sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Ainda contra o aborto ortográfico



O texto de Nuno Pacheco sobre um debate que ocorreu em Brasília acerca do AO90, em 3/9, mostrando quanto os detentores brasileiros da cultura e do bom senso também no Brasil ainda sobressaem, relativamente aos representantes oficiais, de estreiteza convencional, mereceu a defesa de alguns comentadores portugueses, mas igualmente o ataque da ignorância e da má fé acomodadas e atrevidas, de um Leitor Registado e de um correiaramos que sinalizo a seguir - como razões impertinentes, sintomáticas da pobreza de um pobre povo que a cada passo a manifesta, por exemplo, em erros ortográficos de estarrecer e, no caso presente, na falácia trapalhona dos argumentos do tal Leitor Registado, sobre o uso do ph, ou do h a prevenir o hiato vocálico – prohibido - que não fazem parte do AO45 da escrita anterior.
Ainda bem que existe por cá um Nuno Pacheco (com alguns acompanhantes), embora condenados a perder a causa, diferentemente do tal Nuno Condestável do passado, que, esse, pôde ganhar a sua causa, porque teve gente capaz para o apoiar - em tempos, é certo, de maior espessura na hombridade e na coragem.


Eis os comentários contra o discurso severo e irónico de Nuno Pacheco:
Leitor Registado: O AO não está já aprovado em Portugal? Não é obrigatória a sua utilização nos documentos oficiais do Estado? Do Diário da República? Não é obrigatória a sua utilização e o seu ensino nas escolas? O que querem? Revogá-lo? Regressar ao tempo em que se escrevia Pharmacia, Prohibido, Phosphoro? Andem para a frente! Existem situações a melhorar? Melhorem...parem de olhar para o passado.
correiaramos: Temos Nuno Pacheco auto-promovido a polícia da língua portuguesa. Argumenta com insultos, critica e condena sem moderação.
OPINIÃO
Alerta geral. Diplomacia maltrata Ortografia. Pede-se divórcio. Urgente
Na audiência brasileira, o Acordo Ortográfico perdeu por três a um. A diplomacia continua avessa às razões da língua.
NUNO PACHECO
PÚBLICO, 5 de Setembro de 2019
Este podia ser um anúncio barato, daqueles que poupam palavras para economizar dinheiro. Mas é apenas uma reacção, em síntese, ao visionamento do debate que ocorreu no Brasil, na passada terça-feira, em torno do Acordo Ortográfico de 1990 (vulgo AO90). Como anunciado, a sessão (transmitida em directo pela TV da Câmara dos Deputados, daí poder ser vista em Portugal) contou com o deputado Jaziel Pereira de Sousa (o requerente, a presidir), o ex-lexicógrafo chefe da Academia Brasileira de Letras Sérgio de Carvalho Pachá, o escritor Sidney Silveira, a professora Ami Boainain Hauy e a embaixadora Márcia Donner Abreu, em nome do Ministério das Relações Exteriores (MRE, que por cá é Ministério dos Negócios Estrangeiros) – a única representante oficial, já que Ministério da Educação nem vê-lo (talvez a língua tenha pouco que ver com a educação, quem sabe?), tal como a Academia Brasileira de Letras (ABL), que, no seu comportamento distante e reumático, ficará para futura audiência no mesmo local.
Que não era nenhum café, como um leitor do PÚBLICO maldosamente sugeriu nos comentários à notícia da iniciativa, mas sim a Comissão de Educação (como também por cá se usa) da Câmara dos Deputados do Brasil, no coração de Brasília. Tudo muito institucional, como deve ser. Pois bem: o debate começou com as apresentações da praxe e não tardámos a saber as opiniões dos participantes. Sidney Silveira brandiu vários argumentos contra, dizendo mais tarde que o AO tinha sido concebido por “motivos diplomáticos e políticos” e que “está bom para ir para o ferro-velho, não para ser ratificado” (ou rectificado): “Não rectifiquemos, revoguemos”, disse.
Sérgio Pachá (lexicógrafo, filólogo, professor de literatura, tradutor, poeta) voltou a explicar como o AO ressurgiu dos mortos nos idos de 2006-2007, o que já havia feito numa célebre entrevista em 2014 (e o resto desta história sabemo-lo bem), e sublinhou as “razões nada ortográficas pelas quais este mostrengo entrou em vigor”, dizendo que “a pressuposição, a crença, de que a ortografia de uma língua tem de ser idêntica em todos os lugares onde é falada é uma falácia desmentida pelos factos”. E, dando como exemplo o facto de ter vivido 15 anos nos Estados Unidos, onde se foi dando conta da diferença na escrita de vocábulos entre o inglês de lá e o de Inglaterra (sem que isso causasse quaisquer problemas), comparou o português de Portugal ao do Brasil: “É a mesma língua, mas não é a mesma fonologia.”
Ami Boainain Hauy, professora, autora de uma volumosa Gramática da Língua Portuguesa Padrão, além de apontar várias falhas e erros gramaticais às normas do AO90, revelando o “caos, o descaso, com que este texto foi redigido”, declarou-se contra ele: “Abomino a redacção do texto e o seu conteúdo também.” E mais adiante: “Espero que seja revogado.”
De onde veio a concórdia, o assentimento, a paz? Da diplomacia! A embaixadora Márcia Donner Abreu veio então explicar o “quanto este acordo é importante para o Brasil”, até pela “projecção do poder do Brasil no mundo” (“poder brando”, ou soft power, como fez questão de sublinhar), garantindo que o acordo é o “núcleo duro” de uma “língua una”. Disse depois algo aterrador: que não passou para os filhos livros escritos na ortografia anterior (clássicos, até), ninguém saberá por que medos. Devíamos queimar as bibliotecas, será? Explicou ainda que o AO “pode ser aperfeiçoado”, mas que só ele garante “uma variante única da língua”, que as mudanças trazidas pelo acordo “não são gigantescas” (serão apenas estúpidas?) e que tem dificuldade em escrever “idéia” ou “européia” sem acento, mas foi-se acostumando. Porquê? Porque já há “uma geração inteira de brasileirinhos” que só conhecem este português. Ora o que aconteceria se lhes dissessem que “assembléia” tem acento? Teriam um ataque cardíaco? E lá veio outra vez o medo: a “língua começaria a se apartar”; e também a falsidade: o espanhol não tem variantes, a Academia unificou tudo. Deve ser por isso que nos correctores do Word há 22 variantes ortográficas, uma por país. Será pelo prazer de ocupar espaço?
Por fim, a chantagem do costume: ratifiquem que depois logo se rectificará. Já ouvimos isto a Malaca Casteleiro, ao kaiser português do acordo (o MNE em exercício) e também ao Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, que assim foi perorar para a CPLP. Mas alguém ainda acredita nestas presumíveis “boas intenções”? Tiveram 30 anos para limpar nódoas e elas mantêm-se bem vivas. O que levará alguém a acreditar que o façam depois de todos caírem, finalmente, no engodo? Nada. Sidney Silveira lembrou, e bem, que Saramago vendeu muitos milhares de livros no Brasil com a ortografia de cá, e todos sabemos que os livros brasileiros sempre circularam por aí com a ortografia original sem que ninguém disso se queixasse.
Queixas, sim, há da diplomacia, esse monstro que, sendo avesso às coisas da ortografia, não hesita em maltratá-la continuamente a pretexto de um graal que ninguém viu nem verá. No Brasil, haverá mais debates. Com a ABL, espera-se. Mas se alguém responder “sim” ao anúncio do título, agradece-se. Os kaisers não merecem a língua que espezinham. tp.ocilbup@ocehcap.onun
OS COMENTÁRIOS PRÓ-TEXTO de NUNO PACHECO:
Mendonça: Esta insistência no AO é sintoma do irremediável complexo de pequenez que afecta alguns neste país. É evidente que os actuais responsáveis conscientes da total irrelevância a que chegou este país, depois de terem desbaratado a grandeza da Nação, querer por força e a qualquer preço ter qualquer coisa que os faça sentir grandes. Grande estupidez. Mesmo a pretensão de impor uma língua, depois das autoflagelações de culpa colonizadora que a si próprios se impõem através dos habituais idiotas úteis, querem agora aparecer com esta mágica que é a mais descarada das pretensões colonizadoras! Uma Língua! Mas que tralha sem vergonha! Deixem os indígenas em paz com as suas línguas! Desapareçam oportunistas hipócritas!
Antonio Leitao: Uma parte do aparato diplomático português, aterrorizado por não deixar nada de relevante na história, teimou em empurrar esta aberração pela garganta dos falantes de português abaixo. É tudo feito com argumentos de treta, como o soft power! A força da língua está precisamente na sua multiplicidade! O francês é o inglês mostram isso perfeitamente. Só estes toscos, com uma ideia pacóvia de universalidade da língua à base da ortografia, se lembraram de tamanho aborto. E os deputados, felizes e contentes, continuam com esta charlatanice. Depois não venham com a lengalenga da nossa história e passado, quando não são capazes de defender a língua.
AMG: Devemos mobilizar-nos contra o AO90 e tomar acções efectivas como deixar de comprar qualquer livro, jornal ou revista escrita com erros (acordo) ortográficos, também evitar visitar os websites escritos com o AO90. Mobilizemos-nos contra esta aberração e destruição da Língua Portuguesa! Este AO é mais uma demonstração da mediocridade que tomou conta de tudo e do atoleiro de corrupção generalizada a que se chegou em Portugal, onde políticos não contentes em destruir o país resolveram também destruir o idioma.
cisteina: Quando era novo, na minha terra, quando alguém insistia no mesmo sem razão aparente ou solução nenhuma, havia uma frase singular que aqui vou repetir como resposta ao título deste texto e seu autor, claro: "Ele a dar-lhe e a burra a fugir
DA: então foge, cisteina!

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