As coisas miseráveis que acontecem neste
país, que uma esquerda, ávida de protagonismo, pateticamente pedante, manipula.
PISA 2018 e o erro na amostra /premium
Tudo aponta para um erro metodológico no
PISA 2018, que tornou a amostra portuguesa referente ao privado desligada dos
números reais das matrículas e inviável para comparações com os alunos do
público.
ALEXANDRE HOMEM CRISTO
OBSERVADOR, 23 jan 2020
Na
sequência da publicação do PISA 2018, cujos
principais resultados analisei aqui, houve um indicador que
intrigou toda a gente: os desempenhos médios dos alunos do ensino privado
caíram a pique, abandonando os habituais níveis mais elevados e colocando-se ao
patamar dos do ensino público. O resultado é intrigante porque contraria
todos os indicadores comparados existentes sobre os níveis de desempenho dos
alunos do ensino privado em Portugal (e um pouco por todo o mundo) — em função
de um perfil socioeconómico mais elevado, que está correlacionado com os
desempenhos escolares, é apenas expectável que os alunos do ensino privado tenham
resultados escolares superiores à média nacional.
O
que explicava esse resultado intrigante no PISA 2018? Um breve olhar sobre a
caracterização da amostra referente aos alunos do ensino privado permitiu
constatar algo inesperado: segundo o PISA 2018, o perfil
socioeconómico dos alunos do ensino privado em Portugal baixou
vertiginosamente, ao ponto de a percentagem de alunos desfavorecidos ter
triplicado entre o PISA 2015 (10,8%) e o PISA 2018 (30,3%). Ora, na
realidade do dia-a-dia das escolas, esse súbito empobrecimento não sucedeu. E não havendo qualquer acontecimento social ou
económico que permitisse argumentar em defesa desse empobrecimento súbito, o
cenário mais provável tornou-se a existência de algum erro ou alteração
metodológica na construção da amostra do PISA 2018. Foi precisamente o que sugeri neste artigo, onde também
assinalei a importância de o IAVE (a entidade que, em Portugal, coordena a
implementação do PISA) vir a público esclarecer o que teria acontecido.
Infelizmente,
o IAVE manteve-se em silêncio até à data. Mas, felizmente, houve mais quem
considerasse o assunto relevante. Isabel Flores analisou a composição da amostra do PISA 2018
e, num artigo no Público,
trouxe duas novas informações imprescindíveis para esta discussão.
A primeira é que, como se suspeitava, a
composição da amostra dos alunos no privado do PISA 2018 é substancialmente
diferente da do PISA 2015, com uma maior percentagem de alunos oriundos das
vias profissionais (figura 1). Em 2015, os alunos nas vias gerais do ensino
privado (66%) e nos contratos de associação (13%) somavam 79% do total da
amostra, com 21% dos alunos em vias profissionais ou vocacionais. Ora, em 2018, tudo foi muito diferente: os
alunos nas vias profissionais somavam 51% (40% no profissional e 11% nos Cursos
de Educação e Formação – CEF), enquanto os alunos nas vias gerais ficaram
reduzidos a 49% (dos quais 12% são alunos de colégios com contratos de
associação, a única parte que se mantém estável nas duas amostras). A
composição das amostras é estruturalmente diferente e assim, com maior presença
de alunos das vias profissionais, fica explicada a descida dos desempenhos
médios.
A
segunda informação que Isabel Flores
trouxe foi que os alunos do ensino privado mantiveram os seus níveis de
desempenho entre 2015 e 2018. Ou seja, os alunos das vias gerais do privado
tiveram resultados semelhantes entre as duas edições do PISA, assim como os dos
contratos de associação e os das vias profissionais. Ou seja, não houve
qualquer alteração relevante dos níveis de desempenho. Se a média geral dos
privados diminuiu, isso deveu-se à nova composição da amostra, mas não a
oscilações de performance dos alunos. Assim, caem por terra as teorias que,
baseadas na média do PISA 2018, anunciaram a falência educativa do ensino
privado (por exemplo esta, de
Nuno Serra, que sugeria que a queda estivesse relacionada com um enfoque
excessivo no “treino” para os exames).
Provada
a alteração da composição da amostra dos privados no PISA 2018, coloca-se uma
nova questão: essa alteração da composição da amostra resulta de um
erro (ou “azar”) metodológico, ou espelha uma nova realidade do sector do
ensino privado? Isabel
Flores sugere que seja a segunda hipótese,
por via de um recente ressurgimento dos cursos CEF e por haver cada vez mais
alunos a optar pelas vias profissionais por escolha própria aos 15 anos (e não
derivado de insucesso escolar nas vias gerais). Ou seja, Isabel
Flores sugere que, nesta nova realidade, o “ensino
privado em Portugal passou a servir populações provenientes de estatutos
socioeconómicos muito baixos” e por isso com maiores índices de insucesso – o
que explicaria a mudança na amostra do PISA 2018 e os piores desempenhos
comparativamente a edições anteriores.
Eu discordo de Isabel Flores nesta conclusão e, pelo contrário, proponho que a
explicação correcta esteja mesmo na metodologia. Isto porque a “nova
realidade” que a investigadora aponta para o ensino privado não existe nos
dados das matrículas do Ministério da Educação (DGEEC). Ou seja, como
tentarei demonstrar abaixo, os dados das matrículas no ensino privado dos
alunos de 15 anos, entre 2015 e 2018, não apresentam qualquer alteração
estrutural relevante, muito menos ainda algo próximo da proporção do que mudou
na amostra do PISA 2018.
Vamos
aos dados. Descobrir que escola frequentam os alunos de 15 anos não é uma
tarefa linear. Os dados publicados pela DGEEC, nomeadamente nos seus relatórios estatísticos anuais do
“Perfil do Aluno”, não apresentam essa informação detalhada entre
sectores público e privado. Mas, com alguns cálculos, é possível estimar
e obter resultados que ficarão muito próximos da realidade. O que fiz foi,
para cada opção (vias gerais do ensino básico e secundário, vias profissionais
no básico e secundário), obter a proporção de alunos de 15 anos matriculados
sobre o total de alunos matriculados (todas as idades) e, posteriormente,
multiplicar essa proporção ao total de alunos no privado em cada uma dessas opções. Os valores obtidos são, por definição, aproximados,
mas estarão muito próximos dos oficiais. E, como se vê na figura 2 e abaixo
explico, os resultados são esclarecedores.
Entre
2015 e 2018, a percentagem de alunos de 15 anos matriculados em colégios privados
nas vias gerais aumentou (de 34% para 39%). Este aumento deve-se, em grande medida, à entrada de
alguns alunos que frequentavam colégios que perderam os contratos de
associação. A diminuição da percentagem de alunos matriculados em escolas
com contrato de associação (de 28% para 19%) foi a maior oscilação neste
período. Nas vias profissionais e vocacionais (incluindo CEF e Cursos
Tecnológicos), as diferenças são menores do que se poderia supor. No
profissional/ vocacional até diminuiu, pois passou de 31,5% para 28%.
Porquê? Porque embora se “ganhem” 600 alunos no nível secundário,
“perdem-se” 1300 alunos no vocacional do ensino básico, que entretanto foi
extinto. Curiosamente, é nos CEF que um número similar de alunos surge
(1400 alunos), o que parece praticamente uma transferência directa entre o
antigo vocacional e os “novos” CEF. Finalmente, nos Cursos Tecnológicos a
diferença é irrelevante (menos 0,5%).
Traduzindo
tudo isto, o que se vê nas matrículas é o seguinte: no total do ensino
privado, a percentagem de alunos nas vias gerais (privado e contratos de
associação) passou de 62,3% do total (em 2015) para 58,2% (em 2018), enquanto
nas vias profissionais passou de 37,6% (em 2015) para 41,7% (em 2018). Ou seja,
não se observa qualquer alteração brusca nas matrículas do ensino privado neste
período que justifique alterações profundas na amostra do PISA 2018.
Aliás,
se compararmos a realidade das matrículas com as amostras dos PISA 2015 e 2018,
outras incongruências surgem. Por exemplo, se a amostra do PISA 2018
efectivamente pretende reflectir a realidade das matrículas, como explicar o
caso dos alunos inscritos nos colégios com contratos de associação, que
diminuíram fortemente desde então, embora isso não apareça na amostra, que
mantém estável o peso percentual dos alunos matriculados nesses colégios? Outra
incongruência: como explicar que as vias profissionais sejam maioritárias na
amostra do PISA 2018 quando, na realidade das matrículas, nunca o foram e
continuam longe de o ser?
Uma terceira incongruência é mais
complexa, mas fundamental para a compreensão do problema: não é só a amostra do PISA 2018 que tem divergências face às matrículas
de 2018 (porque sobrevaloriza a oferta profissional), também há divergências na
amostra do PISA 2015 face às matrículas de 2015 (que sobrevaloriza as vias
gerais). Acontece que há boas razões para isso: sobrevalorizar (dentro do
razoável) as vias gerais do ensino privado na amostra do PISA garante a
comparabilidade dos resultados entre sectores público e privado. Repare-se que,
na amostra nacional do PISA 2018, 84% dos alunos estão nas vias gerais e só 16%
nas vias profissionais. No PISA 2015, foram 87% e 13%, respectivamente. Ou
seja, se a composição da amostra do ensino privado no PISA for maioritariamente
composta por alunos das vias profissionais (51%) e a do público apenas tiver
uma pequena minoria de alunos destas ofertas educativas, inviabiliza-se a
comparação de resultados entre sectores público e privado. De resto, o que aconteceu neste PISA 2018 demonstra-o: a
comparação entre os resultados dos sectores privado e público gera mais
equívocos do que promove esclarecimentos.
Dir-me-ão que, na sua amostra para
Portugal, o PISA deve assegurar a representatividade dos alunos portugueses
como um todo, mas não forçosamente dos alunos do público e dos alunos do
privado. É um
argumento possível. Mas se assim for, então tem de ficar claro que a amostra
referente ao ensino privado não representa o ensino privado (i.e. é
praticamente inútil) e que são inválidas as comparações entre desempenhos de
alunos no público e no privado dentro do PISA. Não foi o que aconteceu. Pelo
contrário: no seu relatório de apresentação de resultados do PISA 2018, o
próprio IAVE compara sucessivamente os alunos do público e do privado nos desempenhos
e literacia a Leitura, Matemática e Ciência. Portanto, alguma coisa não bate
certo.
Goste-se
mais ou menos do que eles dizem, os dados são o que são. E, até ao momento, os
dados excluem as explicações alternativas: tudo aponta no sentido de um erro
metodológico no PISA 2018, que tornou a amostra portuguesa referente ao privado
desligada dos números reais das matrículas e inviável para comparações com os
alunos do sector público. Seria uma evidente mais-valia que o IAVE viesse
esclarecer esta situação.
COMENTÁRIOS
Maria Emília Ranhada Santos: São
uma cambada de mentirosos, capazes de matar o pai e dizer que foram os do
privado! Queriam mandar também no ensino privado, para lá instalarem a doentia
e diabólica LGBt, ideologia de género, como não conseguiram, agora andam a
inventar estratagemas para convencer que a mentira deles é verdade!
Manuel Afonso: De que
estavam 'a espera? As mentes iluminadas das esquerdas inventam... inventam... O
privado é uma espinha que lhes está atravessada... Complexos...
Diogo Cruz 13 d: Erro
na amostra... "erro", dizem eles... quem se mete com o PS leva...
António Sennfelt: Qual é o
espanto? O ensino privado tem que parecer tão mau, ou ainda pior do que o
público! E isso de artilhar números é um clássico da esquerda iluminada, azeda
a tudo o que seja privado e cada vez mais dona disto tudo!
Oliver Klein : Prove-se.
Vitor N.: Portanto, foi
um erro que deu muito jeito à narrativa dos esquerdopatas que querem que tudo
seja controlado por eles.
Carlitos Sousa13 d: O
Estado / Governo Socialista defende a qualquer custo o ensino público do qual
deveria ser responsável (mas não é). Não surpreende portanto que os dados
enviados ao PISA sejam cozinhados de modo a falsear a realidade. O nível de
exigência no Ensino Público é baixíssimo e tende a piorar com a abolição de
exames. Mal do país se não houvesse ensino privado ou saúde privada.
Paulo Correia: Torturar os
dados até dar o que se pretende: subsídios suportados por todos para benefício
de alguns.
Vitor N. Paulo Correia:
Subsídios a empresas competentes é melhor que pagar
salários a FP incompetentes.
Adelino
Lopes: Diria que se trata de mais um trabalho dos
progressistas. Em vez de trabalharem para criar riqueza, passam os dias nisto.
Só estratégias para terem razão. Mas sempre foi assim, não foi? No antigo leste
era assim, em cuba sempre foi, na Venezuela é moda
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