O texto de Nuno Pacheco sobre um debate que ocorreu em Brasília
acerca do AO90, em 3/9, mostrando quanto os detentores brasileiros da
cultura e do bom senso também no Brasil ainda sobressaem, relativamente aos
representantes oficiais, de estreiteza convencional, mereceu a defesa de alguns
comentadores portugueses, mas igualmente o ataque da ignorância e da má fé
acomodadas e atrevidas, de um Leitor
Registado e de um correiaramos que
sinalizo a seguir - como razões impertinentes, sintomáticas da pobreza de um
pobre povo que a cada passo a manifesta, por exemplo, em erros ortográficos de
estarrecer e, no caso presente, na falácia trapalhona dos argumentos do tal
Leitor Registado, sobre o uso do ph, ou
do h a prevenir o hiato vocálico – prohibido - que não fazem
parte do AO45 da escrita anterior.
Ainda bem que existe por cá um Nuno Pacheco (com alguns acompanhantes), embora
condenados a perder a causa, diferentemente do tal Nuno Condestável do passado, que, esse, pôde ganhar a sua causa,
porque teve gente capaz para o apoiar - em tempos, é certo, de maior espessura
na hombridade e na coragem.
Eis os comentários contra o discurso severo e irónico de Nuno Pacheco:
Leitor Registado: O AO não está já aprovado em Portugal? Não é
obrigatória a sua utilização nos documentos oficiais do Estado? Do Diário da
República? Não é obrigatória a sua utilização e o seu ensino nas escolas? O que
querem? Revogá-lo? Regressar ao tempo em que se escrevia Pharmacia, Prohibido,
Phosphoro? Andem para a frente! Existem situações a melhorar? Melhorem...parem
de olhar para o passado.
correiaramos: Temos Nuno Pacheco auto-promovido a polícia da língua portuguesa.
Argumenta com insultos, critica e condena sem moderação.
OPINIÃO
Alerta geral. Diplomacia maltrata
Ortografia. Pede-se divórcio. Urgente
Na audiência brasileira, o Acordo Ortográfico perdeu por três a um. A
diplomacia continua avessa às razões da língua.
NUNO PACHECO
PÚBLICO, 5 de Setembro de 2019
Este
podia ser um anúncio barato, daqueles que poupam palavras para economizar
dinheiro. Mas é apenas uma reacção, em síntese, ao visionamento
do debate
que ocorreu no Brasil, na passada terça-feira, em torno do Acordo Ortográfico
de 1990 (vulgo AO90).
Como anunciado, a sessão (transmitida em directo pela TV da Câmara dos
Deputados, daí poder ser vista em Portugal) contou com o deputado Jaziel
Pereira de Sousa (o requerente, a presidir), o ex-lexicógrafo chefe da Academia
Brasileira de Letras Sérgio de Carvalho Pachá, o escritor Sidney Silveira, a
professora Ami Boainain Hauy e a embaixadora Márcia Donner Abreu, em nome do
Ministério das Relações Exteriores (MRE, que por cá é Ministério dos Negócios
Estrangeiros) – a única representante oficial, já que Ministério da Educação
nem vê-lo (talvez a língua tenha pouco que ver com a educação, quem sabe?), tal
como a Academia Brasileira de Letras (ABL), que, no seu comportamento
distante e reumático, ficará para futura audiência no mesmo local.
Que
não era nenhum café, como um leitor do PÚBLICO maldosamente sugeriu nos
comentários à notícia da iniciativa, mas sim a Comissão de Educação (como
também por cá se usa) da Câmara dos Deputados do Brasil, no coração de Brasília.
Tudo muito institucional, como deve ser. Pois bem: o debate começou com as
apresentações da praxe e não tardámos a saber as opiniões dos participantes. Sidney
Silveira brandiu vários argumentos contra, dizendo mais tarde
que o AO tinha sido concebido por “motivos diplomáticos e políticos” e que
“está bom para ir para o ferro-velho, não para ser ratificado” (ou
rectificado): “Não rectifiquemos,
revoguemos”, disse.
Sérgio Pachá (lexicógrafo,
filólogo, professor de literatura, tradutor, poeta) voltou a explicar como o AO ressurgiu dos mortos
nos idos de 2006-2007, o que já havia feito numa célebre entrevista em 2014
(e o resto desta história sabemo-lo bem), e sublinhou as “razões nada
ortográficas pelas quais este mostrengo entrou em vigor”, dizendo que “a
pressuposição, a crença, de que a ortografia de uma língua tem de ser idêntica
em todos os lugares onde é falada é uma falácia desmentida pelos factos”.
E, dando como exemplo o facto de ter vivido 15 anos nos Estados Unidos, onde se
foi dando conta da diferença na escrita de vocábulos entre o inglês de lá e o
de Inglaterra (sem que isso causasse quaisquer problemas), comparou o português
de Portugal ao do Brasil: “É a mesma língua, mas não é a mesma fonologia.”
Ami Boainain Hauy, professora,
autora de uma volumosa Gramática da Língua Portuguesa Padrão, além de apontar várias falhas e erros gramaticais
às normas do AO90, revelando o “caos, o descaso, com que este texto foi redigido”,
declarou-se contra ele: “Abomino a redacção do texto e o seu conteúdo também.”
