segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Uma vez mais, cilindrando


Com a pertinência da sua consciência crítica e da sua prosa de uma retórica habilmente manipulada, nos seus paralelismos e contrastes, de uma ironia destemida e provocatória, indiferente aos ódios que atrai, com tal impecabilidade analítica. Texto definindo um pensamento recto, obtido por ampla inteligência investigadora, chamariz de comentários de fúria irreprimível, que me abstive de transcrever, na sua maior parte, pela sordidez de pensamento desses que se julgam finamente anti-racistas ou antifascistas, para poderem atacar melhor os que eles julgam redondamente tais, sem o anti da composição demagogicamente virtuosa.
Mais uma pequena “obra-prima” de raciocínio e agudeza estilizada, esta crónica de António Barreto.
OPINIÃO
Anti-racismo. Antifascismo. Anticomunismo
Apesar de tão diferentes, existem semelhanças entre anti-racista e antifascista ou anticomunista. Há uma fortíssima tendência para a exclusão.
ANTÓNIO BARRETO
PÚBLICO, 9 de Fevereiro de 2020
Vivemos tempos delicados. Por boas e más razões, a discussão sobre racismo nunca foi virulenta entre nós. Agora, felizmente, faz parte do quotidiano. Mas, infelizmente, num tom ácido que não ajuda. Como sempre, nem as boas discussões escapam aos preconceitos. Algumas esquerdas, grupos de minorias negras, activistas brancos e militantes anti-racistas têm feito, com êxito, o possível por criar um “conflito racial”. Na segurança, nos bairros, nas relações com a polícia e em todas as áreas do espaço público, sempre que possível, a questão racial é imediata. Como é um problema de difícil tratamento, a opinião está tensa. Os anti-racistas criam conflitos; os racistas ficam agressivos; quem não é racista nem anti-racista fica intimidado. O anti-racismo, com carga política, transforma-se em correcção. O racismo, com detestável violência, veste-se de patriotismo. Vivemos com inverdades rituais. O que fazem os brancos é racismo, o que fazem os negros é a condição social. Os brancos defendem os seus poderes, enquanto os negros exprimem o seu sofrimento. Os negros são vítimas revoltadas, enquanto os brancos são cáfilas decadentes. Os negros são intrusos, enquanto os brancos estão a ficar cercados. Com estas dicotomias, o progresso é difícil.
O anti-racismo tem parecenças com o antifascismo e o anticomunismo. O radicalismo destemperado destrói princípios. Um combate, transformado em sistema, fica tão odioso quanto o objecto. Mas, entre estes três “anti” há, evidentemente, diferenças. Fascismo e comunismo são escolhas políticas e filosóficas, enquanto racismo é preconceito. Há liberdade de ser fascista ou comunista, como há liberdade de ser antifascista e anticomunista. Mas não há liberdade de ser racista. Como não há liberdade de ser ladrão, pedófilo ou proxeneta.
O anti-racismo tem um valor moral maior, porque é uma atitude de recusa de um preconceito e de uma forma de domínio ilegítima, enquanto o antifascismo e o anticomunismo são escolhas facultativas. O fascismo e o comunismo não são formas de horror, não são ilícitos. Por isso mesmo, o antifascismo e o anticomunismo são lícitos.
O problema começa quando estes combates se transformam em programa. Para certas esquerdas, antifascismo é a virtude, enquanto o anticomunismo é condenável. Segundo as mesmas esquerdas, o antifascismo deveria ser regra, enquanto o anticomunismo deveria ser proibido. Foram essas esquerdas que inventaram o antifascismo, soma de virtudes, equivalente de liberdade, substituto da democracia, categoria simplória e tenebrosa que se limita a catalogar todos quantos não servem os interesses dessas esquerdas. Inventaram também o anticomunismo dos outros, soma de todos os defeitos. Para certas direitas, o antifascismo é vício de pensamento, enquanto o anticomunismo é virtuoso e equivalente de liberdade. Nas direitas, prega-se o anticomunismo, enquanto nas esquerdas se decreta o antifascismo.
