Só que agora encobertas sob a aparência
virtuosa de defesa dos interesses dos pobres coitados, visados nas tais
práticas da eutanásia, mais um aborto a construir cá no país, embora tenha sido
chumbada antes, a mesma proposta, referendada.
Mais um texto fundamental, este –
impecável - de Jaime Nogueira Pinto que os defensores das tais práticas não
vão ler, para não se sentirem equiparados à desumanização e perversidade
hitlerianas, aqui demonstradas. Virtuosamente, mesmo que sejam ateus, eles
erguem os olhos aos céus, quais beatas escandalizadas com os pecados do mundo, rejeitando
acusações e alardeando os seus bons propósitos altruístas no despachar dos que
estão cá a mais.
Por trinta dinheiros/premium
Os horrores praticados no passado em nome
da ideia de "evitar o sofrimento", ou da ciência e do progresso,
empurrando para a aniquilação aqueles cuja vida deixou de ter valor, pairam
ainda como uma sombra.
JAIME NOGUEIRA PINTO,
OBSERVADOR,
14 fev 2020
Bruscamente, sem que nada de
extraordinário se tivesse passado, senão um novo equilíbrio de forças na
Assembleia da República, a questão da despenalização da eutanásia volta ao
Parlamento.
Como e porquê, se ano e meio depois de
terem sido chumbados na Assembleia os projectos-lei para a legalização da morte
a pedido da vítima ou dos seus representantes nada mudou de substancial? Não
houve qualquer pressão da sociedade civil, a opinião contrária da Ordem dos
Médicos, da Ordem dos Enfermeiros e da Comissão de Ética para as Ciências da
Vida manteve-se, nada melhorou no SNS, os cuidados paliativos continuam a só
ser acessíveis a 30% da população, o testamento vital continua em vigor e o
programa com que o PS foi eleito não menciona sequer o tema. Então porquê
agora? Porquê a pressa? Porquê a urgência?
Talvez
porque a passagem do Orçamento Geral de Estado e do IVA da electricidade,
viabilizada pelo BE, tenha tido como moeda de troca a legalização da eutanásia.
E
esta entrega de uma licença para matar assim, por trinta dinheiros, parece
querer f de Júlio Dinis, por exemplo.azer-se à socapa, ignorando pareceres,
recusando um debate mais aprofundado, rejeitando adiamentos ou referendos
populares, fazendo vista grossa aos trágicos deslizes já bem visíveis nos
poucos países que legalizaram a eutanásia. É mais um destes abusos de poder da
classe política feito em circuito fechado, longe dos cidadãos, numa questão que
é, literalmente, de vida ou de morte.
Mas
é de liberdade individual que se trata, dizem; de decisão sobre a própria vida.
O Estado não quer interferir, não quer condicionar ninguém, mas, pelo sim pelo
não, oferece um livre-trânsito para uma “partida digna”. Pode não oferecer mais
nada, pode não oferecer qualidade de vida, mas oferece qualidade de morte. E
para isso disponibiliza recursos.
Não
gosto de ser apocalíptico, nem no conteúdo nem na forma, ou tão pouco de
anunciar coisas terríveis no tom profético de Jeremias ou de Ezequiel, um
chorando a Jerusalém perdida, outro pedindo o fogo dos céus sobre inimigos e
amigos. Mas não haverá lugar para um agravamento do pessimismo
perante esta vaga que, sob as bandeiras de um leviano libertarismo radical,
ataca, não só valores e crenças comunitárias, mas os próprios fundamentos do
Humanismo cristão, e até do Humanismo laico que caracterizou e ainda
caracteriza os ideais da esquerda não sibarita e não decadentista?
O pacto tácito entre a elite
plutocrática globalizante e os activistas das causas fracturantes levou certa
esquerda a abandonar os trabalhadores, os pobres e os marginais para cavalgar a
vitimização de minorias cada vez mais minoritárias e cada vez menos marginais.
