Respondendo à pergunta final da crónica
de Alexandre Homem Cristo, (“pode-se tolerar que um governo elimine freios e
contrapesos de um processo democrático porque estes representam obstáculos à
sua vontade? Não se pode, porque os fins não justificam os meios”), eu acho
que não se tem feito outra coisa, segundo as conveniências dos partidos. Mas os
comentadores é que sabem e o discutem com saber e relativa paz, quando não
mesmo, superior ternura. Por isso os diálogos calharam em Fevereiro, mês curto,
ao contrário do de Fernando Namora mais estirado e estival.
Nenhum aeroporto está acima da lei /premium
Seja-se contra ou a favor do aeroporto no
Montijo, o que está agora em causa é isto: pode-se tolerar que o governo
elimine freios e contrapesos legais por serem obstáculos à sua vontade? Não se
pode.
ALEXANDRE
HOMEM CRISTO OBSERVADOR, 27 fev 2020
No
contexto de uma democracia, há ameaças de um governo que arrastam implicações
de tremenda gravidade. Uma delas é aquela que o ministro Pedro Nuno Santos lançou recentemente sobre quem se atrever a
obstaculizar o projecto do aeroporto do Montijo. Perante a indisponibilidade de algumas câmaras
municipais em dar parecer favorável ao projecto, assim inviabilizando-o, o governo está a preparar-se para alterar a lei
e remover esse requisito do texto legal.
Ou seja, para resolver um problema comum num processo negocial, o ministro
propõe algo que deveria arrepiar qualquer democrata: eliminar
freios e contrapesos da lei, aumentar os poderes de arbitrariedade do governo e
passar por cima das câmaras municipais (e populações) que se opõem aos planos
de obras públicas do governo.
Ora, eu não sei avaliar tecnicamente se o projecto de aeroporto no Montijo é
realmente a melhor opção para o país e para as populações locais. Mas sei isto:
atropelar procedimentos democráticos desta forma é ultrapassar uma linha
vermelha. E, independentemente da apreciação que se faça do projecto do
aeroporto no Montijo, isto não pode ser aceitável.
Numa república liberal, como a
portuguesa, o exercício do poder político está enquadrado por limites e
travões. E, em 2007,
foi exactamente isso que foi transposto (e bem) para a legislação. Quando
então o governo (PS) fixou as condições de construção, certificação e
exploração dos aeródromos civis nacionais, introduziu várias condições
obrigatórias para a instalação e o funcionamento de aeroportos. São os chamados
freios e contrapesos de um regime democrático. Não se poderia avançar sem parecer do INAC
(Instituto Nacional de Aviação Civil), sem parecer positivo da Força Área
Portuguesa, sem parecer técnico positivo da autoridade competente no domínio da
meteorologia. E, ainda, sem “parecer favorável de todas as câmaras municipais
dos concelhos potencialmente afectados, quer por superfícies de desobstrução
quer por razões ambientais”. Está tudo no decreto-lei 186/2007, de 10 de Maio, em
particular nas várias alíneas do artigo 5.º. Pode dizer-se que o decreto-lei é
exemplar do ponto de vista procedimental: a decisão de construir e explorar um
aeroporto só pode ser tomada por um governo quando validada por diversas
entidades técnicas e pelos concelhos afectados, prevenindo assim uma tomada de
decisão arbitrária e que ponha em risco a segurança ou o bem-estar das
populações.
A
existência de freios e contrapesos torna o processo político mais exigente e
difícil? Claro que sim. Aliás, o objectivo é mesmo esse, porque é assim que
funcionam as democracias modernas: procura-se impedir decisões arbitrárias e
impõe-se a validação das decisões que afectam tantos por diversas entidades e
por órgãos de representação política. Haverá formas de executar decisões que
são mais simples, céleres e eficazes?
Claro que sim, mas são também muito menos democráticas. Por exemplo: se um
governo puder decidir como quiser, mesmo em detrimento da segurança ou da
vontade das populações, certamente que o processo será muito mais rápido – mas
simultaneamente muito menos passível de escrutínio e muito mais prejudicial
para as populações. Eis o que pretende o ministro Pedro Nuno Santos. E eis
aquilo a que os partidos se devem opor com veemência.
Sim,
é certo que o governo não precisa dos partidos para alterar um decreto-lei, que
é da iniciativa do governo. Mas
o parlamento tem a possibilidade de solicitar uma apreciação parlamentar do
decreto-lei e, eventualmente, revogá-lo. Tudo indica que a apreciação
parlamentar será uma realidade, na medida em que o PCP tenderá a proteger os
seus autarcas nas câmaras municipais em conflito com
o governo. Resta, portanto, saber o seguinte: quando essa
apreciação parlamentar subir ao plenário da Assembleia da República, haverá
votos suficientes para revogar o decreto-lei? Contas feitas, com a oposição assumida de PCP e BE ao governo
apoiado pelo PS, o desempate dependia do PSD
– que, felizmente, se pronunciou contra.
