sábado, 8 de fevereiro de 2020

O certo é que Trump se regozija


E Bibi também, como mostra a foto do aperto de mão entre os dois (não colocada aqui).
MÉDIO ORIENTE: Trump enterra a política americana dos “dois Estados”
O famoso “acordo do século”, que viabilizaria um Estado palestiniano e encerraria o conflito israelo-árabe, um dos mais velhos do mundo, é qualificado pela Economist como o “Roubo do Século”. Consagra as anexações territoriais israelitas. Eternizará o conflito.
JORGE ALMEIDA FERNANDES    PÚBLICO, 29 de Janeiro de 2020
O “plano Trump”, para resolver o conflito israelo-árabe, foi anunciado com pompa em Washington, na terça-feira. De facto, abre o caminho à anexação por Israel de largas partes da Cisjordânia, incluindo todo o Vale do Jordão. O Estado palestiniano seria uma soma de “bantustões” ligados por pontes ou túneis. É o fim da “solução dois Estados”. O plano foi apresentado pelo Presidente Donald Trump ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu (Bibi), na presença de três embaixadores árabes: de Omã, Bahrein e Emirados Árabes Unidos. Trump garantiu que Jerusalém será a capital “indivisível” de Israel. Mas, enquanto Presidente a quem todas as contradições são perdoadas, prometeu também que o futuro Estado palestiniano teria a capital situada algures em Jerusalém Oriental. E recordou aos palestinianos que “esta poderá ser a sua última oportunidade”.
Antes de passar aos efeitos políticos, convém lembrar que os dois líderes trocaram favores. Bibi está a braços com a Justiça. E numa difícil situação perante as eleições de 2 de Março, as terceiras em menos de um ano. Admite-se que, já no próximo Conselho de Ministros, no domingo, tente declarar a soberania de Israel sobre os territórios, passo prévio para a anexação. Há dúvidas jurídicas. Seria a derradeira cartada eleitoral para encostar à parede o seu concorrente, general Benny Gantz, que também se encontrou na véspera com Trump. O precipitado anúncio do plano, a um mês das eleições, não deixa dúvidas.
Também Trump conta capitalizar o gesto, não tanto a propósito do impeachment em curso, mas na vital mobilização do voto dos cristãos evangélicos nas presidenciais de Novembro.
Duplicidade árabe
O presidente palestiniano, Mahmoud Abbasdenunciou o plano como “conspiração entre os Estados Unidos e Israel” e jurou que “Jerusalém não está à venda”. A analista palestiniana Diana Buttu prevenia ontem no diário israelita Haaretz: “O plano é uma receita para a guerra, não para a paz”.
A reacção mais dura veio de Amã. A Jordânia, antiga soberana dos territórios, não aprecia ver os israelitas na sua fronteira, criando um foco de agitação e desestabilização. Não pode também ceder no controlo dos Lugares Santos de Jerusalém. Exige negociações com base nas fronteiras de 1967. Outra reacção severa foi a da Turquia: “Este é um plano de anexação para destruir a solução ‘dois Estados’ e usurpar territórios palestinianos. Jerusalém é a nossa linha vermelha”, frisa o comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros turco.
Em compensação, os aliados regionais dos EUA, Arábia Saudita, Egipto, Qatar e Emirados Árabes Unidos, saudaram o plano Trump. Confirmam o que há muito se sabe: a causa palestiniana deixou de ser um ponto de honra na política das potências árabes e a questão iraniana reforçou essa marginalização. Particularmente hipócrita é a posição dos sauditas. Anuncia o Governo de Riad:O Reino aprecia os esforços do Presidente Trump para encontrar um plano de paz global entre as partes palestiniana e israelita.” Ao mesmo tempo, o príncipe regente, Bin Salman, enviou uma calorosa mensagem a Abbas: “A nossa posição sobre a questão palestiniana não mudou, e todos os árabes estão convosco.” Isto é: todos se farão representar no “funeral” da causa palestiniana.
Mudança de era
Sucessivos presidentes americanos elaboraram ou patrocinaram planos para alcançar um acordo de paz na base da solução “dois Estados”. Com nuances diferentes, foi a doutrina diplomática de Washington para a região. O plano Trump, gizado por seu genro Jareed Kushner, encerra uma era diplomática. Resume a Economist: “Se Israel anexar grandes partes da Cisjordânia, será completamente impossível aos palestinianos estabelecer um Estado viável. A solução ‘dois Estados’, elaborada por décadas de peace-making americano, há muito que se tornou num sonho murcho; terá sido finalmente sepultado.
O plano Trump não dará lugar a quaisquer conversações. Apresentado como um plano “ganhador-ganhador”, é absolutamente inaceitável para os palestinianos. Noutras circunstâncias seria mais um plano nado-morto. É em parte verdade mas também, e sobretudo, um tremendo engano. A iniciativa Trump muda radicalmente o tabuleiro. Se Israel tem construído a sua expansão através dos célebres “factos consumados”, emerge agora uma espécie de “superfacto consumado”, decretado por Trump. Enquanto potência, reconhece antecipadamente a política de anexação.
