quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

“Futebol, Fado, Fátima…”



Sempre que passo por programas sobre o futebol, geralmente em alturas de exaltação das vozes dos pares convidados – e são muitas as ocasiões – fujo deles como o diabo da cruz, mudando de canal, no espanto antigo com o relevo que se dá, por cá, aos jogos e aos clubes e aos participantes dos clubes ou dos jogos, pela renhida discussão que, de passagem, capto em torno dos nobres assuntos desportivos e, embora a correr, verifico quão bem timbradas são as vozes acaloradas dos entrevistados. Os debates políticos, por contraste - tirando O Eixo do Mal que se propõe castigar, com maior ou menor ironia, os desmandos habituais do nosso palco nacional, e por isso às vezes se atropela em algazarra ou confusão – os debates políticos nem sempre são conseguidos com igual galhardia, talvez por exigirem uma elaboração mental e de elocução mais cuidadosas, requerendo ponderação e estudo. Aliás, sempre me espantam os discursos arrumados em velocidade conclusiva de Marques Mendes, que admiro na sua qualidade de aclarador do presente e do passado e de vaticinador do futuro, que devem criar nele uma consciência de tranquila omnisciência poderosa.
Mas percalços de saúde, com mais disponibilidade para preguiçar, fizeram-me atentar mais, hoje, num desses programas clubísticos e escutei, por algum tempo, as discussões sobre coisas graves que se passam por lá, pelos clubes, sobre uma corrupção generalizada que chega ao foro da própria arbitragem. Ouvi o valente discurso de um dos convidados, sobre um qualquer árbitro e sobre os árbitros em geral, em quem se não pode confiar, condenando com grandes brados declamatórios tais procedimentos hodiernos que tudo e todos sujam com esses ataques, não poupando os árbitros, “pais de família”, e desejando, em alta voz, de seriedade insuspeita, que tal vazadoiro pare de escorrer, fértil e feio. Um discurso cheio de moral e de muito saber, como devem ser todos os que nunca ouvi, a não ser em passagem fugaz, e pude admirar a nossa capacidade discursiva, que sempre pusera em dúvida – excepto em casos específicos – mas que, de resto, verifico em muitos, por cá, sobretudo quando se trata de expressar sentimentos apimentados com as banalidades frugais das frases feitas. Lembrei, a propósito, um jornal desportivo antigo, altamente considerado – A Bola – o mais lido por cá, e compreendi o porquê da sua importância na construção do espírito português. Já em tempos escrevi um “Três FFF” (in “Anuário, Memórias Soltas”, 1999), em que acrescentava um 4º F aos três subentendidos. Cito: Três FFF que nos definiram, três FFF que continuam a definir-nos e aos quais poderíamos certamente acrescentar mais um de “Furto”, “Furtar”, “Furtivo”, tão aplicável aos vulgares assaltantes, como aos que se revestem duma seriedade engravatada, como o próprio futebol nos tem revelado…” 
Pecha antiga, isto dos fff.




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