Com bastos exemplos da sua teoria a respeito dos liliputianos que nunca
tinham visto um homem tão grande, como Gulliver, para eles, gigante, que as aventuras
seguintes relativizam, no paralelo com outras figuras de muito maior tamanho. Realmente,
os Americanos parecem-nos enormes, desde os tempos dos primeiros filmes, em que
eles apareciam como figuras de lenda, altos e belos e corajosos, além de que
pioneiros, salvo algumas excepções, nas conquistas do espaço. Poderosos, sim,
na aparência, que, também por ambição, vão colaborando nas lutas pelo mundo,
quando estas assumem caminhos de uma orientação política desumana - apesar do
ponto de partida de aparente bondade para com os humildes, como se viu pelas
Ásias, e continua. Os Americanos aí estão em tentativas de auxílio, como no
Afeganistão, que acabou em desaire, ou nesses seres fundamentalistas em cujo
desaparecimento intervieram. Ouço dizer que são incultos, julgo que isso não
será tão verdadeiro para quem tanto faz pelo conhecimento dos mundos da
curiosidade humana. E o mundo espera desses Americanos o auxílio constante –
interrompido aquando da presença grosseira mas realista de Trump - mas em que
Biden uma vez mais participa na questão da Ucrânia. Tio Sam é muito mais justo,
quanto a mim, como tributo da personalidade americana, que vejo, nos Estados
Unidos, um espaço que, apesar de tudo, acolhe tanta gente e onde,
aparentemente, se é mais livre – e talvez cumpridor.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO 11.01.23
À volta de Gulliver, todos são
liliputs e se alguns se julgam grandes, não passam de pigmeus. E quando algum
pequenote se porta mal, é mandado para um canto, virado para a parede e com
orelhas de burro. Sem desprimor para esse simpático animal que tão útil foi
para a Sagrada Família.
* * *
Os EUA são um buraco negro que tudo absorve à sua volta ou é um
benigno Tio Sam rodeado de sobrinhos e afilhados?
Humanamente, é um chamariz
mirífico que atrai multidões desgraçadas pelo subdesenvolvimento
intelectual de tiranos, tiranetes, caciques e caudilhos nepóticos. E a
pergunta é: os EUA são poderosos porque são grandes ou porque são
democráticos? Creio que a resposta é porque são democráticos e têm a
sorte de serem grandes. Mas, para além do sentido democrático do regime
pluripartidário e do plebiscito periódico e universal da opinião dos cidadãos, há o
sentido cultural que dá à maioria dos políticos americanos o conceito de
serviço ao bem comum, o Sentido de Estado enquanto nos liliputs rareia a
democracia e sobra o Sentido de Propriedade por parte do «Dono do País».
Nesta viagem, lembrei-me de Friedrich List que dizia que a liberdade comercial internacional só é
globalmente útil quando os países envolvidos se encontram sensivelmente no
mesmo grau de desenvolvimento; caso contrário, os mais desenvolvidos arrasam os
menos desenvolvidos. Vidé, o caso da NAFTA a beneficiar os EUA e o
Cabadá em desfavor do México. Mas será
mesmo por isto que o México não passa duma relativa cepa torta ou é a tal
questão cultural do Sentido de Estado dos dirigentes?
Baixando agora ao nível liliputiano, constato as diferenças abissais
entre opções tão opostas como a da hostilidade cubana para com os EUA e a atitude
cooperante das Bahamas com o macro vizinho.
E os resultados são tão diferentes que
me limito a dizer que os cubanos cantam para espantarem os males que os afligem
enquanto nas Bahamas a abundância é evidente e o povo é sereno.
Boa solução, a das Bahamas, que tem um Rei lá longe e que não se
imiscui na vida do país e um Tio (Sam) que lhe dá navios para registo em
bandeira de conveniência. E a economia suporta perfeitamente uma moeda tão
forte como o US$ ou a matriarcal £. E assim foi que me lembrei de quem certa
vez disse que Trás-os-Montes se esvaziaram porque não aguentaram uma moeda tão
forte como foi o Escudo nos seus inícios. Não creio! Trás-os-Montes
esvaziaram-se quando os transmontanos se fartaram do ostracismo e optaram pela
aventura de melhores paragens. E viva a «Porca de Murça» que vale hoje
bem mais do que Maurício de Nassau.
FIM
Janeiro de 2023
Henrique Salles da Fonseca
Tags: viagens
Anónimo 12.01.2023 16:27:
Vê-se mesmo que as perguntas que fazes,
Henrique, é de quem vai descontraidamente a navegar em veraneio… Começo por
dizer que ainda bem que os EUA são democráticos e são grandes, quer
territorial, quer económica, quer política, quer militarmente. Mas tens o
exemplo do seu vizinho do Norte que, embora também grande territorialmente e
democrático, não é muito importante mundialmente, pese embora pertencer ao club
do G7. Se olhares para a Europa e para a Ásia encontras dois países
extensos, respetivamente, a Rússia e a China, que são importantes e a
Democracia nunca constou nas suas Histórias, ou, se constou, foi por um período
tão breve que é irrelevante no tempo histórico (Kerensky, em 1917). Na
Europa ainda se encontram países que foram importantes, embora territorialmente
fossem relativamente pequenos. É o caso da Grã-Bretanha, pois o que lhe faltava
em território sobrava em armada naval e em Império, ou o caso da França em que
as baionetas, os canhões e o génio militar compensavam a escassez relativa de
território. E ambos eram democráticos concomitantemente com o nascimento dos
EUA. É claro que estes dois países europeus saíram da 2ª guerra mundial sem o
anterior estatuto de potência, embora só mais tarde se tenham apercebido disso.
A Inglaterra saiu vitoriosa, mas falida, enquanto a França saiu livre, mas
humilhada. Só em 1956, quando os EUA do presidente acabado de ser
reeleito, Eisenhower, as mandou sair do Suez (aonde tinham ido fazer uma
incursão, com Israel, sem autorização prévia daqueles e quando os tanques
soviéticos entravam na Hungria) é que interiorizaram que não eram mais
potências. Não cabe num
simples comentário (nem eu tenho o conhecimento, nem a expertise) o
aprofundamento das respostas às tuas questões, mas não quero deixar de avançar
com dois ou três tópicos sobre a génese do processo de engrandecimento dos
EUA. Primeiro, recordo o próprio processo de formação do território,
quer por conquista, quer por compra. Depois, a Doutrina de Monroe, no
final do primeiro quartil do século XIX – A América para os americanos -,
avisando que as potências europeias se deveriam manter afastadas do hemisfério ocidental.
Depois, e como corolário dessa Doutrina, temos Theodore Roosevelt, no
princípio do século passado, a proclamar intervenções unilaterais dos EUA na
América Latina (a chamada política do “big stick”). Podemos apontar muitas
causas do engrandecimento progressivo dos EUA, e certamente haverá as mais
díspares opiniões valorativas dessas causas. Mas há pelo menos algumas que
julgo que não oferecem grande controvérsia: a sua Democracia, o espírito
empreendedor americano, a descoberta de petróleo, o seu território ter sido
poupado às duas guerras mundiais do século transato e à genialidade do Plano
Marshall que ajudou a reedificar a Europa, bem como a relançar a indústria
americana no fornecimento dos bens e serviços que o velho continente carecia.
O insuspeito Henry Kissinger, na sua fundamental obra “Diplomacia”, faz no
capítulo 2 uma resenha sobre a evolução do seu País e logo no começo refere que
a América, sob a administração de Wilson (1913-21), desempenhou um papel
preponderante nas questões mundiais, proclamando princípios que constituíam
ideias revolucionárias para os diplomatas do velho continente, tais como: a paz
dependia da difusão da democracia, os Estados deveriam ser julgados pelos
mesmos critérios éticos do que os indivíduos e que o interesse nacional
consistia em aderir a um sistema de direito universal. Continuação de bom
cruzeiro. Forte abraço. Carlos Traguelho
António 12.01.2023 18:04: Muito agradecido, Doutor Henrique Salles da Fonseca,
pelo prazer que proporcionou aos seus leitores com o seu diário de viagens. Não
resisto a comentar sobre a sua astuta observação que é o sentido cultural, o
Sentido do Estado v. o Sentido de Propriedade que é o factor determinante no
sucesso ou atraso de um povo. Entre os três países do NAFTA o México é o que
mais carece desse Sentido, embora, a meu ver, constato com pesar, vejo uma
sensível decadência deste Sentido nos EUA. É o prenúncio que os melhores dias se
situam no passado, não no futuro.
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