Apesar de tudo, no país flutuante.
Ao pé disto Santana era de chocolate como aqueles
chapeuzinhos que se dão às crianças
O novo par do Executivo, o aparatoso
Galamba e a jovem que o acompanha pertencem ambos à galáxia privativa do
“pedronunismo”: de que é que Costa tem medo?
MARIA JOÃO AVILLEZ
OBSERVADOR, 04 jan. 2023, 00:2528
1Prodigioso: com o
mesmo guião, os mesmos protagonistas, os mesmos actores nos mesmos papéis,
começou uma outra peça política. Protagonistas
velhos para novas circunstâncias. O governo saltou da letargia para
a ficção alimentada por uma segunda ficção que é Belém achar verosímil a
primeira. Só Pedro Nuno
se apressou a trocar expeditamente o mito do “responsável governante” que nunca
foi, pela mística do “sucessor exitoso” que as pitonisas — e os pitonisos — do
PS garantem que será. Não me espanta que garantam: que interessa a acumulação dos desastres governativos do ex-ministro
e dos milhões atirados pela borda fora da TAP, comparada com a possibilidade de
acabar de vez com um PS que sempre conhecemos? Sepultando-o de vez e fazendo do
“novo” (?) um partido socialista oficialmente de esquerda radical, em
mandamentos e escolhas. Ao pé desta ansiada mutação que interessa que os
portugueses continuem a pagar os milhões que Pedro Nuno Santos desperdiçou e
sofram com as promessas que não cumpriu?
A peça continuará em cartaz por tempo
indeterminado, enquanto nos bastidores Pedro Nuno Santos não deixará cair o
estatuto de “protagonista”. Se conseguir, far-lhe-á um arranjão, agora que está
à solta na pele (que no seu íntimo nunca largou) de general-guerrilheiro com
tropas.
2Se, à excepção do general-guerrilheiro, tudo se mantém, o que mudou
então? Mudou a natureza das coisas:
pela primeira vez António Costa foi atingido em cheio. À vista desarmada a
vulnerabilidade fez uma “fracassante” entrada em cena. Passou a ser um
dado da governação: o chefe do governo é vulnerável, o governo está
irreversivelmente vulnerabilizado. Além disto, que é muitíssimo, o factor dúvida — do
qual a política não gosta — oficializou-se: o PS não sabe o que
pensar, as suas gentes não sabem como proceder. Duvidam. Balançam. As divisões
internas subiram à luz do dia, saindo da penumbra onde germinavam. A
mediocridade socialista – governativa e partidária — é indisfarçável, está na
montra do país. António Costa — não é novidade — não é fadado para o mau tempo
e vem aí pior tempo. O fastio com que tem governado passou a desnorteio e
agora estacionou numa espécie de “fechamento” que as suas temerárias e
desclassificantes nomeações governamentais desta semana exibem
desapiedadamente: o novo par do Executivo, o aparatoso Galamba e a jovem que o
acompanha, pertencem à galáxia privativa do “pedronunismo”: de que é que Costa
tem medo, ele que não costuma tê-lo? (Não se invoquem os “equilíbrios
internos”. Por favor).
3Em face desta degradação que todos os
dias nos confunde pela velocidade do seu galope sobram duas perguntas não
despiciendas: António Costa conseguirá sair dos escombros de si próprio?
Olhando para o seu entricheiramento que começou pelos amigos do peito — que
depois tratou mal – passou depois para ajudantes, se agora para servos e
“factotum”, custa a crer que consiga. As coisas estão, porém, mais nas suas
mãos do que nas do Presidente da República, embora aos distraídos pareça o
contrário. O primeiro-ministro tem muito tempo pela frente mas pouquíssimo para
dar um golpe de rins, respirar fundo e agarrar em Portugal com ambas as mãos.
Se não o fizer, acaba politicamente. Mesmo que dure.
