Para um texto isento – de JOÃO MARQUES DE ALMEIDA – um comentário realista, que repito, com prazer, de Ark NabuL : «A novilíngua neo-marxista dilui todos os conceitos. Como diz quem sabe, usam as mesmas palavras mas um dicionário diferente. Fascismo significa, para eles, que são quem manda na comunicação social e nas instituições mundiais, toda a pessoa que se opõe à nova grande religião secular. Porque sabem que a religião cristã se opõe como alternativa religiosa, gritam fascismo. Porque sabem que a nação atrasa a revolução mundial que está em marcha, gritam fascismo. Porque sabem que a família é um obstáculo na criação da Guarda Vermelha Maoista, gritam fascismo. Orban, no meio de todos os seus defeitos e virtudes, irá ficar para a história, se ainda houver quem a pratique daqui por poucas décadas, como um herói na Hungria, por ter construído um dique perante a maré vermelha que alastra no mundo».
Coisas assustadoras para que já apontava George Orwell no seu monstruoso «1984»,
de uma sociedade sem alternativa.
Assustar com o “fascismo” já não chega
Nada tenho contra Draghi mas valorizo
acima de tudo a democracia. Por isso, acho que é muito bom para a democracia
italiana que a vencedora das eleições seja a próxima PM de Itália.
JOÃO MARQUES DE ALMEIDA, Colunista do
Observador
OBSERVADOR, 28
set 2022, 05:1548
É
impressionante como o chamado “pensamento
de manada”, ou a recusa
em pensar de um modo independente, domina a análise e o comentário político. A
propósito das eleições em Itália (e também na Suécia), quase todos os cronistas
falam do “neo-fascismo”, do “pós-fascismo”, da “extrema direita” sem pensar sobre o que estão a escrever e sobre a
validade e o rigor dos conceitos que usam. Escrevem isso porque os outros que
“pensam” como eles também o fazem. Parece que escrevem com fórmulas copiadas e
gastas em vez de argumentos bem pensados. Chegámos a uma pobreza intelectual
que mete dó.
Parece
óbvio que o eleitor comum (em cada vez mais países europeus) percebe muito
melhor o que é o fascismo do que os comentadores. A Europa não ficou
subitamente cheia de fascistas. Talvez fosse mais útil tentar perceber esse
eleitorado do que simplesmente tentar assustá-lo com a palavra fascista. Não
funciona. Além disso, a vulgarização do termo fascismo é terrível: quem se
preocupa verdadeiramente com a liberdade, a justiça e a democracia não
vulgariza uma ideologia que assassinou milhões de pessoas e destruiu países
inteiros. Se não querem aprender, sejam pelo menos responsáveis.
Obviamente, Meloni não é fascista. É uma conservadora e nacionalista, com algumas
semelhanças com os conservadores britânicos. Ao contrário dos comunistas
portugueses, na guerra da Ucrânia está ao lado de quem luta pela liberdade
nacional e pela democracia, contra o imperialismo militar russo. Sim, defende
“Deus, pátria e a família.” Mas isso não significa ser “fascista”. A esmagadora
maioria dos Católicos, dos patriotas e daqueles que consideram a família como o
elemento central das nossas sociedades não é fascista. O facto de Mussolini ter usado a mesma expressão,
como alguns notaram, não serve para colocar Meloni na família fascista. Stalin
também usava a expressão “classe trabalhadora”, e isso não significa que todos
os socialistas e sociais democratas que também a usam sejam comunistas.
Aliás,
vale a pena recordar uma data: 20
de Setembro de 2019, 80 anos depois do início da Segunda Guerra Mundial.
No Parlamento Europeu, o grupo dos Conservadores, do qual o partido de Meloni
faz parte, apresentou uma resolução a condenar os crimes dos totalitarismos
comunista, fascista e nazi. Mais de 80% dos deputados europeus votaram a favor da
resolução. No caso dos representantes portugueses, o PS, o PSD, o CDS e o PAN
votaram a favor. O PCP e o
Bloco votaram contra. Na questão política mais importante da história europeia
do século XX, democracia vs totalitarismos, o PCP e o Bloco votaram ao lado dos
totalitarismos, e o partido de Meloni votou ao lado das democracias. No
editorial de segunda feira, o Director do Público mostra uma grande preocupação
com a “extrema direita” dos Irmãos de Itália, falando ao mesmo tempo da
“normalização” do PCP. Em que mundo vive este senhor? Até onde se pode ir para
negar a realidade?
Também
é verdade que no passado Meloni foi dura com a União Europeia. Mas criticar Bruxelas ou ser eurocéptico não é
equivalente a ser fascista. A União Europeia foi formada por países democráticos,
pluralistas e com sociedades abertas. É inteiramente legítimo atacar a União
Europeia. Nas democracias liberais, nada está acima das críticas. Além disso,
as críticas de Meloni à Europa devem ser entendidas no contexto italiano.
Há
problemas muito sérios com a democracia italiana. Nem é preciso recuar à
profunda corrupção da Primeira República, dominada pelos socialistas e os
democrata-cristãos, e ambos pró-europeus. Basta ir a 2008, o último ano em que
a Itália viu o vencedor das eleições chegar a PM. É verdade que nas democracias
representativas, por vezes, os PMs não são os vencedores das eleições (muito
provavelmente, vai acontecer isso na Suécia). Mas 14 anos sem um vencedor das eleições a PM é um
problema sério. O que sentiriam os portugueses se isso acontecesse em Portugal?
Em
2011, no meio da crise financeira, Berlusconi foi deposto por
Berlim e Paris, e substituído por Mário Monti. Os seja, Merkel e Sarkozy, na
altura, substituíram os eleitores italianos. Desde aí, a Europa tornou-se menos popular em Itália, o que não surpreende. E muitas críticas são dirigidas ao domínio
da Alemanha e da França e não à União Europeia, o que é diferente. Após as eleições de 2013, o líder da coligação de
esquerda, Bersani, não conseguiu formar governo (não tinha maioria absoluta), e
foi Lette que chegou a PM, fazendo uma coligação com Berlusconi (que
credibilidade tem agora Lette para chamar “neo fascista” a uma coligação onde
está um seu antigo aliado?). Em 2015, num golpe dentro dos Democratas, Renzi substituiu
Lette como PM, daí o ódio entre os dois e a impossibilidade de terem
feito uma coligação de centro esquerda contra a direita liderada por
Meloni. Nas eleições
de 2018, as chamadas eleições dos populismos, o vencedor foi a 5 Estrelas, com
a Liga em segundo lugar. Mas o PM foi um independente, Conte, porque ninguém
confiava no líder da 5 Estrelas, Di
Maio, ou no líder da Liga, Salvini. Em
2021, Conte foi substituído por outro PM não eleito, Draghi.
Nada tenho contra Draghi, foi um
grande Presidente do BCE e espero que seja o próximo Presidente italiano (e o
mais rapidamente possível), mas valorizo acima de tudo a democracia. Por isso,
acho que é muito bom para a democracia italiana que a vencedora das eleições
seja a próxima PM de Itália.
Também
celebro que pela primeira vez a Itália tenha uma mulher como PM. Como estariam os nossos comentadores a celebrar se a
esquerda italiana tivesse eleito uma mulher como PM. Mas a esquerda italiana
não gosta de mulheres líderes. Desde 1945, o PS italiano e depois o Partido
Democrata nunca tiveram uma mulher como candidata a PM. E a direita tem
sido igual, com a excepção de Meloni agora.
Mas,
apesar das celebrações iniciais, não
estou optimista em relação ao futuro governo italiano. Julgo que será mais moderado do que muitos julgam, e
Meloni e Draghi poderão mesmo fazer uma aliança que eleve o ainda PM a
Presidente italiano. Mas é a primeira vez que os Irmãos de Itália vão
governar e convém que haja um escrutínio apurado sobre o governo. Sobretudo,
convém prestar atenção a tentações para violar o estado de direito e a
independência da justiça, mas isso aplica-se a muitos partidos políticos. Também
será importante observar se o governo irá contribuir para uma maior polarização
em relação à oposição democrática. Se
é um enorme disparate chamar fascista a Meloni, também será um grande erro se o
futuro governo de Itália diabolizar a oposição.
Mas,
pior ainda, são os aliados de Meloni, Berlusconi e Salvini. Não são de
confiança. Serão os maiores adversários de Meloni e passarão a vida a conspirar
contra ela. Berlusconi é um sexista sem princípios nem maneiras que nunca
aceitará uma mulher como líder. Salvini não perdoa ter sido ultrapassado por
Meloni. O melhor que poderia acontecer a Meloni seria a substituição de Salvini
na presidência da Liga por alguém disposto a trabalhar de um modo construtivo
com os Irmãos de Itália. Mas desconfio que a democracia italiana continuará na
mesma: incapaz
de resolver os problemas mais sérios que o país enfrenta. Isso é que é grave.
Esqueçam o fascismo.
DEMOCRACIA
SOCIEDADE ITÁLIA
EUROPA MUNDO
COMENTÁRIOS:
João Floriano: Mas 14 anos sem um vencedor das eleições a PM é um problema sério Em 2015
aconteceu-nos o mesmo. Dir-me-ão que a partir daí António Costa já venceu mais
duas eleições legislativas e uma delas com maioria absoluta mas a verdade é que
em 2015 a História de Portugal deu uma reviravolta inesperada e não anunciada,
pelo menos para a maioria dos eleitores e isso tem tido consequências desastrosas
na nossa democracia. Nunca saberemos o que poderia ter sido Portugal se a
geringonça não tivesse existido. Em relação ao texto de JMA, está felizmente
desgarrado da manada. Faz a separação nítida entre Meloni e os seus parceiros
do poder e a análise é objectiva e clara. A esquerda vai ter de arranjar
outro papão porque está claro que o papão do fascismo já não serve para as
famosas linhas vermelhas. Foi demasiado banalizado. Pedro Ferreira
> Mario Guimaraes: Não sei quem é mais
fascista, se a Meloni ou as pessoas que acham que todos os outros devem pensar
como elas. Madalena Sa: Muito bem, alguém que fale com clareza! Ja chega de
demagogia! João
Floriano > Fernando Cascais: Excelente comentário. Mais
tarde ou mais cedo e eu parece-me que será mais cedo, a Europa vai ter de se
confrontar com a realidade e a realidade é que é impossível escancarar
as portas da Europa e dar um bom acolhimento a todos os emigrantes,
refugiados, fugitivos da miséria e da guerra, já não só de África e Ásia mas
agora também da própria Europa com a guerra na Ucrânia. O comentário do
Fernando fala na concorrência desleal no sector laboral, mas há outros aspectos
a considerar como as más condições de alojamento, a ilegalidade da permanência
que gera todo o tipo de chantagem e exploração e a importação de diferentes
culturas que facilitam a formação de ghettos. Os governos europeus vão ter de
enfrentar um banho gélido de realidade. Fernando
Cascais: O sucesso eleitoral dos ditos partidos populistas ou
de extrema direita está muito relacionado com a emigração. Trump falava da
construção de um muro com México, Le Pen defende os valores culturais franceses
e agora Meloni quer criar uma solução para impedir o salto dos emigrantes para
Itália através do mediterrâneo. Nas últimas eleições na Suécia o tema da
emigração também deu uma vitória á direita. O nosso André Ventura também
carrega na tecla da xenofobia, porque a esquerda em associação com a Comunicação
Social classifica qualquer abordagem á emigração como xenofobia ou racismo. A
verdade é que os países que acolhem as massas de emigrantes que fogem dos seus
países pelas mais variadas razões são muito influenciados nas suas dinâmicas
económicas e sociais pelo grande número de emigrantes que recebem. Para as esquerdas e centro direita a emigração é um não assunto. Para a sociedade civil
votante a emigração é uma preocupação
grave, importante e actual. Em países como Suécia, Noruega, Finlândia ou mesmo Alemanha existe um sentido cívico
apuradíssimo. As sociedades têm o seu desenvolvimento económico e social construído nos
alicerces do civismo. Se estas sociedades vêem toda a sua base social a ser
desconstruída pela integração de novas culturas trazidas por ondas maciças de
emigrantes, obviamente, que é um assunto importante para as pessoas que pode
gerar um sentimento de revolta. O problema
das esquerdas e centro-direita é não saberem como abordar o assunto de forma
politicamente correcta para não caírem nas acusações de xenofobia e racismo. Augusto Santos Silva é um bom
exemplo. Em Portugal o CHEGA também vai continuar a crescer com eleitorado
dissidente dos socialistas. Os ordenados em Portugal são muito baixos e a
culpa, em parte, é dos emigrantes que se sujeitam a ordenados míseros e a
condições de vida sem a mínima qualidade. A emigração é uma concorrência
desleal á mão-de-obra portuguesa, dizem já muitas bocas que votaram Costa. A
segurança que tem vindo a piorar será outro motivo. Também o gestão dos
impostos, designadamente, a serem gastos com os de fora leva votos para o
CHEGA. O voto é secreto, e quem vota são os portugueses, não os emigrantes.
As esquerdas e centro-direita, mais tarde ou mais cedo, terão que debater as
políticas de emigração e segurança sem medo de serem chamados de xenófobos ou
racistas. Só assim poderão manter-se na
corrida eleitoral com a extrema direita. A emigração e as políticas de
imigração serão o tema político principal desta década. Tristão: Como se costuma dizer,
“está-lhe na massa do sangue”, os me(r)dia esquerdistas vão continuar a sua
desonestidade intelectual, aliás, não sabem ser de outra forma, de qualquer
forma louvo-lhe o esforço… e como alguém disse, ao chamar fascistas a estes
partidos populistas ou mesmo de extrema-direita o que está a fazer é ofender a
memória de milhões que morreram e sofreram às mãos dos verdadeiros fascistas e
ao mesmo tempo a dar uma ideia errada do que foi o verdadeiro fascismo às
gerações mais novas, pois se isto é fascismo então afinal não é assim tão
errado. Enfim, tudo uma porca miséria! João Ramos: Bom artigo, sem complexos e de
uma grande objectividade… ou então somos todos fascistas, só não o são a inútil
esquerda que apenas serve para dar cabo dos países!!! João Eduardo Gata: A Maioria do Jornalismo Português é LIXO
esquerdóide, ou seja, é Jornalixo ! Joana
Fernandes: Excelente! Muito obrigada pela análise desempoeirada e
esclarecida como sempre! Parabéns, JMA! Censurado
sem razão: Mas não esqueçam
nunca o comunismo. Ele anda por aí e mais aceso do que nunca. Mudando de
assunto. Porque deixou de ser comentador da sic? Muito apreciei as suas
intervenções. Até disse para a minha esposa, isto não vai durar muito. O
Ricardo Costa pensou, talvez, que você se auto censuraria na presença da
estação do irmão do PM. Você terá sempre o meu respeito. Só lamento que a
maioria do comentariado nacional baixe as calças ao Costa. Lucas Corso: "Mas 14 anos sem um
vencedor das eleições a PM é um problema sério. O que sentiriam os portugueses
se isso acontecesse em Portugal?" Claro que não sendo 14 anos, Portugal
também teve duas ocasiões em que isso sucedeu. Nos final dos anos 70, como dois
governos de iniciativa presidencial, liderados por Maria de Lurdes Pintassilgo
e Carlos Mota Pinto. Mais recentemente em 2015, com
um primeiro-ministro que não ganhou as eleições, António Costa, a chegar ao
poder por uma jogada palaciana. Os portugueses não se escandalizaram, mas
imagino que teriam uma síncope se essa jogada tivesse vindo de outra área
política. Tiago
Manso: Sim. Esquecem o fascismo. Não existe e é um mito da comunicação social e
comentadores, que acham que direita a sério é ser fascista, enquanto com toda a
benevolência branqueiam a extrema esquerda, essa sim, nunca banida da Europa, e
que, já agora, matou muitos mais milhões que o Hitler! Ark NabuL > Mario Guimaraes: A novilíngua neo-marxista dilui todos os conceitos. Como
diz quem sabe, usam as mesmas palavras mas um dicionário diferente. Fascismo
significa, para eles, que são quem manda na comunicação social e nas
instituições mundiais, toda a pessoa que se opõe à nova grande religião
secular. Porque sabem que a religião cristã se opõe como alternativa religiosa,
gritam fascismo. Porque sabem que a nação atrasa a revolução mundial que está
em marcha, gritam fascismo. Porque sabem que a família é um obstáculo na
criação da Guarda Vermelha Maoista, gritam fascismo. Orban, no meio de todos os
seus defeitos e virtudes, irá ficar para a história, se ainda houver quem a
pratique daqui por poucas décadas, como um herói na Hungria, por ter construído
um dique perante a maré vermelha que alastra no mundo. Paulo Cardoso: Muito bem!!!👏👏👏