Porque os bons serviços, como o que este
texto de Salles da Fonseca implica, de
alertar para as consciências dos políticos e dos portugueses autênticos, esses
não contam. O país e o seu governo estão-se borrifando para a correcção
linguística, continuando a ajavardar a língua, com os seus “há anos atrás” e companhia, que nos põem no rubro do nosso espanto
indignado, jamais desfeito, pese embora tudo o que de positivo se faz por cá,
entre cujas obras sobressai o programa dos “got talent Portugal”, mau grado
certas escorregadelas gramaticais como o “houveram” de um verbo outrora
impessoal, o pobre, embora estes exemplos não façam parte do AO90, é claro,
pois não têm a ver com ortografia. Têm, sim, a ver com boçalidade de que trata Salles da Fonseca, ou incultura, pois são erros de palmatória,
sintomáticos deste nosso «país a “entristecer”»
cada vez mais, se não se atalha.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 17.02.20
O Acordo Ortográfico de 1990
cabimenta aquilo a que antigamente chamávamos erros de ortografia, privilegia a
fonia e ignora a etimologia. Ou seja, numa penada, a língua portuguesa perdeu o
seu carácter maioritariamente erudito e transformou-se numa forma de expressão
da boçalidade de caipiras, jagunços e outros iletrados. Claramente, o tão
medíocre «nivelar por baixo».
Nestes últimos dois séculos, as
tentativas de aproximação da nossa escrita à fonia são tão antigas quanto
António Feliciano de Castilho cuja proposta «viu»[i]
chumbada por quem então tinha poderes para decidir sobre esse tipo de matérias.
Muito mais recentemente, foi o
brasileiro Paulo Freire que preferiu
combater o flagelo do analfabetismo adulto por uma via de escrita fónica que os
destinatários conseguissem entender, ou seja, uma forma despojada da erudição
que os sertanejos não conseguiriam absorver.
Pessoalmente, aceito o método
fónico como transitório, destinado a uma classe etária já avançada que não
criará raízes nas normas oficiais mas que passa assim a ter um meio de
comunicação de que anteriormente não dispunha. Contudo, se essa escrita
fónica me parece aceitável quando dirigida aos mais velhos, já não a tenho como
aceitável junto das crianças.
Foi precisamente o contrário que
aconteceu em Portugal: nós, os adultos, preferimos usar a forma erudita e às
crianças foi imposta a boçalidade.
Claramente,
um mau serviço prestado à Nação.
Fevereiro de 2020
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS:
Francisco G. de Amorim, 17.02.2020: O
trivial são governantes bocais.
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