4Ouvi elogiar o speech de Belém, no primeiro dia deste
ano: que o Presidente deixara o discurso politicamente amável e edolcurante e
“desta vez” se zangara. Não me parece que o Chefe de Estado tenha usado — com
consequências úteis — da responsabilidade e autoridade que tem para denunciar
os lesivos efeitos que a governação tem provocado no país. A sua suposta
exigência nunca”cobre” a dramática acumulação desses efeitos. Sim, deixou
avisos, acendeu luzes intermitentes, mostrou desagrado; aparentou severidade e
autoridade, o que não é o mesmo do que as exercer. Fez os serviços mínimos. A forma
pode ter iludido, o fundo, não: o Chefe de Estado não pediu contas, não avisou
que iria pedir (e o embaraço era escolher por onde pedi-las). Numa só coisa se
pode – se deve — segui-lo: o ter afugentado de imediato a lamúria por
eleições antecipadas. Qualquer pessoa normalmente constituída — e não só
Luis Montenegro – concordará com o seu “não”.
Isso, esta cidadã agradece-lhe. (Achando
que começa a ser difícil lidar com a quantidade de doidos com responsabilidades
que grassa pelo país.)
COMENTÁRIOS (de 28):
Rosa Silvestre: Como havia o PR de pedir contas, se é corresponsável por tudo o que
este governo tem feito?
NunoW Nunow: Um país em erosão, pobre e desqualificado, um governo
incapaz e irresponsável, uma sociedade desigual e decadente, o salário médio cada vez mais próximo do
salário mínimo, serviços públicos em falência, taxas e impostos em máximos e uns egos
travestidos de socialistas que, como bem diz MJA, fazem de nós um país de
doidos com responsabilidades.
Vitor Batista: O ps é um antro de doidos, ora é sabido que o estado é
refém do ps, logo os doidos à solta são imensos. Como dizia o outro doido,
habituem-se!
Carlos Quartel: Cara cronista, aprender até morrer. Brevemente
aparecerá o livro vermelho do "pedroninismo", com a definição dos
pontos programáticos. Até lá, teremos que ficar com as declarações avulsas,
do tipo "não pagamos", "pomos banqueiros de joelhos",
"qualquer pessoa tem direito a viver nas zonas mais caras de Lisboa, o
Estado deve providenciar isso" "a reportagem da Sandra Felgueiras
sobre o lítio é um estrume", que são o currículo possível das novas
estrelas desse movimento. Mas também podemos avançar para reflexões mais sérias
: Deu-se por adquirido que a geringonça tinha tido a virtude de engolir
PC e BE. Afinal é possível pensar que PC e BE estão a deglutir o PS, fatia a
fatia, e que o resultado será um caldeirada marxista. Só falta o deslizar para
o partido único, a censura e , como cereja no cima do bolo, a polícia política.
Aguardemos ....
F. Mendes: Gostei do artigo,
escrito de forma clara e certeira na maior parte dos pontos abordados, quando
relativos ao PS, aos seus personagens e ao "governo". Mas, há um
ponto em que a colunista falha rotundamente: refere-se ao Presidente da
República/Chefe de Estado, em vários pontos do artigo. Ora, nós não temos PR.
Do inquilino de Belém nada de bom haverá a esperar. E não me admiraria que, se
a situação do país se degradar a um ponto insuportável, Marcelo faça o frete ao
Costa e opte por antecipar eleições; para voltar a "direita" a fazer
o trabalho sujo e abrir o caminho para mais desgoverno socialista, depois de o
dito estar feito. MJA julgo ser amiga de Marcelo. Isso impede-a de o incluir no
grupo de doidos que refere no final do artigo. Percebo, mas é pena.
Abilio Silva: O “CAPO” ficou sem um ministro. Para o substituir
dirigiu-se à sede da “família”: largo do rato. Bateu à porta foi atendido pelo
securitas que disse:
-Boa surpresa sr dr.? O que o traz por cá?
-Perdi um ministro e venho à procura doutro para o
substituir, respondeu o capo.
-Chegou na altura e local certo. Estamos em saldo.
Escolha um e leva dois.
Jorge Barbosa: Agora, a generalidade dos cidadãos já terá percebido
de q. elegeu para os 2 mais altos do
país quadrilheiros q. , sem escrúpulos, só agem para proveito próprio.
Acontece, porém, que ao contrário do q se passa nos regimes democráticos, o
nosso regime não viabiliza q os eleitores demitam tão maus líderes e os
substituam em tempo útil por estadistas sérios e capazes, antes q o país entre
em colapso.
Maria Emília
Ranhada Santos: A única coisa que Costa tem
medo é de perder o lugar para o CHEGA!
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