As diferenças entre anti-racismo, por um lado, e antifascismo ou anticomunismo, por outro, são evidentes. Num Estado moderno, civilizado e democrático, o racismo é um sistema e uma atitude que devem ser combatidos por formas legais. Não se deve proibir um indivíduo de ser racista, de ter as opções que entender, mas pode proibir-se o seu comportamento racista, a violência contra outrem, assim como os sistemas legais, as instituições e os dispositivos que consagram o racismo como regra. Tal como os seus contrários, fascista e comunista são escolhas livres, como tal devem ser tratadas. Tudo menos proibidas. É esta diferença que faz com que não haja pleno paralelismo. Fascismo e antifascismo, ou comunismo e anticomunismo devem ser livres. Racismo, não.
Outro problema é o da reserva política destes conceitos. Fascismo e comunismo são insultos na voz dos seus detractores. Ainda hoje, tratar alguém de fascista é sinónimo de todas as maldades. Para os defensores de ideias tão primárias, ser-se antifascista é uma marca de qualidade, uma regra de origem. Comunista já foi insulto tão enorme quanto esse, nos tempos em que comiam crianças. Hoje, pouco mais é do que uma categoria política. Mas não tenhamos dúvidas de que a invenção do conceito de “antifascista” é obra dos que querem criar uma amálgama política. Nas esquerdas, define-se como antifascista quem é democrata, preza a liberdade, defende a igualdade e, já agora, simpatiza com o comunismo. Esta redução de inteligência tem efeitos: classifica de fascista os que não estão de um lado e de antifascistas todos os que seguem o outro. No essencial, o conceito de antifascista é oportunista e demagógico.
Apesar de tão diferentes, existem semelhanças entre anti-racista e antifascista ou anticomunista. Há uma fortíssima tendência para a exclusão. Por exemplo, o anti-racismo. Transformou-se numa profissão de fé. Numa moral. Numa política. Há sempre quem se julgue autorizado a definir o que é racismo, a determinar quem é inimigo e quem é vítima, a estabelecer o que as leis devem fazer. O anti-racista classifica de racista qualquer atitude, doutrina ou sentimento que esteja do “outro” lado. O anti-racista sabe que tantas vezes se transforma ele próprio em racista. O anti-racista estabelece quem está do bom e do mau lado. Por exemplo, o anti-racista define as vítimas do racismo, “negros”, mas esquece ou afasta outras vítimas, “brancos”, “chineses”, “indianos”, “monhés”, “ciganos” e “mestiços”. O anti-racista não admite a hipótese de negros serem racistas, o que é muito habitual. E tem dificuldade em aceitar que chineses, indianos e ciganos possam eles próprios ser, nos seus países e nos seus costumes, racistas.
O racismo é sempre odioso. É preconceito. É violento. É desumano. O racismo branco não justifica nem desculpa o racismo negro. As vítimas do racismo têm toda a legitimidade para lutar como entenderem pelos seus direitos e contra todas as formas de domínio violento. As vítimas do racismo não têm de esperar que os “senhores” lhes expliquem que métodos devem adoptar nas suas lutas. Mas as vítimas do racismo não têm o direito de utilizar a violência e o preconceito.
O racismo do dominador é pior do que o do dominado. Pior, porque com mais meios. Mas ambos são racistas. E ambos são de condenar. O racismo “branco” tem fama de superioridade, mas o racismo negro não tem desculpa. O racismo em África, na Ásia e na América Latina, por parte dos respectivos povos autóctones, não tem bula nem indulgência por estarem historicamente associados às vítimas do imperialismo. O racismo branco usa preconceitos científicos e biológicos para justificar o poder. O racismo negro ou amarelo usa meios de poder e identidade para justificar o seu domínio. Os brancos julgam-se superiores, enquanto os negros se sentem mais fortes. Entre os dois…
Sociólogo

COMENTÁRIOS:
José Cruz Magalhaes: O texto de AB também poderia ser intitulado de "Vivissecação de todo e qualquer anti", embora a demonstração e o exorcismo não sejam aprofundadas para atingir este objectivo. No campo dos conceitos, ficamos pelos preconceitos, embora limitados ao de raça, que não pode ser excessiva a caracterização do fascismo, do nazismo, ao supremacia branca, como de constituição básica a partir daquele e da hostilização de tudo quanto é diferente e em consequência, inferior. É definitivo. AB pertence ao numeroso grupo dos que preocupados com o equilíbrio da virtude, acabam por nunca perceber que são os cães e não os lobos que dizimam o rebanho. O texto detém algumas ideias e factos que vale a pena reflectir. E para a brigada da defesa do óbvio, aqui vai. Viva o amor, abaixo o racismo. Viva a paz entre todos. Colocada esta defesa do óbvio, cálice sagrado dos comentadores bafientos deste forum, ainda autodivididos no bafiento binómio "esquerda/direita", importa dizer que o racismo, xenofobia, discriminação se praticam não são conceitos abstractos. Amanhã é segunda-feira e mais uma vez vou sair de casa e praticar o contrário destas maleitas, apenas mais um dia.
