VPV, como sempre, em penadas argumentativas impecáveis, que nos martelam a
cabeça sem resultado visível. O texto de Adriano
Lima, publicado em “A BIGORNA” de D. Martelo, refere o lamento de Jerónimo de Sousa que também
escutei, e apreciei, segundo idêntico sentimento de repúdio, por um homem que
está ali há tanto tempo, sem um desvio de linha orientadora, na esperteza,
queixosa embora, de manter o seu tapete na sala do governo onde conseguiu
figurar, tapete que não deseja perder, se possível transformado mesmo em alcatifa
de vasto piso nas próximas legislativas. Adriano
Lima traça um retrato firme de um PCP imutável, numa
história marxista que foi evoluindo ailleurs.
Entretanto, um bravo ao Dr.
Mário Centeno que respondeu
à letra, figurativamente falando, às alegres e engraçadas provocações de RAP no seu “Gente que não sabe estar”.
I - OPINIÃO: Diário
VASCO PULIDO VALENTE PÚBLICO, 21 de Setembro de 2019
O reitor da
Universidade de Coimbra resolveu proibir o bife com batatas fritas.
Julga ele que isto é ser moderno. Não é. É ser, como de costume, uma
universidade submissa aos poderes do dia e servil perante a ideologia
dominante. A universidade do dr. Salazar e do almirante Tomás também teria
preferido uma feijoada, para não “vir nos jornais”.
15 de Setembro: A
unanimidade portuguesa não é um defeito, é um destino.
16 de Setembro: Os
jornalistas e os comentadores da nossa praça queriam por força ter um
assunto de conversa e, por isso, resolveram achar que Rui Rio tinha “ganho” o debate. Na medida em que “ganhar” ou
“perder” nestes debates faz algum sentido, e não faz nenhum, acho precisamente
o contrário. António Costa foi o primeiro-ministro atencioso e condescendente e
deixou Rui Rio fazer o seu número. Apesar da calma e das boas maneiras, o
debate acabou por tocar, e talvez por acaso, na questão essencial. Quase no
fim, Rui Rio desabafou: a despesa pública continua a aumentar em percentagem do
PIB e os impostos aumentam atrás dela, e este mecanismo infernal tem de parar.
Ao que Costa respondeu que isso era uma questão de fé. Exacto. Também é o
que divide, e em Portugal sempre dividiu, a esquerda e a direita.
17 de Setembro: De facto, a emigração continua. Os contribuintes
portugueses bem podem gastar o seu dinheiro a educar especialistas portugueses.
O mercado de trabalho não é nacional e a Europa oferece melhores salários e
mais oportunidades. Este é um ponto importante sobre o qual os “europeístas”
nunca falam. Só que um dia podemos acordar como um país lateral de serviços
turísticos e negócios de imobiliário.
18 de Setembro: Jorge Sampaio fez
oitenta anos. Houve grandes comemorações. Mas, para mim, tudo foi um grande
equívoco. O Jorge Sampaio que eu comemoro não é o Presidente da República, nem
o secretário-geral do PS: é o secretário-geral da RIA e o homem do MAR, que foi
a esperança de uma geração, a minha, e que nunca será esquecido por ela.
19 de Setembro: Quarta eleição legislativa em quatro anos. A
situação da Espanha é
uma história cautelar para Portugal. Se, por acaso, o Bloco de Esquerda
tivesse algum dia a força eleitoral do Podemos, o sistema político português
seria subvertido e, no dia 7 de Outubro, António Costa estaria a explicar a
Catarina Martins por que razão ela não devia ser vice-primeira-ministra.
20 de Setembro: Já estava à espera que aparecesse um qualquer caso
judicial para entreter a populaça nos últimos dias da campanha. Agora, foi um
secretário de Estado arguido no caso das
“golas anti-fumo”. Mas bastou isso para o noticiário político
reverter durante quarenta e oito horas para um noticiário policial. O
jornalismo português é uma desgraça.
Colunista
II- OS MITOS REVOLUCIONÁRIOS
ADRIANO LIMA in «A BIGORNA» de DAVID MARTELO (email)
O
secretário-geral do Partido Comunista afirmou recentemente que foi preciso
ter “paciência revolucionária” no decurso destes quatro anos de negociações com
o Partido Socialista, no quadro da legislatura que está a chegar ao fim.
Embora isso, o secretário-geral deve, no fundo, estar ufano da sua
“paciência revolucionária” porque ela teve o mérito de viabilizar uma solução
governativa única e inédita na Europa nestes tempos que correm. E com
resultados em que muitos observadores da cena nacional não acreditavam, ou
porfiavam em não acreditar, tanto que o anterior líder do PSD a considerava via
certa e segura para diabo voltar a assombrar as nossas vidas. Mas enganou-se
completamente porque o actual governo teve prodígios de exorcismo que o devem
ter surpreendido, mais ainda quando foi ele que, enquanto governo, quebrou
conscientemente o pote da água benta protectora. Contudo, aquela afirmação
de Jerónimo de Sousa suscitou-me esta pergunta: Que é feito dos mitos
revolucionários, o que verdadeiramente deles sobra? Hoje, olha-se para a
turbulência política e social que eclode em alguns lados e constata-se que o
fenómeno há muito deixara de ser inspirado e impulsionado pelas doutrinas
revolucionárias de Marx, Lenine ou Mao, valendo-se mais de ideias nacionalistas
retrógradas ou rebuscadas e sem um projecto imbuído de uma nova filosofia
política. O fenómeno dos “Coletes Amarelos” de França poderá ter algo de
comum com o “Movimento de Maio de 68” em “inorganicidade”, ambos escapando ao
controlo das estruturas partidárias identificadas com a esquerda revolucionária
e tradicional e as organizações sindicais instituídas. No
entanto, o “Movimento de Maio de 68” era tributário de ideias esquerdistas,
comunistas trotskistas ou anarquistas, ainda que numa amálgama difusa, no seu
propósito de sacudir os valores da “velha sociedade”, reivindicando uma nova
ordem social, em especial sobre a educação e os costumes. Constata-se que pouco ou nada sobrou de palpável do
esboço ideológico que se possa vislumbrar naquele movimento francês. Muitos
dos fiéis do Trotskismo converteram-se à Social-democracia e ao Neoliberalismo
puro e duro. Deste modo,
louve-se ao menos o Partido Comunista português pela sua persistência em
acreditar ainda num mito revolucionário cujas bandeiras se esfrangalharam um
pouco por todo o lado onde se ousou hasteá-las com ímpeto e sobranceria. A
implosão da União Soviética foi o estilhaçar do que há muito vinha sendo colado
com cuspo. A essência da teoria de Marx reside na união inseparável da teoria à
prática e assim imaginou um mundo sem burguesia e governado pela ditadura do
proletariado. Mas
Lenine não julgou procedente que a ditadura do proletariado (operários e
camponeses) se exercesse sem uma “guarda avançada”, ou seja, sem o Partido,
organização centralizada e tida como a única capaz de intuir e gizar as
estratégias para atingir os “objectivos finais”: uma sociedade sem 2 classes e
plena de prosperidade económica. Pois,
Lenine, um revolucionário absoluto, realista, inflexível e fanático, sublinhou
que o marxismo era “um guia para a acção” e não um conjunto de dogmas e que só
à prática competia destilar e apurar o critério da verdade. Com o Partido
de novo tipo, doutrinado, os quadros seriam doravante formados para se apoderarem
do poder e conservá-lo. O Leninismo, variante do culto da personalidade,
atingiu o paroxismo no pior sentido com Estaline, e as suas ideias foram-se
desvanecendo com o tempo, muito devido à falta de fidelidade dos seus
sucessores, Estaline, Kruschev e Brejenev, que se interessaram mais com a sua
sobrevivência política ancorados na rígida burocracia do Estado do que com a
consecução dos tais “objectivos finais”.
Entretanto, os “traidores e revisionistas” tiveram de ser tolerados quando
os partidos comunistas europeus enveredaram pelo eurocomunismo, uma
reinterpretação que dava coloração mais acentuada ao seu nacionalismo do que ao
internacionalismo soviético (com excepção do português,
claro, que se alapou sempre à ortodoxia soviética). Posteriormente,
o eurocomunismo iria adoptar algumas posições mais liberais para não perder
força, renunciando mesmo à criação de uma sociedade sem
classes. Os
defensores dessa “heresia comunista” apoiaram-se em Engels, companheiro de
Marx, que, nos últimos anos de vida, aceitou que os comunistas acedessem ao
poder pela via democrática em países de democracia parlamentar. Foi assim
que os secretários-gerais dos partidos comunistas da Europa Ocidental −
Carrillo (Espanha), Berlinguer (Itália), Marchais (França) e Cunhal (Portugal)
− discutiram o eurocomunismo, ou socialismo de rosto humano, em que todos se
distanciaram do comunismo soviético, à excepção de Cunhal. Tudo foi tragado pelo tempo e jaz num canto do baú da
História. É o destino do que é ordem imaginada e não ordem natural. As
doutrinas políticas e religiosas não passam de produto da imaginação humana –
mitos – reflectindo crenças, sonhos e ideais, mas tão frágeis e voláteis quanto
precária e efémera é a existência humana. Jamais podem reclamar a condição de
ordem estável como é, por exemplo, a gravidade, a força que nos mantém presos à
terra. E, sendo assim, importa perguntar se nos fazem falta os mitos
revolucionários ou se é necessário reinterpretá-los para lhes imprimir uma
feição e uma pulsão mais condizentes com a actualidade. Sim, vivemos num tempo
em que a ciência e a produção modernas deram aos trabalhadores não somente uma
melhor existência e qualidade de vida mas, sobretudo, a possibilidade de
adquirir maior liberdade, mãe do progresso pela expansão que permite ao
espírito e à criatividade. É possível que Marx exteriorizasse outra visão da
realidade se vivesse nos nossos tempos, pelo que, só por isso, é imprudente
deitar para o caixote de lixo da História o manancial das suas ideias. No
entanto, se a nostalgia dos mitos revolucionários e da unidade ideológica pode
ocupar os cenáculos da história das ideias e embevecer os que vivem ainda do
seu culto, jamais pode estorvar o pensamento livre e a via para o progresso
humano. Tomar, Set. 19
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