terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Show nos palcos


Do teatro e da vida. Também assisti, graças aos poderes televisivos, naturalmente. Mas agradeço a transmissão escrita, a de Miguel Esteves Cardoso com um cheirinho do filme que ele já viu, Lucinda Canelas com a reportagenzinha sobre as sensibilidades dos premiados, todos os anos revelando-se pela emoção ou a alegria, por vezes o humor, este ano também pelo exibicionismo transbordante, fruto dos tempos, que os comentadores malandros não deixaram escapar.
OPINIÃO
Só um grande filme
Bong não escolheu o que queria pôr lá dentro: pôs tudo. Parasitas é rico, generoso, sábio, profundo, divertido, rapidíssimo, cómico e grotesco.
PÚBLICO, 11 de Fevereiro de 2020
Ainda bem que os Óscares acertam de vez em quando. A vitória de Parasitas também foi mais doce pela derrota do auto-mecânico 1917 do que injusto pelo esquecimento de The Irishman.
O filme de Bong Joon-ho não é nem de longe tão bom como as muitas obras-primas do cinema que nunca (nunca!) foram eleitas os melhores filmes do ano pela Academia.
Nem sequer é uma obra-prima. Bong Joon-ho é um cineasta talentoso e imaginativo mas nunca será um grande realizador porque lhe falta originalidade, uma visão estética e aquele capacidade para provocar o arrebatamento (e não apenas o medo, o riso, o gozo, a envolvência) que só tiveram poucas artistas do cinema.
É preciso este aviso para garantir que quem vá agora ver Os Parasitas não fique desiludido. Bong Joon-ho não é Ford nem Capra nem Hitchcock. Mas, lá está, faz pensar (e bem) no cinema destes mestres - e sem ser meramente derivativo.
Os primeiros dois-terços do filme são melhores do que o último até porque outro artista que Bong não é é Buñuel, apesar do filme ser selvaticamente Buñueliano.
Parasitas é um delicioso exagero cometido com uma sinceridade violenta. É uma comédia com bom coração sobre a maior injustiça de todas. Só ter uma ambição tão gigantesca já seria de admirar. Conseguir realizá-la, como Bong claramente consegue, é espantoso.
Bong não escolheu o que queria pôr lá dentro: pôs tudo. Parasitas é rico, generoso, sábio, profundo, divertido, rapidíssimo, cómico e grotesco. Tudo ao mesmo tempo, sempre com humanidade, coragem e invenção. Chega e sobra.
Joaquin Phoenix: “Tenho sido um canalha toda a vida”
Actor fez um discurso altamente politizado, e íntimo, no palco do Dolby Theatre de Los Angeles, com o Óscar de Melhor Actor na mão. A defesa do planeta e dos animais, a luta contra qualquer forma de injustiça, a evocação do irmão, River. E um mea culpa.
PÚBLICO, 10 de Fevereiro de 2020
Joaquin Phoenix fez um discurso emocionado, despedindo-se com uma frase do irmão REUTERS/MARIO ANZUONI
Ouvimos um tímido Bong Joon-Ho citar Martin Scorsese e atirar um “I love you” a Quentin Tarantino por nunca se esquecer dos seus filmes depois de ganhar o Óscar de Melhor Realizador pelo seu Parasitas. Ouvimos Brad Pitt, com a voz embargada, falar de Hollywood como a terra dos sonhos dedicando o prémio de Melhor Actor Secundário aos filhos (é a primeira vez que a Academia de Ciências Cinematográficas reconhece o seu mérito como intérprete). E ouvimos Laura Dern, de lágrimas nos olhos, dizer que os heróis da sua vida foram os pais. Mas, se houvesse um prémio para o discurso mais emocionante da noite, provavelmente ele iria direitinho para Joaquin Phoenix, que, sem surpresas, subiu ao palco para receber a estatueta dourada reservada ao Melhor Actor Principal pelo seu inesquecível Joker.
Com uma temporada de prémios perfeita que lhe valeu, por exemplo, um Globo de Ouro e um BAFTA, Phoenix, resolveu fazer uma espécie de best of dos seus discursos de aceitação da colheita 2019-2020 na noite deste domingo (madrugada em Portugal) no Dolby Theatre de Los Angeles.
