Se cá nevasse, fazia-se cá ski
O certo é que já se faz ski por cá, mas
nada a ver com aquilo a que se assiste nos nórdicos países dos desportos na
neve, que a gente vê nos canais próprios televisivos. Mas aqui não neva o
suficiente e o clima cria moleza e, como explica Anónimo, há divergência entre
o trabalhador cá dentro e o que lá fora trabalha bem, mais empreendedor, porque
lhe são oferecidas condições mais generosas das que aqui se oferecem. E
todavia, um espectáculo como “Got Talent Portugal” prova que também por cá se
constroem valores que convém aproveitar, mas é lá fora que esses valores vão
continuar, nos estudos que os projectarão. Alguma coisa falha por cá e tem a
ver com idiossincrasias temperamentais, com impreparação, com pouca exigência,
com um historial de miséria que a tristeza do fado reproduz…
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 04.02.20
DIZ O «FORUM PARA A COMPETITIVIDADE»
QUE:
Portugal
tem um duplo problema de ter demasiado emprego nas microempresas (com menos de
10 trabalhadores): porque está claramente acima da média europeia; porque,
no nosso país, as microempresas têm uma produtividade muito inferior à das
outras. Se Portugal tivesse uma distribuição do emprego por dimensão das
empresas em linha com a média da UE, poderíamos ter um PIB cerca de 15%
superior ao actual.
E DIGO EU QUE:
Para que esses 15% a mais no PIB
existissem, era necessário que a mão de obra em causa soubesse fazer alguma
coisa para além de fritar batatas e servir às mesas.
Fevereiro de 2020
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIO
Anónimo 04.02.2020: Caro Dr. Salles da Fonseca: Como não me canso de
dizer, esta história da "produtividade" presta-se a muitos equívocos.
Quem ouve sem mais pensa logo que é o contrário de "preguiça": por
cá, o pessoal é calaceiro, não gosta de trabalhar, é o que é. Alguma verdade
haverá nessa conclusão. Mas, constatando que este mesmo pessoal, uma vez emigrado,
trabalha que se desunha e alcança mesmo os lugares de topo entre as comunidades
imigrantes mais bem sucedidas na Europa, forçoso é concluir que aquela
dicotomia "produtividade/preguiça" não deve esgotar o tema. Com
efeito, produtividade é também a medida do valor acrescentado
no processo produtivo - e será mais
função da qualidade da inovação, da organização empresarial e dos métodos de
trabalho do que propriamente do empenho do pessoal assalariado. Se as PME
têm pouca produtividade (em comparação com o que se passa no resto da Europa) é
porque, em grande parte, não são motivadas por inovação significativa, não
dispõem de organização capaz e não são dotadas de métodos de trabalho
eficientes (convenhamos que gerir um restaurante não é das tarefas mais
complexas e fritar batatas não exige especiais competências). Por uma razão que me escapa, entre nós,
desde há décadas, quem manifesta espírito empresarial é, quase só, quem não
se conforma com a pobreza das suas raízes - e estes tais têm, por regra, fraca
escolaridade. Porque quem tem formação académica almeja uma carreira
na Administração Pública, onde as oportunidades para inovar são escassas, como
é escasso o risco que aí se corre. Infância
pobre, logo pouca escolaridade, subida a pulso, "empresa de patrão"
são as características estruturais no tecido empresarial português. Saber
porquê isto é o que importa apurar. Tenho por mim que a aberrante
lei da insolvência tem muito a ver com este estado de coisas: uma lei que lança
sobre as iniciativas empresariais falhadas a suspeita de fraude afasta os que
não querem passar pelo vexame e acolhe, unicamente, os loucos e os que não vêem
alternativa para subir na vida.
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