Os potentados que dominam a “economia-mundo”, denunciada por Immanuel
Wallerstein, e que apenas pensam na multiplicação do lucro, fizeram este pacto
tácito com as novas esquerdas libertárias que querem, uma vez mais, mudar a
natureza das coisas e dos homens, trocando agora Lenine por Gramsci, e Marx
pelos marxismos imaginários e pelo marquês de Sade. O objectivo é acabar com as
fidelidades e lealdades comunitárias e recriar uma sociedade de plebes
sibaritas atomizadas, regidas por eles, os mandarins iluminados. Querem um
homem e uma sociedade que já nada têm que ver com os projectos comunistas e
socialistas tradicionais. Filiam-se antes numa linha libertária, mais próxima
do “divino marquês” do que de Marx – que ainda tinha um sentido ético,
judaico-cristão, laicizado no maniqueísmo da luta de classes.
Na versão portuguesa deste conluio
entre os sibaritas da globalização e seus capatazes e os esquerdistas radicais
da revolução dos costumes, o BE e afins abstêm-se e deixam o PS governar em
paz, de acordo com as regras do Banco Central Europeu e da detestada “Europa dos
interesses”. Em troca, o PS dá-lhes o rebuçado das “causas fracturantes”, como
se de uma minudência se tratasse.
É assim que, depois da ainda recente
derrota da legalização da eutanásia – graças também à bancada do PCP –, e sem
que nada se tenha alterado, a esquerda radical volta à carga, agora num quadro
parlamentar que lhe é circunstancialmente mais favorável. E prepara-se para
contrabandear a despenalização da eutanásia, escancarando portas que, uma vez
abertas, serão muito difíceis de fechar. Portas para tenebrosas coisas, que já
se abriram no passado.
Isto podia trazer à reflexão várias
considerações: porque é que tão poucos países do mundo aprovaram a eutanásia?
Na Europa, a Holanda, a Bélgica, a Suíça e o Luxemburgo. Fora da Europa, o
Canadá, a Colômbia, um estado na Austrália e nove estados nos Estados Unidos.
Ou seja, apesar da permissividade reinante em outras matérias fracturantes –
como o aborto e o casamento de pessoas do mesmo sexo – esta parece ter
levantado barreiras.
A tradição eugénica
Os horrores praticados em nome da
ideia de “evitar o sofrimento”, ou em nome da ciência e do progresso humano,
eliminando ou empurrando para a aniquilação aqueles cuja vida, por não ser
produtiva ou de alta qualidade, deixou de ter valor, pairam ainda como uma
sombra.
Ou deviam pairar. Até porque esta
nova sanha de decisão sobre a própria morte e da sua execução por profissionais
sobre vítimas que se sentem um fardo inútil e abandonado ao sofrimento (também
porque tudo à sua volta as induz a concluir que são um fardo inútil e as
abandona ao sofrimento), não é alheia ao “darwinismo social” e às portas que
abriu.
Ora
os pais e os avós deste darwinismo social eram um núcleo de respeitáveis
pensadores ingleses, de princípios iluminados e racionais, do século XVIII e
XIX: Thomas Malthus, Charles Darwin,
Herbert Spencer, Francis Galton. Galton, um homem de múltiplos conhecimentos e talentos,
nascido numa família abastada de banqueiros e fabricantes de armas e aparentado
com Darwin, era um pequeno génio que lia aos dois anos, sabia grego aos cinco e
devorava Shakespeare aos seis. Foi
ele o inventor da eugenia como método científico para aperfeiçoar a humanidade,
seleccionando as raças e as famílias que deviam ser encorajadas a viver e
ajudadas a prevalecer sobre as raças e as famílias “inferiores”, cuja
reprodução devia ser desencorajada.
Galton
fundou a Eugenics Review em 1909 e o primeiro Congresso Internacional
de Eugenia, em que Winston Churchill participou, realizou-se em 1912, um ano
depois da sua morte. Tudo muito científico, muito progressista, muito meritório
e muito respeitável. Tudo parte da imparável marcha do progresso.
