Julgo que colidiria igualmente com o
sentido da Justiça, que exige regras na colocação dos professores, de acordo
com classificações universitárias, de estágios, tempo de ensino, etc., mas os
professores que têm que se deslocar para longe das suas casas, deveriam ser
favorecidos com ajudas de custo, para adquirirem uma certa acalmia na sua justa
revolta. Talvez que isso ajudasse um pouco a ultrapassar a pertinência das suas
reivindicações, a que uma justiça mais apoiada em factores de pertinência
formativa, naturalmente se opõe.
Os sindicatos
não têm razão, mas ganharam
Eis um recuo estrondoso do governo na
contratação de professores. E eis o país perante um bloqueio: se nem com uma
maioria absoluta há coragem para enfrentar o imobilismo sindical, estamos
tramados.
ALEXANDRE HOMEM CRISTO
OBSERVADOR, 05 jan. 2023, 00:2123
Os sindicatos de professores declararam
guerra ao Ministério da Educação. Tudo por causa
de uma exigência que mobilizou a contestação: travar as alterações às regras de recrutamento dos professores, que o
Ministério da Educação abordou no âmbito das negociações com sindicatos, e que
estes interpretaram como uma inaceitável descentralização do recrutamento. Eis o ponto central da contestação e também aquele em que o imobilismo dos
sindicatos é mais contraproducente — por três motivos.
Primeiro motivo: sem flexibilidade na contratação, a
rede pública pode colapsar. A falta de professores nas escolas tornou-se um
problema crónico e tenderá a agravar-se. Com a previsão de 47 mil professores a
aposentarem-se em cerca de 10 anos (2019-2030), as necessidades de contratação
de novos professores estimam-se em 34.500 para igual período — um número muito
acima dos que saem do ensino superior com cursos via ensino. Além disso, em determinadas disciplinas, a
pressão para contratação será cada vez maior, sobretudo em substituições
durante o decorrer do ano lectivo, por escassez de professores. A menos que a contratação docente seja flexibilizada
de alguma forma, tornar-se-á cada vez mais difícil dar resposta a estas
necessidades e, simultaneamente, tornar a profissão atractiva para os mais
jovens.
Segundo motivo: o
centralismo português na contratação docente é uma excepção no contexto
europeu. Os diferentes modelos de
recrutamento dos professores organizam-se à volta de três categorias:
recrutamento aberto, procedimento concursal ou listas de candidatos. Em
Portugal, vigora um modelo de lista de
candidatos — o mais
centralizado e, consequentemente, aquele que menos poder de decisão entrega às
escolas. Na UE, esta
opção faz de Portugal um caso excepcional, uma vez que a larga maioria dos
países opera com modelos de recrutamento aberto. Afinal, por que razão o recrutamento aberto seria inviável em
Portugal se por toda a Europa Na prática, isso significa que as escolas ou as
autoridades locais têm responsabilidades na contratação, mas sempre com os seus
poderes devidamente enquadrados e regulamentados a nível central, permitindo
que as decisões a nível local sejam escrutinadas e auditadas. Ambicionar uma abertura deste tipo em
Portugal não é nada de excêntrico, muito menos símbolo de um retrocesso se faz?
Terceiro motivo: as escolas são diferentes entre si e os critérios
de recrutamento devem respeitar essa diversidade. É uma questão de coerência de
políticas públicas: não existe “a escola pública”, mas sim “várias escolas
públicas” que, com projectos educativos plurais, procuram dar resposta às
necessidades específicas dos seus alunos. A rede
pública não é homogénea, mas sim heterogénea. De forma crescente, e seguindo
orientações do Ministério da Educação, as escolas têm construído planos de
acção e estratégias que vão ao encontro dessa diversidade. No entanto,
esse esforço esbarra no modelo centralizado de contratação docente, que é cego
para as especificidades dos professores e das escolas — impedindo que os
directores escolares seleccionem professores cujos perfis estejam mais
alinhados com os projectos educativos das suas escolas.
Infelizmente, os sindicatos
estarem errados não impediu que o Ministério da Educação recuasse. Recorde-se que, em Setembro, o Ministro João Costa expôs as injustiças do actual modelo centralizado de
contratação de professores, justificando a pertinência de o remodelar.
Em entrevista, avançou mesmo com a possibilidade de 30% dos professores
serem contratados directamente pelas escolas, de acordo com os perfis desejados
pelos directores. Mas, ontem, o Ministro João Costa abandonou
essas propostas e soou derrotado: negou qualquer
intenção de descentralizar o recrutamento, desistiu da contratação de 30% dos professores pelas
escolas e em função dos perfis dos docentes (era só uma opinião), e admitiu que
as ideias do ministério geraram apreensão junto dos professores. Fim da história: o ímpeto reformista na educação
evaporou-se.
Eis
um recuo estrondoso do governo na contratação de professores. Eis uma
inesperada vitória dos sindicatos de professores. E eis o país perante um
bloqueio: se nem com uma maioria absoluta há coragem política para
enfrentar o imobilismo sindical, estamos tramados.
COLOCAÇÃO DE PROFESSORES EDUCAÇÃO
COMENTÁRIOS (de 23):
Filipe F: A questão é mais profunda como o cronista bem saberá,
mas não terá querido abordar. Estava em causa a sobrevivência da fenprof e do
partido que a controla. Os 4,5% continuam a valer muito mais do que isso,
sacrificando o futuro da educação na guerra ideológica de que nunca sairão. MCMCA > AFilipe F: Mas, há sempre um mas, em Portugal a corrupção autárquica é
endémica e teremos contratações de amigos, gente do partido, amigos de amigos
etc, que depois retribuirão dando boas classificações aos filhos e amigos de
quem lhes arranjou o tacho. Se querem bons professores terão de começar a pagar
mais porque muitos dos diplomados das nossas escolas estão a exercer tudo
menos a docência. Um professor que ganhe 1200 euros/mês e tenha sido
deslocado ficará com tanto dinheiro no bolso como quem ganha o salário mínimo
e muito mais cansaço físico e mental porque longe da família. Eduardo
Rodrigues > MCMCA A: Por mais razão que possa ter, não podemos pagar mais.
Pelo contrário, teremos de pagar menos e isto é uma certeza, a economia está a
colapsar e com uma recessão à porta menos dinheiro haverá para o estado. Por isso teremos de reformar o ensino
e fazer como qualquer país desenvolvido e adoptar o cheque ensino, o cheque
saúde, etc... Tivemos as ppp da saúde que foram um sucesso face ao que temos e
os contratos de associação das escolas que ficavam mais baratos por aluno que o
nosso ministro da educação se gaba de gastar... Enfim... Com o socialismo é só
pobreza que nos espera... Mas os mais velhos (40 anos para cima é que vão levar
com isto) ... Mas ainda não sabem 😅 Afonso Soares: Os
sindicatos têm medo de quê? Passam a vida a queixar-se mas querem que
tudo continue na mesma. Aliás os portugueses em geral também pensam assim. Quem
está mal que vá para a Europa onde há de facto novas oportunidades. Miguel Ramos: Quais sindicatos?! Eu só vejo o maior
cancro do País, os comunas. Ceder um 1mm a estes párias é anti-patriótico. Carlos Real: Nada que não seja normal em Portugal. O centralismo e o imobilismo fizeram
sempre parte do ADN luso. Mais uma vez os sindicatos e os professores querem
que o sistema público, que tanto dizem defender, se afunde como o SNS. De vitória em vitória até à derrota
final. Os privados agradecem e o povo paga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário