Enviado por João Lacerda:
“Pessoal, reenvio este email, pois acho interessante
ter uma perspectiva diferente. Não deixem de ver o filme do preto de S. Tomé,
nem deixem de ver o Cristiano Ronaldo a ser ofendido em Espanha.
O texto, de Cristina Miranda, é uma exposição de uma pessoa honesta e
equilibrada, capaz de distinguir entre racismo e má criação, e identificar, em
Marega, o aproveitamento eficaz de uma corrente desordeira ou maliciosa que o desculpabiliza
no seu gesto desordeiro de indignação, como chamariz de uma incriminação de
racismo, que é o que está a dar neste nosso país de seguidismo acusatório de baixa
orientação esquerdista. Marega, de resto, o texto o prova, foi um exemplo de
figura conflituosa, que várias vezes se excedeu nos seus arrebatamentos mal-educados,
muitas vezes desculpado e, desta vez, com campo amplamente aberto para avolumar
as suas razões de queixa, levado aos ombros por uma imprensa de abjecta
cedência aos preceitos “humanitários” da voga comunista. Cristina Miranda apresenta o seu caso pessoal,
integrando-o num mundo perverso que também sofreu, mas sabendo relativizar as
questões dentro de uma generalidade de agressão a que ninguém escapa, num mundo
de castas e de desníveis sociais que por toda a parte imperam, quando a falta
de educação ou a cegueira ideológica maliciosamente e vilmente se impõem. No
seu texto, sobressai a figura do seu pai, com a característica de educador
vivido e sábio, que justifica a honestidade e ponderação da filha:
Marega, não é por seres preto
24
Fevereiro, 2020
Digam ao Marega que a estupidez
humana não tem cor e meia dúzia de energúmenos não representam um país. Que tem
razão: aquilo – a imitação de sons de macacos – não se faz. Aquilo não é de
gente civilizada e tem de ser punido. Mas que não foi pelo tom da sua pele. Foi
por estupidez.
Perguntem
se é verdade que foi trazido de clubes sem qualquer relevo para o Marítimo da
Madeira, em 2014/2015, mas revelou desde cedo uma queda para indisciplina e
descontrolo emocional que lhe valeram várias multas e suspensões e
mesmo assim, foi acarinhado pelo clube pelo seu brilhantismo.
Perguntem
se é verdade que depois de transferido para o FCP, a prestação caiu a pique e, só
por isso, passou a ser a anedota azul e branca.
Perguntem
se é verdade que mesmo com a popularidade em baixa foi emprestado ao Vitória
perante a perplexidade de alguns que não lhe viam valor futebolístico, mas
mesmo assim, de camisola vestida, foi recebido com carinho e apoiado como
qualquer outro jogador, tendo recebido aplausos quando os mereceu e reprovação,
como qualquer outro, quando desiludia.
Perguntem
se é verdade que vestindo o equipamento do Vitória, num jogo perante o
Nacional, se descontrolou e sem mais deu um estalo num adversário valendo-lhe
uma expulsão e que ao sair do relvado ainda insultou com palavras e gestos
adeptos do Vitória, partindo tudo o que lhe apareceu à frente no balneário.
Perguntem
se é verdade que mesmo com estes comportamentos a SAD Vitoriana não deixou cair
o jogador e procurou a reintegração no grupo, enquanto os adeptos também lhe
perdoavam.
Perguntem
se é verdade que se tornou um ídolo dos adeptos do Vitória por ter feito uma
excelente época no clube.
Perguntem
se é verdade que trocou o Vitória que o idolatrou pelo FCP, reabilitado e com
prestigio em alta, fazendo questão de agradecer ao clube vitoriano por tudo o
que por ele fizeram.
Perguntem
se é verdade que nos 2 anos seguintes, sempre que as 2 equipas se encontravam, era
aplaudido pelo adeptos vitória até mesmo quando saiu lesionado num jogo, onde
foi aplaudido de pé.
Perguntem
se é verdade que no fatídico dia da polémica racista marcado pelo famoso
abandono do estádio, no aquecimento com FCP, os adeptos (cerca de 5) estavam a
mandar “bocas” aos jogadores adversários como acontece em qualquer jogo de
futebol e não um em particular; que no decorrer do jogo não houve insultos
apenas descontentamento dos adeptos do FCP por falhanço de golo; que chegados
ao minuto 60, assim que se deu o golo, inesperadamente foi festejar junto dos
adeptos do Vitória provocando-os com gestos e palavras e que imediatamente
reagiram com vaias, insultos e arremesso de cadeiras, não por ser negro; que em
reacção ao sucedido, sempre que tocava na bola os adeptos não lhe perdoavam a
traição, insultando-o.
Quando
era criança, no Canadá sofri de racismo e não sou preta. Sei o que é essa
humilhação, porque com 9 anos ouvi um pavilhão gimnodesportivo inteiro apinhado
de alunos em sonoras gargalhadas, assim que o meu nome foi anunciado nos
microfones para subir ao palco para receber uma medalha de atletismo. Ainda
hoje consigo ouvir toda a gente a tentar pronunciar o meu nome “estranho” com
sotaque canadiano – “Gonçalves” – perdidos de riso. Em vez de sair dali a
correr enfrentei a multidão, caminhando por entre eles de cabeça baixa e a
tentar suspender as lágrimas enquanto a vontade de desaparecer e a vergonha
tomavam conta de mim, num momento que deveria ter sido de euforia mas que se
transformou num pesadelo. Porque ser portuguesa, ter uma língua e nome
esquisitos, vestir como uma provinciana pobre, ser patinho feio e ter ainda ar
de “chinezinha”, num país que não era o meu, valeu-me episódios como esse e
tantos outros e não ter por isso quem quisesse brincar comigo na escola.
Ninguém. A não ser, claro, outros rejeitados como eu.
Chegava a casa em choro e dizia em
pranto, cheia de raiva, que não queria voltar mais à escola. Mas o meu pai
ensinou-me que a melhor forma de combater a exclusão, seja pelo que for, era
ignorar e focar-me apenas em lutar por ser a melhor na conquista dos meus
objectivos e que aí chegada todos se esqueceriam da cor, da etnia, da cultura,
e passariam a ver apenas a pessoa. Que o mundo era assim em todo o lado em
relação às diferenças. A vida mostrou que tinha razão.
No futebol é sabido que não é preciso
ser-se preto para sofrer de racismo. E que ser preto não implica necessariamente
que o haja. Que o diga Cristiano
Ronaldo também alvo desses ataques
racistas em Espanha (veja aqui) e que soube ignorar como só um
grande profissional o sabe fazer. Exactamente como me foi ensinado pelo meu
pai. Como diz aqui neste vídeo um insuspeito africano que
não se revê no comportamento de Marega: “não é racismo e quem
vai para o futebol tem de saber que isso (insultos) faz parte do ofício”.
Tão verdade que nem Eusébio, hoje a
descansar no Panteão, escapou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário