sábado, 7 de janeiro de 2023

Hoje ela aparentemente existe

 

Hoje ela aparentemente existe

Não era como no tempo da Inês Pereira, do seu “enfadamento” de mulher “encerrada  nesta casa” prisioneira do “lavrar”, que resolve rebelar-se e casar, julgava ela que com um maridinho apoiante, mas como este se revelou um machão impiedoso, escolheu um pacífico Pedro Marques que “andaria a seu mandar”. Não é bem como para as fêmeas de hoje, diga-se o que se disser das conquistas libertárias, hoje mata-se mais, quem queira libertar-se, pelo menos de costumes cediços, como no Afeganistão, mas por aqui também se verifica muita reacção de indignação machona contra a liberdade feminina conquistada, embora sem ser por leitura, julgo. É certo que Fernando Pessoa reivindicou o seu prazer de não cumprir um dever, e esse disse-o ponderadamente, sábio que era, mas já o Anjo também dissera à Alma que ela tinha um “livre alvedrio, isento, forro”, e, para mais, “poderoso”, ainda que, de facto, apenas para “fazer glorioso o vosso (“dela” estado), e por isso uma tortura mais, preferindo nós seguir o “Ai que prazer não cumprir um dever” pessoano, que era cá dos nossos, da liberdade esclarecida ou menos, mas perfeitamente nossa, como hoje se apresenta. É claro que estou a falar no conceito fragmentável, não o unicitário de que trata o Dr. Salles, mas as partes são importantes no todo, mesmo com sofisma, como nessas referências de A. Cunhal.

É um tema importante este, trazido pelo Dr. Salles, da liberdade trazida pela cultura também, e socorri-me de um texto a respeito da responsabilização, que encontrei na Internet, de apoio à dissertação que nos traz o Dr. Salles, este com o seu intuito irónico do costume, pois termina em banhos exemplificativos perversos, para os que teimam em usufruir da tal liberdade sine qua non.

FREEDOM - 2

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 06.01.23

Liberdade é conceito unicitário, não fragmentável. No máximo, podemos identificar-lhe secções h0000000000000000omogéneas que, só por si, não representam o todo. Vide, o conhecido sofisma do Dr. Álvaro Cunhal que apregoava um regime assente nas «mais amplas liberdades», ou seja, sem liberdade, pois as partes amplas ou minguadas, não fazem o todo.

Em paralelo com a liberdade (unicitária), corre a responsabilidade. Tudo, em consonância com um quadro legal construído por consensos democráticos definindo direitos e obrigações sob a égide de conceitos tão fundamentais como o bem e o mal. E é neste quadro que o cidadão exerce o livre arbítrio: só quem é livre pode ser responsável. Este, um princípio fundamental do sistema educativo americano. Se a esta liberdade responsável juntarmos um clima ameno e caloroso, compreendemos o patente gosto pela vida que os «miamianos» exibem por contraste com a vizinha Cuba donde as pessoas continuam a chegar. Dá gosto ir a Miami e tomar um banho na praia. O problema está em que os tubarões também gostam daquelas águas.

(continua)

Janeiro de 2023

Henrique Salles da Fonseca

Tags: viagens"

COMENTÁRIOS:

Alice Gouveia  06.01.2023  22:27: Não se lembrou, Henrique, que as Everglades ficam perto e apinhada de jacarés. O "pakló" de Lisboa seria um petisco!!!

 Adriano Miranda Lima  07.01.2023  00:19: A discussão filosófica sobre a liberdade nunca terá fim porque o homem nunca a entenderá verdadeiramente. Diz bem o Dr. Salles, ela é "unicitária". A partir do momento em que se sujeita às manipulações político-jurídicas deixa de ser o que é. O Dr. Cunhal só conseguiu convencer os que, como ele, quiseram aboli-las.

NOTAS DA INTERNET:

A literatura, a liberdade e a humanização do homem

Thiago Henrique de Camargo Abrahão Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Ulisses Infante Universidade Estadual Paulista (Unesp)

DOI: https://doi.org/10.24261/2183-816x2501

RESUMO:

«Em virtude da diminuição paulatina do senso histórico dos homens — consciências por isso passíveis, diante da realidade social, a viverem em meio a valores fragmentados que não permitem uma compreensão mais completa e profunda de sua situação no mundo —, haveria, segundo Jean-Paul Sartre, uma função para a literatura, a saber, ser um meio para estimular a percepção da liberdade e da responsabilidade do homem, evidenciando, com isso, o papel humanizador da arte literária, fundada sobre o alicerce de um pensamento filosófico (o existencialismo) que se quer um humanismo. A partir do pensamento sartriano, veremos que as ideias do crítico literário brasileiro Antonio Candido sobre o papel da literatura convergem para os mesmos propósitos, de modo que, de nossa parte, sublinharemos a importância das afirmações teóricas dos dois estudiosos para debatermos a atualidade.»

 

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