Galton
teve inúmeros discípulos nos Estados Unidos e, mais tarde, na Alemanha. Nos
Estados Unidos, a ideia de conseguir, através da ciência, um aperfeiçoamento da
espécie, entrecruzando “os melhores” e “mais inteligentes”, levou à propagação
de sociedades eugénicas, apoiadas por fundações como a Carnegie Institution ou
a Rockfeller Foundation, que financiaram institutos que, a par de promoverem as
“raças superiores”, procuravam identificar elementos “inferiores” – na época,
imigrantes judeus e italianos.
Destes estudos surgiram vários
projectos – como um financiado pela Carnegie que visava, precisamente, “Cutting
Off the Defective Germ-Plasm in the Human Population”. Para realizar este
objectivo elencavam-se 18 pontos. O 8º era a
eutanásia. O método
recomendado para o eugenicídio era a “lethal chamber”, uma câmara de gás
manuseada localmente. Mesmo faltando à República americana cobertura legal para
o efeito, várias instituições médicas puseram mãos à obra: em Lincoln,
Illinois, administravam aos pacientes leites tóxicos, partindo do princípio de
que os mais aptos sobreviveriam; recém-nascidos menos aptos eram eugenizados, o
mesmo sucedendo aos internados em manicómios e noutras instituições de saúde
mental que não mostrassem melhoras. A segregação e esterilização dos menos
aptos foi outra solução. Cerca de 10.000 criaturas, na maioria mulheres, foram
esterilizadas na Califórnia.
Hitler
esteve sempre muito atento a estes
estudos e práticas. Desde 1924 que seguia os progressos eugénicos na
Grã-Bretanha e nos Estados Unidos com atenção e admiração. A eliminação de
indivíduos inaptos, de crianças deficientes, de doentes mentais, bem como a
esterilização dos racialmente inferiores, que os teóricos anglo-saxões tinham
seguido numa linha de purificação e melhoramento da raça, interessavam-lhe
particularmente. Num livro controverso (Hitler’s American Model – The
United States and the Making of Nazi Race Law) James Q. Whitman procurou
estudar a influência das leis segregacionistas do Sul norte-americano na
legislação racial alemã, nomeadamente no casamento inter-racial. As teorias
eugenistas e os programas de esterilização dos seres “inferiores” foram também
uma fonte de inspiração. Segundo John Toland, Hitler, que conhecia bem a
conquista do Oeste e que era, na juventude, um leitor entusiasta dos westerns de
Karl May, ter-se-á também inspirado nas reservas índias para os campos de
concentração.
Em 1906, o Estado de Oregon registou
a primeira legislação que levaria à aprovação da eutanásia. Seguiram-se,
décadas depois, casos conhecidos, em New Jersey, na Califórnia e no
Missouri, em que o debate girava quase sempre entre a vontade do enfermo,
previamente manifestada, e os princípios da lei geral, geralmente defendidos
pelos governos, pelas instituições dos profissionais de saúde e pelas igrejas
cristãs.
O
entusiasmo na Alemanha hitleriana por estas soluções parece-nos agora evidente:
a uma linha científica, materialista e vitalista com reflexos neo-pagãos
juntava-se a ideia de superioridade racial e dos perigos representados pelos
judeus. A eugenia anglo-saxónica e os seus princípios davam respeitabilidade e
cobertura político-científica aos planos do III Reich na matéria.
De
resto, já num filme de 1939, Acuso, produzido por iniciativa de Goebbels, se
contava a história de um distinto médico alemão cuja mulher, sofrendo de
esclerose em placas, pede para ser libertada da dor através do suicídio
assistido. É o marido que, perante a recusa dos médicos, o tem de executar.
Quando é levado a tribunal, passa de acusado a acusador dos médicos, que não
tinham sabido prestar a devida atenção ao sofrimento da mulher, acabando com
tudo.
