sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Retrato de um povo azarado



Capacho sempre, afinal, sem se dar conta, “raizosparta”, com os "aristozeros" tomando conta, até ao zero absoluto generalizado. Helena Matos descreve e prevê, com “a nudez forte da verdade, sem manto diáfano de fantasia”, hélas!
Os portugueses “raizosparta” e os aristozeros /premium
Os portugueses “raizosparta” são a desilusão da sua extraordinária classe política, esses aristozeros sempre empenhados em políticas pioneiras. Primeiro para a nossa vida. Agora para a nossa morte.
OBSERVADOR, 16 fev 2020
Os portugueses “raizosparta” nunca percebem nada.
Os portugueses “raizosparta” acreditavam que os deputados eram eleitos para que a sua vida fosse mais digna não para que os deputados, enfastiados da discussão em torno das condições de vida, se empenhassem com fúria e zelo na definição das condições da morte. Digna, dizem eles.
Os portugueses “raizosparta” são a desilusão da sua extraordinária classe política, esses aristozeros sempre empenhados em políticas pioneiras e superiores, em mais um plano, em mais um avanço… Quando, como de costume, o FMI é chamado pelos aristozeros, só encontra os portugueses “raizosparta” para pagar a conta.
Os portugueses “raizosparta” descobriram que são livres de pensar o que quiserem desde que pensem aquilo que os aristozeros definem como pensamento possível.
Os portugueses “raizosparta” quando ouvem os aristozeros a defender o “zero desperdício” só se lembram dos Espírito Santo a brincar aos pobrezinhos na Comporta ou, para usar a terminologia da moda, “refúgio hippie-chique” onde se vive “num estado mais puro”: uns e outros sentem-se em harmonia com o universo, brincando com as dificuldades dos portugueses “raizosparta”.
Os portugueses “raizosparta” acreditavam que viviam num país que tinha uma História e não um relatório de culpas.
Os portugueses “raizosparta” insistem em viver em sítios onde as leis superiormente inteligentes aprovadas pelos aristozeros produzem o efeito contrário ao anunciado e dado como inquestionável pelos aristozeros: a legislação que ia proteger os animais acabou com matilhas de cães assilvestrados a matarem ovelhas e a atacarem agricultores. Culpa dos portugueses “raizosparta” que insistem em ter rebanhos, essa forma de exploração dos animais pelo heteropatriarcado!
Os portugueses “raizosparta” nunca fazem o suficiente, nunca pagam impostos suficientes e nunca se esforçam o suficiente de modo a cumprirem o admirável mundo novo que os aristozeros lá das suas “ZERES” sonham impor. Uma ZER não é apenas uma Zona de Emissões Reduzidas, é sim a cidadela dos aristozeros: o local onde não há espaço para as questões irritantes dos portugueses “raizosparta” como os assaltos ou a degradação cívica, intelectual e moral que se vive nas escolas públicas. Apenas gente bonita achando que alimenta o mundo e o salva do impacto ambiental da agricultura industrializada porque cultiva ciboulettes em vasos ditos orgânicos na varanda.
Os portugueses “raizosparta” não têm uma mente aberta perante as causas que a cada momento os aristozeros lhe apresentam. Não é por má vontade, acrescento eu, mas sim porque é impossível acompanhar o ritmo das causas avançadas pelos aristozeros: por exemplo, como consegue um português “raizosparta” acompanhar as lutas contra o racismo que invariavelmente acabam com os anti-racistas de ontem a serem acusados de racismo pelos anti-racistas de hoje? (Enquanto escrevo vou seguindo a extraordinária polémica com o racismo do anti-racista Gilberto Gil que afinal agora é racista porque tem uma neta branca. Sigam os links que amanhã o racismo já é outro!) Outros fossem os tempos e dir-se-ia que o frenesim de causas dos aristozeros é uma pescadinha de rabo-na-boca mas logo aqui se armava uma confusão gastronómico-moral de consequências imprevisíveis, para os portugueses “raizosparta”, claro.
Os portugueses “raizosparta” acham, ou melhor achavam, que a cada novo problema correspondia uma nova solução. Oh estupidez de antologia! No tempo dos aristozeros a solução é a privação: o iogurte não pode ter gordura, o leite não tem lactose, o pão é sem glúten, os doces são expurgados do açúcar e o futuro deve ser sem. Por exemplo, sem carros. Se um estúpido português “raizosparta” lembra que andar de bicicleta no mês de Abril nas Avenidas Novas em Lisboa – local por excelência dos aristozeros – não é a mesma coisa que vir, no mês de Julho, do Bairro dos Cágados, do Casal Chapim ou de São Marcos para Lisboa é óbvio ao iluminado raciocínio dos aristozeros que só um um português “raizosparta”  acaba a viver em tais paragens.
