Não me parece que as “pérolas” saídas da
pena de António Barreto estejam assim
tão descontextualizadas como afirma algum seu opositor. Eu também ouvi as
afirmações de R. Rio, por exemplo, e
benzi-me intimamente, no desconcerto perante a pequice do discurso, que lhe acentuou
desmedidamente a “careca”, por enquanto só com umas reentrâncias etárias protocolares.
Ocorreram-me idênticos argumentos aos de AB,
seguidos de uma interjeição forte, à escolha, chiça como a mais em conta,
embora um seu comentador lhe defenda a franqueza, por conta de uma presumível
honestidade, o que, quanto a mim, não passa de parolice. O mesmo digo do que
ele, AB, diz sobre a Ministra da
Educação, que também ouvi. Mas leiamos tudo, é sempre uma lição, a escrita de AB. Não como a Coimbra, que também é uma
lição, mas de amor e tradição, em que o lente é uma canção e a lua a faculdade…
justificativas, todas essas farfalhices líricas, talvez de muitas das nossas
inépcias prosísticas, provindas de idênticas faculdades… lunares… Ou talvez
mesmo só saloias…
OPINIÃO: Incríveis e inesquecíveis
Rui Rio não quer ser deputado! Quer é ser
primeiro-ministro! Percebe-se a segunda parte, não se entende a primeira. Não
quer ser deputado? Por que concorre ou se candidata? Como em Portugal não é
necessário ser deputado para ser primeiro-ministro, podia perfeitamente ficar
de fora.
ANTÓNIO BARRETO PÚBLICO, 15 de Setembro de 2019
Deveríamos
ter ficheiros de pérolas, sejam boas ideias, sejam dislates. Pensamentos
elevados ou deslizes inacreditáveis. Feitos inesquecíveis ou obras incríveis!
Neste fim de legislatura, a poucas semanas de eleições, há momentos
inolvidáveis. Aqui ficam, para registo e anedotário.
A
propósito de umas dezenas ou talvez centena e meia de pinturas, fotografias e
esculturas do património do Estado, a ministra da Cultura Graça Fonseca foi
peremptória: “As obras de arte não estão desaparecidas. Não sabemos é
identificar o sítio onde estão”! Ainda hoje não sabemos. Mas podemos dormir
descansados: não estão desaparecidas! Disse ela.
Como se sabe, os serviços públicos em
geral, os de atendimento ao cidadão em particular, entraram em colapso. Na
maior parte dos casos, das consultas médicas aos passaportes, da Segurança
Social às Escolas, os prazos esticam e não são cumpridos, as filas de espera
arrastam-se. Sensível ao problema, depois
de ter estudado e de se ter informado junto dos seus serviços, a secretária
de Estado da Justiça Anabela Pedroso disse a verdade e explicou o essencial do
problema: “As bichas para obter cartões de cidadão existem por culpa dos
portugueses que vão à mesma hora, aos mesmos locais e ainda por cima antes da hora de abertura das lojas”!
Podemos ter a certeza de que a autora de tão brilhante e certeira explicação
pensa também que é necessária uma reforma de mentalidades!
A situação na saúde pública é, como se
sabe, difícil. Escasseiam os meios, faltam médicos e enfermeiros, muitos profissionais
são atraídos por ofertas de emprego no privado ou no estrangeiro, a
desorganização do sector é crónica e a redução das horas de serviço foi fatal.
Houve fricções e conflitos. E greves, especialmente de enfermeiros. No Verão, as
maternidades e outros serviços viram-se na obrigação de recusar ou transferir
doentes. Depois de séria
averiguação, a ministra da Saúde Marta Temido tranquilizou os cidadãos:
“Nenhuma maternidade dos hospitais de Lisboa vai fechar durante o Verão. O que
vai acontecer é que uma em cada quatro vai ficar rotativamente desactivada durante um período”.
Um primor de trompe-l’oeil.
