E das fábricas que continuam a produzir.
Há toda uma interacção entre produtores e vendedores, que faz que os
compradores não resistam ao chamariz das guloseimas e demais produtos. Por mim
falo, que me farto de absorver Sumol de ananás, que vem em garrafas plásticas,
as quais, é certo, deposito religiosamente no contentor apropriado para a
reciclagem, depois de dois ou três dias de absorção - tal como separo os vidros
e os papéis, os óleos usados e de vez em quando as pilhas, assim cumprindo
religiosamente os preceitos de cidadania, em ameno despejo – no vidrão, no
papelão, no oleão, no pilhão, no contentor amarelo – que, de madrugada, os
responsáveis pela sua recolha – à chacun
son devoir - recolhem com o estrondo necessário - por não haver ainda o contentor
do som. Sim, o consumismo ajuda à degradação do ambiente, e de que maneira! Mas
ontem ouvi o vivo apelo ambiental do actual Secretário da ONU, que é português,
e a afirmação drástica do nosso PR, que também é, na ONU, de compromisso com a
eliminação dos gases e mais produtos provenientes dos petróleos, em que seremos
pioneiros - talvez por não termos petróleo - e já não me senti tão humilhada
por causa do texto de Rita Marques
Costa, sobre a nossa habitual calacice, que até se reflecte nesta coisa do genérico
ambiental, no seu conhecimento e preservação. Guterres e Marcelo nos elevam
o orgulho, sempre rebaixado, com estes genéricos a respeito da nossa educação,
credo!
AMBIENTE:
Portugueses encaram os problemas
ambientais de forma genérica. E isso é “perigoso”
É preciso trabalhar a educação para a
sustentabilidade ambiental. Especialmente em matéria de incêndios e escassez de
água, conclui o 2.º Grande Inquérito sobre Sustentabilidade.
Poluição, degradação do ambiente e
alterações climáticas. São estas as
principais preocupações dos portugueses no que diz respeito à sustentabilidade
ambiental do país. Razão para concluir que estas inquietações ambientais são
mais “marcadas pela cultura mediática, do que pela experiência directa dos
problemas” em Portugal, dizem os investigadores do Observa – Observatório do Território, Ambiente e Sociedade, do
Instituto de Ciências Sociais (ICS),
responsáveis pelo 2.º Grande Inquérito sobre Sustentabilidade,
apresentado nesta quarta-feira, em Lisboa. Por isso, lançam o alerta: a
cultura ambiental está “num nível de generalidade perigoso”.
“A ideia
de ambiente, quando pensada no contexto nacional, apresenta um perfil vago e
até algo distorcido”, lê-se no
documento em que são apresentados os resultados do inquérito. “Dir-se-ia que
os portugueses dispõem de menos informação ambiental sobre o seu país do que
sobre o mundo global, ou então que a têm mais desorganizada e distante de si.”
Mas, mesmo assim, a “distância não significa negação”. Os problemas são
reconhecidos e a necessidade de intervenção também.
Para
fazer face ao potencial desconhecimento em relação à realidade portuguesa será
preciso investir na educação para a sustentabilidade ambiental, sugere
o relatório. Luísa Schmidt,
uma das coordenadoras do inquérito, explica que “pode tornar-se perigosa
esta incapacidade de ver dois problemas absolutamente centrais no país, um deles os incêndios e o outro a questão da seca, que também nos vai
continuar a afectar”. São temas que “têm de ser muito mais trabalhados para que
as pessoas se prepararem para eles”.
Mesmo
assim, nem todos os inquiridos se preocupam de igual forma com o ambiente. A
valorização deste tipo de questões está “correlacionada positivamente com
níveis de educação mais elevados, rendimento mais altos e com a presença de
menores no agregado familiar”, concluem os investigadores. A idade também importa: “As dimensões ambiental e económica da
sustentabilidade são menos valorizadas pelos mais velhos (55-64 e mais de 65
anos) e são mais referidas pelos indivíduos mais jovens, em particular no grupo
35-44 anos”, lê-se no estudo.
Além
do ambiente, os investigadores procuraram saber mais sobre outras dimensões
associadas ao conceito de sustentabilidade. As questões sociais surgem em segundo lugar nas
preocupações dos portugueses que identificam problemas como o aumento da
pobreza e as desigualdades sociais.
Em
seguida, surge o excesso de consumo,
“tema que protagoniza destacadamente a dimensão económica da
sustentabilidade”. A dimensão menos assinalada tem a ver com política e
governação. Neste campo, “a sustentabilidade pode também ser um
tema-chave para reaproximar a cidadania da vida política com particular ênfase a
nível dos poderes locais”.