Haverá
muitos aspectos técnicos e dúvidas a discutir sobre o projecto do aeroporto no
Montijo. Mas, na hora actual, tudo isso é irrelevante: o dossier está
convertido num caso de risco para o funcionamento da nossa democracia. Seja-se
contra ou a favor do projecto, aprecie-se menos ou mais a necessidade de um
novo aeroporto, nada disso importa. O que está agora em causa é apenas isto: pode-se
tolerar que um governo elimine freios e contrapesos de um processo democrático
porque estes representam obstáculos à sua vontade? Não se pode, porque os fins
não justificam os meios.
COMENTÁRIOS
Victor Emanuel: Claro que pode!!! Quando dá jeito pode tudo... mas não é só PS, a quadrilha
que anda aí é igual... Defender os inquilinos contra os proprietários mas
podemos fazer o mesmo que eles, lutar pelo povo mas somos o partido mais rico
de portugal e pretos, ciganos e homossexuais não entram na nossa festa, chamar
de burros aos empresários quando eles próprios o são... esta foi a melhor de
todas!!! Calma calma, a direita só muda de posição porque o cheirinho é o
mesmo.......... se fosse estar a escrever toda a hipocrisia da burguesia que
existe no adn do tuga, este comentário era interminável.... Cpts
francisco
oliveira: Nesta bandalheira
dominada pelas esquerdas, tudo o que é ilegal ou imoral pode tornar-se
realidade sempre democrática!
Carlos Marques: Todos os dias o parlamento vota novas leis que alteram as anteriores. Se
não fosse assim continuávamos a reger-nos pelo Antigo Testamento. se as novas
leis são melhores ou piores que as anteriores já é outro filme.
Carlitos Sousa: Pedro Nuno Santos já tinha mostrado a sua verdadeira índole quando quis
amedrontar os alemães com a bomba atómica e o não-pagamos. Agora com esta esperteza saloia
de alterar uma Lei aprovada pelo PS, porque não lhe dá jeito, mostra mais uma
vez o seu carácter de tiranete rastejante. Lembremo-nos que se o PS é mau
com António Costa, pode ainda ser muito pior com este Pedro Nuno candidato ao
lugar. Tão mau ou pior que Sócrates. O Partido Socialista tem este condão. Consegue colocar
em primeiros ministros o que de pior encontra na política nacional.
António Coimbra:
Alguma vez o PS
agiu de maneira diferente? é o partido do "quem se mete com o PS leva"
e eles sabem dar bem. Se queres ver um Vilão põe-lhe o poder nas mãos, é o
PS no seu melhor
MaxMartins
Martins: Esta posição do PS... É perfeitamente fascista e ditatorial...
Victor Guerra: A lei é que não está acima da
má governação, para o PS
josé maria: pode-se tolerar que o governo elimine freios e contrapesos legais por serem
obstáculos à sua vontade? Não se pode. É
óbvio. Independentemente do facto de Alcochete ser ou não uma melhor
alternativa a Montijo.
Paulo Guerra: Portugal e Lisboa já deviam ter partido para um novo aeroporto há muitos
anos. De preferência no auge da crise – à new deal - com fundos europeus
quando alguns ignorantes lhe chamavam megalomania. Nem havia nada mais
estratégico para o futuro de Portugal que já chegou entretanto! O problema é
que mais uma vez o traidor que desgovernou este país pôs nas mãos de um
operador privado uma das decisões públicas mais estratégicas para o país. E
mais uma vez por um punhado de trocos. Mais uma vez obrigado Massamolas e a sua
seita de ignorantes que mandou as construtoras portuguesas trabalhar de borla
em Angola. Claro que hoje os franceses querem o mais barato possível para
continuar a encher os bolsos dos accionistas. Acontece que o mais barato
possível só muito dificilmente coincide com a melhor decisão estratégica para o
país. Como é outra vez o caso. Montijo não resolve nada nem para a TAP nem para
Portugal. E para os outros resolve no máximo meia-dúzia de anos. É tempo de o
Governo deixar de acompanhar de uma vez por todas o que é bom para um operador
privado. Portugal não precisa só de um aeroporto para descongestionar a Portela
no centro de Lisboa. Portugal precisa de um aeroporto para encerrar
definitivamente a Portela a médio prazo. E claro que nesta óptica só Alcochete
serve. Numa primeira fase com o que se vai gastar no Montijo também se resolve
o problema das low cost em Alcochete. Com a possibilidade de resolvermos o
problema total em fases subsequentes. Algo que nunca será possível no Montijo.
Em suma, a crise financeira mundial podia e devia ter sido uma grande
oportunidade para países como Portugal. Houvesse à época políticos capazes na
UE e sobretudo em Portugal. Porque com as desculpas a posteriori do FMI e do
Gaspar vivem os aldrabões como o Massamolas e a Marilu bem.
Paulo Guerra > António Fernandes: Lamento. Mas a mim também me
custa muito ver os centros de decisão todos lá fora. Já chegava a UE. Mas da UE
também vêm muitas vantagens. Como ainda agora na luta contra o Corona Virus de que
muitos cidadãos nem se apercebem. A política de privatizações nos últimos anos
em Portugal foi simplesmente criminosa. E não falo das privatizações per si.
