Que assim se deixa manietar, coitado.
Talvez porque não entenda o que está realmente em jogo. Dantes houve
Aljubarrota e Restauração. Hoje a restauração é outra, mais do foro gástrico,
com muitos arrotos à mistura. Os arrotos são fundamentais no obstáculo ao
entendimento. Pena é que nos fiquemos, para nosso recreio, pelas crónicas, como
esta, de Alberto Gonçalves, a alertar,
à sua maneira virulenta, pena que não surjam valentes aguerridos que se oponham
a tanta diarreia governativa. Pena que tais crónicas sejam apenas como um canto
do cisne. É, realmente, pena.
Antes a morte que tal sorte /premium
Agora a questão é a eutanásia e a dra.
Isabel Moreira, que encomendou o cérebro nos saldos do AliExpress, desdobra-se
em variedades televisivas a explicar que a vida humana não é um direito
absoluto.
ALBERTO GONÇALVES
OBSERVADOR, 15 FEV 2020,
A “agenda”
das questões ditas “fracturantes” já vem explícita no nome: quebrar, partir,
dividir, escaqueirar aos pedaços a sociedade entre o Bem (os que propõem a
“fractura”) e o Mal (os que se lhe opõem). Trata-se, claro, de um terreno
favorável a gente avessa a dúvidas ou hesitações, subtilezas ou gradações. É o
contexto preferido de brutamontes, histéricos e marxistas em geral. Uma coisa é
assim apenas porque os brutamontes a vêem assim, ou apenas porque os
brutamontes querem convencer os outros de que a vêem dessa maneira. Não há
permissão de contraditório. Os gostos dos brutamontes não se discutem:
impõem-se, naturalmente à bruta.
O pormenor da imposição não é
desprezível. Na grande maioria dos temas, uma pessoa saudável adopta aquilo que
acha melhor para a sua vida e nunca lhe ocorre converter os demais aos
respectivos hábitos ou princípios. Se não
sofrer de distúrbios psiquiátricos ou, desculpem a redundância, alucinações
ditatoriais, o sujeito que pratica uma dieta vegetariana não tentará forçar os
semelhantes ao consumo exclusivo de tofu e granola – por muito que lamente o
sofrimento da bicharada. De igual modo, se não for maluquinho, o sujeito que
não separa a humanidade em “raças” não cometerá a estupidez de imaginar um mundo
sem racismo, o sujeito indiferente à orientação sexual não tentará punir os que
não são indiferentes e o sujeito que não acredita em Deus dorme perfeitamente
sem fuzilar os devotos. Isto, repito, se o sujeito não for maluquinho.
Os
protagonistas das questões “fracturantes” são maluquinhos. Ou serão fanáticos?
Ou apenas arrogantes? Ou talvez oportunistas que vêem no tratamento simplório
de problemas relativamente complexos a possibilidade de arranjar uma espécie de
carreira? Por norma, os mais assanhados na batalha das “causas” são
criaturas sem vestígios palpáveis de serventia. Se, ao invés de ambição,
lhe faltar talento, lucidez ou competência, incluindo a necessária para
desentupir bueiros, o indivíduo é um forte candidato a enveredar com sucesso
num sector que, à semelhança das feiras medievais, das cidades-Natal e da
diabetes, se encontra em franco crescimento. Exemplo de uma figura
recorrente nestas lutas é o da sra. dona Fernanda Câncio, “jornalista” que,
apesar de ter privado anos com o “eng.” Sócrates sem suspeitar das
espalhafatosas trapaças do homem, se acha capacitada para apontar, aos
guinchos, o rumo que a sociedade deve seguir. Na versão pública e ruidosa, as
questões “fracturantes” nascem aqui, no feliz acasalamento da saloiice crónica
com a propensão totalitária.
Em Portugal, já tivemos sucessivas
questões “fracturantes”, que se dão a conhecer através de berreiros nos
“telejornais”, no “Prós e Contras” e nos programas matinais para donas de casa
e vítimas do rendimento mínimo. É curioso observar que, independentemente das
“fracturas”, os paladinos do progresso são quase sempre os mesmos,
profissionais do chinfrim e especialistas em vencer o adversário mediante danos
nos tímpanos e na paciência. É igualmente verdade que o primarismo puxa o primarismo,
e que os adversários dos paladinos do progresso também acabam a trocar
perdigotos acerca do assunto do momento, qualquer que este seja. O assunto, de
facto, é irrelevante: das grávidas aos gays, dos negros aos transsexuais
adolescentes, os alegados destinatários das questões “fracturantes” são
invariavelmente meros pretextos para que os paladinos do progresso brilhem,
besuntados de certezas inabaláveis por um terramoto.
Brilhar
e, fundamentalmente, ganhar. O ideal é que as questões “fracturantes” possam
ser aprovadas no parlamento, à revelia dos cidadãos por cuja autonomia esses
democratas dizem combater. Se o parlamento votar contra, é escusado o pânico:
repete-se a votação. Se votações repetidas não funcionarem a contento dos
democratas, não há chatices: vai-se para referendo. Se o referendo não tombar
para o lado que os democratas desejam, não custa nada: repete-se o referendo
até vencer o resultado que convém ao país. O importante é que, no final, os
paladinos do progresso consigam festejar o enxovalho dos opositores e a filha
do ex-ministro do Ultramar consiga acrescentar ao bracito nova tatuagem a
assinalar a proeza.
Agora a questão é a eutanásia e a dra. Isabel Moreira, que
encomendou o cérebro nos saldos do AliExpress.com, desdobra-se em variedades
televisivas a explicar que a vida humana não é, ao contrário do aborto, dos
lavabos sem sexo e da penugem nas axilas, um direito absoluto. Como se nota, o nível da argumentação
tem sido elevadíssimo, e assaz apropriado a uma matéria particularmente difícil
de caber em generalizações. Debate-se se a eutanásia merecia ser referendada
(para responder a qual pergunta?) ou desenrascada na AR (por 230 sumidades),
quando se devia estar a debater se a idade mental dos portugueses ronda os 12
anos. É óbvio que a eutanásia, uma delicadeza científica e filosófica, não cabe
neste circo. É óbvio que a AR aprovará uma aberração avulsa. É óbvio que,
pensando melhor, desligar a máquina que nos mantém presos a tamanha vergonha
não é mau de todo. Quem se despachar será poupado às “fracturas” da poligamia,
do incesto, da dra. Isabel Moreira e do canibalismo. Vão por mim.
COMENTÁRIOS
Adelino Lopes: Mais um
excelente artigo do AG. Expõe as contradições dos progressistas. Neste caso da
eutanásia, dizem que se trata de uma escolha individual, quando abominam o
liberalismo. Será porventura a primeira exceção às suas regras (decisões
embrulhadas para os outros aceitarem), terem uma lei em que as pessoas podem
decidir acerca do seu próprio futuro.
José Ramos: A pussy generation, baptizada
esplendidamente por Clint Eastwood, desde o Dolby Theatre em Hollywood até aos
cérebros ausentes da jornalista Câncio e da deputada Moreira, é realmente
"O Triunfo dos Porcos" com orelhas de burro. E julgam-se os
ditadorzecos bem pensantes...!
Gil Bernardes: Badajoz sempre
foi um óptimo lugar para resolver dilemas éticos, alguns bem mais
delicados do que este, e não me importo de ir conhecer a cidade se e
quando eu achar que sim (mesmo que vossas excelências achem quem não). Quanto
ao referendo, a acontecer, que seja num bom dia para ir à praia.
Ping PongYang: Fora de brincadeiras, ISTO é um assunto de tal forma complexo e pessoal,
que mais valia procurar um consenso sobre as situações e
condições da coisa, do que andar a discuti-la
como se fosse futebol...
Como de costume, o Dr. Rui Rio andou bem neste caso:
Liberal Impenitente > Ping PongYang: Quem anda a discutir o assunto como futebol, no
domínio da paixão e da irracionalidade, é a ICAR e as suas caixas de
ressonância.
Paulo Silva> Liberal Impenitente: LOL! E o PCP também é caixa de
ressonância da ICAR?!… O caro é um exemplo
acabado do que acaba de dizer, e o facto de nem se dar conta disso é só a
confirmação… É o vale tudo para denegrir o adversário.
José Ramos > Liberal Impenitente: Também é, mas é mais da turma
do cabelo no sovaco. E esta, ao contrário da Igreja de Roma, falta-lhe o pedigree e não tem o mínimo
vestígio de patine.
Ping PongYang: Pior é o PPC que é tão burro que até já chumbou nos exames à próstata:
no visor da máquina, em vez de Negativo,
apareceu Reprovado!
