Uma crónica verrinosa de JPP, que, ao que se lê, não encontra facetas abonatórias na política autoritária de Trump, e revela os seus sustos pela continuidade deste no governo, tranquilo sobre o que vai cá por casa. Há comentadores que o aprovam, outros que apresentam outros dados menos aterradores. E assim me vou ilustrando, também a respeito do público português –limitado, embora, aos mesmos de sempre..
OPINIÃO: Os EUA a caminho da ditadura
Pensem duas vezes, porque o que se passou à volta do processo do impeachment é particularmente perigoso para as instituições democráticas dos EUA.
JOSÉ PACHECO PEREIRA
PÚBLICO, 8 de Fevereiro de 2020
Pensam que este título é alarmista e exagerado? Pensem duas vezes, porque o que se passou à volta do processo do impeachment é particularmente perigoso para as instituições democráticas dos EUA. Acresce, e não vou repetir o que escrevi recentemente no PÚBLICO, que Trump não sairá do poder a bem, mesmo que perca eleições.
Considerei durante algum tempo que o sistema de “checks and balances” e que a resistência profissional de muitos funcionários responsáveis, aquilo a que Trump chama o “pântano”, fossem suficientes para travar Trump. Não foi, e é cada vez menos. Essa resistência institucional existe com enormes riscos pessoais na carreira e no arrastar pela lama que Trump e os seus serviçais fazem de imediato para intimidar as pessoas. Mas não é suficiente, e tem cada vez menos meios, pela perversão crescente da autonomia da administração por Trump, através de nomeações políticas, demissões, e enormes pressões, inaceitáveis numa democracia. Sobra parte da comunicação social e é por isso que Trump a apresenta como “inimigo do povo”.
O grave não foi tanto o facto previsível de a maioria republicana no Senado absolver Trump, é tudo o que se passou à volta do processo. Aqui ficam alguns exemplos:
1) Nem vale a pena falar do tema central do impeachment, nos seus dois artigos, que ficou mais que demonstrado, e toda a documentação e testemunhos que vieram a público e que revelam estar provado sem margem para dúvidas: Trump usou de chantagem com o apoio militar votado no Congresso a uma Ucrânia em guerra, para obter o “anúncio” de investigações sobre o rival Biden.
2) A recusa de ouvir as testemunhas mais directamente associadas ao processo ucraniano depois de os republicanos se estarem sistematicamente a queixar que não havia testemunhos em primeira mão (havia), tornou o processo do Senado numa farsa, e o voto dos senadores uma violação do seu juramento.
3) A retirada ao Congresso, um “braço igual de governo”, de todos os seus poderes de facto. O Senado trava toda a legislação e em particular todas as medidas a favor dos americanos com menos recursos, para dar a ideia de que o Congresso não funciona, o bloqueio do poder do Congresso de intimar testemunhas e conduzir investigações, a recusa de enviar documentos da administração Trump para conhecimento dos congressistas, a tomada de posições em segredo sem a consulta ao Congresso que a lei exige, em particular em matérias de paz e guerra (o Presidente entende que basta informá-los pelo Twitter),
4) Alargamento do “poder executivo” sem restrições, apenas baseado na vontade discricionária do Presidente, considerando-se imune a qualquer processo por violação da lei (a tese do procurador escolhido por Trump é que o Presidente não pode ser acusado por nada enquanto estiver em funções). Conhecendo-se Trump, depois da absolvição no Senado, vai fazer tudo o que quiser sem restrições, quer no plano interno, quer internacional.
5) A transformação do Partido Republicano num partido de gnomos de jardim, muito contentes por estarem especados, firmes e hirtos, diante da porta do seu senhor.
6) A moldagem das instituições do Estado, a começar pelos tribunais, através da escolha de juízes partidários, muitos sem currículo nem experiência, mas apenas fidelidade absoluta ao Presidente. Outro exemplo muito preocupante do modus operandi da Administração Trump é que, enquanto bloqueia todos os documentos ao Congresso, em particular os respeitantes às declarações de impostos de Trump, o Departamento do Tesouro enviou imediatamente ao Senado os documentos relativos a Hunter Biden.
7) A destruição da imagem dos seus adversários por todos os meios possíveis, alguns ilegais. Trump matou Biden como candidato, porque Biden pai e, particularmente, Biden filho estavam comprometidos num sistema de favorecimento inaceitável na Ucrânia. Nada que os filhos de Trump que gerem as suas empresas não saibam bem o que é, mas o extremo-tribalismo e a moleza dos democratas deixaram-nos de fora. Mas agora irá “sujar” com aquelas mãos pequeninas e aquela poça sem fundo de narcisismo, autoritarismo, violência, todos os outros candidatos, a começar pelo “comunista” Sanders.
8) Mentiras, mentiras, mentiras – nunca um político em democracia usou com maior desplante e mentira como instrumento de poder.
9) Trump inovou todos os métodos de manipulação, aproveitando-se como ninguém da combinação da ajuda russa, dos mecanismos das redes sociais, a utilização indevida dos Big Data por empresas como a Cambridge Analytica, do Twitter para saltar a mediação da comunicação social (deixou de haver os tradicionais briefings da Casa Branca à imprensa), para criar uma ecologia mortífera feita de agressividade tribal. A transformação da política num reality show em que a televisão é utilizada como eficaz máquina de propaganda, em particular a “televisão do Governo”, a Fox News, e a sistemática utilização de comícios e insultos para inflamar a sua “base”.
10) Pelos vistos, os negócios e a bolsa dão-se bem com Trump como já se tinham dado com Pinochet, em particular com a desregulação, mas não é verdade, ao contrário do que Trump afirma, que “nunca” houve Presidentes com melhores resultados na economia. Houve e foram vários.
Os democratas não têm sido particularmente eficazes em responder a Trump. Em parte, por pecados antigos, e por muitas fragilidades e, em parte, porque estão divididos e sem candidato presidencial conhecido, têm dificuldade em se afirmar na luta unipessoal contra Trump. Mas, quer eles, quer muita gente nos EUA estão a começar a perceber que o autoritarismo de Trump é um caminho para a ditadura.
Um dos responsáveis pelo impeachment disse-o claramente, e o gesto de Nancy Pelosi, rasgando o discurso de Trump, é mais difícil de engolir por este do que horas de argumentos racionais que ele não ouve, e muito menos lê. Por isso, um magnífico cartoon de Mike Luckovich representando os pais fundadores da nação americana, Washington, Adams, Madison, a brindar “to Nancy” com uma caneca de cerveja diz muito. Também brindo.
Colunista
COMENTÁRIOS:
fernando jose silva:Sim, Os Estados Unidos estão na mão dum palhaço circense e o futuro para o mundo, se não se apetrechar para defesa da democracia e da liberdade, é tudo menos risonho. Palhaço ou louco, Trump é um inimigo de tudo e todos.
Coletivo Criatura: O que se passa nos EUA não é somente perigoso, é, também, vergonhoso! Trump e Putin: duas faces da mesma moeda! Ele adorava ter o poder e a inteligência de Putin, para além de uma sociedade sem instituições democráticas. Mas lentamente lá chegará.
manuelserra72: Nem o Pacheco é imune ao "trump derangement syndrome". Diversifique as suas leituras e não veja tanto a CNN...
P Galvao: A Fox News e a criatura do telefonema perfeito estão muito mais perto da realidade, sem qualquer dúvida. A exposição ao fenómeno também converte tugas, o que é espantoso.
manuelserra72: Não sei do que esta a falar P. Galvao..."criatura do telefonema perfeito" ? é importante ou só escreve para a sua audiência? Portanto acha que os EUA se vão tornar numa ditadura e o Trump não sai da casa Branca nem que perca as eleições? Óptimo. Parece que a "exposição ao fenómeno" também o converteu.
Joao: Já há muito tempo. Já há muito tempo o Pacheco, de quem aprecio muitos textos, anda a encurvar sobre o Trump. Lembro-me há muito tempo duma insinuação torpe do Pacheco sobre um relacionamento impróprio do Trump com a filha Ivana. Enfim, o Pacheco, embora inteligente, também foi atacado pela moda do síndrome-trump, do bota abaixo trump, do joga a pedra na geni, etc
Enfim Liberal: E o que se passa a volta da PGR ? Perigosíssimo e nosso. As instituições nos USA são bem mais sólidas que as portuguesas e isso sim é preocupante.
Erro id 399319? Inadmissível!: [Não, não, tou bom, tou fesco, já refesquei, obrigado. Adiante.] Belo artigo, assertivo, percuciente, de José Pacheco Pereira. Só há um aspeto que não consigo entender. É aquele, quase no início do artigo, em que o autor afirma que "Trump não sairá do poder a bem, mesmo que perca eleições."! Talvez tivesse sido interessante repetir, nem que resumidamente, o que diz ter escrito recentemente no Público a esse respeito. Com efeito, numa democracia, mesmo defeituosa, e que ainda não mergulhou na ditadura, como entender que quem perdeu as eleições não saia a bem do poder?
Haja Alegria e diversão, sem isto a vida dificilmente valerá a pena... Porquê e para quê, este corporativo e estereotipado onanismo intelectual. Na verdade vos digo, prefiro bater ***. Acordem! Nem Trump, nem os chineses, nem os "mercados", nem o Brexit, nem o Bolsonaro, nem o Coronavirus vos deve apoquentar, pela simples verdade que nada disto interfere ou depende do nosso controlo. Aqui, em nossa casa, temos o Centeno o Costa e Rui Rio para nos lixar a vida. Sábado à tarde é tempo de escancarar e arejar a mente e a alma...beber copos, estar no cavaquinho (não, não é esse!) com amigos, ficar enroladinho no quentinho da cama com quem se ama ou sozinho, tanto faz; sair, visitar um museu com os filhos, começar a escrever um livro ou quiçá cooperar e plantar um bosque...
ramalheira63: Tanta coisa foi dita e escrita, e pelos vistos continua, sobre a forma como terminou o impeachment de Trump. Surge agora o caso de Lucília Gago que permite impedir que políticos deponham em tribunal como testemunhas. Situação que surgiu após António Costa ter sido chamado a depor como testemunha no processo de Tancos. Estamos a ficar cada vez mais tipo Venezuela.
Jose Saraiva: Infelizmente, JPP tem toda a razão. A deriva da política americana leva a que algumas distopias conhecidas estejam cada dia mais próximas. Não se iludam: claro que há muita gente educada e cosmopolita nos EUA, mas estão muito longe de ser uma maioria. Os tempos estão perigosos.
P Galvao: A Fox News e a criatura do telefonema perfeito estão muito mais perto da realidade, sem qualquer dúvida. A exposição ao fenómeno também converte tugas, o que é espantoso.
Ahfan Neca: Uma grande maçada. Quando os EUA estavam prestes a se desfazer em marxismo cultural, aparece o Trump e estraga a festa. 1. Não se provou nada do qui pro quo que era invocado, conta o que afirma o autor. 2. Os artigos não apresentavam nada que estivesse à altura do que a Constituição exige para um impeachment. 3. Compete à Casa dos Representantes fazer o inquérito e ouvir testemunhas. Não ouviram porque não quiseram. Não compete ao Senado. A este compete julgar o que a Casa lhe apresentar. 4. O Senado só está a travar legislação prejudicial aos EUA enquanto democracia liberal que continua a ser. 5. O "procurador" de Trump não disse nada do que afirma o autor. Tudo o que afirmou é que a Constituição é para cumprir e obedecer e não aldrabar por razões partidárias. Etc etc etc etc
GILDA: Até os adeptos de trump sabem e concordam que ele prevaricou, na sua maioria deixam a decisão para as eleições. Não sei se Putin desta vez lhe vai cobrir a retaguarda.
joao motta: quando as pessoas perceberem que esta realidade é uma ilusão, então compreenderão muitas coisas, nomeadamente porque é tão facilmente manipulável...
JonasAlmeida: Insisto neste ponto - o ordoliberalismo globalista (vulgo capitalismo financeiro, "mercados", etc) é incompatível com a Democracia e, a prazo, com a prosperidade (é incompatível até com o capitalismo produtivo!). Sobre o tema, pelo economista que previu o Brexit, Trump, e outras coisas muito antes delas acontecerem, Mark Blyth: YouTube KGuaoARJYU0. JPP parece-me estar aqui a perder o pé no que motiva "os abandonados" que ele próprio aqui magistralmente dissecou nesses termos num artigo inesquecível.
Jose: A democracia é um método de delegação do poder individual de muitos nos poucos que o exercem assim legitimados. Não é mais que isso! Há a crença de que democracia é algo mais, um "anjo da guarda", um, como dizer, "checks and balances”, um "coiso"... Não é senão os chefes eleitos e os que obedecendo aos chefes cumprem a hierarquia de poder da democracia até uma nova delegação do poder individual de muitos em poucos dê origem a outro poder a que a hierarquia obedecerá. A mudança faz-se nas pessoas que são donas do poder individual e o delegam em quem querem. Trump é tudo o que quisermos dizer dele e mais o que ele mostra de si. Não é através da caricatura de um homem que se mudam as pessoas que são também a sua circunstância. Que política alternativa há para os americanos votarem? Não há!
JonasAlmeida: José, olhe que há, e vai a votos este Novembro. Com Trump, ou com Bernie, o establishment globalista nos EUA está de trotinete. O que não mais vê são candidatos a pedir tratados supranacionais de comércio "livre". Simplesmente não seriam eleitos.
PRO: Ahahaha o comércio livre pode estar em revés de forma temporária mas irá voltar em todo o vapor!
Jose: Caro Jonas Almeida, os EUA são uma superpotência militar e nuclear e usam esse poder militar para manter o seu controlo sobre outros Estados, são um potência supraestadual, colonialista, expansionista que invade militarmente à margem e contra o Direito Internacional, cerca, bloqueia, sanciona, chantageia, rouba outros Estados. Não é assim por causa de Trump, é assim também com Trump. A hora da América é dar passos para ser um país civilizado, respeitador dos vizinhos e dos outros Estados, sem muros, sem racismo, sexismo, homofobia, xenofobia, sem pretensão hegemónica, firme nas suas convicções dentro de fronteiras, parceiro leal de boa-fé para o interesse mútuo, fora de fronteiras. Quem é a força, o candidato que aceita ser votado para essa América livre sem ser opressora? Não vejo.
Espectro: Tudo o que Pacheco Pereira escreveu é de uma verdade cristalina. O Mundo está a passar por perigos inimagináveis há meia dúzia de anos. O Rui Veloso tem uma cantiga sobre um adolescente (escrita pelo Carlos T) em que às tantas diz "parece que o mundo inteiro se uniu para me tramar!". Pois é quase isso que está a a acontecer, só que não é só a mim que querem tramar, mas também ao leitor, a todo o mundo, ou seja, talvez seja meio mundo unido para tramar o outro meio. E esse meio mundo é constituído, à cabeça, pelo Putin, pela sua criatura - o Trump - e, pelo Erdogan e por mais meia dúzia de crápulas como estes. Quem haveria de dizer que ditadores como o chinês, o cubano, o sírio ou até o norte-coreano são meninos de coro ao pé daqueles que no início mencionei?! LOL
Silva Silva.885266: Isto de misturar tudo e todos já foi tentado por acnaton em 1300 a.c. e não deu resultado. É só a história a repetir-se.
FERNANDO MARTINS.809654: Perigoso é termos comentadores destes nos jornais, então ó Pacheco estás tão preocupado com uma ditadura nos EUA, o país mais escrutinado do mundo, e não tens preocupações que a Rússia uma outra grande potência a caminho de eternizar o presidente no poder ou a China onde a transparência é uma miragem, deixa-te de tretas, preocupado estou eu de ainda não teres ido tratar esses teus pesadelos, critica-se o presidente que endireitou as contas do país, reduziu o desemprego criou melhores condições às empresas e elogia-se o antecessor que não passou de promessas vazias e não concretizou nenhuma das suas bandeiras eleitorais a começar pelo Obama Care, ganha juízo, afinal o nosso governo é muito bom com mesmos motivos que desvalorizam no Trump, mas cá deixaram degradar tudo o que publico.
francisco cruz: Gajo mais boçal ou obtuso é impossível. Homem, tenha maneiras! Seguramente não lhe deram boa educação no berço, contudo um ser humano que tenha bom carácter e seja pessoa de boa fé, ao longo da vida aprende a respeitar os outros, suas opiniões e comportamentos diferentes. Você além de arrogante e grosseiro sem precedente, é genuinamente boçal, não entendeu nada da perspectiva crítica do autor do artigo. Evidentemente, está implícito no artigo que o paradigma EUA, por extensão abrange ou abrangerá a curto prazo a realidade russa ou chinesa. Cuide-se a sua patologia clinica é grave...
Manuel Caetano: O mais assustador é pensar que se fora de um ciclo económico recessivo os EUA elegeram Trump o que poderão eleger no dia em que o país estiver confrontado com uma grave crise económica (e ela acabará por chegar fatal como o destino). O mesmo poderá acontecer na "europa" - se neste contexto o alheamento dos cidadãos da democracia e o crescimento político (e cultural) da extrema-direita não pára de aumentar que acontecerá numa crise económica-financeira grave? Ao contrário do que muitos parecem pensar a democracia-liberal não é um seguro de vida eterno nem um destino inevitável.
JonasAlmeida: Caro Manuel Caetano, isto lemos e ouvimos amiúde de Varoufakis a Mark Blyth: a Democracia e o Capitalismo estão longe de se darem sempre bem. Os países que estão a tirar o tapete aos seus establishments transformados em clientes do capitalismo, seja pela direita ou pela esquerda, são, como lemos aqui há uma semana num artigo sobre um estudo sobre o tema, as suas democracias mais antigas. Esta história parece bem mais complicada do que a leitura de JPP. Que Trump é um burgesso prepotente, ninguém duvida. A que essa fasquia tão baixa abre a porta será tv uma surpresa em Novembro.
PRO: Tem razão Manuel. Quer o RU quer o US estão num caminho de podridão autêntica! O Brexit e a eleição do Trump são duas faces da mesma moeda! Felizmente que existe ainda uma oposição forte quer ao Brexit , quer ao Trump! Apesar de continuar a haver ainda aqui comentadores como Jonas que defendem a podridão Brexit e Trump! Vergonhoso!
PRO: Oh Joninha Americano se acha que a eleição do Trump é tirar o tapete ao establishment entao você está muito pior do que pensamos! O Trump é um empresário, é um produto de capitalismo, cortou impostos para os ricos, pressiona a Fed a cortar taxas de juro para aumentar a bolsa e o mercado bolsista, obriga outros países aos seus interesses capitalistas com acordos regressivos de comércio! Pretende destruir a China e a UE que lhe fazem frente!
JonasAlmeida: generalizou-se na "consciência social" do ocidente um equívoco muito perigoso - a ideia de que capitalismo e democracia são a mesma coisa e que a democracia é o regime político natural do capitalismo. Segundo esta "ideia" o capitalismo teria ideologia (conclusão que os idos do Século XX e do que vai do Século XXI não permitem retirar) quando todos sabemos que a "ideologia" do capitalismo é o lucro, a renda e a acumulação ultra rápida de mais-valia. Hoje o inimigo mais perigoso e letal (porque insidioso) das democracias não são as ditaduras políticas (também elas capitalistas), é o neoliberalismo económico comandado pelo capitalismo financeiro global. Sabemos que recorrerá à ditadura para manter o seu poder (as forças de extrema-direita em ascensão aí estão para o provar).
Caro Manuel, nessa leitura, que aqui resumiu com cristalina clareza, estamos em completa sintonia. Eu sinto que esse equívoco perigoso está finalmente a ser desmontado. Vivemos tempos interessantes.
Interessantes e perigosos Jonas Almeida. Mas uns e outros não caminharam sempre juntos ao longo da caminhada do Homo Sapiens?
JonasAlmeida: Sem dúvida! Para quem gosta de citações históricas, nesta impõe-se a de Antonio Gramsci "La crisi consiste appunto nel fatto che il vecchio muore e il nuovo non può nascere: in questo interregno si verificano i fenomeni morbosi piú svariati", para o que sugiro esta tradução em Português: "o mundo velho morreu, o novo bate-se pelo nascimento, é a hora dos monstros".
PRO: Manuel o capitalismo existe sem Democracia mas a Democracia não existe sem capitalismo! Ou você consegue nomear um país Democrático que não tenha um sistema capitalismo? E já agora Manuel os ditaduras de extrema direita promovem o isolacionismo, o controlo do Estado na economia e o fim da abertura e da globalização. Em que ponto é que o neoliberalismo então precisa de ditaduras para sobreviver? O que você escreve está cheio de contradições e não corresponde a realidade!
Margarida Paredes, defensora do Serviço Nacional de Saúde: Excelente! O retrato fiel de um homem perigosíssimo no poder.
Rui Lima: Isto cansa e tem efeito contrário, sempre que todos estão a “um” passo contra a maioria. Pois vou aos números. Sim, o homem é intratável sendo eleito e : 130 meses de crescimento consecutivo record Desemprego com baixa record . As minorias tem maior taxa emprego de sempre População prisional é a mais baixa de sempre em termos percentuais Pela primeira vez desde 2001 entrada na OMC , alguém disse a China que o que fazia não era aceitável .Nem falo dos mercados E um péssimo presidente, com resultados , preferível a bom sem resultados
Joao: Hoje não concordo com o Pacheco, ou até posso concordar em parte mas discordo com o Pacheco A engrossar as procissões lamuriantes e amaneiradamente histéricas. Bla Bla Bla … caramba, critiquem o Trump objectivamente e seriamente, já muitos opinadores aqui perceberam que as narrativas amaneiradas e os histerismos só o ajudam, por exemplo em “É amarga, mas justa, a lição que Donald Trump acabou de nos dar”, “Naomi Klein: “Trump não é um intruso. É um made in America”, “Donald Trump: não o tratem como um idiota”, etc.
Joao: Continuam a cometer o mesmo erro, “o eleitorado reage sempre mal às ordens paternalistas dadas por uma unanimidade de comentadores, jornalistas e celebridades.” Deixem de “fazer bullying de uma forma sistemática, ridicularizando, do alto da sua superioridade intelectual… não apenas Trump, mas todos os seus eleitores”. Ou continuem se quiserem. O Trump trouxe uma enorme vantagem à Verdade, destapou e colocou a claro as manigâncias e as sebentices e os crimes de sempre, só com o Trump as cortinas de fumo e as manipulações se afastaram um pouco e é permitido ver agora o que sempre sai de Washington para o mundo, crime, golpe, guerra, roubo, etc, (e em Washington, mas isso é lá com eles, estão na sua casa).
E o Pacheco fica “escandalizado” com o Trump? E não ficou com a Hillary a encomendar dossier difamatório sobre o Trump ao espião inglês? E com cooperação de (diz o Steele) espiões russos? E não ficou com a ingerência do governo de Kiev na eleição do Trump fornecendo a pedido do Obama a fuga aos impostos do Manafort que trabalhava para o Trump? E não ficou quando o Biden forçou a troco de ajuda económica o governo de Kiev a despedir o procurador que investigava o filho Biden? E com a concordância do Obama? E com os aplausos e risos em directo dos americanos quando o Biden se gaba em público disso? E não ficou com a chantagem de aumento de impostos sobre os carros alemães se Bruxelas não denunciasse o tratado nuclear do Irão?
E não ficou com as chantagens e ameaças à Europa para não permitirem o negócio com a Huawei? E não ficou etc, etc, etc? … E só ficou por o governo americano (do Trump) atrasar a entrega de mísseis a Kiev (que o Obama durante anos e anos sempre recusou)? Mísseis e bombas que já choveram sobre as populações de Donetsk causando morte e destruição (só anteontem foram mais de 400 e só ontem foram mais 270)?
Espera, e o Pacheco também ficou “horrorizado” pelo Trump ter anunciado que ia finalmente retirar e desocupar a Síria? E ficou mais “aliviado” quando o Trump veio depois dizer que afinal iria ficar para “guardar o petróleo”? Ah, e o mesmo para o Iraque, ficou “horrorizado” quando do anúncio que o exército americano iria desocupar o Iraque? E ficou mais “satisfeito” quando o governo do Trump anunciou que afinal era a brincar e que iriam ficar lá até querer?, etc? etc? .... Deixem de "horrores" e "escândalos" amaneirados, sejam objectivos e sérios, preocupem-se com o essencial, a meu ver a morte e a vida humana de milhões de pessoas pelo mundo, deixem os teatro e aparências para depois, as procissões e eventos para secundário.
JonasAlmeida: Concordo, João, JPP alimenta aqui a fantasia de que se alimenta o burgesso. Aliás, o facto de os EUA poderem estar à beira de eleger um presidente socialista devia fazer JPP moderar a sua percepção do alcance do nepotismo de Trump.
Ceratioidei: Subscrevo na íntegra. JPP diz tudo. Só discordo do título: A caminho, caro JPP? Eu diria, se me permite o desabafo, que a ditadura já chegou, viu e venceu!
Rui Lima: Um exagero do JPP , digo os 2 últimos países no mundo com possibilidades de ter uma ditadura são os USA e UK , em todos pode haver menos nestes e o JPP sabe , por isso seu comentário é uma aberração. Escrevo pensando em LI WENLIANG o médico que acaba de morrer, foi o primeiro a alertar para o novo vírus e foi preso. Caro JPP é na China que a democracia está em risco, mas como velho maoísta desvia a atenção para Trump .
Manuel Brito: Na China a democracia não pode estar em risco porque foi coisa que nunca lá existiu. Por sua vez as tentativas de a estabelecer na Rússia pós-soviética acabaram numa caricatura autoritária e oligárquica liderada por um ex-agente do KGB. Logo o que está verdadeiramente em causa é a democracia norte-americana, porque as outras nunca o foram.
Rui Ribeiro: Texto presciente e informado. Os riscos apontados são reais, muito mais reais do que poderiam parecer há bem pouco tempo.
FPS: Pois, vai sendo tempo dos USA provarem o que impõem ao resto do mundo... Não estou ralado e muito menos preocupado.
Leitor Registado: JPP deveria ter juízo ... o que se passou nos EUA foi o estado de direito a funcionar...com as suas instituições a cumprir cada uma o seu papel.
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