O actor de 45 anos que nos habituou a vê-lo vestir a pele de personagens sombrias, complexas, atormentadas, voltou a aproveitar o tempo de antena que o seu trabalho no filme realizado por Todd Phillips lhe tem dado para advogar por algumas das causas que lhe são caras, desde a preservação do planeta à necessidade de garantir que há mais diversidade de género ou de raça na indústria do cinema.
“Quer estejamos a falar de desigualdade de género ou de racismo, de direitos queer ou de direitos dos povos indígenas e dos animais, é sempre da luta contra a injustiça que se trata. Estamos a falar da luta contra a crença de que uma nação, um povo, uma raça, um género, uma espécie tem o direito de dominar, usar e controlar outra com impunidade”, disse o protagonista de Joker, num discurso que, sendo altamente politizado, teve também espaço para um certo intimismo nascido de uma certa auto-análise.Tenho sido um canalha toda a vida, tenho sido egoísta. Tenho sido por vezes cruel, difícil no trabalho, e sinto-me grato porque muitos dos que estão nesta sala me deram uma segunda oportunidade. Acho que é aí que estamos no nosso melhor: quando nos apoiamos uns aos outros. Não quando nos recriminamos pelos nossos erros do passado, mas quando nos ajudamos a crescer. Quando nos educamos uns aos outros, quando nos levamos uns aos outros à redenção.”
Momentos antes, o actor que a Academia já nomeara por filmes como Gladiador, Walk the Line ou O Mentor, reconhecido activista ambiental e vegan desde os três anos, lembrou que as pessoas estão cada vez mais desligadas do mundo natural, evocando de forma contundente os direitos dos animais: “Sentimo-nos no direito de inseminar uma vaca artificialmente e tirar-lhe o seu bebé, apesar dos seus berros de angústia inconfundíveis. Depois pegamos no leite que estava destinado à cria e pomo-lo no nosso café e nos nossos cereais.”
Na despedida, o actor que deu corpo ao vilão de Gotham City, ao deprimido e vulnerável Arthur Fleck, um aspirante a comediante, evocou o também o actor River Phoenix, o irmão que morreu com uma overdose em 1993, à porta da discoteca The Viper Room, na Califórnia, quando tinha apenas 23 anos. “Aos 17, o meu irmão escreveu uma letra para uma canção. Dizia: ‘Corre para a salvação com amor e a paz virá’.” E abandonou o palco.
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Matias Rubio: Palhaço. Devia estar bêbado.
José Manuel Martins, 10.02.2020 : phoenix como a continuação de joker por outros meios: na verdade, o par desdobra-se por ainda um outro personagem mais, o hyde-jeckill. Estava a ver quando é que marrava directamente no trump. Quanto a Pitt, já por Ad Astra podia ter recebido o de melhor actor. Banderas teve azar com a concorrência do ano. Mas sim, foram breves discursos tocantes, todos eles. Continuo algo dividido entre joker e parasitas. Mas o essencial da minha repulsa pelo institucionalismo dos óscares, é o quanto eles são um factor de anti-cinema: a história dos óscares mente e desfigura a história essencial daquilo que o cinema é (os nobel de literatura não lhe ficam atrás). E a consagração do filme coreano, ao corrigir historicamente o erro, não faz senão agravá-lo retrospectivamente. A dupla vitória cheira a frete.
Fialho, 10.02.2020: fazer uma espécie de best of dos seus discursos. Uau ! Excelente português !!!!!!!
Fernando Costa, 10.02.2020: Segundo parece vai passar a partilhar os seus honorários como actor com os pobres.
rafael.guerra, 10.02.2020 : Phoenix renasceu das cinzas para brilhar sobre o que existe de mais canalha no espírito humano...
felipe silva, 10.02.2020: Deus, a que tipo de humilhação pública as pessoas passam, para ter 5 minutos de fama!
Jo ao Manuel, 10.02.2020: O Joaquin Phoenix não depende deste discurso para ter fama...
Pericles Pinto, 10.02.2020 : Um dia, o Joaquim prova uma fatia de pata negra com 3 anos de cura e deixa-se destas tretas...
José Manuel Martins: 10.02.2020 : bah, bastava um jaquinzinho frito com arroz de grelos...

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