sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Parece óbvio


O que afirma PT, a respeito da junção de forças, no seguimento do lema de que a união faz a força. Mas nem sempre o óbvio é tão claro assim. A democracia tem que se lhe diga, como pretexto, de costas largas, em que todos mergulham, o CHEGA menos rebuscado, ou mais verdadeiro e corajoso, mau grado arrebatamentos desnecessários… O defeito está em nós próprios, cativos dos nossos comodismos.

O PS a corromper a democracia

Seria bom que o PSD começasse desde já a federar as várias direitas. Deve mandar às urtigas, nesta matéria, a opinião do PS. A situação presente é intolerável. É como viver entre cadáveres.

PAULO TUNHAS

OBSERVADOR, 19 jan. 2023, 00:1964

A atmosfera é irrespirável. Os seus miasmas atingem-nos diariamente. Ria quem usar máscaras, chore quem não as tiver, fuja quem puder. O PS de Costa no Governo tomou conta do Estado. Está à vista de todos, não é preciso frequentar umas quantas aulas de um qualquer obscuro curso de Ciência Política para a coisa ser óbvia. Faz o que quer e deixa os seus fazerem o que querem, desde que tal não o prejudique.

Decide comprar e vender a TAP – uma entidade que é um absurdo simbólico, há muito, de uma fatídica saloiice – porque lhe deu na gana, torrando pelo caminho 3.200 milhões de euros dos nossos impostos. Explicações aos portugueses? Nenhumas. Os casos de nepotismo, inspirados na prática de reuniões familiares no Conselho de Ministros e arredores – pais e filhos, maridos e mulheres, irmãos e irmãs –, sucedem-se. Com abrangência, como se diz: namorados e namoradas também entram na fila.

A corrupção, tendo aquela gente por inspiração e mentora, alarga-se. Há afinidades electivas para todos os gostos. O semelhante atrai o semelhante. Cada investigação jornalística descobre infalivelmente indivíduos cujo único desígnio é tratar da vidinha no centro e na periferia do poder a expensas de uma sociedade inerme. Pobres diabos sem ideias ou convicções algumas falam dos dinheiros da Europa para entreter a ralé. António Costa dedica-se presentemente a uma tournée pelo país destinada a essa conversa. E, nessa tournée, aparece na televisão sorridente como um fantasma sem nada por dentro do tradicional lençol branco. Nada. É o nada, a tender para o gordo, em passeio.

A coisa, o PS, mais parece uma associação de malfeitores na qual ainda sobrevivem, quais dissidentes russos, algumas criaturas honestas e inteligentes que são do melhor que o país tem. Para disfarçar o que salta aos olhos de toda a gente, Costa inventou um absurdo inquérito de 36 perguntas que supostamente serviria para filtrar a alegre colecção de meliantes que se supõem cobiçar um lugar no Governo. Como tudo depende do seu superior juízo, não vai filtrar nada, já que ele, por sistema, ignora o que se passa com quem consigo colabora, desencadeando um “mecanismo” – ou um “circuito” – no qual toda essa gente desconhece, por sua vez, as actividades de quem escolhe para trabalhar no seu gabinete. Ninguém nunca sabe nada de nada. É o Governo dos três macaquinhos. Vive-se na mais sistemática opacidade, que nada tem de acidental e que é, para utilizar uma das palavras que o primeiro-ministro muito usa, desprezando o seu significado, estrutural.

Tudo isto entristece um ministro que parece habitar noutra galáxia e se lamenta por viver num país em que as pessoas suspeitam impudicamente da honestidade dos políticos. Espíritos analíticos que se solidarizam com o Governo vêem nessas suspeitas o sinal claro de um ascenso do populismo e descobrem, quais príncipes Harry do comentário político, reais e palacianas fontes da conjura. Não lhes ocorre que o tal populismo – que existe, de facto, para nossa desgraça (mas não convém exagerar a sua importância) – é a reacção directa àquilo que se poderia chamar “poderismo”.

O poderismo é a redução da política a todos os artifícios necessários à perpetuação no poder, agregando gente que tem por fim exclusivo o gozo de certos e determinados privilégios. Tal redução corresponde à destruição da amizade política que deve guiar as relações dos governantes com os governados e que é a condição indispensável para um mínimo de concórdia nas relações políticas. Em vez dessa boa amizade, temos a pior das amizades, a amizade de uma facção regida pela utilidade pessoal.

Como é comum nesse tipo de amizades, a relação é de desigualdade. Uns são amigos dos outros sob a forma da relação do inferior com o superior. Não há igualdade na amizade de facção: há um interesse comum à facção como um todo, mas dentro da facção reina a desigualdade, pela qual toda a gente é servil para com o chefe mais próximo e todos, colectivamente, são subservientes para com o chefe máximo. Subservientes em benefício próprio, é claro. E o benefício próprio suscita um número indefinido de amizades ditadas pela utilidade. Ninguém tem tantos amigos como o homem de facção. Ninguém tem tantos amigos interesseiros como o homem de facção. Ninguém tem tantos amigos prontos a traí-lo como o homem de facção. Ninguém gosta tanto de viver assim como o homem de facção.