No
2. “Grande Inquérito sobre Sustentabilidade” (a primeira
edição é de 2016) foram inquiridas 1700 pessoas, entre Novembro e
Dezembro de 2018. A amostra, estratificada por região, género e idade, é
representativa da população. O projecto é promovido pela Missão Continente, um
programa da Sonae que é proprietária do PÚBLICO.Aumentar
Mudar
hábitos alimentares? Há vontade
Apesar
de reconhecerem os diversos problemas ambientais e a necessidade de alterar
alguns hábitos para fazer face a esses desafios, há uma coisa que ainda não
mudou: a alimentação. Os investigadores identificaram uma “persistência
ou muita lenta transformação nos hábitos de consumo e aquisição de alimentos”.
Que se traduz, entre outras coisas, no peso “muito elevado” da proteína
animal (carne, peixe, ovos e lacticínios) em relação a produtos hortícolas,
frutas e leguminosas
Apesar
da lenta transformação, há alguma vontade para transitar para uma alimentação de base vegetal, sobretudo
entre as mulheres, os mais jovens, quem vive em contextos urbanos e quem tem o ensino
superior. Mónica Truninger,
também coordenadora do estudo, explica que “uma coisa são as disposições
para a mudança, outra coisa são todos os factores ao nível do contexto”, que
podem estar a retardar essa mudança. Porquê? “As refeições vegetarianas muitas
vezes até têm um preço mais elevado do que outro tipo de refeições”. Além
disso, ainda há questões associadas à maior dificuldade na preparação e também
a “ideia de que a carne é reconfortante, tem melhor sabor”. “Tudo isso tem de
ser mudado”, diz a investigadora.
Ainda
assim, entre os inquiridos, 5% já diz ter uma alimentação maioritariamente de
base vegetal — sete ou mais refeições vegetarianas ao almoço ou jantar durante
uma semana. Entre quem faz essas opções estão em maioria as mulheres, pessoas
com o ensino superior e quem vive em contextos urbanos. Mas também quem tem
rendimentos mensais baixos (600 euros ou menos) e mais elevados (2039 euros ou
mais). “As pessoas com rendimentos mais altos por uma questão de saúde, mas
também as que têm rendimentos mais baixos porque não conseguem aceder [a outros
alimentos]”, lança Mónica Truninger. “Quanto à escolha de produtos
alimentares mantém-se o padrão de critérios de preferência e de lugares de
aquisição. A relação qualidade-preço agregando frescura, aspecto, sabor e
custo, prevalece associando-se a critérios sobre a origem do produto tanto nacional
como local”, aponta o estudo.
Os
locais onde os produtos são comprados também estão a mudar. Os supermercados de
proximidade estão a sobrepor-se aos grandes hipermercados, “o que indicia uma
progressiva valorização dos valores de proximidade e de confiança
interpessoal”. Também tende a crescer “o recurso ao pequeno comércio e aos
mercados locais”.
Plásticos são uma preocupação
O impacto dos plásticos na saúde e ambientetambém
fazem parte das preocupações dos portugueses — e até mais do que os outros
europeus, mostram dados de um Eurobarómetro de 2017 sobre o tema. É “este
elevado nível de preocupação que dá lugar à atribuição de grande importância ao
desenvolvimento de um conjunto de medidas com o intuito de reduzir a presença
de plástico no quotidiano, sendo que todas as medidas relacionadas com as
responsabilidades de produtores/retalhistas, autoridades locais e sensibilização
recebem apoio acima de 90%”.
Mesmo
assim, quando se pergunta sobre o que já se faz para reduzir a utilização de
plástico, só a reutilização de sacos ou embalagens trazidos de casa para
comprar frutas ou legumes já foi adoptada pela maioria.
De
novo, o nível de escolaridade surge como elemento diferenciador da
disponibilidade para adoptar práticas de reutilização ou redução do uso de
plástico, bem como colocá-las em prática. Entre 64% e 73% dos inquiridos com o
ensino superior afirmou-se disponível para fazer essas mudanças.
No
que diz respeito à nos peixes, “metade dos portugueses (54,6%)
reconhece a existência do problema, mas apenas uma minoria integra esta
informação nas suas escolhas quotidianas sobre o consumo de peixe (22%)”.
A
crise teve “consequências profundas” nos hábitos de consumo
“Na
sua vida quotidiana, sente que a crise económica já passou?” Mais de metade dos
inquiridos (53,5%) no âmbito do 2.º Grande Inquérito sobre
Sustentabilidade dizem que não. Para 29,8% a resposta é sim, já
passou. E 16,8% afirmam que não sabem.
Além
das questões focadas no ambiente, alimentação e saúde, os investigadores do
Observa – Observatório do Território, Ambiente e Sociedade,
do Instituto de Ciências Sociais (ICS) também fizeram questões
sobre sustentabilidade económica.
Para
Luísa Schmidt os resultados mostram que permanece “uma desconfiança, uma
sensação de insegurança” de uma parte significativa da população. Essas pessoas
que se mostram “mais inseguras em assumir o fim da crise” são quem “aufere
menores rendimentos, vive em meio rural, os mais velhos, e os que têm menor
escolaridade, lê-se no relatório em que são apresentados os resultados do
inquérito.