A
Justiça é fonte inesgotável de surpresas. Sócrates e o Grupo Espírito Santo
também. Mas, por vezes, tem-se a sensação de que as surpresas ultrapassam os
limites do aceitável. A ponto de
não se perceber por que razões ninguém, na organização judiciária, no
Ministério Público, no legislador, no Executivo ou até na Presidência da
República, é capaz de contrariar, por obras ou por palavras, certas decisões e
alguns procedimentos. O último em data diz respeito ao juiz Rui Rangel.
Sob suspeita de vários crimes, incluindo de corrupção, sob averiguação e à
espera de pronúncia há mais de um ano, o juiz da Relação foi suspenso durante
longo período. Como nada se resolveu entretanto, o juiz regressou às suas
funções e já recebeu vários processos, ou antes, já lhe couberam em sorteio
processos delicados, entre os quais dois que envolvem corrupção, o da “Máfia do
Sangue”, com a Octapharma, empresa que deu emprego a José Sócrates; e o da
“Operação Marquês”, em curso há vários anos e que visa quase duas dezenas de
pessoas, entre as quais os dirigentes do Grupo Espírito Santo e José Sócrates.
Este caso é mais um golpe na Justiça com incalculáveis consequências.
A nova comissão Europeia, que ainda
não foi aprovada pelo Parlamento, começou muito bem. Paritária, como mandam a moda e as regras do
dia. E com inovações na designação dos pelouros que nos deixam a sonhar.
Não fosse sinal de complacência, teríamos vontade de rir. Pensando em todos
os que não tiveram oportunidade de ver estas pérolas,
relembro os títulos de uma dezena deles: Comissária
da Protecção do Modo de Vida Europeu, Comissário da Economia ao Serviço das
Pessoas (ou que Funcione para Todos), Comissária da Demografia e da Democracia,
Comissário para as Relações Interinstitucionais e Prospectivas, Comissário para
as Parcerias Internacionais, Comissário da Gestão de Crises, Comissário da
Política de Vizinhança e Alargamento, Comissária da Igualdade, Comissária para
a Coesão e Reformas e Comissária dos Valores e da Transparência. Alguém citou,
a este propósito, o Ministério dos “Silly Walks” dos Monthy Pithon: tem
absolutamente razão!
Como
é evidente, todos os comissários europeus são importantes. E todos os países
europeus têm razões para se orgulhar dos seus comissários. Não excessivamente,
pois cada país tem um, mas o suficiente para se sentir fazer parte do clube.
Durante ou no fim do mandato, logo se verá se desempenham bem as suas funções.
As esperanças em Elisa Ferreira são justificadas, dado que é pessoa com valioso
currículo. Mas os portugueses em geral, incluindo notáveis políticos, não se
coíbem de dizer que a “nossa” Comissária tem um pelouro formidável, que a
“nossa“ vai poder ser favorável a Portugal e que a “nossa” nos vai ajudar! É
tão saloio afirmar essas coisas! A “nossa” será uma excelente comissária, cumprirá
o seu dever e distinguir-se-á na Europa justamente se for capaz de exercer as
suas funções com isenção e sem preferência pelo seu país de origem, tal como a
lei exige, os costumes impõem e a honra aconselha!
Rui Rio não quer ser deputado! Quer é ser
primeiro-ministro! Percebe-se a segunda parte, não se entende a
primeira. Não quer ser deputado? Por que concorre ou se candidata? Como em Portugal
não é necessário ser deputado para ser primeiro-ministro, podia perfeitamente
ficar de fora. Mas não, resignado, acabou por aceitar. Foi o coroar de uma
campanha estranha. Desvalorizou as eleições, garantindo que tudo o que se diz
em campanha não é para ser levado a sério! Deveria querer referir-se aos
adversários, mas, evidentemente, ficou incluído. Na tentativa de se mostrar
honesto e racional, virtudes louváveis, desmontou a argumentação eleitoral,
minimizou os programas e desdenhou quem anda em campanha! Dia após dia, contra
ventos já desfavoráveis e em circunstâncias difíceis, Rui Rio deu o golpe de
misericórdia no seu partido.
