até queriam sentar os seus deputados ao lado dos do PS na assembleia da república.                  Fernando Marques: São entusiasmos residuais que se devem à inexperiência ou infiltração, que vão dar de cara com a realidade do que é um partido liberal, ou então acaba o partido liberal… Quero eu acreditar como liberal que sou                     José B. Dias >servus inutilis: Podia elaborar para que alguém mais consiga entender o tal de "absurdo"?              Vitor Batista > Pedro Belo: Então fique-se com o saco de gatos dos xuxas, pode ser que ganhe uns sapatos "loubotin"quem sabe!...             Joaquim Almeida: Excelente. A.G. a derramar a luz necessária e indispensável sobre as cabecinhas chochas da IL. Pérolas a porcos ? 

 

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