A democracia tem a obrigação de investigar esta teia malsã de amizades, sob pena de dar lugar a um outro regime, o que convém evitar. Aristóteles, o grande teorizador da amizade política – a amizade, a philia, não é apenas uma relação entre os indivíduos: é aquilo que permite a existência de uma comunidade política – distinguiu três regimes purosmonarquia, aristocracia e timocraciae três regimes que correspondem a desvios destes: tirania, oligarquia e democracia. É significativo que, considerando a monarquia o melhor regime puro (isto é, ideal) e a timocracia o pior, julgue ao mesmo tempo que a democracia, a variante degradada do pior dos regimes puros, é o menos mau dos regimes derivados. Se considerarmos que todos os regimes puros não são senão regimes ideais, condenados desde o princípio a uma degradação inevitável, não é um pequeno elogio da democracia, que dá alguma substância ao quase paradoxo de Churchill que toda a gente gosta de repetir. É esse regime que o PS, sob a batuta de António Costa, anda a fazer todos os esforços por destruir.

Dada a obsolescência pré-programada deste Governo, seria bom que, por necessidade da sobrevivência da democracia, o PSD de Luís Montenegro começasse desde já a federar as várias direitas, mesmo as mais rebarbativas, com vista à governação de Portugal. O PSD deve mandar às urtigas, nesta matéria, a opinião do PS. A situação presente é intolerável. É como viver entre cadáveres. Haverá certamente muitos conflitos que resultarão dessa nova governação, mas o conflito, à sua maneira, integra também a concórdia. Em todo o caso, a actividade que essa governação deverá trazer será de longe preferível à terrível inactividade que a facção do PS de Costa trouxe ao país em benefício do seu poderismo.

PS. É sempre um prazer ver na CNN o major-general Agostinho Costa, aquele senhor muito obsequioso que trata os jornalistas por “sêdutora” e “sêdutor” e, com um aparente nervosismo que é todo um programa de comunicação, acaba sempre por constatar que todo o mal que acontece aos ucranianos é, azar dos azares, invariavelmente culpa dos próprios – o que ele, de resto, muito lamenta. É espantosa a variedade de meios através dos quais a parcialidade e a mentira encontra caminhos para se exprimir.

GOVERNO      POLÍTICA    PS  

COMENTÁRIOS (de 64):