E mais adiante: “Espero que seja revogado.”
De onde veio a concórdia, o assentimento, a paz? Da diplomacia! A
embaixadora Márcia Donner Abreu veio então
explicar o “quanto este acordo é importante para o Brasil”, até pela
“projecção do poder do Brasil no mundo” (“poder brando”, ou soft power,
como fez questão de sublinhar), garantindo que o acordo é o “núcleo duro” de
uma “língua una”. Disse depois algo aterrador: que não passou para os
filhos livros escritos na ortografia anterior (clássicos, até), ninguém saberá
por que medos. Devíamos queimar as bibliotecas, será? Explicou ainda que o AO
“pode ser aperfeiçoado”, mas que só ele garante “uma variante única da língua”,
que as mudanças trazidas pelo acordo “não são gigantescas” (serão apenas
estúpidas?) e que tem dificuldade em escrever “idéia” ou “européia” sem acento,
mas foi-se acostumando. Porquê? Porque já há “uma geração inteira de
brasileirinhos” que só conhecem este português. Ora o que aconteceria se lhes
dissessem que “assembléia” tem acento? Teriam um ataque cardíaco? E lá veio
outra vez o medo: a “língua começaria a se apartar”; e também a falsidade: o
espanhol não tem variantes, a Academia unificou tudo. Deve ser por isso que nos
correctores do Word há 22 variantes ortográficas, uma por país. Será pelo
prazer de ocupar espaço?
Por fim, a chantagem do costume: ratifiquem que depois logo se
rectificará. Já ouvimos isto a Malaca Casteleiro,
ao kaiser português do acordo (o MNE em exercício) e também ao
Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, que assim foi
perorar para a CPLP. Mas
alguém ainda acredita nestas presumíveis “boas intenções”? Tiveram 30 anos para
limpar nódoas e elas mantêm-se bem vivas. O que levará alguém a acreditar que o
façam depois de todos caírem, finalmente, no engodo? Nada. Sidney Silveira
lembrou, e bem, que Saramago vendeu muitos milhares de livros no Brasil com a
ortografia de cá, e todos sabemos que os livros brasileiros sempre circularam
por aí com a ortografia original sem que ninguém disso se queixasse.
Queixas, sim, há da diplomacia, esse
monstro que, sendo avesso às coisas da ortografia, não hesita em maltratá-la
continuamente a pretexto de um graal que ninguém viu nem verá. No Brasil,
haverá mais debates. Com a ABL, espera-se. Mas se alguém responder “sim” ao
anúncio do título, agradece-se. Os kaisers não merecem a língua que espezinham.
tp.ocilbup@ocehcap.onun
OS COMENTÁRIOS PRÓ-TEXTO de NUNO PACHECO:
Mendonça: Esta
insistência no AO é sintoma do irremediável complexo de pequenez que afecta
alguns neste país. É evidente que os actuais responsáveis conscientes da total
irrelevância a que chegou este país, depois de terem desbaratado a grandeza da
Nação, querer por força e a qualquer preço ter qualquer coisa que os faça
sentir grandes. Grande estupidez. Mesmo a pretensão de impor uma língua, depois
das autoflagelações de culpa colonizadora que a si próprios se impõem através
dos habituais idiotas úteis, querem agora aparecer com esta mágica que é a mais
descarada das pretensões colonizadoras! Uma Língua! Mas que tralha sem
vergonha! Deixem os indígenas em paz com as suas línguas! Desapareçam
oportunistas hipócritas!
Antonio
Leitao: Uma parte do aparato diplomático português,
aterrorizado por não deixar nada de relevante na história, teimou em empurrar
esta aberração pela garganta dos falantes de português abaixo. É tudo feito com
argumentos de treta, como o soft power! A força da língua está precisamente na
sua multiplicidade! O francês é o inglês mostram isso perfeitamente. Só estes
toscos, com uma ideia pacóvia de universalidade da língua à base da ortografia,
se lembraram de tamanho aborto. E os deputados, felizes e contentes, continuam
com esta charlatanice. Depois não venham com a lengalenga da nossa história e
passado, quando não são capazes de defender a língua.
AMG: Devemos
mobilizar-nos contra o AO90 e tomar acções efectivas como deixar de comprar
qualquer livro, jornal ou revista escrita com erros (acordo) ortográficos,
também evitar visitar os websites escritos com o AO90. Mobilizemos-nos contra
esta aberração e destruição da Língua Portuguesa! Este AO é mais uma
demonstração da mediocridade que tomou conta de tudo e do atoleiro de corrupção
generalizada a que se chegou em Portugal, onde políticos não contentes em
destruir o país resolveram também destruir o idioma.
cisteina: Quando
era novo, na minha terra, quando alguém insistia no mesmo sem razão aparente ou
solução nenhuma, havia uma frase singular que aqui vou repetir como resposta ao
título deste texto e seu autor, claro: "Ele a dar-lhe e a burra a fugir
DA: então
foge, cisteina!
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