Manuel Concordo com AB que o racismo tem assumido um programa político de mera divisão da sociedade entre brancos e pretos. Se Portugal fosse racista, veríamos outras "raças " a queixarem-se, nas manifestações "anti-racistas ", sobretudo quando temos cada vez mais comunidades de outros países. Porque nas manifestações apenas vemos africanos negros, a maioria provavelmente portugueses, estudantes ou trabalhadores, inseridos na sociedade, mas não vemos ciganos, nepaleses, indianos, brasileiros, etc? Para mim é porque essas manifestações são apenas gente manipulada por políticos à procura de protagonismo, e que usam a desculpa da cor dessas pessoas para lhes incutir o ódio ao branco como razão da sua baixa condição social. Falta dizer que a maioria está nessa condição porque não estudaram...
Rafael O'Neill: Excelente texto. Todo o racismo é condenável.
Alexandre Bernardes: O conflito racial que a esquerda identitária quer provocar tem como base a substituição do capitalista pelo branco. O branco é o terrível “opressor”. E até já se ouve falar em coisa extraordinárias como a “esquerda branca”. Quando no lugar do capitalista se coloca o branco estamos a falar de uma substituição da luta de classes por uma luta de raças - e advogar uma luta de raças tem um nome: racismo. O “anti-racismo” que hoje conhecemos bem é um falso anti-racismo. Esse “anti-racismo” pode e deve ser chamado por outro nome: anti-branco. O “Anti-racismo” da esquerda identitária é sinónimo de anti-branco. Sejamos precisos, não chamemos anti-racismo (uma coisa digna) ao “anti-racismo” sinónimo de anti-branco. Chamemos a esse “anti-racismo” o que ele é: Anti-Branco, Anti-branquismo… o que for.
Margarida Paredes, defensora do Serviço Nacional de Saúde: Que grande barret(o), enfia-o quem quiser. É esse o seu nível. E depois intitula-se "intelectual". As suas intervenções neste forum são de fraca qualidade. "Barrete" são as suas frases enlatadas. A sua lengalenga movida a ego. O racismo, a xenofobia a descriminação praticam-se. Não são conceitos teórico-abstractos. Nunca li um argumento seu movido a lógica, dados ou boa fé. Só gritos do seu ego gordo.
viana: Coitado do António Barreto... cada vez mete mais dó. Um texto incoerente, mal escrito, sem um raciocínio minimamente consequente. Vê-se que está confuso, dilacerado entre o que sabe que é moralmente correcto, a crítica sem tréguas de qualquer indício de racismo, e o facto de tal ser predominantemente feito pela Esquerda, palavra maldita para o senhor. Um inútil, que prega para o ar. Ninguém o ouve, porque não tem nada para dizer que seja minimamente relevante. E nem vale a pena desenvolver muito sobre a sua patética equivalência entre fascismo, uma ideologia hedionda que prega a violência e o ódio pelo Outro, com o comunismo, que por mais erros que tenha havido na sua implementação, defende a igual dignidade e valor de todo o ser humano
Perigo! Pensador Livre: Concordo com a sua última frase. Apesar do resultado final, infelizmente por vezes não ser diferente, há que distinguir entre ideologias que praticam o mal porque este faz parte da sua maneira de pensar, e aquele mal que é praticado por corrupção das ideias originais. No caso do Fascismo e diversas variantes a violência, o homicídio e a discriminação são a base ideológica que sustentam a prática. Já as ideologias de esquerda como o Socialismo (o Comunismo nunca foi implementado) visam exactamente o oposto. Visam a valorização e libertação do homem. Grande parte dos erros cometidos derivaram de o tentar implantar em épocas e locais em que a matriz cultural dos povos (Imperialismo Czarista/Chinês) os levou inconscientemente a agir usando valores tradicionais incompatíveis com o Socialismo.
Silva Silva.885266: Em democracia não existe o anti o que existe são opiniões diferentes......não apregoam a liberdade?, o 25 de abril...?. agora aguenta. Racismo e fascismo não são liberdade de expressão ...apregoe racismo e fascismo na rua para ver o que lhe acontece.

Nenhum comentário: