Para que surtam efeito estas lições
magistrais, da pena de Jaime Nogueira
Pinto, que, devendo salientar-se no processo, se limita a expor
um
pensamento rico de conteúdo, mas já nulo em eficácia.
Sinais do tempo /premium
O tempo não é de guerra político-partidária. Para as
não-esquerdas e para as direitas o tempo é de contra-cultura, de guerra
cultural, aquela que sempre prepara o terreno para as grandes transformações.
JAIME NOGUEIRA PINTO OBSERVADOR,
31 JAN 2020, 00:1435
São pequenos sinais mas são
significativos. A eleição de
deputados pelo Chega e pela Iniciativa Liberal e agora a vitória de Francisco
Rodrigues dos Santos no Congresso do CDS marcam a quebra de alguns tabus na
vida partidária portuguesa e a hipotética chegada de alternativas. Ou
a tímida chegada a Portugal de um tempo em que a direita e as direitas deixam
de ser definidas pela negativa, como a não-esquerda.
O
modelo de combate é agora cultural, gramsciano, já não é leninista; até porque a luta política deixou de ser um
capítulo da luta armada, da “guerra civil europeia” inaugurada há um século
pela revolução bolchevique, que gerou as respostas do fascismo italiano e
depois do hitlerismo alemão – ou as intervenções e ditaduras militares na
Península, nos Balcãs e na Europa Oriental.
E nesse modelo de combate, as várias
esquerdas da Europa e dos Estados Unidos ainda dominam, porque souberam criar
bases na Academia, nos media e nas burocracias culturais de
distribuição de ideias, princípios e recursos. E induziram uma espécie de monopólio ou
ditadura intelectual que, sob
a aparência de uma singularidade convergente de opiniões, ou até de
“contra-cultura”, afina, na verdade, por um diapasão certificado, que
entretanto se tornou hegemónico e abertamente moralista e inquisitorial, com o
policiamento do pensamento e do vocabulário, a intimidação dissuasora, a
cooptação e marginalização de amigos ou inimigos destinados ao céu ou ao
inferno, à fama ou ao opróbrio. Os processos não são sequer subtis,
mas como são usados com permanência e persistência sistémicas, cansam e
dissuadem os adversários ou os não-alinhados.
Em
Portugal, a esquerda histórica criou uma “lenda negra” à volta do Estado
Novo e branqueou a República dos Democráticos; e, além de se atribuir o
monopólio da inteligência, incutiu na Terceira República, fundada em Abril de
74, um controlo ideológico regulado pelo Pacto MFA-Partidos, que foi um prólogo
pretoriano à Constituição de 1976. E como Deus-Pátria-Família
era a trilogia do “fascismo-salazarismo”,
passou a ideia de que, em democracia, os valores religiosos, patrióticos e
familiares não podiam nem deviam constar dos ideários políticos.
E
foi de tal modo assim que os partidos à direita do PS acabaram por adoptar uma
semântica de prudência e autocontrole, e a metade do país que não era de
esquerda mas que também não se revia nos “centros” do compromisso histórico do
regime foi votando resignadamente nesses centros como “mal menor”, ou foi
ficando em casa, contribuindo para os lusos records de abstenção
eleitoral.
A única reacção anti-esquerdista
tolerada aconteceu na economia; e assim se deu a amálgama entre “a direita” e
“os liberais”. Por isso, porque os
valores políticos nacionais, os valores sociais conservadores, os valores de
uma economia social de mercado estavam banidos e eram, para os “mandarins” da
Academia e dos media, uma anomalia perigosa ou o “fascismo a espreitar”,
em Portugal nada de novo aconteceu no campo político-partidário. E isto numa democracia estabilizada e num tempo de
renovação e transformação do tecido partidário europeu e de revivalismo
nacional.
