Para complicar mais o estudo, surgiram agora
estes denisovanos! As crianças é que sofrem, com os estudos cada vez
mais apurados com tanta descoberta. Desta vez, por conta dos genes. Os espantos
do passado desconhecido, as preocupações do futuro a conhecer. Denisovanos! Mas
eles não se reconheceriam na designação. Homo
sapiens é que nos ilustra, e vamos brilhando a essa luz latina, que nem
sempre condiz, é certo, com a moderna, da nossa envolvência global e difusa. Mas
ainda não devemos ficar por aqui em nomenclatura genética, pois os “sapiens”
são imparáveis, na antropologia como no resto.
Assim seriam os denisovanos, uma espécie de
humanos já extinta
Pela primeira vez,
retratou-se um grupo de humanos que se extinguiu há 30 mil anos, os denisovanos.
PÚBLICO, 19 de Setembro
de 2019
Há cerca de 70 mil anos uma jovem
denisovana vivia numa gruta do Sul da Sibéria. Pensa-se que se adaptava bem às elevadas altitudes
e ao frio. Mas como seria este membro de uma espécie de humanos já extinta?
Esta quinta-feira, a revista científica Cell divulga a primeira reconstituição anatómica do
esqueleto dos denisovanos.
Para podermos perceber melhor como seriam esses humanos, a equipa – que
inclui cientistas de Israel e de Espanha – também retratou a jovem
denisovana.
Desaparecidos
há cerca de 30 mil anos, os denisovanos viveram
no Norte, Leste e Sudeste da Ásia. “Não se sabe bem qual era o seu
ambiente, mas alguns humanos modernos [a nossa espécie] receberam deles
fragmentos de ADN que hoje os ajudam a adaptar-se a altitudes elevadas – no
caso dos tibetanos – e ao frio – nomeadamente os inuítes”, realça ao
PÚBLICO Liran Carmel, geneticista da Universidade Hebraica de Jerusalém e
coordenador do trabalho. “Portanto, podemos supor que os denisovanos estavam
adaptados a viver nessas circunstâncias.”
Sabia-se
muito pouco sobre a anatomia dos denisovanos. Até agora, tudo o que tínhamos
deles eram dentes, uma falange e uma mandíbula. Os dentes e a falange foram descobertos na gruta
de Denisova – que dá o nome a estes humanos –, nos montes Altai, na
Sibéria. Em 2010, as análises ao ADN desses ossos
reconheceram oficialmente os denisovanos como uma espécie humana. Já em
Maio deste ano foi anunciada a descoberta da parte direita da mandíbula na
gruta Baishiya Karst. Esta foi a primeira vez que se encontrou um fóssil
de um denisovano fora da Sibéria.
Para
se reconstituir a anatomia dos denisovanos, a equipa usou um processo de
regulação epigenética chamado “metilação”, em que alterações químicas
influenciam a actividade dos genes. Desta forma, comparou-se os padrões da
metilação do ADN de denisovanos, neandertais (outros humanos já extintos) e
humanos modernos e extraiu-se informação anatómica a partir dos padrões de
actividade dos genes desses três grupos. Com base nesta reconstituição, os
denisovanos seriam mais parecidos com os Neandertais MAAYAN HAREL
“Ao
fazermos isto, conseguimos prever como é que as distintas partes do esqueleto
são afectadas pela diferente regulação de cada gene – por exemplo, se um fémur
é maior ou mais pequeno”, esclarece David Gokhman, também da Universidade
Hebraica de Jerusalém e autor do artigo, num comunicado sobre o trabalho.
Antes
de avançar com o resultado
final, – como forma de testar este método –, a equipa também o
aplicou a neandertais e chimpanzés, que têm uma anatomia já conhecida.
Resultado: esta reconstituição teve uma precisão de cerca de 85%. A
equipa sentiu-se então preparada para fazer a primeira reconstituição anatómica
dos denisovanos.
Mais parecidos com neandertais
Retratou-se
assim uma jovem denisovana que viveu há cerca de 70 mil anos
na gruta de Denisova. “Esta é a
primeira reconstituição da anatomia do esqueleto dos denisovanos”, frisa Liran
Carmel. “Em muitas coisas os denisovanos parecem neandertais, em alguns
traços também se parecem connosco, mas em muitas outras características são
únicos.”
Ao
todo, encontraram-se 56 características anatómicas em que os denisovanos
diferem dos humanos modernos ou dos neandertais e 34 delas são no crânio.
Por exemplo, o crânio dos denisovanos deveria ser mais largo do que o dos
neandertais e dos humanos modernos. Também teriam uma arcada dentária mais
longa, como se confirmou com a mandíbula descoberta no Tibete.
“Em
geral, os traços dos denisovanos assemelham-se mais aos dos neandertais do que
aos nossos, o que já era expectável com base na sua filogenia [pois é uma espécie ‘irmã’ dos neandertais]”, refere Liran Carmel. Tal
como os neandertais, teriam caras alongadas e pélvis largas.
Mesmo
assim, este método não fornece medidas corporais exactas: “Podemos dizer
[que os denisovanos tinham] dedos maiores [do que os dos humanos modernos], mas
não podemos dizer que eram dois milímetros maiores”, esclarece Liran Carmel à
revista Science.
No
comunicado, a equipa assinala que este método pode agora ser usado para se
reconstituírem características anatómicas desconhecidas de outros humanos.
Também nos poderá vir a dar mais informações sobre a evolução dos hominídeos. “Pode
ensinar-nos como é que grupos de humanos se adaptaram durante a evolução, quais
os genes que definiram a sua morfologia e como é que as misturas genéticas
afectaram os humanos modernos – isto porque hoje em dia o ADN dos denisovanos
está em pessoas do Pacífico, da Austrália e do Leste da Ásia”, enumera
Liran Carmel. “Definitivamente, há muito mais a ser descoberto sobre
como os denisovanos moldaram os humanos modernos.”
Apesar de ter achado esta reconstituição
“inteligente”, Ludovic Orlando – arqueólogo da Universidade de Copenhaga
(Dinamarca) e que não fez parte do estudo – avisa que é preciso ter cautela com as generalizações baseadas na
reconstituição de um único indivíduo, assinalou à Science. Por isso,
Gabriel Renaud – também da Universidade de Copenhaga e que não fez parte do
estudo – refere que os autores do estudo devem divulgar os métodos
computacionais utilizados para que outros cientistas possam reproduzir a
reconstituição dos denisovanos. A descoberta de novos fósseis também poderá
confirmar (ou não) os resultados.
Neste
momento, os cientistas no laboratório de Liran Carmel estão a tentar
encontrar outras informações sobre diferentes grupos de humanos através da
metilação do ADN.
COMENTÁRIOS
rafael.guerra.www, 20.09.2019: É mais fácil reconstituir a partir de pedaços a
denisovana, que viveu há 70,000 anos, do que resolver o puzzle da educação de milhões
que ainda acreditam no 3º milénio que o mundo tem 6000 anos...
Guilherme de Almeida, 19.09.2019: Magnífico.
Anjo Caído, 19.09.2019: Isto é uma notícia interessantíssima nos
tempos que correm. Só há uma raça humana... ou não, quer dizer, agora só há
uma, já houve outras, só que desapareceram. Mas há humanos hoje que têm genes
desta outra raça de humanos (até os dedos se me enclavinham ao escrever uma
coisa destas). O tema é tocado de maneira tão científica que assim toca em
muitos tabus - só que ninguém repara.
Luís Miguel, 19.09.2019: Não se entusiasme. Não se trata, em rigor, de raças. O
artigo fala de espécies, mas trata-se (provavelmente) de subespécies, já que a
presença de ADN destes homo sapiens na subespécie sapiens sapiens (a nossa)
indicia que não se ficaram (apenas) por avistamentos (cautelosos) à distância.
NOTAS DE APOIO
Para revisão dos conceitos a respeito da evolução da
espécie humana.
(Da
Internet)
5 etapas da evolução humana:
setembro
26th, 2011
A espécie humana, como conhecemos,
foi resultado de uma longa evolução física e biológica que já dura,
aproximadamente, 4 milhões de anos. À
medida que se foi distanciando de seus ancestrais macacóides, os hominídeos
foram utilizando ferramentas, andando de forma erecta, aumentando a massa
cerebral, desenvolvendo a linguagem e adquirindo consciência.
Australopiteco
O
Australopiteco é considerado o ancestral mais antigo do ser humano. Viveu na
África há aproximadamente 3 milhões de anos. O volume de seu crânio era de
cerca de 500 cm³, um pouco maior que o dos actuais macacos. A sua forma
de linguagem não era mais elaborada do que a de um chimpanzé. Tendo aparecido
pelas primeiras vezes no sul de África, as suas principais características físicas
englobam a baixa altura (não ultrapassava os 1,40 metros), bipedismo,
fronte baixa e maxilares bastante salientes.
Homo Habilis
O Homo
Habilis inventou as primeiras ferramentas e viveu há aproximadamente 2 milhões
de anos. O volume de seu crânio era de 800 cm³ – o dobro do crânio do
chimpanzé. Levava uma vida nómada nas savanas do leste da África,
alimentando-se de carne, obtida através da caça, além de frutos e outros
vegetais. Há indícios de que tinha um tipo de linguagem rudimentar.
A sua altura seria de aproximadamente 1,27 cm, com um peso de,
aproximadamente 45 kg. As fêmeas podiam ser menores.
Homo Erectus
O Homo
Erectus viveu há aproximadamente 1 milhão de anos. Sabia utilizar alguns
instrumentos feitos de pedra e era um hábil caçador. O volume de seu crânio era
de 1.100 cm³, o que equivale ao dobro do crânio dos macacos actuais. O Homo
habilis e todos os Australopitecos foram encontrados somente na África, mas o
Homo Erectus aparece localizado em áreas geográficas mais alargadas, como a
Ásia, Europa e África. Existem provas que levam a concluir que manipulavam
o fogo, apresentando de igual modo utensílios de pedra mais sofisticados.
Homo Sapiens
O Homo
Sapiens viveu há aproximadamente 200 mil anos. Já era um artesão
habilidoso e os seus utensílios eram melhores e mais eficientes do que todos os
outros feitos anteriormente. O volume de seu crânio atingia 1.500 cm³, o
mesmo volume do crânio do ser humano moderno. Através da indicação do
indício fóssil, esse organismo revelou ser de baixa estatura e musculoso, com
um cérebro praticamente do mesmo tamanho que o nosso, com região cerebral
correspondente à fala bem desenvolvida.
Homo Sapiens Neanderthalensis
O Homo
Sapiens Neanderthalensis– ou Homem de Neandertal – viveu há aproximadamente 100
mil anos . Nesta etapa, o ser humano já tinha preocupações espirituais e
noção da morte. O volume de seu crânio atingia 1.700 cm³, levemente maior do
que os humanos modernos. Os homens mediam em média 1,68 cm. Os ossos eram
fortes e pesados, mostrando sinais de uma poderosa estrutura muscular. Foram
formidáveis caçadores e há indícios de que já praticavam rituais funerários.
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