Os portugueses “raizosparta” contavam anedotas de alentejanos, de louras, de pretos, de brancos… enfim, anedotas sobre si mesmos. Agora só podem rir daquilo que os aristozeros autorizam. E só devem ver filmes de realizadores aprovados a cada momento pela facção dominante dos aristozeros. Ler livros com mensagem de autores empenhados. E apenas lerem notícias devidamente certificadas pelos aristozeros.
Os portugueses “raizosparta”, porque são “raizosparta” e ainda por cima portugueses, gostavam de coisas “com”: cozido com carne e políticos com ideias. Mas os aristozeros tomaram a peito levá-los a achar natural que o zero é o futuro. Estamos quase lá: o SNS não tem medicamentos, as escolas não têm professores, as urgências não têm médicos, os transportes públicos não têm carruagens… mas a quem é que isso importa? Apenas aos portugueses “raizosparta”, uma gentinha que neste ano de 2020 vive e trabalha em sítios que nenhum aristozero verdadeiramente aristozero frequenta.
Os portugueses “raizosparta”, aqueles que sustentam isto tudo, que mantêm o país a funcionar, acreditaram que se fizessem mais um pouco, cumprissem mais aquele regulamento, obedecessem a mais aquele procedimento, seriam deixados em paz. Não foram. Do nascimento à morte têm os aristozeros a dizer-lhes o que devem fazer, como devem amar, comer, trabalhar, viver, morrer…
Mas os aristozeros andam inquietos. Depois de se terem zangado com o povo os aristozeros começam a irritar-se com as urnas de voto. Já não se pode confiar nos portugueses, “raizosparta”.
COMENTÁRIOS:
João Diogo: Excelente texto , na mouche , da ideologia de esquerda chic que nos é  imposta todos os dias na nossa vida.
Maria José Melo: A Eutanásia, viver ou morrer, é uma decisão meramente individual. Os outros não deverão intervir. A nossa vida pertence-nos. Devemos poder fazer dela o que quisermos. Chega de discussões estéreis!
Carlitos Sousa > Maria José Melo: O suicídio, assistido ou não, é um acto de liberdade individual na medida em que será a pessoa a infligir a sua morte. Convém perceber bem as diferenças, na medida em que se pode defender a morte não natural como um acto de liberdade individual no suicídio, mas não na eutanásia. Na eutanásia temos interferências, juízos de valor, e actos médicos de terceiros. A isso chama-se matar!
FFFFF NNNNN > Carlitos Sousa: Ora nem mais. Mas muita gente parece não perceber a diferença, ou finge não perceber
Liberal Impenitente > Carlitos Sousa: Matar a pedido de quem vai morrer de qualquer forma.
Ping PongYang: Mais um artigo genial da Dra Helena Matos ! Não... não acho que seja nada parecida com o Dr Charles Manson e além disso o Dr Passos Coelho também é um génio e tem um hálito perfumado !
RCP: excelente artigo. no entanto falta denúncia objectiva e clarividência necessária nas ruas e comunicação social. os portugueses parece que andam constantemente anestesiados..
Jorge Leite: Excelente artigo!
Carminda Damiao: Excelente texto, com excelente humor.
Manuel Carneiro: Muito bom artigo.
luis doria: Simplesmente brilhante!
Pedro Dragone: A eutanásia é, acima de tudo, uma questão de humanidade ou falta dela. Não é tema para se fazer chicana política. Isso é indigno. Shame on you!
Rui Kissol >  O Hitler não diria melhor... . Eutanaziou p/ melhor Eugenizar... . As Estórias p/ Totós têm imensos adeptos ...
Maria José Melo: Os portugueses “raizospartam” (raios os partam) Os “aristozeros” comandam a nossa vida e vivem à nossa custa. Os portugueses têm de “acordar “ para a realidade. Não podem continuar a “viver para dentro”, só a preocupar-se com a vida comezinha, alhearem-se da política, demitirem-se do seu direito e dever de cidadãos. Não devem deixar isso em mãos alheias. É evidente que, para que tal aconteça, é precisa uma educação desde pequeno. É necessária uma cultura de honestidade, conhecimento e participação cívica. Lamentavelmente, esta cultura não existe em Portugal. Vemos corrupção, compadrio, falsificação, má informação, prepotência, oportunismo por todo o lado: na política, nas instituições, em particulares. A sociedade está “enferma”, temos de encontrar uma cura, uma vacina...
Pedro Ferreira: Teste à censura. Excelente artigo.
Carlitos Sousa: Os portugueses “raizosparta”, parece que descobriram uma forte vacina contra  estes políticos da treta. Uma vacina a que nem o corvid-19 escapa ... CHEGA, CHEGA e vai subindo !
Pedro Mesquita Vasconcelos: Um excelente resumo daquilo q vai sendo a nossa vida no nosso país!
MCMCA: Os meus parabéns pela imaginação e arte de chamar fora de contexto aos aristozeros. Aquela de pensarmos que tínhamos um país com História e afinal somente temos um relatório de culpas é a caracterização mais perfeita de história de Portugal feita pelos politicamente correctos.

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