O programa de eutanásia iniciou-se na
Alemanha em Outubro de 1939, propondo que as crianças que, até aos três anos,
mostrassem sinais de fraqueza ou de debilidade mental fossem enviadas para
clínicas pediátricas para serem tratadas. Muitas foram liquidadas por ingestão
de doses elevadas de medicamentos ou por privação de alimentos. Era um acto de
misericórdia, a sua qualidade de vida era nula, eram um peso para a família,
para a sociedade e para o Estado. Mais tarde – e a coberto da guerra –, estes
programas estenderam-se a adultos, em modelos operacionais coordenados pelo
gabinete do próprio Hitler. O modus
operandi era um inquérito sistemático às instalações hospitalares, com intuitos
puramente estatísticos. Depois, a dado momento, as equipas médicas e de
enfermagem, que incluíam profissionais de alta reputação, começavam a
seleccionar indivíduos com várias formas de demência, de origens raciais
suspeitas ou criminosos internados há mais de 5 anos para serem levados para
centros onde se procedia à sua eliminação. Aí eram gazeados e as cinzas enviadas
à família, juntamente com uma certidão que atribuía o óbito a outras causas,
que não a eutanásia. Eram seis as instituições hospitalares onde se procedia ao
gazeamento das vítimas. Setenta mil pessoas foram assim eliminadas. O programa
continuou, estendendo-se depois aos territórios ocupados, sobretudo na Europa
de Leste e na União Soviética, com efeitos catastróficos.
A eutanásia, a esterilização, a
engenharia genética foram sempre métodos praticados em nome de uma melhoria da
sociedade como um todo ou da purificação social. Aldous Hexley denunciou e
satirizou estes objectivos e as suas técnicas em Brave New World, onde
geneticamente se criava uma sociedade escrupulosamente hierárquica e guetizada,
regida por uma oligarquia superior. Os partidários da eugenia e os médicos do
extermínio científico industrial dos campos de morte utilizaram todos os meios
científicos disponíveis e experimentais na eliminação dos seres “inferiores”,
imprestáveis para viver numa sociedade perfeita.
A sedução da morte
Não vou, evidentemente, comparar as
boas intenções e a moral dos defensores da morte assistida com estes carrascos,
mas pareceu-me útil traçar aqui esta genealogia eugénica da eutanásia, as
portas que abre e os deslizes e abusos a que está sujeita. Há, evidentemente,
importantes diferenças a ressalvar, até porque o princípio agora proclamado e
reivindicado é a liberdade individual, o direito de decidir o tempo e o modo da
própria morte, o fim do sofrimento.
Mas
com que liberdade e autonomia? Não será a mera existência de uma lei que despenaliza
a morte a pedido e que disponibiliza os meios para que se execute uma poderosa
forma de coerção? Não será uma maneira particularmente eloquente de dizer a
quem sofre, a quem não é ou deixou de ser autónomo e produtivo, que a sua vida
não é digna, nem útil, nem desejável; que é um fardo para si mesmo, para a
família e para a sociedade e que, como tal, tem à sua disposição, não os
cuidados, a companhia, a valorização de que precisa, nem tão pouco esforços
nesse sentido, mas uma maneira prática e eficiente de pôr fim a tudo, executada
por profissionais com o alto patrocínio do Estado? Não será esta, por uso e por
abuso, uma nova forma de seleccionar vidas indignas, inferiores ou menos aptas
e de as empurrar para o extermínio? Não se estará a licenciar um instrumento
que, mesmo com as restrições que por agora se lhe querem impor, conduz
inevitavelmente – e estamos a ver isso na Holanda e na Suíça – à generalização
de um julgamento sobre a dignidade de certas vidas e a um encorajamento ao seu
fim?
A batalha pela imposição da eutanásia
que a esquerda festiva quer agora oportunisticamente ganhar, é uma dessas
batalhas simultaneamente simbólicas e decisivas, porque pode abrir caminho a
muito crime sem castigo, a muito pecado sem remorso, a muita infâmia em nome de
boas intenções. Quantos velhos e doentes, sobretudo em famílias modestas e de
poucos recursos, não irão pedir que lhes ponham termo à vida, para deixarem de
ser um peso para a família? E quantas famílias não lhes irão veladamente
sugerir que aceitem a generosa oferta do Estado?