Consequentemente,
essa sensação de que a crise ainda não passou reflecte-se numa “prudência” em
relação a determinados hábitos de consumo.
Outro
“aspecto onde esse trauma se manifesta, é a reorientação das prioridades de
consumo”, aponta o relatório. “Comparando com o inquérito anterior [de
2016], as prioridades passaram a ser, entre os mais velhos, a saúde
enquanto expressão de segurança ontológica e, entre os mais novos, o
sustento pessoal sobretudo expresso em acesso ao emprego.
Os
perfis dos consumidores traçados pelos investigadores do Observa mostram que a
crise “está a instalar consequências profundas” nos hábitos de consumo. “Em
2016, o perfil com o qual os portugueses se identificavam mais era o
constrangido”, nota Mónica Truninger.
“Este
ano, aparece algo que nós já tínhamos detectado, mas que agora se afirmou muito
claramente. Por um lado, aqueles que têm menos rendimentos, mais
dificuldades económicas, acabam por se identificar mais com o consumidor
constrangido — ou seja, que faz as suas compras a pensar no dinheiro que tem na
carteira. Depois, há um conjunto de perfis que está a surgir que são quem
está a tentar utilizar menos recursos materiais — são os mais jovens, os mais
escolarizados e as mulheres.” Em comum, têm o impacto que essa redução do
consumo tem no ambiente.
E
se os “valores ecológicos estão completamente instalados na sociedade
portuguesa” também é verdade que alguns comportamentos associados a alguns
hábitos de consumo mais sustentáveis são reflexo da crise. “Transformou-se a
necessidade em virtude e acabou por se criar alguns hábitos que vieram para
ficar”, aponta Luísa Schmidt.
COMENTÁRIOS:
Jose, 04.09.2019: A degradação do
ambiente é uma consequência dos modelos de negócio que determinam o modo de
vida que, por sua vez, gera as necessidade que decidem o consumo e o
consumismo. A recuperação do ambiente será também consequência de modelos de
negócio que mudarão os modos de vida, determinarão diferentes necessidades e
imporão outras atitudes de compra e um consumo diverso não inverso. São poucos
os seres humanos responsáveis diretos pelos processo de degradação do ambiente
e a sua recuperação será também da responsabilidade direta de poucos. A grande
exaltação dos valores ambientais é uma campanha de comunicação conduzida pelos
diretos responsáveis dessa degradação visando transferir as suas culpas
próprias para as vítimas da base da pirâmide social. Uma manipulação igual a
muitas já passadas.
José Manuel Martins, 04.09.2019: a consciência
sapiens sapiens está entretida a fazer o pino: os factores mais de superfície,
mas também mais cosméticos e espectaculares, estão todos puxados para cima,
nesta iliteracia visual de efeito fácil em que vivemos; à segunda metade da
tabela da 'preocupação' vão parar os factores de fundo e de peso, os factores
estruturantes do sistema e do modo de vida vigentes, do qual, instintivamente,
não se quer abrir mão: energias, tráfegos, Produção. E, como prova
exacta do q digo, por último vem o factor q abre ou fecha a porta à
mistificação, o factor consciência (aqui, sob a figura da circulação
de informação, q é a nova categoria cyborg para arrumar as antigas consciência,
inteligência e saber). A dissociação entre 'aumento da poluição' e 'aumento
do tráfego aéreo/rodoviário é esquizo.
Censurado por Moderadores à Esquerda e à Direita,
04.09.2019: Veja
lá se passa de Cro Magnon para alguém lhe poder dar troco.
DrRodrigues, 04.09.2019: Basta andar na
rua para nos apercebemos de que metade de nós não tem noção das consequências
do que está a fazer.
Sum Legend, 04.09.2019 : Somos todos a
favor dos ursinhos polares, desde que não nos venham ao bolso ou que possamos
ganhar algo com isso. Facto.
Terráqueo, 04.09.2019: É?
O que quer dizer com isso?
Sum Legend, 04.09.2019: Quero dizer
exactamente aquilo que escrevi.
mário borges, 04.09.2019: Para o
capitalismo e para os neoliberais, sustentabilidade ambiental é marxismo
cultural... É a mesma conversa sobre a sexualidade. Aceita-se que existe um
problema mas recusam-se a lidar com ele. Ou em casos extremos pura e
simplesmente nega-se.
agany,
04.09.2019: Se os governos encaram os problemas
ambientais como um negócio, porque haveriam, as pessoas, de se importar?
afonso.napoleao, 04.09.2019
: Em
Portugal foi decretado o fim das embalagens de plástico nos super e
hipermercados, mas só a partir de 2023. É sabido que existem países onde os
mesmos já foram erradicados. Qual a razão para que sejam precisos tantos anos
para entrar em vigor esta lei? 1 ano era mais que suficiente para que essa lei
entrasse em vigor. Fazemos tudo devagar devagarinho.
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