Afinal, a coligação PSD/CDS ia parecendo
possível, mas os comentários televisivos falavam somente de perda de maioria
absoluta do PSD e em geringonça na Madeira, sem porem a hipótese da coligação
com o CDS. Maria João
Avillez conta desassombradamente as coisas, e as intenções
dos concorrentes, o comentador
Paulo Silva remata à baliza, ante o rancor de outros
comentadores, excluídos alguns, por motivo de despropósito argumentativo, Victor Guerra demonstra bem a falta de desportivismo e
um sorriso amarelo, desdenhando da pequena dimensão da Madeira, reduzida a
parco concelho no contenente, só porque não gostou do resultado eleitoral… Deus
nos dê paciência.
ELEIÇÕES NA
MADEIRA: Na Madeira /premium
MARIA JOÃO AVILLEZ
OBSERVADOR, 24/9/2019
Que dizer do receio semi-escondido do PS
de não ter maioria absoluta versus o sonoro alívio manifestado ontem pelo mesmo
PS por a Madeira se ter livrado dessa praga horrível?
1.- Há
cerca de um ano, talvez mais, numa das minhas muito frequentes (graças a Deus)
idas á Madeira, dei por uma mudança, ou melhor, uma mudancinha no ar: começava
a ouvir dizer-se em vários círculos que o PSD estaria doente, a
governação doentíssima, era questão de meses, era só chegar ás
eleições legislativas ( na altura ainda nem sequer marcadas). Sucede porém
que se ouvia dizer isto, como dizer? de forma algo diferente dos outros
(longos) anos atrás. Onde, recorde-se, eleição após eleição, Jardim era
o dono daquilo tudo, o PS parecia um postal desbotado e o resto mal existia.
Desta vez não. Desta vez o rumor surgia alicerçado na
figura de um ex-professor liceal, o independente Paulo Cafofo, a quem uma
coligação de diversos partidos de esquerda ou centro-esquerda pusera –proeza –
por duas vezes na presidência da Câmara Municipal do Funchal – à segunda, por
maioria absoluta – contra o candidato apoiado pelo PSD. Uma dupla vitória
autárquica que inspirou o PS a convidar Paulo Cafofo para voar mais alto e
levar consigo na asa desse voo, a família socialista, até aí pouco apta a voos
de grande alcance.
Para
encurtar uma longa história, e após meses de lutas internas, hesitações e
negociações, a direcção do PS/M decidiu-se: o candidato à chefia do governo
pelo PS era Cafofo e não o seu líder, Emanuel Câmara – uma estreia na vida
desta família política. Cafofo convencia, Cafofo encantava: era determinado,
persistente, popular. Daqui à “verosimilhança” de um combate político entre o
poder e a oposição – e não um simulacro disso – foi um passo. E um ganho,
claro. Pela primeira vez em décadas (décadas, digo bem) faziam-se apostas com o
olhar nas eleições do outono de 2019. Tudo isto coincidia ainda para mais, com
uma “baixa de tensão” governamental de Miguel Albuquerque, na chefia de um
governo que então parecia nem atar nem desatar.
2.- Como
nada disto era coisa pouca, pedi para conhecer Paulo Cafofo. Queria
ser a primeira a dar nota nacional de uma possível mudança política onde se
misturaria o fim do longo império jardinista e o início de uma inédita aventura
política com a esquerda no poder. É que ali, uma (trivialmente) democrática
alternância de poder, poderia assumir foros de quase terramoto. Havia que estar
atento. Tanto
mais que o Largo do Rato se empenhava ao máximo (era a
flor que faltava a Costa) exportando
estratégia, conselheiros e meios para a Madeira e para o regaço de um
independente.
Encontrei-me
com Paulo Cafofo no edifício da Câmara Municipal: foi de imediato simpático,
confiante, prolixo. Possuía uma retórica desenvolta, elencou ideias e metas,
insistiu na “proximidade” como grande instrumento político (“queria ter o cidadão
no centro das suas preocupações e prioridades se chegasse ao governo”) enquanto
na ilha ia praticando com leveza o milagre da omnipresença.
E
no entanto… quem o ouvisse debitar com velocidade tantas medidas como se elas
estivessem inscritas numa folha de excel e fosse só seguir a lista, podia
legitimamente interrogar-se: seria tudo assim tão simples? Tão fluído e tão
fácil? O resultado desta conversa – como aliás ocorreria com a do Presidente do
Governo, realizada dias depois – surgiu aqui mesmo no Observador, no final de
2018 mas de então para cá muita água correria ainda sob estas duas moradas
políticas: Governo Regional e Câmara Municipal – Albuquerque/Cafofo.
3.- Pouco
tempo depois avistei-me com Miguel Albuquerque, na Quinta da Vigia. A conversa que ia surgindo
meia rotineira – o governo isto, o governo aquilo – ganhou de repente forma e
fôlego: foi quando lhe disse que no PS “de Lisboa” era vox populi a sua derrota
daí a uns meses. Faziam-se apostas, Cafofo era antecipadamente dado como
vencedor e grande depositário das esperanças de António Costa de passar ele
–Costa – a nacional dono disto tudo. “Ah dizem? Dizem isso, é?” O olhar
fixou-se-lhe nalgum misterioso ponto longe dali, endireitou-se na cadeira,
fechou o rosto. “Vão ver…” Subitamente estava ali o guerrilheiro político de
sempre – instintivo, lutador, impaciente e sem grande hábito da derrota –
sobrepondo-se completamente ao chefe do governo que Miguel Albuquerque também
era, naquele lugar e naquela tarde. Saí dali com a convicção que igualmente ali
alguma coisa iria mudar (apesar de não excluir na minha análise, a
possibilidade de um enjoo da cor alaranjada que há décadas (décadas, repito)
tingia a ilha.
