Razões da leveza.
O problema em Portugal é o governo, não é a oposição
Às oposições, numa situação como a portuguesa, quase
que basta a virtude de não serem os que estão no poder. Só mudar as proverbiais
moscas, mesmo que o resto fique na mesma, já fará diferença.
RUI RAMOS Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 27 jan. 2023, 00:223
É o grande paradoxo da nossa
política: o governo é mau, mas o problema é a oposição. O argumento é assim: o
governo está de facto desorientado e compromete a confiança nas instituições,
mas tudo continuará na mesma porque a oposição não tem candidatos imaculados,
desconhecemos as suas políticas, e está dividida. Não há, portanto,
“alternativa”. Se os ministros se mantêm no poder, é por causa da oposição. E
eis como as culpas que deveriam caber ao governo são paradoxalmente
trespassadas à oposição.
Este
paradoxo faz sentido? Não, não faz. Vou agora defender que a oposição
resplandece, está preparada e unida? Não, não vou. Vou notar apenas que é
insensato, num país que o governo enredou em toda a espécie de dificuldades e
bloqueios, fazer depender a alternância política da emergência de uma oposição
que não tenha sido afectada por essas dificuldades e bloqueios. A oposição
não vem de Marte ou de Vénus. Vem desta mesma sociedade que o poder socialista,
ao longo de 28 anos, fragilizou e corrompeu. Se a sociedade civil está fraca,
se os mais qualificados emigram, se há “mecanismos” a subverter o Estado, como
é que a oposição poderia ser um exemplo de força, um caso de excelência, e um
cesto de maçãs sem um único fruto podre? Às oposições, numa situação
destas, quase que basta a virtude de não serem os que estão no poder. Por
vezes, só mudar as proverbiais moscas, mesmo que o resto ainda fique na mesma,
já fará diferença. É assim que se começa a sair de um impasse. Se a
oposição servir para isso, já serve para alguma coisa.
E
depois, convém dizer que muitas das censuras à oposição têm, na sua origem,
alguma confusão. A oposição não tem já um programa de governo? Mas porque
haveria de ter? Serviria apenas para o poder socialista desviar a atenção do
governo que existe para um governo que não existe, como António Costa aliás
procura fazer quando passa pelo parlamento. O debate deve
estar focado no governo em funções. De resto, temos uma ideia do que a oposição
representa. Em Portugal, as divisões políticas nunca foram meramente pessoais,
mas ideológicas. A oposição ao actual poder socialista é liberal e
conservadora. Sabemos o que irá propor. Sabemos também que não resolverá nem
acertará em tudo. Mas perante a estagnação económica, a retracção demográfica e
a degradação institucional, ficar onde estamos é mais arriscado do que mudar.
Dizem-nos
ainda: a oposição está desunida. Sim, desde 2019 que há mais partidos à direita
no parlamento, e esses partidos, ao contrário do que aconteceu quando a direita
era apenas PSD e CDS, não têm ainda tradição de aliança e compromisso. Todos
parecem, pelo contrário, muito empenhados em excomungarem-se uns aos outros. No
interior de cada partido, como a IL mostrou, é a mesma coisa. E é normal. O
estado natural da classe política, mesmo dentro dos partidos, é a divisão e o
conflito. Alianças e compromissos são impostos pelas circunstâncias. Frequentemente, só a perspectiva do poder gera
sensatez e unidade, como nos Açores em 2020, onde os acordos têm durado. A
oposição estará dividida até ter uma oportunidade de se tornar governo. Foi
sempre assim.
Estou a dizer que não devemos esperar
melhor? Não, é bom que os partidos da oposição escolham os líderes mais
credíveis, consigam explicar as suas ideias, e nos convençam de que não
faltarão com um governo. Mas é um pouco ridículo fazer depender qualquer alternativa
da excelência da oposição. Estamos
presos numa casa sem ar e sem luz. Da oposição, devemos esperar que pelo menos
abra uma porta ou janela. Não precisamos que traga logo uma casa nova.
GOVERNO POLÍTICA INICIATIVA
LIBERAL PSD
COMENTÁRIOS:
Alfaiate Tuga: Gostaria que me explicassem o que de substancial mudou no último ano na
vida dos portugueses, cuja responsabilidade possa ser atribuída ao governo,
atenção que não estou a defender o governo, estou apenas a lembrar que temos um
governo de maioria absoluta eleito pela povinho há praticamente um ano, o que
está mal hoje já estava em janeiro de 2022. A inflação que temos por cá a par
da subida das taxas de juro não são responsabilidade directa do governo , aliás
se não houvesse tanta liquidez disponível a inflação não teria subido tanto.
Dizer que um ministro mentiu, que outro está alegadamente metido em
trafulhices, apenas confirma o que quase todos dizem, eles vão para lá para se
encher, não é isso que faz mudar o sentido de voto da esmagadora maioria dos
portugueses, os portugueses não querem saber da idoneidade dos políticos,
querem saber o que é que estes lhes vão dar ou retirar, e aí o PS tem sabido
jogar e atrair os votos da maioria, o PS governa para pensionistas,
funcionários públicos e malta que recebe salário mínimo , e admirem-se, alguns
empresários , os que estão trilhados são os da classe média e média alta que
trabalham por conta de outrem, pois são estes que são esbulhados em IRS, mas
como estes são cada vez menos, pois ou estão a fugir para o estrangeiro ou
arranjar maneira de fugir aos impostos também não interessam ao PS.
Portanto Rui Ramos, o
governo é um problema para alguns, mas para muitos outros é a melhor solução
que vislumbram , como vivemos em democracia, tiveram uma maioria absoluta e
estou convencido de que se o PR virasse a mesa e convocasse eleições o PS as
voltaria a ganhar. O PSD tem que mostrar à maioria dos portugueses que
com ele no Governo eles viveriam melhor (€€€) , como ainda não o conseguiu
fazer , continua a marcar passo.
Antonio Romão: Passo a explicar a razão por que a culpa é da oposição
e não do governo. Porque o PSD Moedas não atira as culpas para o Medina que não
fez nada desde a atribuição do evento que necessitava do altar-palco. Porque o
PSD Moedas não atira as culpas das cheias para o PS que governou Lisboa durante
décadas e permitiu a impermeabilização do solo de Lisboa. Porque o PSD
Montenegro tem frases como "NÓS não estamos a conseguir travar a
emigração" em vez de dizer "o PS não está a conseguir travar a emigração".
E porque o PS faz exactamente o contrário tendo até conseguido convencer os
portugueses que a austeridade veio com o PSD e não com a bancarrota do PS. Tão
simples como isto.
F. Mendes: Excelente artigo, que deve ser lido com atenção para
que se perceba bem como o PS, cada vez mais um partido com vocação totalitária,
manipula as mentes dos eleitores para se manter no poder eternamente.
Eu resumiria este artigo assim
(o Rui Ramos, que me perdoe): O PS desgoverna, e orbita entre uma oposição à
oposição, uma oposição a anteriores governos e uma entidade de gestão de
conflitos partidários internos, estes transportados para o interior do governo,
para satisfazer apetites de poder e mando de putativos sucessores do Costa.
Como se isto não bastasse, o
prof. Marcelo continua a servir de apoio a estes desmandos, que muito
prejudicam o que vai restando da Nação.
Naturalmente, e aqui discordo parcialmente de RR, não
se trata só de mudar as moscas, porque a quantidade de b***a é muito maior do
que algumas vez tivemos em democracia. Logo, há muito mais moscas e com
capacidade de transmissão de males sem paralelo. Este é um ponto a reter, para
que se não desemboque no desânimo e na ladainha da falta de alternativas.
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