É
essa ditadura intelectual e moral que, na teoria gramsciana, modela
o Zeitgeist cultural, que está, pela primeira vez, a ser contestada. Dois
casos – a eleição de André Ventura e a
escolha do 28º Congresso do CDS no fim-de-semana de 25-26 de Janeiro – marcam
essa ruptura com as ditaduras do “consenso anti-fascista” e do progressismo
civilizacional decadentista. André Ventura e Francisco Rodrigues
dos Santos são as
caras dessa mudança.
Embora
se possa pensar que, tanto para o Chega como para o Centro Democrático Social, o
triunfo de João Almeida, o candidato dos “notáveis” e da continuidade centrista,
tivesse sido melhor para efeitos de contraste e de escaramuça política, no que
nos deve interessar, que é a criação de um movimento nacional amplo que junte
as várias direitas, este quadro é o mais favorável. O terreno das ideias e dos
princípios alternativos a uma esquerda dominante há já quase meio século é
suficientemente vasto para que estas direitas tenham por onde crescer e se
multiplicar – ideologicamente, sociologicamente e politicamente – sem terem de
se hostilizar na disputa por fatias do eleitorado. Até porque, com a
linha de renovação nacional-conservadora que agora saiu vencedora do Congresso,
a sua tradição e os seus quadros, o CDS pode bem reconquistar o seu eleitorado
tradicional e crescer para os sectores conservadores da classe média; e o
Chega, ocupar o espaço de um nacionalismo mais popular ou populista, na linha
dos partidos da nova direita francesa, italiana e espanhola.E se em Portugal
não existem, por agora, comunidades migrantes culturalmente hostis com minorias
agressivas, como em França, ou problemas de separatismo que ponham em questão a
união do Estado, como em Espanha, existem dois campos de combate e de
alternativa: uma corrupção endémica, quer de cumplicidade pelo
encobrimento, quer por acção directa; e uma
agenda baseada em ideias delirantes e desfasadas do país e da realidade sobre a
natureza do homem e da sociedade, com consequências catastróficas para o
presente e para o futuro. Ideias simplistas que muitos nos querem impor como
“cientificamente comprovadas” ou como inevitáveis passos na “marcha do
progresso”.
O
tempo não é, assim, de mera guerra político-partidária. Foi nos “salões” do
iluminismo francês que se forjou o espírito da Revolução e nos “think tanks”
americanos que se abriram caminhos para a revolução conservadora dos anos 80.
O tempo, para as não-esquerdas e para as direitas, é
de contra-cultura, de guerra cultural, a guerra que sempre prepara o terreno
para as grandes transformações. As suas munições são outras, os seus quartéis também, e os seus
líderes e fileiras não podem perder-se em escaramuças pessoais.35
COMENTÁRIOS
Maria Emília Ranhada Santos: A diferença entre André e Francisco,
sendo os dois jovens, é a frontalidade! O discurso de Ventura é sempre frontal
e transparente, e as medidas do seu partido, são as que fazem a diferença total
entre a esquerda e a direita. Já Francisco, na mini-entrevista, não teve
coragem para se declarar contra o aborto, como um crime! Os portugueses
esperam dos novos políticos esta confirmação da defesa da vida humana em vez da
obsessiva preocupação com os cães e gatos. As pessoas sabem cuidar dos seus
animais, não precisamos de ocupar espaço legislativo com futilidades. Substituir os temas fundamentais por banalidades,
significa não saber governar.
Francisco Lobo de Vasconcellos: Excelente análise, mais uma vez. O que se tem
passado é um enorme abandono da participação dos que se identificam com a
"direita" (em todos os seus matizes) ou num conservadorismo (na
linha do pensamento de Roger Scruton) na vida pública, na sociedade civil e
acima de tudo, nos media. Seria interessante reflectir sobre isso: medo?,
desencanto?, desinteresse?...se uns desistem, outros ocupam o lugar.
