Hoje ela aparentemente existe
Não era como no tempo da Inês Pereira,
do seu “enfadamento” de mulher “encerrada
nesta casa” prisioneira do “lavrar”, que resolve rebelar-se e casar, julgava
ela que com um maridinho apoiante, mas como este se revelou um machão
impiedoso, escolheu um pacífico Pedro Marques que “andaria a seu mandar”. Não é
bem como para as fêmeas de hoje, diga-se o que se disser das conquistas
libertárias, hoje mata-se mais, quem queira libertar-se, pelo menos de costumes
cediços, como no Afeganistão, mas por aqui também se verifica muita reacção de
indignação machona contra a liberdade feminina conquistada, embora sem ser por
leitura, julgo. É certo que Fernando Pessoa reivindicou o seu prazer de não
cumprir um dever, e esse disse-o ponderadamente, sábio que era, mas já o Anjo também
dissera à Alma que ela tinha um “livre alvedrio, isento, forro”, e, para mais,
“poderoso”, ainda que, de facto, apenas para “fazer glorioso o vosso (“dela”
estado), e por isso uma tortura mais, preferindo nós seguir o “Ai que prazer
não cumprir um dever” pessoano, que era cá dos nossos, da liberdade esclarecida
ou menos, mas perfeitamente nossa, como hoje se apresenta. É claro que estou a
falar no conceito fragmentável, não o unicitário de que trata o Dr. Salles, mas as partes são importantes
no todo, mesmo com sofisma, como nessas referências de A. Cunhal.
É um tema importante este, trazido pelo Dr.
Salles, da liberdade trazida pela cultura também, e socorri-me de um
texto a respeito da responsabilização, que encontrei na Internet, de apoio à
dissertação que nos traz o Dr. Salles,
este com o seu intuito irónico do costume, pois termina em banhos
exemplificativos perversos, para os que teimam em usufruir da tal liberdade sine qua non.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM
DA NAÇÃO, 06.01.23
Liberdade
é conceito unicitário, não fragmentável. No máximo, podemos identificar-lhe secções h0000000000000000omogéneas
que, só por si, não representam o todo. Vide,
o conhecido sofisma do Dr. Álvaro Cunhal que apregoava um regime assente nas
«mais amplas liberdades», ou seja, sem liberdade, pois as partes amplas ou
minguadas, não fazem o todo.
Em
paralelo com a liberdade (unicitária), corre a responsabilidade. Tudo, em consonância com um quadro legal construído por consensos
democráticos definindo direitos e obrigações sob a égide de conceitos tão
fundamentais como o bem e o mal. E
é neste quadro que o cidadão exerce o livre arbítrio: só quem é livre pode ser
responsável. Este, um
princípio fundamental do sistema educativo americano. Se a esta liberdade
responsável juntarmos um clima ameno e caloroso, compreendemos o patente gosto
pela vida que os «miamianos» exibem por contraste com a vizinha Cuba donde as
pessoas continuam a chegar. Dá gosto ir a Miami e tomar um banho na praia. O
problema está em que os tubarões também gostam daquelas águas.
(continua)
Janeiro de 2023
Henrique Salles da Fonseca
Tags: viagens"
COMENTÁRIOS:
Alice
Gouveia 06.01.2023 22:27: Não se lembrou, Henrique, que as Everglades
ficam perto e apinhada de jacarés. O "pakló" de Lisboa seria um
petisco!!!
Adriano Miranda
Lima 07.01.2023 00:19: A discussão filosófica sobre a liberdade nunca terá fim porque o homem
nunca a entenderá verdadeiramente. Diz bem o Dr. Salles, ela é
"unicitária". A partir do momento em que se sujeita às manipulações
político-jurídicas deixa de ser o que é. O Dr. Cunhal só conseguiu convencer os
que, como ele, quiseram aboli-las.
NOTAS DA
INTERNET:
A
literatura, a liberdade e a humanização do homem
Thiago Henrique de Camargo Abrahão Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Ulisses
Infante Universidade
Estadual Paulista (Unesp)
DOI: https://doi.org/10.24261/2183-816x2501
RESUMO:
«Em virtude da diminuição paulatina
do senso histórico dos homens — consciências por isso passíveis, diante da
realidade social, a viverem em meio a valores fragmentados que não permitem uma
compreensão mais completa e profunda de sua situação no mundo —, haveria, segundo Jean-Paul Sartre,
uma função para a literatura, a saber, ser um meio para estimular a percepção
da liberdade e da responsabilidade do homem, evidenciando, com isso, o papel
humanizador da arte literária, fundada sobre o alicerce de um pensamento
filosófico (o existencialismo) que se quer um humanismo. A partir do pensamento sartriano, veremos que as
ideias do crítico literário brasileiro Antonio Candido sobre
o papel da literatura convergem para os mesmos propósitos, de modo que, de
nossa parte, sublinharemos a importância das afirmações teóricas dos dois
estudiosos para debatermos a atualidade.»
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