quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Se cá nevasse, fazia-se cá ski


Se cá nevasse, fazia-se cá ski
O certo é que já se faz ski por cá, mas nada a ver com aquilo a que se assiste nos nórdicos países dos desportos na neve, que a gente vê nos canais próprios televisivos. Mas aqui não neva o suficiente e o clima cria moleza e, como explica Anónimo, há divergência entre o trabalhador cá dentro e o que lá fora trabalha bem, mais empreendedor, porque lhe são oferecidas condições mais generosas das que aqui se oferecem. E todavia, um espectáculo como “Got Talent Portugal” prova que também por cá se constroem valores que convém aproveitar, mas é lá fora que esses valores vão continuar, nos estudos que os projectarão. Alguma coisa falha por cá e tem a ver com idiossincrasias temperamentais, com impreparação, com pouca exigência, com um historial de miséria que a tristeza do fado reproduz…

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA
 A BEM DA NAÇÃO, 04.02.20
DIZ O «FORUM PARA A COMPETITIVIDADE» QUE:
Portugal tem um duplo problema de ter demasiado emprego nas microempresas (com menos de 10 trabalhadores): porque está claramente acima da média europeia; porque, no nosso país, as microempresas têm uma produtividade muito inferior à das outras. Se Portugal tivesse uma distribuição do emprego por dimensão das empresas em linha com a média da UE, poderíamos ter um PIB cerca de 15% superior ao actual.
E DIGO EU QUE:
Para que esses 15% a mais no PIB existissem, era necessário que a mão de obra em causa soubesse fazer alguma coisa para além de fritar batatas e servir às mesas.
Fevereiro de 2020
Henrique Salles da Fonseca

COMENTÁRIO
 Anónimo  04.02.2020:  Caro Dr. Salles da Fonseca: Como não me canso de dizer, esta história da "produtividade" presta-se a muitos equívocos. Quem ouve sem mais pensa logo que é o contrário de "preguiça": por cá, o pessoal é calaceiro, não gosta de trabalhar, é o que é. Alguma verdade haverá nessa conclusão. Mas, constatando que este mesmo pessoal, uma vez emigrado, trabalha que se desunha e alcança mesmo os lugares de topo entre as comunidades imigrantes mais bem sucedidas na Europa, forçoso é concluir que aquela dicotomia "produtividade/preguiça" não deve esgotar o tema. Com efeito, produtividade é também a medida do valor acrescentado no processo produtivo - e será mais função da qualidade da inovação, da organização empresarial e dos métodos de trabalho do que propriamente do empenho do pessoal assalariado. Se as PME têm pouca produtividade (em comparação com o que se passa no resto da Europa) é porque, em grande parte, não são motivadas por inovação significativa, não dispõem de organização capaz e não são dotadas de métodos de trabalho eficientes (convenhamos que gerir um restaurante não é das tarefas mais complexas e fritar batatas não exige especiais competências). Por uma razão que me escapa, entre nós, desde há décadas, quem manifesta espírito empresarial é, quase só, quem não se conforma com a pobreza das suas raízes - e estes tais têm, por regra, fraca escolaridade. Porque quem tem formação académica almeja uma carreira na Administração Pública, onde as oportunidades para inovar são escassas, como é escasso o risco que aí se corre. Infância pobre, logo pouca escolaridade, subida a pulso, "empresa de patrão" são as características estruturais no tecido empresarial português. Saber porquê isto é o que importa apurar. Tenho por mim que a aberrante lei da insolvência tem muito a ver com este estado de coisas: uma lei que lança sobre as iniciativas empresariais falhadas a suspeita de fraude afasta os que não querem passar pelo vexame e acolhe, unicamente, os loucos e os que não vêem alternativa para subir na vida.


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