Nada será como dantes. A América desempenha um papel central no conflito. Declara ao diário Politico, um alto funcionário: “No contexto político americano, a infeliz realidade é que o plano Trump moldará as percepções domésticas sobre o que é possível fazer. Em matéria de refugiados, Jerusalém ou fronteiras, será muito difícil a um futuro Presidente apoiar propostas mais aceitáveis pelos palestinianos.” Resume o analista conservador Ilan Berman: “[O plano] muda as realidades no terreno de uma forma que torna muito difícil voltar atrás.” Em suma: para salvar Bibi, Trump enterrou três décadas de política americana.  tp.ocilbup@sednanrefaj
COMENTÁRIOS:
João Silva, 30.01.2020 : Esta divisão dos territórios entre palestinianos e israelitas, gizada por um indivíduo (de ascendência judaica) que só é tido em conta por ser genro do Trump, faz-me lembrar a trágica divisão feita em 1948 por um inglês ao separar o Paquistão e a Índia, sem nada compreender das afinidades e da idiossincrasia dos povos do Indostão.
Jorge Manuel da Rocha Barreira,  30.01.2020 Esta proposta do louco dos States não tem o mínimo de equidade. Para este senhor e para os seus aliados , o pretendido é acabar com o ESTADO PALESTINIANO e alargar o domínio de Israel a todo o território da Palestina. A ONU tem que fazer cumprir a resolução que determina que as fronteiras entre os dois estados devem recuar às existentes em 1967. Senão questiona-se para que serve a ONU? para ser subserviente aos USA? Não, isto não pode ser o que um punhado de países fundamentalistas e religiosos quer, mas sim aquilo que a maioria dos países entende ser o justo.
Leitor Registado, 30.01.2020: o mais engraçado nos comentários é a falta de percepção da realidade. Nós, portugueses, vivemos no pressuposto de quando nos apetecer ir passear a Espanha, vamos sem qualquer problema. Imaginem que o objectivo da Espanha era a aniquilação de Portugal ... o nosso extermínio...ou no mínimo, a expulsão de todos os portugueses deste jardim à beira mar plantado..... Eu se fosse árabe/palestino/sírio não tinha a mínima dúvida, não descansaria enquanto Israel não fosse destruído e a verdade é que a maioria, se não a totalidade, pensa assim. Comentar a situação Israel/Palestina, sentadinhos em Portugal não passa de um exercício de bitaites, conversa de café, etc, etc.
Margarida Paredes, defensora do Serviço Nacional de Saúde, 30.01.2020 : comentário em duplicado qual é a sua? Leitor Registado, 30.01.2020: qual é a minha, ó minha? é muito simples....veja este comentário....já enviado 2 vezes: "continuem a dar tempo de antena ao Ventura. Ele agradece. De acordo com a última sondagem já passou o PAN, o CDS e o PCP e está com 6,2%. Amanhã o Parlamento vai chumbar a proposta do Livre sobre a devolução do património. Quem fica com a bandeira da vitória? Até lá quem ganha protagonismo?".... e nunca foi publicado.....tenha juízo, Margarida, e seja honesta.....quantas vezes precisa alguém de esquerda enviar um artigo para ser publicado? Uma, basta uma vez. Eu, por exemplo, preciso, muitas vezes de enviar 1, 2, 3 4, ou mais vezes.... é esse o vosso conceito de democracia.
finas, 30.01.2020: Os palestinianos já podiam ter resolvido isto há muito tempo, aceitando o inevitável. Tinham ficado com as fronteiras de 67 e podiam pedir compensação pelos terrenos que perderam. Agora vão ficar sem terra alguma e enterrados numa guerra que não têm como ganhar.
mpro, 30.01.2020: Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe. Enquanto a razão existir e as pessoas tiverem memória, o fermento manter-se-á, e  não há nada nem ninguém, que possa apagar essa realidade.
Vickyvicotas, 30.01.2020 A frase com que inicia o seu comentário é de suma importância, O Irão acabou de matar o agente da CIA envolvido no assassinato de Qassem Suleimani. PRO, 29.01.2020 E o pau mandado e vassalo dos US, RU apoiou obviamente este plano! Felizmente que a UE não vai atrás nem apoia este plano.
filipeluis.marques, 30.01.2020: Junto com os EUA, a Europa, criou este problema, a seguir á 2 guerra.
PRO, 30.01.2020: A Europa não é a UE.  
Terráqueo,  30.01.2020: A Europa não, o RU é que apoiou o golpe de estado.
Caetano Brandão,  29.01.2020: Este Trump será julgado pela história como um criminoso infantil e insensível, que tanto prejuízo poderá causar à humanidade, desde logo com o crime dirigido às gerações vindouras através da negação da influência do homem no aquecimento global.
Joao, 29.01.2020 : Em tempos tivemos os campos de extermínio nazis, os bandustões africanos e outras sebentices, hoje temos os campos de extermínio judeus onde se exterminam os palestinianos, campos fechados onde falta a água, a energia, os medicamentos e alimentos, onde é proibido cultivar ou pescar, onde é proibido ter vida saudável. Se o Hitler estivesse hoje no poder não conseguiria ser tão maquiavélico como os governos de Telaviv e Washington são, nem o Goebbels conseguiria ser tão hipócrita como os actuais media de “referência” e restantes propagandistas e defensores do totalitarismo e do extermínio dos inconvenientes. 
Manuel Figueira, 30.01.2020 : João: Que verdades mais inconvenientes, se vivêssemos em tempos em que as inconveniências contassem. Mas vivemos em tempos de loucura e de perda total da decência, da humanidade, de tudo o que conta para uma existência digna. Vivemos noutro tempo, noutro mundo, desconhecido de nós e que não sabemos para onde nos conduz.

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