Falo sobretudo de cabeças onde nunca na vida vai caber o planeamento
estratégico de uma nação. Também não estudaram para isso, diga-se de passagem.
Senão até eram capazes de perceber que a privatização das operações
aeroportuárias já com a construção do novo aeroporto em cima da mesa era outro
mundo. Que até poderia perfeitamente sair da parceria da construção para a qual
não há fundos. Mas era com o novo aeroporto onde Portugal queria. E com muitas
mais restrições às taxas no contrato de concessão, já agora. Nenhum país deve ser da Joana
sob o risco de não ser um país. E para ver que isto não tem nada a ver com
cores políticas dou o exemplo da actuação do Augusto Santos Silva nesta recente
crise com a Venezuela, toda ela também perfeitamente evitável. Mais um mordomo
que põe em risco um Milhão de portugueses por dá cá aquela palha. Já caíram
ministros por muito menos. E a Administração Pública Portuguesa tem uma
carreira maravilhosa de diplomatas com mundo. Porquê insistir em políticos? E
nabos..
Alberto Carvalho > Paulo Guerra: Só lhe falta explicar o mais importante, como é que
mantém os centros de decisão em PT, continuando a aumentar a dívida ou pedir €
emprestado! Pode enganar os tolos com essa lógica da batata, mas insinuar que é
possível violar as leis da física, é ser desonesto, manipulador! Não conheço
"tesos", que pedem dinheiro aos outros e simultaneamente, decidem!
Por outras palavras, "tesos" a mandar nos bolsos dos outros. Vá
sonhando!
Paulo Guerra > Alberto Carvalho: Ainda há pouco tempo e depois
da porcaria toda feita, recuperamos muita da decisão estratégica de uma
companhia de bandeira. E o caro faz ideia da lista de privatizações que a
anterior legislatura travou? A TINA foi desfeita há muito tempo. Com mais
emprego e mais crescimento. E eu até deixei bem claro que nem queria discutir
as privatizações criminosas mas os contratos de concessão.
Ru B3n: Desde quando alterar uma lei
que não faz sentido é mau?
Ru B3n > Elisa Fatoumata: Nada estranho meu amor... Tal como o recente caso da mulher que quer
engravidar do marido que faleceu de cancro e que deixou claro em vida que era a
sua vontade, mas que a lei actual não permite, como sabe querem mudar a lei
para permitir que seja possível, e bem! Desde
que seja para melhor... Mudar leis para
ultrapassar obstáculos não é nada de mais, faz parte do estado de direito! Num estado de direito, a maioria escolhe. Neste
caso um município apenas pode bloquear a escolha da maioria. Tem de ser mudada
a lei, ponto!
Ricardo Oliveira > Ru B3n: Mudar uma lei desadequada é em sim normal. O que não é
normal é mudar uma lei para resolver um caso particular - tal intenção é
contrária ao estado de direito. Se fosse a si retirava a sua evocação de “meu
amor” à leitora que comentou pois é uma forma gritante de assédio. Pode
criticar opiniões. Pode até caricaturar as mesmas opiniões. Não pode coagir
pessoas.
Ru B3n > Ricardo Oliveira: A lei é desadequada, daí a
necessidade de mudança! O assédio/coacção, ou neste caso a maldade, está nos
olhos de quem vê! Devias seriamente consultar um psiquiatra...
Ru B3n: Desde que esteja em causa o
superior interesse das pessoas, sim!
Ricardo Oliveira: “O Triunfo dos Porcos” é o que é
o governo do PS com o apoio da extrema-esquerda.
josé paulo c castro: O decreto-lei até pode estar bem, mas deviam exigir as autorizações locais
antes de gastarem dinheiro em estudos ambientais e outros gastos. No mínimo,
uma declaração dos autarcas (e outros) de que fazem depender a sua decisão
desses estudos. Ou seja, a ordem das autorizações tem de ser definida de forma a não haver
possibilidades de chantagens políticas ou exigências de última hora. Qualquer
oposição incondicional tem de ser declarada ANTES do processo avançar. Assim,
isto está feito para os consultores ganharem muito antes de a obra ser
cancelada. E esta é a única alteração que a lei precisa.
Ricardo Oliveira > José Paulo C Castro: Essa das autarquias aprovarem
antes dos estudos ambientais é uma ideia paladina hilariante. Quer que os
autarcas decidam algo sem os dados necessários. Tal não seria uma decisão seria
um jogo de dardos com olhos vendados. A democracia, embora o melhor
sistema de governo que respeita a individualidade e a colectividade humana, é
imperfeita e muito cara. Há sempre uma alternativa, que é os que acharem que
têm razão decidirem tudo...oops isso é a ditadura, seja de esquerda ou de
direita.
José Paulo C Castro > Ricardo Oliveira: Não entendeu o que eu disse. Se a decisão dependesse de
algo, tinham de dizer de quê. Dos estudos, por exemplo, mas depois aceitariam o
resultado deles. Se a decisão
fosse incondicional, também a tinham de dizer antes. Se queriam informação antes da decisão, que fizessem
eles estudos e divulgassem os resultados e a decisão. Há um tempo certo para tudo. Não devia haver tempo para
guardar dardos para o fim do jogo.
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