Paulo Silva: Em boa verdade não existem valores nem direitos absolutos, pois que estes
podem ser conflituantes entre si. Não choca que se diga que a Vida não é um
valor absoluto. É facilmente demonstrável relativamente às instituições mais
influentes da História da Humanidade, sejam da Igreja ou do Estado. Mas a Vida
é de facto um Valor, e a senhorita Isabel Moreira devia explicar o que
significa a inviolabilidade desse valor plasmada na lei fundamental de raiz
socialista, que a constitucionalista certamente tanto prezará… «A
vida humana é inviolável.» in n.º
1 do Artigo 24.º da CRP O que é que esta “merda” quer dizer?… É
letra morta?!...
Liberal ImpenitentePaulo Silva: Devia ser alterado. Bastaria dizer que a vida humana é
inviolável salvo nos casos excepcionais, dizendo quais são.
Paulo Silva > Liberal Impenitente: Isso quer dizer que andámos
todo este tempo enganados?…Mudar o texto de uma Lei é a coisa mais fácil de
fazer… e as autocracias são campeãs nisso.
Paulo Silva
> Liberal Impenitente: Não me respondeu se andámos todo
este tempo a sermos enganados...
A Lei pode ter sido feita por muitos ao longo dos
tempos, mas por vezes basta um, ou uns poucos, para de uma penada se desvirtuar
por completo o sentido de instituições seculares ou milenares. As leis podem
ser alteradas, mas não levianamente ao sabor das conveniências e maiorias
circunstanciais… PS: as suas sugestões correctivas
fazem-me lembrar aquela do “Animal Farm” do Orwell. Primeiro escreveram: «Todos os animais são iguais…» Depois
com toda a mestria da retórica e da demagogia mais absurdas, alguém, (que pode
ter sido a mesma pessoa que iniciou o texto), completou: «… mas uns são mais iguais que outros.»
Excelente!
Liberal
Impenitente > Paulo Silva: Se há alguém que andou a ser enganado, é o Paulo
Silva. As leis podem ser alteradas em Portugal pela Assembleia da República,
instituída pela constituição cripto-comunista de 1976.
Paulo Silva > Liberal Impenitente: Exacto. Se acha que eu e muitos
fomos enganados, foi por alguém...
Ping Pong > YangPaulo Silva:
Responda-me só uma coisa. O Sr.
é capaz de dizer isso com essa convicção, nos
olhos de um doente terminal com cancro do pulmão que está, na prática, a
sufocar em câmara lenta ? Não lhe vai dizer que precisa é dumas consultazinhas a peso de ouro na
Fundação Champalimaud ANTES de
sufocar inevitavelmente de vez... Ou é ISSO ?
Paulo Silva >Ping PongYang: Caro comentador com nick juche friendly, quem o diz
convictamente é quem fez e quem defende a sacrossanta CRP…
Liberal Impenitente: Para quem se considera liberal, Alberto Gonçalves presta um mau serviço à
liberdade daqueles que já sem esperança de viverem ainda podem pedir o alívio
do seu sofrimento: é o que quer dizer eutanásia, morte doce. Um meu cão foi
eutanasiado junto a mim, não falo de nenhuma abstracção. Concedo-lhe que é
possível que do parlamento dos tugas saia mais um aborto de lei, mas deixe ao
menos ver o que sai dali. Nada é que não serve. Nada dava aborto clandestino e
no estrangeiro. Não serve. P.S. As causas
dizem-se "fracturantes" porque são divisivas, incluindo dentro das
famílias políticas. Pode fazer as chalaças que quiser, mas está a enganar os
leitores.
Fernando
Ribeiro: A vida humana não
é um valor absoluto... frase que poderia ser dita por um nazi.
André Ondine: Isabel
Moreira é, ela mesmo, uma questão fracturante. E simboliza na perfeição esta nova
esquerda trendy que julga que tem o direito de nos ensinar a viver. Isabel é
pouco esperta, superficial e com fortes limitações culturais e éticas. Fala da
eutanásia como se esta fosse apenas mais uma causa para tactuar no seu braço.
Como auto-proclamada campeã das causas fracturantes, devia ser a primeira a
indignar-se por ver a eutanásia a ser negociada pelo PS e o BE, como moeda de
troca para outras negociatas. Mas a Isabel pensa pouco. A voz estridente
ofusca-lhe o raciocínio. E fica toda contente, pois só com estas coisas sai da
toca. Quanto à Sra Câncio, tem uma vantagem: escreve para o DN, que ,
ironicamente, padece de uma condição contrária à eutanásia. Está morto, mas
está sempre a pedir licença para viver. E não consegue.
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