E assim, sem isso, vamos resvalando na
bestificação social, segundo a crónica grave e séria de Helena Matos, que os comentadores aplaudem, em
idêntica preocupação. Mas não nos eximamos nós da culpa, a cobardia fazendo
parte dos esquemas de actuação de todos nós, que cerramos os olhos.
O Processo de Grunhificação em Curso / premium
Algures entre chamar rei a Eusébio e
sr. a Máŕio Coluna e guinchar diante de Marega, Portugal ajavardou. O PREC
tornou-se no PGEC: Processo de Grunhificação em Curso. O amanhã que ia cantar é
o hoje.
HELENA MATOS colunista
do OBSERVADOR OBSERVADOR,
23 fev 2020
Aqui fica o nosso Processo de
Grunhificação em quatro passos.
1º passo: tudo é normal. Experimente-se segurar a porta de um centro comercial
ou mais precisamente não repetir aquele gesto de a largar na cara de quem nos
precede. Vale a pena a experiência: nem um obrigada. Passam e vão à vida e nós
segurando na porta como se fôssemos uns porteiros invisíveis. Mas é normal, não
é? E aquele carro mesmo ao nosso lado com o som no máximo? Não vamos dizer
nada, pois não? Agora é assim, não é? Também vamos fazer de conta que somos
transparentes quando viajamos de comboio e de repente um grupo entra e impõe as
suas regras na carruagem: palavrões, pés nos assentos, encontrões… O melhor é
mesmo fazer de conta que se estava a pensar sair na próxima estação. E até
saímos, claro. Provavelmente é normal e mais normal ainda que aquelas crianças
à porta da escola digam dois palavrões em cada três palavras. Ou até que
insultem a professora que vai a passar (e faz de conta que não é nada com ela)…
A normalização da boçalidade é fundamental num Processo de
Grunhificação.
2º passo: a humanização. De repente os governantes estão aos pulos num
qualquer estádio. Tem graça, não tem? Até parece que os humaniza! E os
políticos que cozinham? E os que fazem de conta que são cabeleireiros? Ficam
mais humanos, não é? O conceito de humanização usado nos processos de
grunhificação nada tem a ver com humanismo mas sim com desresponsabilização. Um
político não quer discutir o seu programa? Cozinha diante das câmaras ou pula
nos estádios de futebol.
Quanto
mais graves são os actos pelos quais os responsáveis devem prestar contas mais histriónicas
são as performances da humanização e seus sucedâneos. Os portugueses morrem no
meio do falhanço clamoroso do seu dito serviço de protecção civil? O PR muda de
calções em público e vai nadar. Aprovam-se as 35 horas para a função pública
sem fazer as contas ao impacto dessa medida no SNS? É a
descrispação. A
“humanização” e os seus superlativos “política dos afectos” e “descrispação”
são os mecanismos através dos quais os responsáveis se desresponsabilizam
fazendo de conta que têm responsabilidades idênticas aos demais cidadãos. Não é
verdade, somos todos iguais e somos humanos mas temos responsabilidades
diferentes. A encenação da humanização é uma forma de quem tem
responsabilidades se desembararçar delas.
3º passo: o
indignadismo. Porque é que
uns factos geram ondas de indignação e outros igualmente graves passam de forma
quase incógnita? Lembram-se quando as gravuras
de Foz Côa não sabiam nadar e a barragem teve de ser interrompida?
Agora para o aeroporto ser construído no Montijo não só os pássaros vão aprender outras rotas como o governo anuncia que se prepara para mudar a lei que obriga a que o
aeroporto seja aprovado por todos os municípios abrangidos pela
infraestrutura! E quando a notícia de que alguém morrera numa ambulância era
suficiente para pedir a cabeça do ministro da Saúde? Agora morre-se nas
urgências – naquelas que funcionam – à espera de consulta e a ministra sorri. O que
mudou? A área política do governo. O
monopólio da indignação está à esquerda e esta defende ferreamente o seu
monopólio: não só gere com perícia as sucessivas indignações ou a falta delas
como, não menos importante, define claramente o que pode ser ou não motivo de
indignação: por exemplo, as agressões a polícias são recebidas num silêncio que
contrasta com o ruído gerado pela mais simples suspeita de que as forças de
segurança não procederam de forma correcta. O indignadismo
selectivo mantém a
sociedade num estado de frenesim constante, impedindo-a de parar para pensar. Não há
PGEC sem indignadismo.
4º passo: o
excepcionalismo. Digamos
que a coisa foi mais ou menos assim: as excepções começaram por confirmar as
regras. Depois as excepções passaram a valer tanto quanto as regras. Agora as
excepções ditam as regras. A legitimar este absurdo em que os casos particulares
ditam as leis gerais temos o culto das sempre particulares circunstâncias de um
eu cuja felicidade implica invariavelmente que legitimemos o que sabemos trazer
mais problemas que aqueles que vai resolver: é
a mulher cuja felicidade passa por ser mãe e para ela ser mãe temos de aceitar
que seja inseminada com o esperma do marido morto; é o casal que quer ter uma
criança com material genético seu e como tal acha que pode encomendar uma
criança a outra mulher, é a família que acha que o seu parente em estado
vegetativo preferia morrer a estar assim (sim, achar que a Fátima quereria certamente morrer não nos
pode autorizar a matá-la, não apenas por ela mas sobretudo pelas
pessoas a quem esse argumentário poderia ser aplicado)… Individualmente
todos estes “eus” estão cheios de razão mas pela mesma razão que não
podemos tolerar que o pai a quem torturaram ou mataram um filho faça justiça
por conta própria (não é que não tenha razões, não é até que não pensemos que
faríamos o mesmo) não podemos aceitar que o sofrimento de cada um legitime a
barbárie de um mundo em que o bem comum foi sacrificado à ditadura dos egos. Ou
mais precisamente de alguns egos.
No fim acabamos tolerando o que
acreditávamos intolerável. Calando o que nos indignava. Pactuando com o que
sabemos ser um crime. O Processo de Grunhificação acontece muito rapidamente.
Recuperar dele é que demora tempo.
COMPORTAMENTO EDUCAÇÃO EUTANÁSIA POLÍCIA POLÍTICA SAÚDE TELEVISÃO URGÊNCIAS
VIOLÊNCIA
POLICIAL SOCIEDADE SEGURANÇA HOSPITAIS VIOLÊNCIA CRIME
COMENTÁRIOS
Maria L Gingeira: O relativismo é a ameaça que
tudo levava a crer nos iria perturbar e confundir neste século. Porque a ética
é o factor que verdadeiramente caracteriza e distingue os tempos e os povos.
Sem ética vamo-nos transformando em gente para quem tanto faz e que vive ao
Deus dará. Uns porque desistem, outros porque manipulam.
manel buiça: Há muito que não visitava o
Observador. E a HM e o AG, entre alguns poucos outros opinadores, constituiam a
única razão para ter assinado, só um ano, esta pífia promessa de um jornalismo
diferente e alternativo. Desisti porque não dá para aturar este censor dos
comentários e esta falta de rigor e seriedade do restante jornalismo
geral, que virou à esquerda e se mantém vassalo do politicamente correcto.
Uma desilusão. Mas, pelo que leio nesta caixa de comentários, os comentários
continuam agressivamente sob ataque de um censor qualquer, informático e
humano, a afastar leiitores e assinantes. A cegueira e a burrice mantém-se,
portanto, iguais. Toda razao
HM. Basta olhar para as 3 primeiras figuras que representam este Estado
corrupto e este regime podre e decadente. Está lá todo o processo de que fala.
Até ao tutano desta moribunda falsa Democracia.
José Ramos: O artigo de Alberto Gonçalves,
de ontem, e este artigo de Helena Matos, de hoje, são a maior homenagem que se
podia fazer à memória de Vasco Pulido Valente. Estes dois artigos valem mais
que muitas comendas e medalhas porque são sérios. Já as medalhas, sobretudo
depois do processo de "caricazação"(*) concluído, não o são.
Carlitos Sousa: A Helena Matos está cheia de
razão na sua denuncia. Quando um grunho, para ultrapassar um obstáculo legal,
afirma que solução é alterar a Lei (que foi aprovada pelo PS), batemos no
fundo. Depois admirem-se que uma grande
percentagem de votantes digam CHEGA.
Catarina Alves Análise soberba Helena. Nos tempos que correm, a sua magnífica conclusão
não pode, porém, ser aceite como correcta! O que objectivamente é não é nem
pode ser ! Não se trata nada da óbvia grunhificação que identifica. Nada disso.
Trata-se, sim, de um novo estádio superior de evolução civilizacional ! Deixando
para trás as medonhas, obscurantistas e, mais do que tudo, claro, intolerantes,
permissas éticas e culturais que conduziram a civilização ocidental ás trevas
grotescas em que nos encontrávamos até agora. Felizmente chegou o progressismos
marxista, e o seu gémeo liberalismo-eutanasista, para nos libertarem das trevas
e sobre nós generosamente derramarem a luz do progresso, da justiça social e
ambiental, da civilização e da grande educação do pensamento e da palavra, que,
por manifesto lapso, identifica como grunhificação. Se ainda a deixarem
escrever e publicar, para a semana cá estaremos. Bem haja.
António Coimbra: Adoro ler os seus artigos e a
forma, por vezes caustica, com que descreve as situações, até parece estarmos a
ver um filme. Na verdade o 25A foi
importante para o país, até porque aconteceu e não há Nada a fazer, contudo não
era necessário ter destruído toda a instituição de Boa Educação, Respeito e
Autoridade, criando-se uma libertinagem, apelidada de liberdade individual, que
pode em todo o momento passar por cima dos outros e ofende-los, sem olhar a
meios. Continue a escrever desta forma e a
colocar o dedo na ferida da libertinagem e impunidade política que se vive
neste nosso pais.
aac 666 : Excelente mais mulheres assim
Jorge Maria Soares Lopes de Carvalho Obrigado
Helena por esta sarcástica selfie deste PGEC conduzido pelos esquerdosos e sua
guarda pretoriana da “comunicação social” lambe botas de seus chefes supremos
na desconstrução da nossa querida Pátria. Morte aos renegados!
Ping PongYang: Tenho que
admitir que nutro uma certa simpatia pelo grunhus portucalensis. O grunho
não nasce grunho nem escolhe ser grunho: é vítima dum ambiente desestruturado
em tenra idade, passa completamente "ao lado" do sistema educativo e
de saúde (mental), não desenvolve empatia nem camaradagem, falha miseravelmente
na carreira
Joaquim Moreira: Este Processo
de Grunhificação em Curso ou PGEC (ou seja o PREC aburguesado pela esquerda que
pronuncia mal os "R"), é o retrato muito fiel, de uma sociedade que
já teve uma formação de Quartel. Passamos do "respeitinho é muito
bonito" do passado,à situação em que o grunho é que é o "bem
educado". Não admira, por isso, que a grunhificação em curso, seja um
processo bem pensado. Pela esquerda e pela sua extrema, que foi acolhida por
uma certa direita, por cobardia e medo dessa seita. Não é por acaso que defendo
os que, dizendo que não são de direita, nunca em tempo algum aceitam fazer
parte da dita seita. Porque, não tenhamos ilusões, pior que ser do centro, é
ser dessa direita que não tem nada dentro. Só tenho pena que a guerra entre
essa direita e o centro, esqueça de que o mais importante, no momento actual:
dar combate a esta esquerdalha que quer Grunhificar Portugal.
Vicente Évora > Joaquim Moreira: Parabéns pelo seu comentário. Concordo com tudo quanto certeiramente diz a
propósito da "certa direita" e da sua ignóbil posição. Não posso
porém aceitar o salto que daí dá, sem fundamento factual, para
apoiar aquele que "diz não ser de direita". Como sempre, as
acções e os factos falam por si e são para mim o único critério que valorizo.
Assim, a verdade histórica, nua e crua, que nem mesmo a argúcia argumentativa
com que o meu caro aqui nos brinda pode ultrapassar, é que o que "diz não
ser de direita" vota na AR, com a esquerda, a sua extrema e a "certa
direita", a favor da grunhificação de Portugal. Processo que, hoje por
hoje, se encontra já quase totalmente consolidado.
Urubu Mouche: O PGEC: Processo de Grunhificação em Curso, assim baptizado pela Helena
Matos define com acutilância retrato fiel de um “povo de merda” … como lhe
chamou Lobo Antunes. Aliás, já em 1886, Guerra Junqueira se referia à nossa
gente como: " Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas,
sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes,
a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as
moscas..."Vejam lá se estes ingredientes não são os mais apetecidos para
repasto dos políticos corruptos … mais de toda a “ladroagem” que por aí anda a
meter as mãos nos bolsos alheios !!!