Fernando Cascais: voto em branco E o Marcelo pariu o Otelo.                Duarte Correia O grande mal de Passos Coelho foi ter impedido, num gesto sacrificial, que o rectângulo caísse no abismo. Agora convém deixá-lo cair, de facto, de podre, para depois não virem com desculpas. Grandes males, grandes remédios.                João Eduardo Gata:  PS: o Destruidor da Economia e da Democracia, dois Crimes Lesa-Pátria. Para começar, todos os activos do PS, a começar pela sua sede no largo do Rato, deverão ser confiscados para ajudar a pagar apenas um pequena parcela da Destruição Económica de que o PS é responsável único nos últimos 25 anos.                  Nuno Carvalho: Deixem-se disso!!! Temos que respeitar a democracia!! O povo escolheu a desgraça? Agora tem de aguentar para ver onde os xuxas os levam. Não podemos deixar estes corruptos incompetentes fugir da desgraça que causaram e cujos resultados ainda virão (as pessoas pensam que o mau é isto mas ainda mal começou) e passar a culpa para os outros - os tugas sonhadores que votam nesta escumalha têm de perceber bem onde eles os levam, para ver se não esquecem mais e não repetem o erro novamente - quando os funcionários públicos ficarem sem ordenados por falta de dinheiro e os subsídio-dependentes deixarem de receber o cheque da SS pode ser que não esqueçam mais onde os leva o PS, e nessa altura poderemos pensar em reconstruir o País sem risco de, passados 5 anos, tudo ir pelo esgoto abaixo.                       Cisca Impllit Em cheio! Como se dizia outrora de quem se gostava e se tinha por competente - Este Paulo Tunhas enche-me as medidas!                    Vitor Batista Caro professor Paulo Tunhas, temos de respeitar esta "maioria absoluta" porque se os portugueses votaram está votado, e tanto quanto sei, só votam maiores de idade, portanto e para prevenir o futuro, e para proteger o próximo "Passos" vamos deixar e exigir que esta "maioria" governe ou desgoverne, e esperar que se afunilem a eles próprios, que é para não serem espertos, e dizer que a culpa é do Passos, porque toda a gente sabe e muitos não admitem, que desde 2015 a esquerda e extrema esquerda nauseabunda, cometeram os maiores atropelos contra a democracia, atropelos muito graves, que a dita "maioria absoluta" é ignorante demais para se dar conta disso, ou então sonham com o verdadeiro xuxalismo da Venezuela, de Cuba e da Nicarágua, senhor, deixai-os pousar!                  voto em branco:  concordo com quase tudo menos com a federação das direitas. Porquê? porque mesmo tendo nós já tantas direitas, o nível de oposição é ínfimo. Imagine lá o que aconteceria com apenas uma voz da direita. Ora vejamos: - O Luís Montenegro ja não consegue falar sobre o país porque anda preocupado em sair da lama, já que o seu nr 2 (Pinto Monteiro) está já enterrado no caso de corrupção na CM Espinho e o Montenegro, sendo ele também de Espinho, arrisca-se a ser também arrastado para o mesmo lodo. - O CHEGA sim vai fazendo oposição, do modo que sabe fazer, dizendo 5 coisas acertadíssimas e outras 5 coisas tolas. Demos-lhe p exemplo o crédito de ter sido o CHEGA a conseguir forçar o inquérito parlamentar da TAP - O IL morreu. Aqui no Observador vi entrevistas aos 3 candidatos, artigos de opinião de vários peões do IL, e nunca vi propostas válidas de políticas de liberalismo económico. Às políticas socias BEzianas do IL, como o votar contra o referendo à eutanásia (é isso que é liberal???) juntam-se agora as propostas BEzianas económicas, como amnistia a quem tem multas de portagens. Antes disso andavam preocupados com o lugar em que se deveriam sentar no parlamento (!aii, não me sento junto ao chega porque eles têm sida!!!!). o IL morreu e está agora um partido convencional - O CDS já está enterrado. A nossa democracia morreu quando o Rui Rio tomou conta do PSD ao lado do Costa, e quando isso foi acompanhado pela entrega do CDS a um grupo de putos do secundário. Para levantar a nossa democracia precisamos primeiro de abrir os olhos ao povo adormecido, e isso nao se faz com arranjinhos de união de partidos, mas sim com oposicao genuina de todos os partidos da AR                Américo Silva: No primeiro mistério meditemos na fuga de Durão Barroso; no segundo na dissolução da assembleia por Jorge Sampaio; no terceiro, na alegre bancarrota socrática; no quarto, no caminho de Passos Coelho para o calvário com o Paulo Portas às costas; finalmente no quinto mistério, meditemos no povo português pregado na cruz da TAP pela geringonça, com ar de quem gosta como S. Sebastião.              José Manuel Pereira: Tenho lido muitos excelentes artigos de opinião do Professor Paulo Tunhas, com os quais tenho tido o prazer de aprender sempre qualquer coisa. Agora, este é para mim, sem dúvida, um dos melhores. Guardei para melhor reflexão futura, até porque tem implicações que não ficam na superficialidade das coisas.                   bento guerra: Habituem-se, diz o Costa. Ele e os amigos da Comunicação ,têm andado vender a "peçonha" do Chega e as excessivas ideias da IL. Esqueçam, a direita tem de ser "todos contra o PS, que arruína Portugal"               Madalena Sa: Excelente artigo! Há que unir forças à direita e acabar com isto duma vez!                      Carlos Quartel: Uma imprensa atenta e agressiva pode virar isto do avesso. Nada disto é novo, há décadas que  este é o modo habitual do PS funcionar. Duas primeiras páginas, com letras garrafais e uns telejornais mais agressivos fizeram com que os "de referência" tivessem que ir na onda e armou-se este arraial, em que, todos os dias há fruta suculenta de escandaleiras de dimensão e sabor para todos os gostos. Até parece que esse clima dinâmico chegou também à justiça, que parecia ter em carteira um stock de casos, aguardando o clima propício. Estamos em plena época de caça e , cada tiro, cada melro ..... Quanto ao general, curioso como pode manter-se na reserva. Manda a mais elementar prudência  passá-lo à reforma. Na reserva, pode ser mandado comandar uma unidade da Nato, numa possível guerra com a Rússia.Com estas opiniões, seria o diabo .....               Anabela Gonçalves: Muito assertivo na análise. Obrigada.                     Joao Moreno: Excelente. Grande texto.                        J. Gabriel: Quem se lembra da dívida do PS? Foi paga? Com que dinheiro, isto a propósito do cnn com empresários de Castelo Branco e CML.                         Francisco Andrade: Ou então!! Ainda está para nascer quem diga melhor. Os pontos nos ii.                        Sérgio: Absolutamente soberbo! Penso assim há 7 anos!!                      Tristão: O desnorte é tanto que o meu receio já começa a ser este: tal como Lula pariu Bolsonaro, Costa parece querer parir Ventura.           Cupid Stunt: Nem mais. Tudo isto fede, há muito! Mas neste desgraçado pais, que mais parece um esgoto a céu aberto, é como se nada de anormal se passasse... Uma tragédia...

 

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