sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Razões de peso


Razões da leveza.

O problema em Portugal é o governo, não é a oposição

Às oposições, numa situação como a portuguesa, quase que basta a virtude de não serem os que estão no poder. Só mudar as proverbiais moscas, mesmo que o resto fique na mesma, já fará diferença.

RUI RAMOS Colunista do Observador

OBSERVADOR, 27 jan. 2023, 00:223

É o grande paradoxo da nossa política: o governo é mau, mas o problema é a oposição. O argumento é assim: o governo está de facto desorientado e compromete a confiança nas instituições, mas tudo continuará na mesma porque a oposição não tem candidatos imaculados, desconhecemos as suas políticas, e está dividida. Não há, portanto, “alternativa”. Se os ministros se mantêm no poder, é por causa da oposição. E eis como as culpas que deveriam caber ao governo são paradoxalmente trespassadas à oposição.

Este paradoxo faz sentido? Não, não faz. Vou agora defender que a oposição resplandece, está preparada e unida? Não, não vou. Vou notar apenas que é insensato, num país que o governo enredou em toda a espécie de dificuldades e bloqueios, fazer depender a alternância política da emergência de uma oposição que não tenha sido afectada por essas dificuldades e bloqueios. A oposição não vem de Marte ou de Vénus. Vem desta mesma sociedade que o poder socialista, ao longo de 28 anos, fragilizou e corrompeu. Se a sociedade civil está fraca, se os mais qualificados emigram, se há “mecanismos” a subverter o Estado, como é que a oposição poderia ser um exemplo de força, um caso de excelência, e um cesto de maçãs sem um único fruto podre? Às oposições, numa situação destas, quase que basta a virtude de não serem os que estão no poder. Por vezes, só mudar as proverbiais moscas, mesmo que o resto ainda fique na mesma, já fará diferença. É assim que se começa a sair de um impasse. Se a oposição servir para isso, já serve para alguma coisa.

E depois, convém dizer que muitas das censuras à oposição têm, na sua origem, alguma confusão. A oposição não tem já um programa de governo? Mas porque haveria de ter? Serviria apenas para o poder socialista desviar a atenção do governo que existe para um governo que não existe, como António Costa aliás procura fazer quando passa pelo parlamento. O debate deve estar focado no governo em funções. De resto, temos uma ideia do que a oposição representa. Em Portugal, as divisões políticas nunca foram meramente pessoais, mas ideológicas. A oposição ao actual poder socialista é liberal e conservadora. Sabemos o que irá propor. Sabemos também que não resolverá nem acertará em tudo. Mas perante a estagnação económica, a retracção demográfica e a degradação institucional, ficar onde estamos é mais arriscado do que mudar.

Dizem-nos ainda: a oposição está desunida. Sim, desde 2019 que há mais partidos à direita no parlamento, e esses partidos, ao contrário do que aconteceu quando a direita era apenas PSD e CDS, não têm ainda tradição de aliança e compromisso. Todos parecem, pelo contrário, muito empenhados em excomungarem-se uns aos outros. No interior de cada partido, como a IL mostrou, é a mesma coisa. E é normal. O estado natural da classe política, mesmo dentro dos partidos, é a divisão e o conflito. Alianças e compromissos são impostos pelas circunstâncias. Frequentemente, só a perspectiva do poder gera sensatez e unidade, como nos Açores em 2020, onde os acordos têm durado. A oposição estará dividida até ter uma oportunidade de se tornar governo. Foi sempre assim.

Estou a dizer que não devemos esperar melhor? Não, é bom que os partidos da oposição escolham os líderes mais credíveis, consigam explicar as suas ideias, e nos convençam de que não faltarão com um governo. Mas é um pouco ridículo fazer depender qualquer alternativa da excelência da oposição. Estamos presos numa casa sem ar e sem luz. Da oposição, devemos esperar que pelo menos abra uma porta ou janela. Não precisamos que traga logo uma casa nova.

GOVERNO    POLÍTICA     INICIATIVA LIBERAL     PSD

COMENTÁRIOS:

Alfaiate Tuga: Gostaria que me explicassem o que de substancial mudou no último ano na vida dos portugueses, cuja responsabilidade possa ser atribuída ao governo, atenção que não estou a defender o governo, estou apenas a lembrar que temos um governo de maioria absoluta eleito pela povinho há praticamente um ano, o que está mal hoje já estava em janeiro de 2022. A inflação que temos por cá a par da subida das taxas de juro não são responsabilidade directa do governo , aliás se não houvesse tanta liquidez disponível a inflação não teria subido tanto. Dizer que um ministro mentiu, que outro está alegadamente metido em trafulhices, apenas confirma o que quase todos dizem, eles vão para lá para se encher, não é isso que faz mudar o sentido de voto da esmagadora maioria dos portugueses, os portugueses não querem saber da idoneidade dos políticos, querem saber o que é que estes lhes vão dar ou retirar, e aí o PS tem sabido jogar e atrair os votos da maioria, o PS governa para pensionistas, funcionários públicos e malta que recebe salário mínimo , e admirem-se, alguns empresários , os que estão trilhados são os da classe média e média alta que trabalham por conta de outrem, pois são estes que são esbulhados em IRS, mas como estes são cada vez menos, pois ou estão a fugir para o estrangeiro ou arranjar maneira de fugir aos impostos também não interessam ao PS. Portanto Rui Ramos, o governo é um problema para alguns, mas para muitos outros é a melhor solução que vislumbram , como vivemos em democracia, tiveram uma maioria absoluta e estou convencido de que se o PR virasse a mesa e convocasse eleições o PS as voltaria a ganhar. O PSD tem que mostrar à maioria dos portugueses que com ele no Governo eles viveriam melhor (€€€) , como ainda não o conseguiu fazer , continua a marcar passo.                Antonio Romão: Passo a explicar a razão por que a culpa é da oposição e não do governo. Porque o PSD Moedas não atira as culpas para o Medina que não fez nada desde a atribuição do evento que necessitava do altar-palco. Porque o PSD Moedas não atira as culpas das cheias para o PS que governou Lisboa durante décadas e permitiu a impermeabilização do solo de Lisboa. Porque o PSD Montenegro tem frases como "NÓS não estamos a conseguir travar a emigração" em vez de dizer "o PS não está a conseguir travar a emigração". E porque o PS faz exactamente o contrário tendo até conseguido convencer os portugueses que a austeridade veio com o PSD e não com a bancarrota do PS. Tão simples como isto.                F. Mendes: Excelente artigo, que deve ser lido com atenção para que se perceba bem como o PS, cada vez mais um partido com vocação totalitária, manipula as mentes dos eleitores para se manter no poder eternamente. Eu resumiria este artigo assim (o Rui Ramos, que me perdoe): O PS desgoverna, e orbita entre uma oposição à oposição, uma oposição a anteriores governos e uma entidade de gestão de conflitos partidários internos, estes transportados para o interior do governo, para satisfazer apetites de poder e mando de putativos sucessores do Costa. Como se isto não bastasse, o prof. Marcelo continua a servir de apoio a estes desmandos, que muito prejudicam o que vai restando da Nação.

Naturalmente, e aqui discordo parcialmente de RR, não se trata só de mudar as moscas, porque a quantidade de b***a é muito maior do que algumas vez tivemos em democracia. Logo, há muito mais moscas e com capacidade de transmissão de males sem paralelo. Este é um ponto a reter, para que se não desemboque no desânimo e na ladainha da falta de alternativas.

 

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