E a continuação. Uma síntese perfeita, de
José Maria Seabra Duque, a ter em
conta… o que não vai acontecer. O “L’État c’est moi” se impõe,
dos nossos
líderes de pacotilha, cobardes e traiçoeiros, quais raposas à espreita, no galinheiro
incauto. Cacarejemos, contudo, enquanto nos restar um pingo de vergonha. E de
asco.
A eutanásia e os pequenos Luís XIV
A única coisa que mudou desde o chumbo da
morte a pedido foi que agora têm os votos. Claramente, já ficou provado que não
têm a força da razão, apenas têm a razão da força.
OBSERVADOR,
17 fev 2020
Quando falamos da eutanásia, convém
lembrar como começou este processo e como chegamos a este ponto de votar cinco
projectos de lei nunca discutidos em campanha eleitoral, tão pouco tempo depois
do início da legislatura.
Tudo
começou com uma Petição aos deputados que foi promovida por… deputados!
Não havendo qualquer movimento na sociedade civil, não querendo os partidos
colocar o tema nos seus programas, alguns deputados, encabeçados por José
Manuel Pureza, desencantaram uma Petição Pública para levar o assunto à
Assembleia da República. Após quatro ou cinco meses de intensa publicidade
nos órgãos de comunicação social lá conseguiram oito mil assinaturas (enquanto
escrevo a Iniciativa Popular de Referendo sobre a Morte a Pedido já reuniu, só
no on-line e em apenas seis dias, mais de 11500). Assim se deu início a este
debate, gerado artificialmente por alguns deputados.
Foram
então ouvidos sobre o tema os especialistas.
Para além dos convidados dos partidos, regra geral alinhados com a posição
de quem os convidou, foram pedidos pareceres a órgãos públicos. O
resultado: a Ordem dos Psicólogos não tem opinião, mas tem reservas, a Ordem
dos Advogados, o mesmo, o Conselho Superior de Magistratura, igual. A Ordem dos
Médicos, a Ordem dos Enfermeiros e a Comissão Nacional de Éticas para Ciências
da Vida opuseram-se aos projectos de lei. Resumindo: os deputados
ouviram os especialistas e eles disseram que não.
Claro
que esta oposição não foi suficiente para travar os defensores da eutanásia que
levaram a votos quatro projectos de lei a pedir a sua legalização. O resultado
é conhecido: após uma grande campanha pública, com debates, vigílias e
manifestações por todo o país (incluindo duas que encheram o Largo de São
Bento) todos os
projectos foram chumbados no dia 29 de Maio de 2018.
Seguiu-se
a campanha eleitoral, onde o tema, embora constasse do programa do Bloco, do
Livre e do PAN, nunca foi abordado. Qualquer
pessoa mais desatenta poderia julgar que os defensores da eutanásia tinham
desistido, tal foi o silêncio sobre o assunto durante a campanha eleitoral.
Contudo,
o silêncio não foi por falta de interesse, mas por puro tacticismo eleitoral de
quem não quis explicar ao povo uma lei onde o Estado, que se tem demonstrado
incapaz de cuidar de quem precisa, permite a morte.
A
ausência de debate não impediu o Bloco de Esquerda de apresentar, logo no
primeiro dia da legislatura, um projecto de lei a pedir a legalização da morte
a pedido. Um assunto que não achou que merecesse ser debatido em campanha, mas
que achou suficientemente importante para ser o primeiro projecto de lei a ser
apresentado ao novo Parlamento!
Logo se seguiram os do Partido Socialista, do PAN, dos Verdes e, à última
hora, da Iniciativa Liberal. Depois de um simulacro de debate na Iª Comissão (nem
esperaram pelo parecer do CNECV), marcaram o debate e votação para dia 20 de
Fevereiro, decorridos apenas quatro meses do começo da legislatura.
O que mudou desde 29 de Maio de 2018? Os especialistas continuam contra, largos movimentos
da sociedade continuam contra, dois dos três antigos Presidentes vivos estão
contra, até o seleccionador nacional está contra! A única coisa que
mudou desde o chumbo da morte a pedido foi que agora têm os votos. Claramente,
já ficou provado que não têm a força da razão, apenas têm a razão da força.
O
debate e provável aprovação desta lei não são um exercício de democracia
representativa, são um mero exercício de poder! Vão aprovar a eutanásia, contra todos os avisos e
pareceres, pelo simples facto que têm poder para o fazer. Já não temos um Luís
XIV a dizer “l’état c’est moi”, temos 135 ou 150 reis-sol a afirmá-lo!
Por
isso é necessário o pedido de referendo. Não
porque este tema deva ser referendado, mas porque infelizmente os defensores da
eutanásia só percebem a linguagem do poder. Não vale a pena falar do
direito à Vida, de que o Estado não tem poder para matar, de que na Holanda, só
no ano passado, houve mil eutanásias sem expressão da vontade do doente, que as
barreiras colocadas nos projectos-lei são frágeis. Não vale a pena, porque eles
sabem e recusam-se a ouvir. Por isso pedimos o referendo. Já que os deputados
não ouvem os especialistas ao menos que oiçam o povo!
O Direito à Vida é o primeiro e o fundamento de todos os Direitos
Fundamentais. Não está ao dispor do Estado, mas antecede o próprio Estado. A
partir do momento em que o Estado se arroga no direito de decidir sobre a Vida,
está aberta a porta para a violação de todos os outros Direitos Fundamentais.
Por isso o referendo à eutanásia não é apenas a última linha de defesa dos
cidadãos contra esta lei iníqua, é a última linha de defesa contra o exercício
de poder gratuito dos deputados que se consideram acima dos Direitos
Fundamentais.
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