quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Mais interesseira do que preocupada


 A colaboração de um presidente inseguro, exibicionista até dizer chega, que até no Brasil nos envergonha, nos seus requebros caricatos, à prova de jacarés. Tudo para ele é farsa. Para nós também. Excelente análise de MJA e dos seus comentadores.

Estabilidade?

António Costa lembra aquele ministro da Informação do Iraque – como é que ele se chamava? – que com água pelo pescoço acenava ao  mundo com a certeza de amanhãs radiosos. Estamos lembrados do resto.

MARIA JOÃO AVILLEZ

OBSERVADOR, 11 jan. 2023, 00:2035

1“Estabilidade” dizem eles. Dizem todos, faz impressão, sem se darem conta de que nada o PS está a produzir com ela ou nela, amparado. É impossível que o argumento nos comova. Santana Lopes, repetirei sempre, era um chapeuzinho de chocolate comparado com o polifónico desastre socialista (ou mesmo com o “pântano” de Guterres). António Costa faz-me lembrar aquele ministro da Informação do Iraque – como é que ele se chamava? – que, com água pelo pescoço, acenava ao mundo com a certeza de amanhãs radiosos na terra dele. Estamos lembrados do resto.

Mas sim “isto” vai continuar porque não há como não continuar: a maioria não é “apeável”, nem tão cedo o Chefe de Estado se meterá noutra aventura eleitoral, a outra não lhe saiu bem. O país continuará regido (?) pela grande família socialista, segura numa rede estatal de interesses que respira à custa do dinheiro público. Uma apagada e vil esterilidade que soma desastres em vez de resultados

Com o país manietado por um crescimento anão, urgências sobrelotadas, escolas sem professores, dinheiro a crédito, greves que lesam quem trabalha embora feitas em nome dos “trabalhadores” – o Presidente, após sete anos de prazeirosa* companhia com o poder socialista, ensaia outro tom. Percebeu que começou outra peça, ignorando-se ainda quanto tempo durarão os ensaios e que papel concreto se reservará a seguir. (Deixo uma dúvida: desde quando é que um Chefe de Estado faz avisos governamentais com prazo? Um ano para o governo mostrar o que vale? A quem? E quem avalia? Segundo que critério? Presidencial? Acabarem os “casos” mas continuar a estagnação? As sondagens? A rua?)

2E no entanto… se a maioria absoluta do PS começou por espantar o seu próprio líder – hoje sabemos que inclusivamente pode dar politicamente cabo dele – ela poderia ter sido evitada. Ou relativizada. Não me refiro neste caso à maioria de votos socialistas – e às tumultuosas revelações que produziu – evoco hoje o centro e a direita. Para relembrar isto: bastava (julgo que o verbo é esse: “bastava”) que Rui Rio, então líder do PSD, tivesse ido por diante com a ideia que chegou a fazer algum caminho de uma coligação pré-eleitoral entre o PSD e CDS e tudo poderia ter sido diferente: não só o CDS não se teria sumido do mapa parlamentar, como o próprio PSD teria beneficiado com essa espécie de mistura de confiança, estímulo, e maior galvanização que tal coligação poderia desencadear em três frentes: no seio de cada um dos partidos; no interior de si mesma, no comportamento do eleitorado.

Não se pode, não se deve esquecer isto. As razões oficiais remeteram para a existência de “desacordos”. (Qual a morada partidária onde não os há?)

Era – foi – porém uma pura questão de liderança: qualquer líder digno desse nome colocado face à perspetiva de uma iniciativa política com futuro, daria a volta às coisas. Negociaria, convenceria, lideraria para obter a concordância dos seus pares. O erro contribuiu para o Portugal mais fracassado que aí está… Dir-me-ão e talvez com razão que é inútil fazer futurologia sobre o que não aconteceu mas este exercício de memória talvez não seja hoje totalmente despropositado: com o PSD e o CDS coligados nas últimas legislativas e logo um outro resultado eleitoral, uma boa porção de coisas teria sido diferente, e outra, evitada.

3De modo que agora sim, oficializado e com prazo de validade (um ano, não é?) há um combate entre o PR e o PM. E depois um desfecho. Seria incapaz de o escrever por antecipação: as personagens que estão no ringue não comparáveis em nada, as formas mentis são muito distintas, as personalidades muito diferentes – mais que do que parecem. E o modo como cada um usa a força e os instrumentos políticos que tem, também. Não olham enfim – e não a praticam – a política do mesmo modo. Seja como for, vai ser obrigatório seguir cada estação do caminho que os espera. O que se sabe é que as estações não serão amenas.