Maria Nunes: Excelente artigo de HM.
Pergunto a mim própria, o que virá a seguir?
Rui Guimarães: E muitos mais exemplos se poderiam juntar. Por estes e por outros, é que um
homem íntegro, educado e civilizado, foi afastado para dar lugar aos grunhos. A cereja no topo do bolo, foi a eleição do
actual Presidente que, para nossa desgraça, ameaça prolongar-se.
José Montargil: Excelente artigo. Concordo com
tudo, Já passei por experiências semelhantes como julgo que à maioria das
pessoas também lhes aconteceu. O dia-a-dia destas coisas é habitual e por isso
tapo os olhos fecho a boca e ponho algodões nos ouvidos como o macaco. Torna-se
um acto de cobardia colectivo. Fazemos de conta que nada se passa que o mundo
continua igual conforme Deus o criou. O que lemos nos jornais e ouvimos nas
televisões é chumbado, é chinês, fazemos de conta que não existe. Eu, por ex,
vejo as notícias na TV de Espanha, leio jornais estrangeiros e vivo num mundo
de problemas que não me atingem tão directamente. É uma fuga, eu sei, uma
maneira de não querermos enfrentar esses problemas, mas se tudo à minha volta
se está a tornar intolerável, sem escapatória, como um alien no meio disto tudo
que fazer para não dar em doido?
Domingas Coutinho: H.M. tocou na ferida. Ainda
esta noite houve um brutal acidente na segunda circular porque uns jovens
andavam a brincar as corridas a alta velocidade e a seguir como se não bastasse
o problema causado pelo acidente e consequente limpeza da via, uns pais e
familiares ou amigos foram para lá causar ainda mais confusão e claro toda a
gente teve de aguentar. Isto é mais uma das provas do caos em que se tornou o
País.
Rui Lima: O povo nunca se eleva ao padrão do seu melhores mas
quando quem nos governa são os piores da turma . Teremos sociedades cada vez
menos tolerantes a nossa coexistência era baseada na confiança mútua , não
serão leis nem polícias ou tribunais que farão as sociedades melhores.
MCMCA A: Parabéns HM e continue assim. Quando num país as leis se baseiam em
casos individuais, seja na morte ou na construção de um aeroporto, e não em
valores de um colectivo passamos a viver na barbárie dos interesses individuais
que relegam para segundo plano os interesses colectivos. Estranhamente é a
esquerda do Bloco Estouvado que afirmando-se colectivista se empenha num
frenesim a esbulhar as leis baseadas nos valores colectivos para introduzir as
leis baseadas no egoísmo individual. De facto, ao contrário da velha Albion
ninguém nos segura a porta, como ninguém dá o seu lugar a um idoso ou uma
grávida com uma criança ao colo: somos todos iguais na imbecilidade com que o
ensino e a TV educaram as últimas gerações de Portugueses e no modo como os
nossos representantes banalizaram as suas idas às latrinas de consumo, tudo em
nome do seu supremo egoísmo vulgo conquista de simpatia e votos. Cecil
Rodhes dizia dos portugueses que nunca se conseguiam impor porque não se sabiam
dar ao respeito com os de baixo, e isso manifesta-se na arrogância com que os
de baixo olham os outros. Sim, enquanto nos tempos idos o Eusébio era rei e não
se chamava F daquela senhora a um agente da autoridade hoje o insulto é o verbo
e quanto mais ferir mais feliz se sentem porque a sua baixa auto-estima assim o
exige. Quando um estado não reconhece o mérito individual a bestialidade
colectiva vence.
Liberal Impenitente: Ainda não largou completamente
a eutanásia, a Helena Matos, mas faria bem se o fizesse. Tem bastante razão na
sua descrição do PGEC, mas não fala nas consequências políticas do PGEC. Um dia
um vivaço aparece a gritar "vergonha, vergonha, eu assim, eu assado",
e muita gente, cansada de grunhice, vai atrás do vivaço, não percebendo que
está apenas a completar o PGEC: com um Estado de grunhos!
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