Daniel Morgado: O Jaime identifica aqui na perfeição o cenário
hodierno onde se joga a salvaguarda da nossa liberdade. Sendo um facto
incontestável que estamos a chegar a esta nova luta com décadas de atraso — o
totalitarismo, na sua veste gramsciana, refugiou-se neste novo teatro operações
logo após o derrota definitiva do estalinismo — pergunto : como foi
possível a tanta gente estar distraída, ao mesmo tempo, durante todo este
tempo, permitindo que se atingisse um ponto tal, que só como de verdadeira
asfixia, muito próximo da capitulação, pode ser descrito ? Um outro aspecto
carecido de urgente reflexão e intervenção situa-se no domínio tecnológico. Em
duas facetas diferentes mas complementares. A primeira prende-se com as
chamadas "social media". Campos de batalha onde exércitos de
totalitaristas têm logrado estabelecer um devastador império de terror. Cujas
vítimas são diárias e incontáveis. Centrando-se o outro esteio do terror, de
todos o mais nocívo, nas grandes empresas tecnológicas americanas. Domínios do
mais absoluto marxismo cultural e centros da sua irradiação com uma amplitude
demolidora.
Joao Moreno: É sempre um
prazer ler os artigos do Professor Nogueira Pinto.
Oliver Klein: Cultura… Eis a dimensão
que à direita moderna sempre
foi avara ou mesmo ausente, nas palavras lúcidas de Raymond Aron...
antonyo antonyo: Completamente de acordo.
Luís Martins: A mudança, a acontecer, levará muito tempo. A esquerda
tem a enorme vantagem de ter imposto os seus dogmas pela força das armas, num
golpe militar. Como libertar o espaço mediático desta ditadura da esquerda?
Como libertar o "contribuinte" deste estado de servidão-escravatura a
que a esquerda o sujeita (a troco de miséria!)? Como libertar a escola pública
do espartilho que condiciona o potencial criativo e a coragem de assumir o
risco? Como mudar se o debate é proibido-condicionado?
Jorge Maria Soares Lopes de Carvalho: Obrigado cá estaremos presentes mais uma
vez na batalha contra os renegados canhestros e seus lacaios da descomunicação
insocial. Viva Portugal
Adelino Lopes: Perspectiva interessante. Mas, (existe sempre um mas)
eu sou dos que acredita que sociologicamente o povo Português é socialista.
Sente-se mais confortável numa estrutura centralizada no estado. Até pode
jogar aqui e ali no risco, mas iniciativa consistente quase não existe e a
inteligência fica guardada para o chico-espertismo. Pense bem, quais foram
as individualidades (de 2019) mais admiradas neste país. Consegue mencionar
alguém com iniciativa empresarial? Só música, futebol, políticos, advogados,
Rui’s Pinto, etc, não é? Portanto ….
Carlitos Sousa > Adelino
Lopes: Pelos votos
escrutinados, é verdade que o país é socialista. Mas se pensarmos que há quase
50% de abstencionistas, acreditando que a grande maioria será eleitorado não
fidelizado ou da direita desiludida e descrente; verificando que no passado já
houve várias maiorias de direita, e até presidenciais, não me surpreenderia uma
grande reviravolta.
Carlitos Sousa: Muito bom!! A chamada de atenção oportuna,
para a pequena picardia entre André e Chicão, que não precisam disputar o
“mesmo” eleitorado, mas eleitorado distinto da direita. Assim como o PSD. Ao
contrário do que tenho lido a vários colunistas do Observador, em vez de
criticar 3 dos 4 partidos não esquerdistas em favor do outro, Jaime Nogueira
Pinto apela à conjugação de esforços para abranger o maior leque de opções
políticas no centro direita. A direita
só volta a ser poder se somar uma maioria de votos. Muito bem.
António Sennfelt: Curiosa, e simultaneamente muito reveladora, a
ausência de qualquer menção ao IL!
Maria Nunes: Excelente como
sempre.