Paradoxalmente,
as mentalidades libertárias contemporâneas, ao quererem atingir e ultrapassar
os limites da liberdade e do prazer, criaram uma sociedade de afluência e
consumo, de prazer e de prazeres, onde a velhice, a doença e a morte não têm
lugar onde se esconder. Sociedades que tentam evitar a todo o custo realidades
como o sofrimento físico e moral, a solidão e o que podem e devem fazer pelos
que estão nessas condições, com todas as dificuldades e sacrifícios que isso
implica (até porque, para tal, o Estado já não é tão célere a disponibilizar
recursos).
A eutanásia não é uma causa político-partidária, não se põe em termos
de esquerda ou direita, de religião ou laicismo, não traça sequer uma linha divisória
entre bons e maus. É uma causa de vida ou de morte e da nossa vida e morte
pessoal e colectiva, uma causa intimamente ligada à concepção do Homem e dos
seus caminhos. É uma causa comum e muito séria que não pode ser tratada com
leviandade, e muito menos ser usada como moeda de troca em negociações
partidárias.
Vi
a agonia de pessoas muito queridas que sofriam no limite do possível; e vi
também, nessas circunstâncias e no deserto de tudo, sinais e gestos de alívio,
de esperança e de vida intensa e plena. Porque o desespero do sofrimento físico
e moral, mesmo no limite da dor e da humilhação, pode sempre ser compensado
pelo amor, pela atenção e pelos cuidados dos que assistem os que sofrem.
Li
e fascinei-me, adolescente, com Werther e
com a sublimação da morte e do suicídio romântico. E com os dilemas agudos de Shakespeare
entre viver e morrer, na sedução
angustiada do hamletiano “To die, to sleep, perchance to dream” ou do belo e
trágico suicídio de Romeu e Julieta,
ao tomarem por morte o sono do ser amado, o aparente fim da sua razão de viver.
Todos temos em nós uma tentação de morte ou momentos em
que sentimos a sua sedução.
Impressionaram-me e emocionaram-me particularmente histórias reais, como a de
Ramon Sampedro, contada no Mar Adentro, de Alejandro Amenábar, com Javier Bardem como
protagonista. E, muito antes, Whose Life is it, Anyway, um filme de há quase 40
anos, de John Badham, com Richard Dreyfuss, outro tetraplégico que pede a
morte. Mas estes casos limite da arte e da vida não podem criar precedentes
legais que conduzam à desumanização integral, aos piores instintos e
contrabandos a infligir a terceiros. É que em nome de casos excepcionais para
os quais a morte poderá surgir como uma solução, não se podem abrir portas que
conduzam à banalização do massacre de inocentes, fragilizados pela doença, pela
dor, pela falta de acesso a cuidados de saúde, pela pobreza ou pela ausência da
família, dos amigos, do próximo.
E é aos que sofrem, não tanto de dores físicas, para as quais há
hoje quase sempre solução terapêutica, mas de uma completa solidão, de uma
sensação de inutilidade e de vazio; é aos “inaptos” que a sociedade vai
abandonando ao desespero, que os mandatários populares quadrienais querem agora
oferecer um passe social para a morte. Por trinta dinheiros.
COMENTÁRIOS
Maria Mendes: Excelente texto
Mvictor ferreira: Que cada um escolha a sua morte. Impossível não há!" (frase derradeira de Quincas Berro d'Agua)
Maria M CB: Muito bem!
Toni Fagundes: Texto útil Jaime. Mais um autor que sei que devo ignorar. Liberdade acima
de tudo, cada um sabe de si, especialmente para a própria vida.