4.- Meses depois a campanha eleitoral para as europeias
trouxe surpresa e desconsolo: Paulo Cafofo perdia, o guerrilheiro
Albuquerque ganhava. O primeiro
talvez tivesse confiado demais, o outro, partiu para a guerra que é o que ele
sabe fazer. E, entretanto, uma salvífica remodelação ministerial que trouxera
Pedro Calado para a vice-presidência, com as pastas da Economia, Finanças e
Transportes, animou hostes e levantou ânimos: o governo passou de sofrível a
bom – e nunca será demais sublinhar, nessa subida de rating, a entrada em acção
do experiente e paciente Pedro Calado. As expectativas inverteram-se, a
balança eleitoral também: na última visita à Madeira, no verão deste ano, já
não era Cafofo que ganharia as legislativas do outono de 2019 mas sim Miguel
Albuquerque, só que desta feita “com uma grande descida de votos”. O sissó da
política não gosta de parar.
5. Domingo à noite começou-se por não se
saber bem o que pensar sobre a discrepância entre o eco televisivo nacional e a
realidade eleitoral madeirense. De
início quase foi uma festa com Marques Mendes a dar o tom, como se o
independente Paulo Cafofo tivesse tido a maioria absoluta dos votos do
arquipélago, e o PSD obtido mais ou menos 11%; depois, mais focada na
realidade, a ilusão foi-se dissipando dos écrans: é que afinal o PSD e Miguel
Albuquerque contabilizaram os mesmíssimos votos de 2015 – e nesse sentido o
chefe do governo não é um derrotado; e Paulo Cafofo, à conta da vertiginosa
bipolarização praticada, fez sumir o Bloco e o PC dos radares eleitorais,
triplicando assim o score do PS e nesse sentido é um vencedor. Já se sabe?
Já mas… pelo sim pelo não, relembram-se estes números e estes factos.
E também esta coisa extraordinária: sempre ou quase sempre que a direita ou o
centro ganham, é sempre ou quase sempre como se não ganhassem, é uma cultura.
E
a propósito, que dizer do receio mal disfarçada do PS de não vir a ter a
maioria absoluta nas legislativas de dia 6 e o sonoro alivio manifestado pelo
mesmo PS, por a Madeira se ter livrado dessa praga horrível? Desse mal tão
nefasto? Sim, é a cultura democrática deles.
(Estamos
entendidos com o que poderá vir ocorrer com os candidatos a donos de “tudo” se
alguém se distrair a votar daqui a uns dias.)
6. E
agora na Madeira e em Porto Santo a vida segue as regras da democracia e a
democracia seguirá as regras do bom comportamento cívico e político:
vai haver uma coligação PSD /CDS no governo.
E no parlamento haverá finalmente – já não era sem tempo – combate político
digno desse nome. E poder e oposição.
COMENTÁRIOS:
William Smith: Gostei muito do artigo,
principalmente da parte relativa à maneira facciosa como as TVs iam
apresentando os resultados, inclusivamente o resultado final. Foi triste mas já se tornou uma
tradição.
Alexandre Barreira...já estou a ver....dia 6 de Outubro....temos "sapos à
Avillez"...........!!!!!!
Paulo Silva: No divã, o PS é assim… e assado. Para os socialistas em 2009 e 2011 a
tradição era “Quem ganha governa!”.
Na tradição não se mexia, nada podia ir contra a tradição, (e que tal o bluff
dos “jogos partidários”?). Em 2015 às malvas com a
tradição… e a favor de todas as jogadas obscuras. Nessa altura, visto pelos
‘primos’, o PS era de esquerda; 4 anos de geringonça passados parece que já é
de direita novamente… O "ir além da troika" de Passos Coelho, a limpar
a porcaria deixada, era terrível; o "ir além do défice" de Centeno já
é bom… Na Madeira a maioria absoluta é má. No contenente será boa… (desde que seja PS, pois claro). PS: desde a golpada de 2015
andam todos os amigos e amigalhaços da geringonça, incluindo o Marcelo, a
apontar às letras pequeninas... Tecnicamente têm razão, os eleitores só elegem
deputados, mas nos grandes media
só se vêem falar os candidatos a PM… nenhum apresenta os tão ‘propalados’ e
supra-sumo deputados...
joão reis: Grande imaginação ou ignorância política ???
chints CHINTS:
Maria João
Avilez, a influencer dos candidatos.
victor guerra: A Madeira continua a do Alberto João, que teve de dar
um empurrão final, ao "fino" Albuquerque. Aquilo tem população igual
à de um grande concelho do "contenente", mas continua a custar e a
ser vista, como uma região especial. Coisas do "abrilismo".
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