Combate aos BURROS e ANALFABETOS do Observador: Jaime Nogueira
Pinto, Não é a mudança de líder do CDS ou a eleição de André
Ventura em Lisboa, que matematicamente só aconteceu porque o número de
deputados naquele círculo eleitoral passou de 47 para 48 e ele foi o último a
entrar para a AR, que vai mudar o que quer que seja. O problema do PSD e do CDS
é que o seu espaço político foi ocupado pelo PS, bastando para isso olhar para
as políticas económicas propostas por cada um: quem quis dar mais aos
professores ou agora quer dar mais na redução do IVA da electricidade? O PS?
Não. O PSD e o CDS. O verdadeiro partido de Centro em Portugal em termos de
política económica e financeira (rigor nas contas públicas, enorme
credibilidade nos mercados internacionais de dívida e controlo do défice orçamental)
passou a ser o PS que em termos de política económico-financeira foi capaz
de concretizar o que PSD e CDS sempre sonharam (desde os tempos do
Professor Cavaco Silva - lembra-se dos seus défices orçamentais superiores a
seis por cento do PIB?) mas nunca foram capazes de implementar.
Manuel Barradas: Claro, oportuno e firme !
Pedro Santos da Cunha: Jaime . Mais uma vez muitos Parabéns pelo teu
artigo. Grande Abraço Amigo! Pedro
António Marques Mendes: Esta conjugação das direitas reaccionárias defendida
pelo autor é uma espécie de ancien régime que continuaria a atrofiar o país.
Partidos como o PSD, IL e CDS? precisam de se mobilizar para erguer as
bandeiras da direita moderna e progressista e isso também passa por se demarcar
da direita reaccionária.
Ana Ferreira: Precisamente pelas razões aqui elencadas por JNP, é
absolutamente imprescindível um PSD claramente da Direita conservadora
tradicional, o que, tudo indica, parece ser o objectivo do pragmático Rui Rio!
Sound Garden > Ana Ferreira; O PSD nunca vai ser de Direita. Não
existe isso na Social Democracia, muito menos conservador. A social democracia
é centro esquerda, aqui e em qualquer parte do Mundo. O único partido que
teve essa oportunidade durante estes 45 anos depois do 25 de Abril foi o CDS e
nunca quis ocupar esse lugar, por isso, o único que é de Direita Conservadora e
ao tem medo de o assumir é o CHEGA.
victor guerra: Felizmente que há mudanças. Pequeníssimas, em relação
ao que este país e a sua podridão bafienta precisaria. E ainda virão mais
mudanças, mas de fora, impostas pelos tempos e pelos credores- Se querem vencer
esse combate, não se esqueçam também de comprar uns tantos jornalistas. Mas
para isso é preciso dinheiro.
O Famoso Faisão: Olho por olho dente por dente.... A esquerda tem este
ascendente sobre nós todos porque ninguém lhe fez frente por medo. O CDS já
morreu, pois teve o tempo para mostrar os dentes e colocou o rabo entre as
pernas. O pussy que foi eleito este fim de semana vai servir apenas para fechar
a água, desligar a luz e fechar a porta. O tempo agora é do Ventura....
Luís Rodrigues: Artigo lúcido, que em particular explica por que Rui
Ramos não tem razão na sua crónica de hoje.
Pedro Ferreira: Excelente artigo, doutrina da boa. Parabéns!
Sound Garden: Eu não acredito no CDS, nem no líder do CDS. O CDS é
um partido do sistema, já o é desde a sua fundação e não é agora que vai mudar.
O tempo agora é do CHEGA. André Ventura está a mostrar uma dignidade incrível,
está a demonstrar um sentido de responsabilidade enorme. Vejo o André Ventura
como Primeiro Ministro e a representar muitíssimo bem Portugal e o povo
português dentro e fora do pais.
José Alves: Excelente texto. Primeiro ganha-se o combate das
ideias e só depois se ganham eleições e o poder sustentado para as aplicar.
Cumprimentos.
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