Também
incrível e inesquecível, não sabemos ainda se pelas boas ou pelas más razões,
Jerónimo de Sousa, secretário-geral do Partido Comunista Português, fez, na
televisão, um inédito elogio ao Parlamento, à Assembleia da República e aos
deputados. Citando expressamente as funções dos deputados como representante do
povo, louvou e sublinhou a responsabilidade do deputado no exercício das suas
funções. Sinceras ou não, é o que veremos com o tempo. Mas estas declarações
quase fazem esquecer aqueloutras de Catarina Martins, igualmente inesquecíveis,
segundo as quais o Bloco de Esquerda era social-democrata.
Sociólogo
COMENTÁRIOS
JORGE COSTA: Excelente artigo! O autor tem aquela
"piada seca" sobre cada um dos personagens abordados. E ficou tanto
por dizer....
A J Baptista: O cavalheiro António
Barreto habituou-se à ideia de que paira acima do estrume que considera o país.
Daí que nas suas manifestações semanais se fique quase sempre por considerações
genéricas, decerto na convicção de que basta ser ele a exalá-las para que
estejam certas e indiscutíveis. Quando desce ao facto e ao exemplo é o desastre
que se vê. Quase tudo manipulado grosseiramente. E o pior, as palavras que
atribui à secretária de Estado Anabela Pedroso, colocadas entre aspas como se
fossem transcrições fidedignas, não correspondem absolutamente nada ao que ela
efectivamente disse.
Rui Guerra: António Barreto
quebrou o unânime consentimento à social democracia de Catarina Martins. Finalmente
alguém lúcido na opinião escrita.
antoniofialho1: Caríssimo António,
apesar do imenso respeito, só por má fé se utilizam essas frases fora de
contexto para menorizar os autores das mesmas: desaparecido como que perdido é
diferente de não saber onde se encontra mas "está em casa"; é óbvio
que são os cidadãos que a acorrerem massivamente que causam filas, e nenhum
serviço público está preparado para 100% de aumento das solicitações; o sns é
normal que não responda de forma eficaz quando se percebe que residem em
Portugal muitos milhares de cidadãos a mais ( imigrantes, refugiados,
turistas), além da redução do horário de trabalho para as 35h. Não há
milagres...
Fernando Costa: Caro Antonio fialho: talvez no seu desvelo em defender
o PS consiga explicar isto: sou médico de família e tenho um horário de 42
horas. Como a enfermeira e administrativa (e auxiliar) do meu centro de saúde
que trabalham comigo apenas fazem agora 35 horas, e como não posso (principio
sindical) fazer actos administrativos ou de enfermagem, passo todas as semanas
7 horas a olhar para o tecto (ou, felizmente, para o iPad) a fazer horas para
ir embora e sem poder ver doentes. Portanto, era melhor você não falar do que
não sabe...
antoniofialho1: Caríssimo
Fernando Costa. Desde logo presume que estou a defender o PS, o que não é
verdade: apenas me causou surpresa ver alguém como o AB fazer uma crónica com
supostas "pérolas " a partir de declarações descontextualizadas. Tb
poderia ter usado o exemplo da declaração do Rui Rio que não pretende ser
apenas deputado: qual é o mal de afirmar que o seu objectivo é apenas e só ser
PM? Ao menos é sincero. Quanto ao exemplo que dá, apenas agrava a minha percepção,
quando afirma que por impedimento sindical não pode fazer trabalho administrativo
ou de enfermagem. Faz-me lembrar as greves na educação em que, apesar de haver
professores, não há aulas porque que devia abrir a escola está em greve...
Macuti: Se o juiz Rui Rangel recebeu os seus
vencimentos enquanto esteve suspenso, deverá ser o primeiro a lamentar-se
quando agora lhe são entregues processos sensíveis: agora tem que trabalhar!!!
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