O centro e a direita exultaram ao ver o Chefe de Estado metamorfoseado num reitor severo após terem convivido sete anos com um presidente cúmplice. Exultaram por ter a esperança – ou mesmo já a certeza – de que o oxigénio de que precisam para chegar ao poder, virá de Belém. Talvez. Parece-me que mais do que isso, aquilo que produzira e encenará as estações do Presidente é a sua preocupação com o seu próprio legado. Sabe que há que fazer qualquer coisa antes que nada haja a fazer.

A mais magna questão de Marcelo Rebelo Sousa, com o tempo em contagem decrescente.

4Pequena nota com alguma importância: numa fuga para a frente face à sua própria deliquescência, diversos arautos do PS&governo têm-se entretido em comparações com outras maiorias do passado. De tão manhosas chegam a ser embaraçantes mas a esquerda nunca hesita e com ou sem ajuda da media – mas normalmente com – faz de um ardil, um facto. A seguir a própria media encarrega-se do pôr o falso facto na montra: o ardil transforma-se em narrativa comprovável. Ao ouvir os arautos, tem-se por seguro que o ex-primeiro ministro Cavaco Silva teria conhecido a mesma deliquescência no final do seu ultimo governo. A mesma “fartura” (o adjectivo é meu) os mesmos casos, a mesma arrogância. A mentira ampara a falsa comparação e confunde memórias cansadas. Sucede que o legado de Cavaco não é disfarçável. Existe. Cavaco deixou outro Portugal atrás dele. Costa deixará as contas – talvez – certas, num país estagnado e civilizacionalmente decadente.

O então primeiro ministro Cavaco Silva privatizou diversos sectores da vida do país, fortaleceu a economia, incentivou o sector privado, pôs Portugal a crescer, dotou-o de infraestruturas, liberalizou a comunicação social, fez nascer os dois melhores ex-libris culturais do país – Serralves e CCB – e estou a resumir. É certo que governou com boas marés mas uma coisa é achá-lo arrogante, distante ou seja o que for – é secundário – outra, é comparar o que não é factualmente comparável.

Segundo os mesmos arautos e boys Costa teve mandatos muito difíceis com uma pandemia às costas (os governos do mundo inteiro também), e “tem” uma guerra (a Europa também). Ninguém nega as aflições por que terá passado, a começar por mim mas lembrei-me de Passos Coelho. E da coligação que liderou, a braços com a ameaça concretíssima de uma banca rota produzida pelo PS. E pergunto: e então os algozes da troika com quem o mesmo PS já tudo negociara antes da governação PSD/CDS entrar em acção? E o incansavelmente activo Tribunal Constitucional vetando tudo, e a rua sempre “de serviço”, e a media sempre prestimosa? E governar com aquele cerco de aço? Um cerco de quatro anos que culminaria com um vitória eleitoral (alias o principal ponto de interesse desta saga por contar). António Costa viveu “em comum” as mesmíssimas aflições e incertezas dos governantes europeus, Passos Coelho viveu outro tipo de terríveis preocupações, vencendo-as sozinho e cercado.

*Gente séria que estimo concorda ou mesmo aplaude a coabitação como ela tem ocorrido entre o PR e o PM. Argumentam que devemos encarar como politicamente normal que o Presidente colabore com o governo em vez de o hostilizar ou guerrear. Percebo o princípio, discordo com base no modus faciendi presidencial a que assisto há sete anos: uma proximidade invulgar – ora aparatosa, ora ruidosa; histriónica demais, vocal de mais, amical demais. A mesma que o Presidente mantém com o povo, mas o povo não é o governo. A coabitação parece excessiva na sua cumplicidade política, o que uma “normal” relação institucional nunca reclamou, nem as naturezas do Chefe de Estado e do Chefe do governo recomendariam. E o país, ganhou com esta proximidade mais protectora que exigente, mais colaborante do que vigilante?