Carlos Guerreiro: O estranho é ficar a eutanásia a cargo do SNS que nem consegue tratar os
que querem ficar vivos. Tendo em conta o número de mortes que ocorrem nas
listas de espera para cirurgias ou outros tratamentos, diria que a eutanásia já
está a funcionar e em velocidade de cruzeiro no SNS (e nem é preciso qualquer
comissão que será apenas mais um fonte de tachos para bois). teste
victor guerra: Nem vale ler o que pensa um direitista consagrado. Não respeitam a pessoa,
só a ideologia e a religião. Trata-se de descriminalizar um acto médico
Carlos Guerreiro > victor guerra: Não diga asneiras, o acto médico está definido por
lei, não é preciso ser “descriminalizado”. Matar alguém não é um acto médico. Acto médico segundo Regulamento 698/2019 “O acto
médico consiste na actividade diagnóstica, prognóstica, de vigilância, de
investigação, de perícias médico-legais, de codificação clínica, de auditoria
clínica, de prescrição e execução de medidas terapêuticas farmacológicas e não
farmacológicas, de técnicas médicas, cirúrgicas e de reabilitação, de promoção
da saúde e prevenção da doença em todas as suas dimensões, designadamente
física, mental e social das pessoas, grupos populacionais ou comunidades, no
respeito pelos valores deontológicos da profissão médica.”
Maria Nunes: Excelente.
Catarina Lopes: É que em nome de casos excepcionais para os quais a morte poderá surgir
como uma solução, não se podem abrir portas que conduzam à banalização do massacre
de inocentes, fragilizados pela doença, pela dor, pela falta de acesso a
cuidados de saúde, pela pobreza ou pela ausência da família, dos amigos, do
próximo. É mais ou menos o que me parece,
legisla-se para casos-limite, nem sabendo a quantas pessoas efectivamente
aplicaria. Um risco grande para um eventual pequeno benefício...
Glorioso SLB: Extenso, mas coloca todos os pontos q a mim tb me causam dúvidas. “Não será a mera existência
de uma lei que despenaliza a morte a pedido e que disponibiliza os meios para
que se execute uma poderosa forma de coerção? Não será uma maneira
particularmente eloquente de dizer a quem sofre, a quem não é ou deixou de ser
autónomo e produtivo, que a sua vida não é digna, nem útil, nem desejável; que
é um fardo para si mesmo, para a família e para a sociedade e que, como tal,
tem à sua disposição, não os cuidados, a companhia, a valorização de que
precisa, nem tão pouco esforços nesse sentido, mas uma maneira prática e
eficiente de pôr fim a tudo, executada por profissionais com o alto patrocínio
do Estado? Não será esta, por uso e por abuso, uma nova forma de seleccionar
vidas indignas, inferiores ou menos aptas e de as empurrar para o extermínio?
Não se estará a licenciar um instrumento que, mesmo com as restrições que por
agora se lhe querem impor, conduz inevitavelmente – e estamos a ver isso na
Holanda e na Suíça – à generalização de um julgamento sobre a dignidade de
certas vidas e a um encorajamento ao seu fim? “
João Martins: Se você já tivesse acompanhado até ao fim uma pessoa realmente em
sofrimento que passada a fase da morfina - que a certa altura deixa de fazer
efeito - já só geme, não consegue conter as fezes nem a urina e só pede um FIM
ABREVIADO... ...não escrevia esses
DISPARATES!!!
Glorioso SLB > João Martins: Pede a todos. A questão é se esse fim deve ser dado e
especialmente se esse pedido é feito de forma livre ou pressionada numa
situação de especial fragilidade.
João Martins > Glorioso SLB: Acredito que nem ela nem ele tenham sequer pensado na
eutanásia. Mas isso não é razão para a negarem aos outros Cada um é
sado-masoquista por sua conta e risco. Mas
ser sado-masoquista em relação aos outros é abuso.
João Martins > Glorioso SLB: Os profissionais de saúde fazem abortos a pedido das
mães (e não das crianças, obviamente). Isso
é que a meu ver um crime! Uma criança tem
futuro, uma vida inteira para viver. Um
moribundo tem apenas o sofrimento antes da morte inevitável!
Contra Ponto > João Martins Confundir embriões com crianças é obra. Só faltou
substituir "crianças" por idosos, tendo em conta a esperança de vida
dos nossos tempos.
