Leio na Internet que Pedro Filipe Soares «É licenciado
em Matemática Aplicada à Tecnologia pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, tendo frequentado o
Mestrado em
Detecção Remota.», motivo mais que suficiente para exigir contas apuradas,
ao partido do governo com quem ele e os seus se aliaram em tempos, sem tantos
pruridos de exigências contabilísticas. Agora luta pelo seu próprio lugar ao
sol e desmascara quem lhe faz sombra, é certo. A gamela é a todos, apetecível,
ainda que embrulhada em tristes empréstimos. O país, esse, importa pouco, sabe-se.
OPINIÃO:
Foi você que pediu contas certas?
As contas certas do PS têm pés de barro,
bem se vê. Fazem-se à medida de uma maioria absoluta para dispensar o
escrutínio posterior.
PEDRO FILIPE SOARES PÚBLICO, 13 de Setembro de 2019, 3:13
O
programa eleitoral do PS veio despido do seu cenário macroeconómico. A
apresentação do programa ocorreu em
julho passado e, face à ausência desses números explicativos, os
mais curiosos foram remetidos para as contas do Programa de Estabilidade
(PE) que o Governo enviou para Bruxelas em abril passado. António Costa
rompeu com a moda que o próprio tinha lançado em 2015, não se sabendo qual o
motivo para o arrependimento.
Catarina
Martins tornou inevitável o aprofundamento das explicações quando detalhouno debate com António Costa a falta de
rigor do seu programa eleitoral – foi nas medidas sobre Habitação que se
percebeu melhor que o dinheiro nem daria para metade das promessas daquela
área. Assim, é com a campanha eleitoral já em andamento que o PS ainda anda a
explicar as contas do seu rosário.
O apêndice contabilístico chegou no início de Setembro, veio
baptizado como “Impacto Financeiro das Medidas no Programa Eleitoral do PS” e
ocupa umas singelas quatro páginas. Fiscalizado o documento, saltam mais à
vista as contradições do que os esclarecimentos.
É
verdade que os números não diferem muito do previsto no PE. Não é novidade,
poderão dizer, mas isso é um problema para as promessas eleitorais do PS. É a
manutenção dos mesmos números do PE que esvazia as novidades do programa
eleitoral socialista. Isso explica
por que grandes promessas de “aposta na protecção social” como a
“valorização real dos rendimentos dos pensionistas dos escalões mais baixos de
rendimentos através do Complemento Solidário para Idosos” são para faseamento
“ao longo da legislatura de acordo com as condições económicas e financeiras prevalecentes”.
Novamente o faseamento será aplicável à promessa de “duplicar o ritmo de
investimento nas respostas de cuidados continuados integrados”. Nestas frases,
a retórica é a máscara do incumprimento.
Por outro lado, as juras de amor ao
investimento público ficam-se pela inconsequência. O ministro das Finanças usou o PE para cortar
0,2% do PIB no investimento público previsto no Orçamento do Estado para 2019.
Para emendar a mão, Mário Centeno veio há dias afirmar que o PS pretende
duplicar o investimento público. No entanto, quando vemos as novas contas, o
reforço de 200 milhões de euros não chega sequer para compensar o corte de
investimento feito pelo PE, quanto mais para chegar perto de qualquer
duplicação do montante.
Nas
mesmas declarações, feitas no final de Agosto, Mário Centeno anunciava uma
redução de 200 milhões de euros na receita fiscal em IRS. De resto, este é o
mesmo número previsto em Abril no PE. Contudo, dias depois, as novas contas do
PS anunciam a duplicação deste valor para 400 milhões de euros porque decidiram
“dar mais ambição à redução de receita”. Contas feitas ao sabor do vento
eleitoral? Assim parece.
Podemos
passar agora aos cortes escondidos? O mesmo Mário Centeno deu a entender prever
aumentos dos salários na Função Pública à taxa da inflação já a partir de 2020.
Se juntarmos esta promessa com outra de “recrutamento em função das
necessidades efectivas de cada área da Administração Pública” percebemos que
não batem certo com as contas do PE, que são as únicas existentes e não contemplam
estas medidas. Promessas a mais para dinheiro a menos. Neste contexto, a
reflexão geral sobre as carreiras especiais da Administração Pública, que criam
“um desequilíbrio que deve ser revisitado”, parece trazer no bico a revisão das
carreiras e a respectiva redução remuneratória. Compromissos destes soam a
ameaça a professores, médicos, enfermeiros, forças de segurança, etc..
As
contas certas do PS têm pés de barro, bem se vê. Fazem-se à medida de uma
maioria absoluta para dispensar o escrutínio posterior.
Poder-se-ia dizer que as promessas
eleitorais são a fruta da época e que uma larga maioria delas tem um prazo de
validade que termina na noite eleitoral. Perdoem-me por discordar disso. O
compromisso com uma democracia de qualidade exige responsabilidade e
transparência.
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