Palavras justas, estas de Salles da Fonseca, que não se
trata de contestar, mas de complementar, com outras de um filósofo antigo, que
foi marco iluminador do caminho do homem justo, e que Salles da Fonseca colocou há
dias no seu blog, as quais transcrevo:
MÁXIMA
SOCRÁTICA (Henrique Salles da Fonseca, 15.09.19): Virtude é conhecimento; todos os pecados
provêm da ignorância; o homem feliz é o homem virtuoso (In “Eu sou dinamite – a vida de Friedrich Nietzsche”, Sue Prideaux, Círculo Leitores, 1ª edição, Abril de 2019, pág. 115
HENRIQUE SALLES DA FONSECA A
BEM DA NAÇÂO, 16.09.19
… QUEM BOM DE MIM FARÁ
Perguntam-me
se o “A bem da Nação” se pronuncia sobre as declarações que o Dr. Rui Rio
terá proferido há dias de que «a dívida portuguesa é a terceira maior da Europa
e uma das maiores do mundo».
E a resposta é: - Sim, pronuncia-se.
Começo
por informar os Caros Leitores de que não assisti ao debate em que o Dr. Rio
terá feito a afirmação em apreço pelo que me louvo na transcrição ficando sem
saber a que dívida se referiam os dialogantes. Seria a dívida pública, a privada, a externa, a total? Não sei e actualmente os meus olhos não estão em condições de me
permitirem grandes investigações.
Parto,
pois, do princípio de que se referiam à dívida total, ou seja, pública e privada, interna e
externa. Também não fui verificar se é a terceira maior na Europa e uma das maiores no mundo. Se o Dr. Rio o afirmou publicamente, é porque estudou o assunto
e sabia o que dizia.
A dívida
pública – interna e externa – é a que mais preocupa os órgãos da comunicação
mas a dívida privada externa é um «buraco» muito
grave e quase não se fala dela.
Centremo-nos na dívida pública. Assim, temos que a dívida é razoável, grande, muito grande, enorme
ou escandalosa em função da viabilidade e da maior ou menor dificuldade em a
servir. Sim, a necessidade de pagar o que se deve não é «coisa» que recolha a
unanimidade das opiniões. Sem nos imiscuirmos na análise da hombridade de quem
acha que as dívidas não se pagam, assentemos que só tem crédito quem honra os
seus compromissos. Ou seja, a dívida (qualquer dívida) é para ser
servida e não há mais discussões.
O serviço da dívida é definido pelos capitais, pelos juros e pelos
prazos. Os capitais são os que pedimos
emprestados porque não gerávamos as receitas públicas suficientes para
suportarmos os «vícios» do nosso bem-estar. Sim, é óbvio que estamos a
viver acima das nossas capacidades. Quanto acima? O montante dos capitais
pedidos de empréstimo, esses que nos faltaram ao longo dos tempos… cujo
somatório (chamado o stock) já ultrapassa o total da riqueza produzida anualmente, o PIB.
É claro que dá para nos arrepiarmos todos quando vemos os parlamentares
a decidirem pelo aumento da despesa pública como se tivessem uma rotativa ali
perto a imprimir moeda nova ao estilo de Mugabe e de outros «experts» que
tais.
A nossa sorte tem-se chamado Mario Draghi que praticou uma política
monetária europeia favorável aos devedores, apesar da oposição dos credores.
Essa política traduziu-se na compra pelo BCE de dívida dos
Estados em aflições (as chamadas quantitative easings) e pela política de baixa permanente das taxas de juro que o BCE
foi pagando aos Bancos que nele depositavam poupanças até chegar aos juros
negativos (serem os Bancos a pagar ao BCE para lá terem as poupanças
depositadas). Como quem diz: - Ponham
o dinheiro a circular, a criar riqueza, nada de entesouramento “ à la Tio
Patinhas”.
Mas
Mario Draghi chegou ao fim do mandato e vai ser substituído por Christine
Lagarde, ou seja, com muita
probabilidade, a política de defesa dos devedores vai transformar-se na
política de defesa dos credores: juros positivos e alto à compra de dívidas
soberanas pelo BCE.
Se
a esse cenário somarmos a subida do preço do barril de petróleo que há dias
começou com o ataque às instalações da Aramco na Arábia Saudita, vêm por aí tempos em que Draghi poderá
dizer que «atrás de mim virá quem bom de
mim fará».
Manda,
assim, a prudência dar ouvidos ao Dr. Rio no sentido de que é urgente reduzir o
stock da dívida pública. Quanto
à dívida externa privada, só me pergunto quais serão os próximos bancos a serem
sugados pelo turbilhão que se avizinha. Setembro de 2019 Henrique
Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS
Anónimo, 17.09.2019: Eu, como tu,
Henrique, não assisti ao debate político de 15/9 onde Rui Rio terá afirmado que
Portugal teria a 3ª maior dívida pública da Europa, em percentagem do PIB, e
uma das maiores do Mundo. No dia seguinte vi na internet a validação pelo
Polígrafo dessa afirmação, como verdadeira, com a seguinte precisão: não se
trata da terceira maior dívida da Europa, mas sim da União Europeia. Aliás, o
Eurostat divulgou, em 23 de abril de 2019, essa classificação, com Portugal a
atingir, no termo do ano transacto, 121,5%, apenas atrás da Grécia (181,1%) e
da Itália (132,2%). Em valor absoluto, a dívida pública portuguesa nesse
final de ano expressava-se em 244.906 milhões de euros.
O Polígrafo acrescentou ainda que, em termos mundiais, Portugal, segundo dados do FMI, ocupava a 10ª posição. Em primeiro lugar estava o Japão (237,5%), seguindo-se os seguintes países; Venezuela, Sudão, Grécia, Líbano, Itália, Eritreia, Cabo Verde, Moçambique e Portugal. Não querendo entrar em terreno que não domino, apenas ressalvo que nem tudo é comparável. No caso do Japão, por exemplo, há que ter em conta que o país tem um altíssimo nível de poupança e que mais de 90% da dívida pública está na mão de investidores japoneses, mormente do Banco do Japão. Acresce que, segundo leio, a economia japonesa não é débil e o país não tem dívidas a organizações internacionais, como o FMI. Sobre as várias questões que abordas no teu artigo, pouco tenho a acrescentar ao que já escrevi, a título de comentário, relativamente aos teus textos Modernidades-2 (9/9), Apirexia-2 (31/8) e Apirexia-1 (28/8). Talvez apenas recordar, a propósito da política do BCE “quantitative easing”, que o próprio Mário Draghi, quando há dias anunciou a sua renovação, com algumas restrições, em relação ao passado, confessou que para a sua aprovação teve que ultrapassar algumas dificuldades. No dia seguinte, ficou-se a saber que os poderosos Bancos Centrais da França e da Alemanha, para além de alguns mais da Europa do centro e norte, haviam manifestado reservas, pelo que é de prever que aquela política venha a ter uma vida efémera, como prevês. Há realmente um problema na EU – como incentivar a poupança, com este nível de taxas de juro? Mas isso deixo para os especialistas. Abraço. Carlos Traguelho
O Polígrafo acrescentou ainda que, em termos mundiais, Portugal, segundo dados do FMI, ocupava a 10ª posição. Em primeiro lugar estava o Japão (237,5%), seguindo-se os seguintes países; Venezuela, Sudão, Grécia, Líbano, Itália, Eritreia, Cabo Verde, Moçambique e Portugal. Não querendo entrar em terreno que não domino, apenas ressalvo que nem tudo é comparável. No caso do Japão, por exemplo, há que ter em conta que o país tem um altíssimo nível de poupança e que mais de 90% da dívida pública está na mão de investidores japoneses, mormente do Banco do Japão. Acresce que, segundo leio, a economia japonesa não é débil e o país não tem dívidas a organizações internacionais, como o FMI. Sobre as várias questões que abordas no teu artigo, pouco tenho a acrescentar ao que já escrevi, a título de comentário, relativamente aos teus textos Modernidades-2 (9/9), Apirexia-2 (31/8) e Apirexia-1 (28/8). Talvez apenas recordar, a propósito da política do BCE “quantitative easing”, que o próprio Mário Draghi, quando há dias anunciou a sua renovação, com algumas restrições, em relação ao passado, confessou que para a sua aprovação teve que ultrapassar algumas dificuldades. No dia seguinte, ficou-se a saber que os poderosos Bancos Centrais da França e da Alemanha, para além de alguns mais da Europa do centro e norte, haviam manifestado reservas, pelo que é de prever que aquela política venha a ter uma vida efémera, como prevês. Há realmente um problema na EU – como incentivar a poupança, com este nível de taxas de juro? Mas isso deixo para os especialistas. Abraço. Carlos Traguelho
Anónimo 17.09.2019:
O cérebro não para (com acento) de
processar, Henrique. Já depois de te enviar o meu comentário, interroguei-me
por que razão o Polígrafo teria precisado que Portugal tinha o terceiro maior
rácio "dívida pública/PIB" da UE e não, como Rui Rio teria afirmado,
da Europa? Ora, segundo o próprio Polígrafo, alicerçado em informação do FMI,
como citei, refere os 10 países do mundo com maior rácio. E à frente de
Portugal não há nenhum país europeu, para além da Grécia e da Itália, ambos da
UE. Então, neste caso concreto, os "universos" UE e Europa coincidem
e a afirmação de Rui Rio - Portugal tem a terceira maior dívida pública da
Europa em relação ao PIB - está correcta. Quod erat demonstrandum (q.e.d). Carlos
Traguelho
Adriano Lima 17.09.2019: O texto é
muito útil e interessante para o esclarecimento dos menos informados sobre o
assunto, como eu. E o comentário do Senhor Carlos Traguelho é um admirável
complemento.
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