Manifesto Futurista: O amor e carinho do próximo podem sobrepor-se ao indizível sofrimento
físico. Mas que dirá àqueles que não têm amor nem carinho que lhes mitigue o
sofrimento? O mundo não é um livro cor-de-rosa. Está afinal a dizer a quem
sofre e deseja morrer que não, não pode: tem sofrimento, não tem cuidados
paliativos, não tem amor e carinho que o aliviem e façam sentir que vale a pena
continuar vivo, e... tem de continuar assim.
Paulo Guerra: Que chorrilho de demagogia. Até quem sofre de solidão vai ter direito a
morte assistida. Já se sabia que vinha aí o discurso dos velhinhos.
Contra Ponto: Já agora, foi o sr. que invocou a figura dos 30 dinheiros? Pois, veja lá
que esses 30 dinheiros serviram para pagar um serviço de suicídio assistido por
parte de um certo Jesus que, sendo omnisciente, sabia que vinha à Terra para
ser condenado à morte e, sendo omnipotente, tinha poderes absolutos para
impedir a sua morte mas nada fez para a evitar. Logo, essa história dos 30
dinheiros está associada a um suicídio assistido e não deixa de ser caricato
que os crentes venerem um suicida mas tenham tantas dificuldades em aceitar que
outras pessoas desejem o mesmo. Por outro
lado, recordo que os adeptos da manutenção da penalização da eutanásia deviam,
em coerência, apresentar uma proposta de lei que criminalize o suicídio
falhado. Afinal de contas, se a autanásia não é defensável porque não somos
donos das nossas vidas (e atentamos contra a vontade de Deus), então que se
aplique a mesma lógica aos desgraçados que falham os seus actos suicidas.
Contra Ponto: Irra, que esta gente não entende: "O desespero do sofrimento físico e
moral, mesmo no limite da dor e da humilhação, pode sempre ser compensado pelo
amor, pela atenção e pelos cuidados dos que assistem os que sofrem.” Aplique a si mesmo essa lógica mas faça o favor
de guardar as suas inclinações sado-masoquistas para si. O sr. não é dono do
sofrimento alheio e muito menos pode pedir aos demais que sofram em nome de
valores, de crenças, de lógicas e de princípios que não são os seus. Se quer
sofrer (e acredite que não lhe desejo semelhante destino), esteja à vontade.
Longe de mim querer impedi-lo de viver a sua vida de acordo com os seus
valores, perspectivas, posições ou crenças. Agora, tenha um cómodo de respeito
pelas opções alheias e não queira impor as suas pieguices aos demais. Para sua
informação, bastaria a existência de uma única pessoa que não aceitasse a sua
visão e que desejasse a morte, para todo o seu discurso cair por terra. Mesmo
que 100 milhões de doentes prefiram sofrer desalmadamente, basta que exista um
pequeno número de pessoas que não querem para terem o direito ao fim das suas
vidas, já que essas pessoas não têm por que sofrer horrores indizíveis em nome de
lógicas partilhadas por outras pessoas mas não por elas.
MCMCA > Contra Ponto: Mas você tem lá opção de quê se quem vai decidir a sua
morte é uma comissão e por muito que você queira se eles decidirem não fica
vivo.
Paulo Guerra > MCMCA: O que consta dos projectos de lei é que a Comissão só
é chamada a pronunciar-se depois do parecer da junta médica. Que por sua vez só
é chamada a pronunciar-se depois do doente solicitar. Ninguém vai ser
eutanasiado! É o doente que pede. E só dentro de requisitos muito rigorosos com
vários patamares é que pode vir-lhe a ser concedido o direito em causa.
Contra Ponto > MCMCA: A comissão só tem de verificar se o meu pedido é
válido ou não de acordo com a lei. Se o meu pedido for válido a comissão só tem
de aprovar e o Estado só tem de agir em conformidade.
Jorge Maria Soares Lopes de Carvalho > Contra Ponto: Sou médico de uma equipa de cuidados paliativos desde
há 16 anos e por todas as experiências que vivenciei quero deixar o meu
obrigado e o obrigado dos já milhares que ajudámos a partir por este
excepcional texto de grande lucidez e coragem.
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