CRISE POLÍTICA   POLÍTICA   GOVERNO   ANTÓNIO COSTA   PS   PRESIDENTE MARCELO

COMENTÁRIOS (de 35):

Rui Teixeira: A maioria absoluta mostrou a careca do Costa: por trás daquele viscoso sorriso de cínico, escondia-se um tipo do pior; por trás daquela vida feita no sarro lisboeta dos corredores, gabinetes e intrigas, escondia-se um gaginho capaz de bater em velhinhos.              Filipe Paes de Vasconcellos: E, isto tudo por horror a Passos Coelho! 1. A geringonça formou-se por não admitirem que o Costa e o PS tinham perdido às eleições e não aceitando que quem ganha governa. 2. A geringonça teve algumas responsabilidades:  a) Radicalizou o PS colando-o à extrema esquerda    b) Durante 4 anos o PS/PCP/BE inviabilizaram qualquer governação alinhada     com a economia de mercado. c) Desbarataram todos os enormes progressos de Portugal com as reversões e com a destruição de valor de tudo o que apanhavam pela frente.   3. Para além do referido, o habilidoso Costa radicalizando o país à extrema-esquerda foi um dos principais responsáveis para a radicalização à direita com o surgimento do CHEGA. Juntando a tudo isto tivemos a bater palmas dois idiotas inúteis (Marcelo e Rio) porque tinham, insisto, a mesquinhez de não apoiar quem tinha salvo o país de uma enorme desgraça. E, fico-me por aqui!              António de Mendonça: É o nosso Tariq Aziz!! Somos a geração mais bem preparada de sempre, o maior crescimento económico dos últimos 200 anos, governantes impolutos e acima de qualquer suspeita, PRR a jorrar dinheiro por todo o lado, romance com o Presidente dos Afectos, cujo papel nos últimos anos tem sido pouco mais do que tirar selfies e tomar umas banhocas etc etc..  no final do dia um país em declínio moral, económico e demográfico, uma entourage político-partidária sem categoria absolutamente nenhuma, dificuldade em recrutar governantes fora do inner-circle e mesmo esses são terceiras e quartas escolhas, fuga em massa de trabalhadores qualificados, perda de poder de compra e degradação salarial e saúde em queda livre, perda de competitividade generalizada, incapacidade total de gerar crescimento sustentado, mesmo com acesso à melhores fontes financiamento da nossa história. Um paraíso governado por um ilusionista, rodeado de gente sinistra e a fazer figura de pedinte de mão estendida para a Europa, essa que agora tem mais o que fazer .                 Joaquim Rodrigues: Primeiro, traiu o seu camarada de partido António Seguro, acusando-o de ter tido uma vitória por “poucochinho”. Depois, após ter perdido as eleições (nem por “poucochinho” as ganhou) traiu o eleitorado do PS e o País ao, para salvar a sua carreira política, se ter aliado à extrema-esquerda anti-liberal, anti-democratica, anti-União Europeia e anti-Nato. Ele sim, ultrapassou uma “Linha Vermelha” que, nenhum verdadeiro democrata, antes tinha ultrapassado. A verdade nua e crua é que o “habilidoso” Costa esgotou todo o seu “reportório programático” nas “reversões” e, para além disso, não tinha qualquer “Visão”, qualquer “Estratégia”, qualquer “Programa Político”, que pudesse apresentar aos portugueses, para o desenvolvimento do País. Ele que, sendo 1º Ministro há cerca de sete anos e membro de um Partido que, nos últimos 25 anos, esteve 20 no poder, não foi capaz de fazer um Programa de Emergência pós Covid e teve que ir contratar um “Costa e Silva” qualquer para, a partir do nada, fazer a famigerada “Bazuka” de onde só sai mais “Estatismo”, mais “Centralismo” e mais “Clientelismo”, contra a sociedade civil, a igualdade de oportunidades e a livre iniciativa privada. As “habilidades” do Costa já não enganam ninguém. O Costa, sem o “biombo” da Geringonça, ao mostrar-se tal qual é, perdeu toda a credibilidade, quer perante os militantes e eleitores do PS, quer perante os portugueses. A maioria absoluta, ao pôr a nu, a sua falta de “ideias” e de “capacidade”, matou-o. O Costa está morto politicamente! É um cadáver político.  Se queremos prestar um serviço ao País e à União Europeia (repito: e à União Europeia) o que temos de exigir ao PS e ao Grupo Parlamentar do PS é que "demitam" o Costa. Nas eleições Legislativas não se elegem Primeiros-Ministros. Elegem-se deputados que indigitam um candidato a Primeiro Ministro. Servir o País hoje é exigir ao PS e ao Grupo Parlamentar do PS que demitam o Costa e indigitem um novo candidato a Primeiro Ministro para formar Governo que governe até ao fim da Legislatura com um mínimo de seriedade ou, até que, finalmente, o Presidente da República, cumpra com o seu dever.               S Belo: Esperemos que "doa a quem doer"(!) Parabéns  e Obrigada, Maria João Avillez.

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