Já há dias, pus no meu blog, entre
outros dois, um texto de André
Abrantes Amaral, que me agradou pelo desempoeirado da sua visão
crítica, a respeito do Brexit. Hoje
encontro este, sobre o histórico do PSD, o PS e a pobreza do nosso debate político e, por contraste, a vivacidade, não isenta de respeito mútuo,
dos comentadores políticos britânicos. A timidez de argumentação dos nossos
analistas políticos permite que o público se deixe iludir com a atitude
vencedora de um primeiro ministro hábil, ao que parece, em esconder o Mau e em
exaltar o Bom que pratica, sobretudo ao sabor das suas ambições eleitoralistas.
É isto que nos informa, e cria um status de tranquilidade absurda, dada a sua
aliança com partidos cuja função é exigir que se favoreçam os menos favorecidos
– seja o público, sejam, supostamente os serviços públicos. E tudo isso sem
olhar aos meios existentes nem à sua proveniência, vencedores orgulhosos nas
suas reivindicações chantagistas, como afirmam nas suas campanhas
eleitoralistas, de uma penúria arrasadora, transbordando simpatia e acusação.
Também, de vez em quando, assisto a
debates na TV5. Nada a ver
com o que por cá se passa, de timidez ou astúcia, num jogo de ataque ou defesa,
sem que se fique esclarecido. E uma vez mais, o governo de um homem – Pedro Passos Coelho – chutado para o canto abjecto do
desprezo imerecido, fabricado, sobretudo, pela prepotência dos mais doutos nas
doutrinas, menos esclarecidos no sentimento pátrio e na vergonha da mão
estendida, apesar da doutrina. Um excelente exemplar de visão crítica, esta
crónica de André
Abrantes Amaral, ai de nós.
O que é que fizeram à direita? /premium
OBSERVADOR, 18/9/19
O
PSD que vai a votos a 6 de Outubro não é o que governou entre 2011 e 2015. É o
PSD de Rui Rio, de Pacheco Pereira e de Ferreira Leite. É o PSD dos que
concertadamente comentam realidades virtuais.
No
passado Domingo assisti, na TVI 24, aos comentadores Constança Cunha e Sá e
Ricardo Monteiro concordarem sobre o PSD. Normalmente, quando o consenso
prevalece a ligeireza com que se debatem os assuntos fica a pairar como algo
que não bate certo, mas que temos dificuldade em destrinçar. Uma impressão
sobrejacente ao erro que resulta da falta de contraditório. Domingo passado
esta sensação foi-se revelando no decorrer do programa até que um deles, não me
recordo qual mas com o assentimento do outro, referiu que a aplicação do
programa da troika tinha qualquer coisa como desertificado a área da direita.
Foi nesta altura que a impressão se materializou. Porque se a
aplicação do programa da troika volatilizou o espaço da direita como é que a
direita ganhou em 2015? Como não havia debate, mas mera troca de
impressões, esta realidade não foi referida, mas enterrada numa narrativa que
se vem construindo, palavras em cima de palavras, até se enterrarem os factos.
Se
não me engano, desde 2011 que a grande maioria de comentadores concorda sobre o
PSD. Primeiro, que não conseguiria retirar o Estado português da bancarrota,
depois que não venceria as eleições em 2015, mais tarde que Passos Coelho teria
de sair da liderança do partido para que o PSD pudesse fazer frente ao PS (pelo
menos nas sondagens). Que o PSD tinha de aceitar que as políticas do PS eram as
correctas, para que pudesse fazer parte da nova narrativa e ter uma hipótese
para derrotar António Costa.
Agora que à frente do PSD está Rui Rio, um líder dessa linha que esses
comentadores tanto recomendaram, o que indicam as sondagens? Que o PSD vai
ter o pior resultado de sempre. Mas claro que para os comentadores habituais a
responsabilidade não é de Rui Rio. Constança Cunha e Sá chegou mesmo a referir
que o PSD não estaria melhor com outro líder. O que por agora se ouve é que
este, pelo menos, é honesto, o que é o equivalente a estar de acordo com
Costa. Foi logo a seguir que veio a afirmação sobre o vazio
da direita ser um resultado do governo da troika. Como normalmente sucede
quando não há debate, quando não existe contraditório, quando não existem
pessoas a discordarem entre si, as análises saem erradas. O erro vence. Vence
mais que o PS; vence mais que a esquerda. Vence qualquer comentador que não se
preze.
Agora
que a análise consensual a que temos direito sobre a direita se mostra errada
há outro ponto que deve ser esclarecido: O PSD que vai a votos a 6 de Outubro
não é o PSD que governou entre 2011 e 2015. Não é o PSD de Passos Coelho. É o PSD de
Rui Rio. É o PSD de Pacheco Pereira. É o PSD de Manuela Ferreira Leite. É o PSD
dos comentadores que concertadamente comentam realidades virtuais: que a
economia está excelente, que o perigo de uma nova bancarrota do Estado está
longe de acontecer, que a dívida pública está controlada, que a austeridade
acabou ou prejudica menos as pessoas, porque talvez nenhum destes comentadores
foi a um hospital ou não anda de transportes públicos. Ou foi e anda, mas não
altera o discurso porque não há ninguém que o contradiga. E essa é a mais-valia de um debate:
depararmo-nos com alguém que nos contradiga, sustente o contrário, nos abra os
olhos. Nos desperte para a realidade. A força da democracia está aqui; não se
reduz a votar.
No
Domingo acabei por suspirar de resignação, mudei para a Sky News e deparei-me
com um debate sobre o Brexit (mais um). O ambiente era cordato, mas o debate
intenso. Não me recordo dos nomes de todos os intervenientes, mas deparei-me
com Andrew Pierce, um velho conhecido que acompanho há alguns anos no Press
Preview. Aqui, o editor do Daily Mail debate com Kevin Maguire, do Daily
Mirror. Pierce é conservador e Maguire de esquerda e republicano. Os dois
discordam em quase tudo mas mantêm um civismo e respeito um pelo outro que
coraria os comentadores que por cá concordam em não discordar de forma a não
perderem a pose.
Entretanto,
a direita anda pela rua da amargura e adivinha-se difícil sair do beco sem
saída que essa rua revelou ser. Nessa altura há duas hipóteses: ouvir os
comentadores habituais e trepar pelas paredes ou fazer o óbvio e o sensato e
virar costas e sair por onde se entrou. A 7 de Outubro vai ser muito
interessante ouvir aqueles que disseram que o PSD devia ser como o PS acusarem
de extrema-direita e de neoliberais aqueles que não os quiserem ouvir. Qualquer
acusação serve desde que o contraditório não exista. Como é que se lida com a
anuência complacente dos que não sabem o que é um debate? Eu sei e por isso
mudei de canal.
COMENTÁRIOS:
João Mourinho: O PSD que
governou entre 2011 e 2015 também não é propriamente o PSD na sua génese. Se Sá
Carneiro fosse vivo, Relvas não estava no partido. Este artigo é que é de
realidade virtual. O PSD está no caminho certo, por muito que a imprensa o
tente tapar o sol com a peneira e matar a imagem de Rio, que é um verdadeiro
estadista.
Ruik Krull:
Olha-me outro...
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